Adeus, Edwiges

6> Adeus, Edwiges

Uma semana se passara desde o atentado contra a vida de Harry Potter. Desde aquele dia, nenhum outro acontecimento misterioso acorreu. Harry aparentava não correr risco de vida, a voz que ecoava em sua mente não lhe falara mais nada, o que levou ele a concluir que poderia ser um delírio de sua mente. O que o preocupava, entretanto, era o sumiço de Edwiges.
Desde o dia em que ele enviara uma carta para Lupin através de sua coruja, ela não voltara. Por anos ela foi a fiel companheira de Harry, apesar de muito brigarem. Sua ausência, para Harry, era pior do que ele poderia imaginar. Edwiges se tornara tão intima que Harry a via como uma irmã com penas.
Sua preocupação só aumentava à medida que seu olhos corriam pelo céu, sem nenhum sinal da ave. Harry chegou a perguntar várias vezes à Lupin a respeito de Edwiges.
_ Sinto muito, Harry. – dizia ele – Mas, assim que ela me entregou sua carta, dizendo que precisava falar com algum amigo, eu lhe enviei outra por intermédio dela, dizendo que nos encontraríamos n’A Toca em alguns dias. Ela tomou o mesmo rumo.
Harry chegou a pensar que, talvez estivesse no Caldeirão Furado e, mesmo sabendo que Edwiges sempre sabia onde ele estava. Ainda sim foi até o bar. Como se esperava, nenhum sinal da ave.
Era comum Harry se deslocar de um lugar para o outro sem avisar sua coruja. Ela sempre sabia onde ele estava. Preferiu não pensar o pior e adotou uma suposição de que, na tentativa de dar uma lição em Harry, por não deixá-la sair com freqüência, Edwiges decidira passar um susto em seu dono. Se realmente era isso, ela estava conseguindo.
_ Não fique assim, Harry. – dizia Rony, ajudando o amigo – Ela está por aí. Logo, logo ela volta com um rato fresquinho entre o bico.
_ Rony está certo – animava Hermione – Você a conhece. Muito nervosinha, a Edwiges. Deve estar fazendo charminho. Quando menos se esperar mais rápido ela vai voltar.
_ Valeu, pessoal. Obrigado pela força.
Harry verificava a gaiola constantemente. Não havia nenhum sinal de Edwiges, a não ser alguma plumas que a ave deixara cair antes da sua última viagem. Percebendo que não adiantaria nenhuma preocupação, decidiu esperar a hora de Edwiges voltar. Sabia que, cedo ou tarde, ela poderia voltar.
O resto da semana foi assim. Harry, Rony, Gui, Carlinhos e os gêmeos Weasley disputavam partidas de Quadribol, aproveitando seus últimos dias sem nenhum compromisso com trabalho. Rony, Harry percebera significativamente, tinha se tornado um artilheiro incrível. Era evidente que tinha talento para o esporte. Rony, por outro lado, sabia que não estava à altura de Harry. A categoria como o bruxo prodígio vencera em seu último jogo serviu para mostrar a todos que Harry Potter ainda não havia enferrujado.
Os times sempre eram divididos em Harry, Carlinhos e Fred contra Rony, Gui e Jorge. Usavam pomos-de-doce que as Gemialidades Weasley estavam vendendo, enquanto usavam verdadeiros balaços e goles. Gina, que também se mostrara talentosa no esporte, preferia estar do lado de fora. Harry sabia o porquê. Ela sempre foi melhor que Rony e, por mais que ele quisesse, isso nunca ia mudar. Provar para o irmão que não conseguiria vencer da irmã mais nova seria muita humilhação, e poderia interferir em seu desempenhos nos jogos pelo resto de sua vida.
No geral, tudo corria perfeitamente bem. A Sra. Weasley estava preparando uma deliciosa torta de framboesa aquela manhã, enquanto o Sr. Weasley tentava compreender como se produzia imagem em uma televisão. Lupin e Tonks estavam ansiosos para o casamento, que aconteceria em menos de duas semanas. Ninfadora, com seu cabelo rosa berrante, não parava de se gabar e mostrar o anel de noivado que ganhara de seu noivo. Fleur, em resposta, mostrava a aliança de casamento, o que deixava o cabelo de Tonks meio verde, o que, Harry supôs, seria um verde de inveja.
Lupin estava ajudando Olho-Tonto a aperfeiçoar as proteções d’A Toca, atitude que tiveram de tomar após o atentado contra a vida de Harry. Gui e Carlinhos jogavam snaps explosivos e, enquanto aos gêmeos, provavelmente estariam em algum lugar reservado, conde colocavam suas gemialidades no papel, o que nunca foi do agrado de Molly.
