Uma lembrança perturbadora



Uma lembrança perturbadora


- Por favor, não, de novo não... NÃO! NÃO! – a garota gritava embrulhada em seus lençóis, assim como um filhote em sua mãe. Mãe. Aquilo que ela nunca teve

Havia dias que ela era obrigada a reviver em seus sonhos a sombra de um passado horrível, a sombra de seu passado...

Ela tinha 8 anos outra vez, brincava com um telefone velho do orfanato em que morava desde sua primeira lembrança. Ela o havia encontrado no lixo, porém ao colocá-lo no ouvido, percebeu que estava funcionando. Espera, era a voz de sua mãe ao telefone, como ela sabia que era sua mãe, não podia dizer, simplesmente sabia.

- Estou com você, sempre estive e sempre estarei. Confie em mim, tudo ficará bem. – A voz repetia ao telefone, sempre a mesma frase. A menina aflita tentava lhe perguntar onde ela estava, mas as palavras não se formavam em sua cabeça.
- LUISA POLE! Onde você esta menina!? Brincando com o telefone de novo! SAIA JÁ DAÍ! SOLTE ESSE TELEFONE – gritava a mulher. A mulher.
- NÃO! NÃO! É A MINHA MÃE NO TELEFONE! É A MINHA MÃE! – a menina se agarrava desesperadamente no telefone, sua única esperança de que a sua vida não era um lixo.
- Sua mãe morreu! MORREU! Morreu queimada, do jeito que merecia e do jeito que você merece! Seu lixozinho, sua malditazinha...
- Mas é ela! Eu juro! É a minha ...
- CALA A BOCA! – Gritou a mulher impacientando e jogando-a ao chão – Você tem é que apanhar pra ver se aprende a parar de falar besteira! – disse a mulher tirando da bolsa um chicote, até então nunca visto por Luisa, porém a partir daí muito usado para castigá-la, por coisas que ela nunca fez.

- Não, por favor, NÃO! – gritava Luísa, agora com 16 anos, sentindo a dor de cada chicotada como se fosse real, a dor de cada palavra ouvida naquela noite, como se tivesse sendo ouvida agora. E no meio de tanta dor, ela sentiu alguém a envolvê-la nos braços e a abraçá-la. Seria aquela com quem sempre sonhou? Não, não era ela, não era a sua voz que a acalmava. A decepção e o desespero a atingiram novamente, sensações muito conhecidas por Luísa.
- Lú calma! Eu estou aqui! Não é real, foi só um sonho, ninguém vai te machucar aqui esta bem? Não é real. – repetia uma garota um pouco mais alta que Luisa de cabelos roxos.
Porém para Luisa tinha sido real. Real como no dia em que aconteceu, real como em todas as suas noites de pesadelos. Sempre real. E como ela não desmoronava? Porque como o sonho, ou até mais que ele, ela tinha certeza de que a voz era real. E era naquilo que ela se apoiava para viver todos os dias como uma garota normal e feliz.

- É real! Eu vi! É real! – repetia Luisa assustada, de olhos fechados como se esperasse abrir os olhos e se encontrar no orfanato.

-Não adianta - disse a garota a duas meninas assustadas – Esta pior que as outras vezes. A gente vai ter que chamar alguém.
- Eu vou chamar o Régulus– disse uma menina loira de olhos azuis.
- O que houve - perguntou Régulus chegando ofegante com a garota. - Luísa! O que aconteceu? Por que você esta assim? – Régulus perguntou ao ver a situação em que a garota se encontrava.
- Régulus – disse Luisa com uma voz meio esganiçada, abraçando o garoto.
- Oh Lú, você sonhou de novo né? – Perguntou carinhosamente.
- Foi... – Ela respondeu.
- Acho melhor você se deitar de novo, eu vou ficar aqui até você dormir.
- Promete? – Perguntou Luisa
- Prometo – confirmou o garoto.


Luisa havia sonhado com isso muitas vezes, mas desta vez ela ficou assustada, pois foi muito mais real do que as outras vezes, muito mais real do que o próprio acontecimento, ela estava com medo de que aquilo pudesse ser um sinal ou um aviso, porém preferiu afastar esse pensamento, afinal ela teria um dia cheio, já que seria o primeiro.



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