Silenciar, calar...beijar
Capítulo IX - Silenciar, calar... beijar
Harry acordou mais tarde do que o normal mesmo para uma manhã de domingo. Não tinha demorado a adormecer na noite anterior mas se sentia tão exausto física e mentalmente que depois da longa noite estava estafado. Após algum tempo desceu para o salão comunal, que estava praticamente vazio.
Sentou-se no estofado esperando o horário do almoço. Confusão. Essa era uma ótima palavra para descrever o seu estado emocional agora, que se agravou quando Hermione apareceu ao seu lado.
- Harry... oi - disse a menina assentando-se na sua frente
- Oi - respondeu Harry sem fôlego e ligeiramente trêmulo.
"Que droga é essa??" pensou.
- Você está... bem? - perguntou preocupada.
- Sim. Por que? Não pareço estar?
- Não mesmo...
- Pois eu estou - falou Harry como se fosse óbvio.
- Éhr... A Felícia está muito preocupada, ela disse que você a deixou esperando onde vocês iam se encontrar, pensou que tivesse acontecido alguma coisa...
Harry teve um sobressalto batendo a palma da mão sobre a testa. Esquecera completamente do encontro com a namorada. Haviam combinado na noite anterior ao sábado e Harry simplesmente não lembrara.
- Mer-da! - soltou o garoto puxando levemente os cabelos - eu esqueci!
- Você... esqueceu? - perguntou Hermione vagarosamente.
- Sim. E não precisa dizer que eu sou um cretino ok? - respondeu aborrecido.
- Eu não disse isso - falou calmamente.
- Eu sei, desculpe... Na verdade eu queria dizer isso: eu-sou-um-cretino - soletrou indignado esmurrando o estofado.
- Mas... o que houve, por que você esqueceu?
Por que havia esquecido? Nem tinha tido tempo suficiente para isso, afinal, tinha combinado com a garota menos de 24 horas antes. Essa era a questão não havia acontecido nada para o fazer faltar o encontro ou esquecer. Simplesmente não tinha lembrado. A reflexão só fizera Harry se sentir mais imbecil ainda.
- Não aconteceu nada Hermione... É justamente esse o motivo de eu ser de fato um cretino, eu esqueci porque talvez não fosse importante o bastante para ser lembrado - lamentou possesso.
"O que ele quis dizer? Que ela não é importante?" pensou Hermione surpreendentemente sentindo uma pontinha de satisfação com a possibilidade. "Não sua burra! Não pode se sentir feliz com isso" se puniu também levando a palma da mão à testa, Harry a olhou intrigado.
- O que foi? - perguntou o menino, embora já imaginasse a resposta.
- Nada - respondeu se recompondo e confirmando as suspeitas de Harry - Então... Como você pretende explicar isso a Felícia?
- Foi alguma coisa sim - disse suspirando.
- Não, não foi - retrucou firmemente.
- Eu poderia até ter acreditado sabe, se você não tivesse tido a precaução de mudar de assunto instantâneamente, como você sempre faz quando quer fugir de alguma resposta - Hermione abriu a boca para responder mas foi impedida por Harry - Mas não, não vamos discutir sobre isso novamente, porque eu sei que não vou ter resposta e você sabe que não vai conseguir me convencer.
Hermione ouvia perplexa à crise de eloquência do amigo, sem ter como argumentar.
- Você... está bem estranho Harry.
"Estranho eu? Você está apaixonada por Draco Malfoy e eu é que estou estranho?". Harry respirou fundo ou acabaria dizendo o que pensara.
- Engraçado... Eu poderia dizer o mesmo de você! - disse Harry levantando-se.
- É mesmo? Baseado em quê Harry James? - desafiou a menina seguindo-o
Harry se virou esbarrando na amiga que estava logo atrás, era mais uma bela oportunidade para expor todos os fatos e silenciar o ar superior de Hermione. Estava cara a cara com a garota que não hesitava em olhar fixamente para ele aguardando a resposta. Ele notou que ficava mais trêmulo à medida que a proximidade aumentava. Mergulhou nos seus olhos cor de chocolate, procurando as palavras... certas. Mas o que era realmente certo naquela história toda?
Estava zonzo, seu cérebro não parecia estar funcionando como de costume e o olhar penetrante e fixo de Hermione em sua direção não ajudava. Ela não precisava dizer nada para Harry perceber que ela estava gritando por dentro que tinha razão. Ele já não suportava isso, tinha que pará-la. "Silenciar, calar...bei-jar", as três palavras brotaram involuntariamente na cabeça de Harry o aterrorizando. Beijar Hermione passou pela sua cabeça explicitamente sem subjetividade, metáfora, totalmente consciente. Por um segundo todos os fatos que pareciam confusos passearam rapidamente na frente dos olhos de Harry como um filme, e aí, tudo parecia fazer... sentido.
- É tão óbvio! - pensou alto extasiado com a descoberta.
- O que é óbvio? - perguntou Hermione impaciente.
Era óbvio, estava na sua cara o tempo inteiro e só agora percebera. "Hermione...Malfoy...Eu...Ciúmes...Estranho...Beijo...Hermione!" pensou ligando mentalmente cada palavra como acontecimentos. "É claro! Eu gosto dela!
- Tudo Hermione!.. É óbvio, é... demais - respondeu Harry que agora dava círculos em volta de si mesmo deslumbrado.
- Harry - começou Hermione preocupada - Você não está falando coisa com coisa...