Harry, Gina, Hermione e Rony estavam no lago próximo à Toca, nas redondezas do vilarejo (foi difícil convencer os outros de que era seguro caminharem sozinhos). Queriam aproveitar o restante do tempo que tinham juntos. Gina voltaria para Hogwarts, já que estava em seu último ano. Rony decidira acompanhá-los, se hospedando em Hogsmeade.
_ Quais são os seus planos para o futuro, Gina? – perguntou Hermione, molhando os pés descalços na margem do lago.
_ Não sei bem. – respondeu ela, pensativa, enquanto descalçava os sapatos e, ao lado da amiga, molhava os pés – Sempre tive uma quedinha por quadribol. Mas o estudo da magia avançada tem me conquistado.
Rony e harry se sentaram ao lado das duas, Harry ao lado de Gina e Rony ao lado de Hermione. Ficaram observando o reflexo do quarteto na água, o que dava uma estranha impressão de auto-estima, como se nada fosse capaz de separá-los, nem mesmo um pomo gigante com toda a magia das trevas reunida.
_ Sabe, Gina. – comentou Rony – você tem um certo talento para o Quadribol.
Harry pigarreou alto, na tentativa de disfarçar uma risada maliciosa.
_ Tudo bem, tudo bem. – resmungou o ruivo – Gina, você é simplesmente fantástica no Quadribol. Você tem futuro como apanhador. Melhor do que muitos aí que acham que o pomo pode explodir a qualquer momento.
Os quatro deram risadas, agindo como se tudo aquilo não passasse de um pequeno incidente que já estava resolvido. Nesses últimos anos, a união entre os quatro amigos só serviu para fortalecer a coragem e a determinação. Diante da morte, ales conseguiram buscar dignidade um no outro, dando forças para que Harry pudesse vencer Voldemort.
_ Fico me perguntando... – disse Harry, pensativo – se algum dia, a classe dos comensais da morte será extinta.
_ Sinceramente, eu duvido. – respondeu Hermione – mas nem mesmo um exército deles será capaz de nos derrubar. Vamos fazer um pacto.
_ Como é? – perguntou Rony, meio confuso.
_ Ora, Rony, você me ouviu. Peguem suas varinhas.
Os quatro tiraram as varinhas do bolso, erguendo-as á altura do peito.
_ A quanto tempo somos amigos? – perguntou ela.
_ A sete anos. – respondeu Rony.
_ Houve algum momento em que um deixou o outro na mão?
_ Nunca. – respondeu Harry imediatamente, convicto de que nunca isso ocorrera.
_ Então... – continuou Hermione, erguendo sua varinha alguns centímetros – em nome de nossa antiga amizade, nunca, jamais, deixaremos o outro na mão. Mesmo que isso custe-nos o sacrifício.
Hermione teria achado normal se eles hesitassem antes de concordar. Mas isso não aconteceu. Assim que ela terminara de falar, os três uniram as pontas de suas varinhas com a de Hermione. Emocionada, ela continuou:
_ Esse pacto irá nos ligar pelo resto de nossas vidas. Vidas de confiança, fidelidade. Esse pacto é um laço eterno e concreto de nossa amizade mútua, desse nosso amor que compartilhamos entre nós...
_ Com esse pacto, nos tornaremos um único objetivo... – falou Rony.
_ Um único pensamento... – continuou Gina.
_ e um só coração. – concluiu Harry.
Naquele momento, suas varinhas brilharam uma luz dourada que contagiou todo o lago, faíscas prateadas correram por entre as árvores, as raízes e as cercas que circulavam o lago. Auras de luz muito branca envolveram os quatro amigos, unindo-os de forma intensa, uma barreira que repelia qualquer tentativa que quebrar essa amizade.
Assim que a luz retornara ás suas varinhas, os quatro se abraçaram em uma demonstração de afeto mútuo e, durante muitas horas, eles ficaram ali, deitados, em silêncio, admirando o momento perfeito. Naquela hora, Harry quis que o tempo parasse e que todas as lembranças de Voldemort se dissipassem de suas mentes.

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A noite caiu silenciosamente sobre eles. Estavam ainda deitados no gramado. Podia-se ouvir o suspiro das árvores, o tilintar da chuva que deslizava pelas correntes de ar, caindo suavemente na grama úmida. Gina e Harry estavam de mãos dadas, observando a luz bruxuleante da lua se dissipar por entre as nuvens carregadas. Rony adormecera no colo de Hermione, que observava um guaxinim se embebedar da água pura do lago.
