Eternidade



Tudo ficou escuro e, antes de se dar conta, Ginny, Helena e Harry estavam de volta à capela. A senhora Godley deu uma batidinha com a varinha na penseira e ela voltou a se esconder na parede. Ginny olhava assustada para Harry, que respirava fundo.

- Você ficou lá em casa por um tempo. – Helena Godley guardou a varinha. – Como você não queria ter contato com magia, tivemos que tomar algumas precauções. Ben continuou a trabalhar no Ministério por um tempo, mas, depois que os dois se apaixonaram, ele abandonou o emprego e procurou outro no mundo dos trouxas.

- Eles se apaixonaram? – Harry não conseguiu manter o silêncio. – Faz tempo que consegui varrer Voldemort de dentro de mim. Corri o mundo atrás de Ginny. Ela estava aqui o tempo todo em Londres, vivendo uma mentira?

- A vida deles não era uma mentira. – Helena falou rispidamente.

- Ele se aproveitou da falta de memórias dela. – Harry esbravejava. – Modificou a memória dela em beneficio próprio. Usou magia para fazê-la se apaixonar por ele.

- Isso não aconteceu.

- É verdade? – Ginny dirigiu-se calmamente a sua sogra.

- Não é verdade, minha querida. – a senhora assustou-se com a pergunta. – Ele nunca faria isso. Depois de tudo o que aconteceu não havia nenhum familiar seu vivo. Ben se preocupava com você. Vinha ver se estava tudo bem. Não o culpo por se apaixonar. Você é maravilhosa.

- Não é a isso que me refiro. – Ginny olhou fixo para a mulher em sua frente. – Lembro que só começamos a namorar depois que pedi a senhora um apoio. Vendo todas essas... memórias, agora percebi porque ele nunca tomou a iniciativa.

- Isso mesmo. – Helena sorriu. – Ele havia me confessado que gostava de você, mas achava errado tentar alguma coisa. Só quando você me disse que estava apaixonada por ele, é que consegui romper a barreira que impedia vocês de ficarem juntos.

- Ele manipulava memórias, Ginny. – Harry interrompeu a conversa. – O que a faz pensar que tudo o que lembra seja verdade?

- Ele abdicou mesmo de sua vida por mim? – Ginny fingiu não escutar o que Harry falava. – A magia e tudo o mais?

- Ele quebrou a varinha pouco antes de pedir sua mão em casamento.

- É o suficiente para mim. – Ginny apanhou o ramalhete de pervincas que caíra antes de entrar na penseira. – Uma vez ele me disse, “o que há entre nós nem a morte vai separar”. Ainda continuo concordando com ele. Ele fez questão de casarmos num pôr-do-sol, acreditando que simbolizava o final de uma vida. O sol se escondeu sob o horizonte, levando consigo tudo o que passou. – ela seguiu até a porta de saída. - Não quero olhar para trás, procurar o que o sol escondeu. Continuarei em frente.

Ginny caminhou até os túmulos, o funeral tinha que começar. O reverendo levantou as mãos aos céus e pronunciou palavras de conforto. Todos ali presentes estavam de luto. Muitos rostos conhecidos e desconhecidos, embora Ginny acreditasse que conhecia todos os presentes de uma outra vida. Uma vida que ela abdicara de livre e espontânea vontade e que Ben Godley abandonara junto com ela.

Ao fim da cerimônia, Ginny ficou parada no portão, junto à sogra, recebendo os pêsames daqueles que partiam. Ela não derramou uma lágrima na frente dos demais. Quando o cemitério estava, enfim, vazio, exceto por ela e Helena, seguiu até o túmulo recém erguido de Ben. Falou baixinho alguma coisa para sua sogra e depositou o ramalhete de pervincas próximo a lápide. Helena Godley acenou com a varinha e letras surgiram como fogo em brasa na lápide branca.


Ben Godley
Amado Marido e Filho
Nem a Morte é capaz de separar o que o Amor conseguiu unir


A senhora Godley deixou o lugar primeiro. Ginny permitiu-se, então, chorar. Antes de partir, se ajoelhou e disse baixinho.

- Eu o amarei durante todos os dias em que viver e toda a eternidade em que minha alma existir. – E então partiu sem olhar para trás.

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