O Livro de Bolso



           — Aqui está, senhor Minador — disse o zelador Ficho na sala da diretoria, pegando Júlio pela gola da camiseta.
           — Zelaaaagh... o senhor estagh meh enforcan...
           — Solte-o — mandou o diretor. Ficho obedeceu na hora. — Pode ir ver o Big Brother Wizard.
           O zelador foi todo feliz para fora da sala. Quando o homem bateu a porta, Minador virou-se para Júlio e disse:
           — Você está condenado à morte.
           — Ah?
           — Morte. Vá para a guilhotina. Aluno fora da cama, morte. Tomamos essa providência por causa do excesso de alunos.
           Minador mandou Júlio deitar-se de costas em uma mesa de madeira que estava no canto da sala. O garoto olhou para cima; viu uma pesada lâmina flutuando magicamente por cima dele. É hoje q'eu bato c'as carçuleta. Júlio suou tanto que parecia mais um monte de água suando um garoto do que o inverso.
           — Solte! — gritou o diretor.
           A guilhotina caiu veloz em direção ao pescoço de Júlio e...
           Parou no ar.
           — HÁÁÁÁ! Sorria, você está na Record! Isto foi a famosa pegadinha da guilhotina!!! Olhe a câmera ali! — Minador apontou para uma quina da parede e realmente lá havia uma câmera, bem pequena, olhando para o garoto.


           — Comigo foi a pegadinha da cadeira elétrica — confessou, amargurado, o aluno gordinho a quem Júlio perguntara sobre o que é herbologia.
           Eles deitavam-se em camas posicionadas uma de frente para a outra, no dormitório masculino.
           — Eu detesto esta escola — reclamou Júlio. — Ninguém ensina nada e, além de tudo, fazem brincadeiras com os alunos.
           — Pelo menos não tem nenhum cão de três cabeças por aí.
           — Cuméquié?
           — Nada.


           — Saudações, pupilos. Sou a sua nova professora. Peguem seus alfarrábios e vamos começar a estudar Trato das Criaturas Mágicas.
           Júlio pôs-se de pé e saiu em direção aos prédios.
           — Ei, onde vai, pupilo meu?
           — Meu nome não é Pupilo, é Júlio.
           — Teu vocabulário és atroz, filho.
           — HÁÁÁ! Acabou de cometer um erro de concordância verbal! O certo seria: "Teu vocabulário é atroz". Te peguei, sabichona.
           Resultado: detenção de novo.


           Júlio estava realizando um trabalho importantíssimo: desintoxicar livros. Era um trabalho de vital importância lá, pois os professores costumavam lamber o dedo antes de folhear as páginas. Se o livro contivesse alguma toxina, os professores morriam envenenados. Morreram vinte e três (sim, vinte e três...) professores por conta desse problema.
           O rapaz precisava passar uma poção especial, transparente, sobre cada página de cada livro da biblioteca (que, felizmente, tinha apenas dez livros, falta de verba é isso aí). Ele aproveitava e tentava ler por cima o que estava escrito nas páginas.
           Quando acabou um dos livros, passou para outro, que era de tamanho de bolso. O livro estava em branco, e, em sua capa, estava escrito:
           Horcrux de Astonigildo Minador.
           Agora você não escapa, pensou Júlio, e guardou o livro de bolso em um lugar que é melhor não dizer.

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