Harry envolveu a namorada em seus braços, para aquecê-la e poder beija-la e, pela primeira vez em muito tempo, desejou que sua vida se resumisse apenas naquele momento simples e sem nenhuma aventura. Tudo estava perfeito. Finalmente tudo parecia estar bem, em seu devido lugar.
Enquanto Harry se contentava com a vida que estava levando, Hermione e Rony conversavam sobre Runas Antigas. Desde o dia em que assumiram o namoro, Rony passou a demonstrar um certo interesse por Runas. Conseguira até traduzir um pequeno texto que estava em um dos livro de Hermione.
_ Então Ivanir Stanislaw foi uma das introdutoras de Runas na Grã-Bretanha? – perguntou Rony, demonstrando grande interesse – e onde entra Fátima Rodrigues, aquela mexicana que descobriu a cura da verminose-de-duende traduzindo Runas do século II a.C.?
_ Fátima não introduziu Runas na Inglaterra porque, naquela época, a sociedade bruxa daqui não se via interessada em escrituras antigas. Era uma época de descobertas, o maior interesse era o acúmulo de capital na sociedade bruxa. Mas, graças a esse retardamento de Runas aqui, a sociedade bruxa britânica é a que mais desenvolveu, pois tinha mais recursos.
Harry e Gina se divertiam ao se lembrar do antigo Rony, e como uma mulher tinha a capacidade de transformar um homem.
_ Isso sim é pau-mandado. – brincou Gina – acho que combinaria bem com uma coleira.
O relógio no pulso de Harry já marcava quase meia-noite. Como decisão unânime, os quatro resolveram voltar À Toca, onde poderiam descansar melhor e, no dia seguinte, aproveitar o resto do dia que tinham juntos. O mais importante para eles, no entanto, fora marcado perto do lago. A verdadeira amizade entre eles fora selada com magia, ligando-os pelo resto de suas vidas. Harry sentia que as coisas estavam melhorando.
Estavam se aproximando d’A Toca quando foram de encontro ao Percy, que caiu no chão. Ele se levantou, recolheu seu chapéu-coco e, com uma pancadinha de leve, tirou o excesso de poeira que cobrira o chapéu.
_ Francamente! – resmungou ele – olhem por onde...
_ Cala a boca, Percy! – bradou Rony – saia daqui. Não é bem-vindo à casa dos Weasley!
_ E quem lhe disse que eu vim fazer visita, moleque? Estou aqui a trabalho. E, Harry... – Percy virou-se para Harry, com uma cara falsamente preocupada – sinto muito pela sua perda. Se bem... não muito do que se lamentar, não é mesmo?
E, dizendo isso, Percy desaparatou, abandonando os quatro amigos no relento da noite. Foi como se uma lâmina afiada cortasse seu peito. Sentira o medo e a angústia naquelas palavras do Ministro. Seu coração apertou, querendo sair pela garganta. Harry disparou na frente de seus amigos, na ansiedade de saber o que trouxera Percy até A Toca, e qual era o motivo de se lamentar. Alguém poderia estar morto?Estiveram fora apenas por algumas horas. Como poderiam deixar passar despercebido um ataque de Comensais? Não, não era um ataque de Comensais.
Harry escancarou a porta da cozinha, muito tenso. Olhou a sua volta. Todos estavam de pé, envoltos na mesa. O jovem bruxo procurou ver se alguém faltava ali. Tonks, Lupin, Sr. e Sra. Weasley, Gui, Carlinhos, os gêmeos, Olho-Tonto, até mesmo Kingsley Shacklebolt estava lá. Todos, no entanto tomaram expressões apreensivas ao notarem a presença de Harry. Rony, Hermione e Gina chegaram um pouco mais atrás de Harry.
_ O que houve? – perguntou ele – Por que Percy estava aqui? O que...
Ele olhou o massa branca e maciça em cima da mesa. Sua voz foi desaparecendo gradualmente, sua pele empalideceu. Não acreditava no que estava vendo. Sobre a mesa, um corpinho coberto por penas alvíssimas estava imóvel. O bico da ave estava semi-aberto, seus olhos fora de foco.
_ Ed-Edwiges... – a voz de Harry saiu seguido de um soluço profundo – o que...
_ Harry, meu querido... – começou a Sra. Weasley, sentindo-se impotente com a expressão do jovem – eu... eu sinto tanto. Ela foi muito especial, não foi...
_ Harry... – Rony colocou a mão sobre o ombro do amigo, também muito chocado.
_ Quem fez? – perguntou Harry, sua cabeça baixa, derramando lágrimas incontroláveis – quem fez isso com Edwiges?