Nesse momento Harry teve mais uma súbita reflexão que parecia tê-lo arrancado do seu jardim do Éden. "Harry Potter gosta de Hermione Granger que gosta de Draco Malfoy que gosta de Hermione Granger que não gosta de Harry Potter!" pensou desfazendo lentamente o sorriso que estampava nos lábios e sentindo uma forte pressão sobre seu peito. Levou a mão direita um pouco acima do estômago apertando o local como se tivesse levado um tiro, sentando-se derrotado.
-Harry Potter é o cara mais sem sorte que eu conheço - resmungou arrasado para uma Hermione estupefata de pé na sua frente.
- Do que você está falando exatamente?
Só então Harry voltou definitivamente para o mundo real. Parou estático.
"Diga alguma coisa!" pensou Hermione desesperada.
"Não diga nada... Não! Diga algo ou ela vai perceber. Agora, diga, DIGA!"
- Nada - falou rapidamente ainda paralisado.
- Você está passando bem? - indagou Hermione apreensiva.
"Você tem que sair daqui AGORA Harry... Levante-se JÁ!" dizia uma voz em sua cabeça.
- Sim. Quer dizer, não.
"O que?? Não diga que está mal imbecil!! Corrija isso agora mesmo!" pensou Harry levando a mão à testa com furor.
- Não? - indagou confusa
- Não! - Negou veementemente - Eu... só estou com fome Hermione, é... é isso... Quando eu comer, vou.... me sentir melhor... eu... vou - gaguejou Harry saindo da sala aos tropeços em direção ao refeitório. Hermione suspirou.
"O que diabos ela tinha feito de errado? O que teria acontecido para deixar Harry tão abobalhado?"
*
Gina passara a manhã nos jardins aproveitando a brisa na beira do lago. Estava realmente um belo dia. Parvati e Lilá já haviam voltado para o castelo para fazer algo ,que Gina não tinha prestado atenção, antes de almoçar. Agora a ruiva caminhava sozinha envolta em seus pensamentos, não tinha pressa em voltar. Parou em um local aconchegante da margem do lago rodeada por árvores. Tão distraída estava mirando as escuras águas que não reparou alguém próximo.
- Sem fome Gina? - disse uma voz familiar nas suas costas.
Gina virou-se assustada encontrando o olhar cinzento de Draco Malfoy em sua direção. O loiro estava recostado no tronco de uma árvore, sentado com os braços cruzados e as pernas estiradas. A menina não sabia o que dizer, sua vontade na hora foi virar-se e correr dali exatamente como fizera com Harry ao dar de cara com ele na sua cozinha. "Que coisa estúpida, não sou nenhuma criança!"
- Não... mas acabei de ficar - respondeu secamente voltando a olhar as águas.
- Então somos dois - rebateu Malfoy levantando-se e caminhando até Gina - E antes que você resolva iniciar uma discussão sem procedentes, eu queria que me desculpasse se eu fui rude ao te abordar ontem. Eu só não queria que o seu irmão visse e isso te causasse problemas - falou Draco ao lado de Gina agora com as mãos nos bolsos.
"Draco Malfoy pedindo desculpas preocupado em trazer problemas para mim? Inacreditável, surrel, impossível" pensou Gina estupefata com o que acabara de ouvir, e o mais absurdo é que ele realmente parecia estar sendo sincero. Ela gargalhou assustando o loiro.
- Você está com algum problema de saúde Malfoy? - perguntou Gina atônita
- Eu presumo que não - disse naturalmente
- Não... Você pode estar sob a maldição imperius... Sim.. deve ser isso - falou a menina convencida.
- O quê??
- Seja lá o que for você não está normal. Me aborda do nada e me chama pelo primeiro nome sem hostilidades, para falar sobre Hermione. Depois pede desculpas por ter sido rude?? E tenta justificar isso com uma suposta preocupação por mim? Definitivamente você não é você ou então você mudou de tática para tirar sarro da minha cara. - Disse Gina sem intervalos.
- Eu não vou desperdiçar meu tempo te explicando esses pormenores Gina. Se você não quiser acreditar... - disse o loiro agora inclinando-se para sussurrar no ouvido da garota - ... só tem a perder.
Gina teve um forte arrepio com a proximidade dele. "Controle-se!" pensou. Ele já se virava para sair quando ela reagiu:
- Sua arrogância é fascinante... - começou irônica escorando-se na árvore, Draco levantou a sobrancelha - ...até certo ponto.
- E que ponto seria esse? - indagou o loiro colocando-se na frente de Gina com um braço escorado no tronco.
- O ponto que se apaixona pela minha amiga... - respondeu satisfeita.
Draco teve uma sutil mudança de expressão ainda olhando fixamente para a garota. Ela sorria de forma encantadora, irresistível. Novamente ele viu-se tentado a beijá-la, apenas alguns centímetros os separavam da consumação daquele ato. Ele reagiu, antes que perdesse totalmente a compostura, o que acabaria acontecendo caso continuasse viajando naquele silêncio.
- Ora, ora... Você realmente não perde nada... - disse o loiro esbanjando charme, Gina por sua vez, aproximou-se sussurrando no ouvido do garoto.
- Pode ter certeza disso.
Draco assistiu Gina virar-se e sair depois de deixá-lo estranhamente arrepiado com o contato. Ele passou a mão pelos fino cabelos loiros ainda desorientado.
"Uau!" , pensava.
TO BE CONTINUED...
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!