_ Harry, agora isso não é importante. – falou Lupin, com compaixão – Não sinta esse sentimento de vingança e remorso, Harry. Em memória de Edwiges, não sinta.
Com seus punhos, cerrados, Harry correu até a mesa e recolheu a majestosa ave da mesa, agora imóvel e inexpressível. O olhar de Harry nunca fora tão triste como naquele momento. Suas mãos tremiam enquanto segurava o corpo de Edwiges, tão indefesa e dócil. Harry aproximou a coruja do rosto, dando-lhe um beijo da parte superior de seu bico.
_ Harry... – continuou Sr. Weasley – eu sei como ela era importante, Harry. Sua companheira, talvez a única, durante o tempo que você passou na casa dos Dursley. Antes eu preciso lhe entregar essa carta que estava presa ao bico dela.
Harry pegou a carta, sem ter coragem de lê-la. Ao fazer isso, seria a ultima vez que Edwiges teria levado alguma mensagem até ele. Harry apertou a ave em seus braços, como se tivesse esperanças de ouvi-la piando, pedindo sementes ou se mostrando a mesma coruja forte que sempre foi.
_ Harry, ela... – Tonks se virou para o jovem, e continuou – ela foi encontrada perto do Caldeirão Furado. Alguém de lá lhe enviava uma carta. Ela lutou contra quem quer que fosse, Harry. Ela foi golpeada várias vezes por feitiços estuporantes muito fortes. Ela, ainda sim, teve forças de voar o mais longe possível. Ela pousou dentro do bar do Tom. Naquele momento, Percy estava lá, e queria levar Edwiges até aqui. Tom escondeu a carta e, assim que Percy se foi, levou-a imediatamente às Gemialidades Weasley. Assim a carta chegou até nós sem o consentimento de Percy. Harry... Edwiges cuidou para que sua carta não se extraviasse.
_ Ela... – gaguejou Harry – sempre foi assim... decidida... muito orgulhosa... queria provar que era a melhor coruja que existia.
Seu sorriso veio mais amargo que suas lágrimas. Recolocou Edwiges na mesa e, como suas últimas palavras, harry disse:
_ Vamos fazer um funeral decente pra ela. A caça aos Comensais está de volta.
E, dizendo isso, ele subiu as escadas, vagarosa e silenciosamente, olhando para trás a cada degrau, na esperança de ver a ave alçar vôo. Nada, além de mais um amigo morto.
Minutos depois, Harry voltara à cozinha. Todos estavam lá. Ele tinha em suas mãos uma caixa de madeira com uma capa de couro bege e fitas douradas adornando, além de minúsculos rubis incrustados na tampa. Silenciosamente, Harry depositou o corpo imóvel de Edwiges na caixa. Naquele momento, ele sentiu como se uma espada transpassasse em suas entranhas, como se um monstro gigante devorasse seu coração. Lembrou-se da primeira vez em que edwiges entrara em seu quarto na rua dos Alfeneiros com um camundongo preso eu seu bico. Ela assobiava vitoriosa. Sempre imponente aquela coruja. Lembrou-se da sua primeira briga com a mascote. Daria tudo para ver aquela expressão emburrada na carinha minúscula de Edwiges.
_ Harry, quando você quiser... – falou Gina mas, parou em seguida. Não queria estragar aquele momento. Já era triste demais para seu namorado, achou melhor não piorar as coisas apressando-o do funeral.
Após mais alguns minutos, Harry ali, olhando Edwiges, fechou a caixa e, com um demorado suspiro, falou:
_ Vamos. Ela merece essa homenagem.
O funeral de Edwiges fora em um dos campos nos arredores do vilarejo. Harry se ajoelhara perto do local onde a ave seria enterrada. Retirou sua varinha do bolso e, com um toque na grama molhada, um buraco do tamanho exato se abriu. Harry, naquele instante, sentiu sua vida mais vazia que o próprio buraco que fizera. Depositou cuidadosamente a caixa dentro do buraco, falou, em breves palavras:
_ Adeus, edwiges... sentirei saudades. Não precisa ficar mais chateada... está livre.
E, dizendo isso, ele se levantou e, silenciosamente, colocou uma cruz enfeitada de fitas prateadas sob o pequeno túmulo. Lançou algumas sementes sobre a terra fofa e, imediatamente, rosas vermelhas brotaram do chão, envolvendo a cruz com suas raízes frágeis. Foi a última vez em que Harry viu a bela Edwiges e, procurou guardar, pelo resto de sua vida, o último vôo de sua coruja.

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