Senhora Leah Málaga
O Comensal sumiu entre a multidão e quando Harry e Hermione iam sair do lugar para ir atrás dele, os Weasley chegaram, sorridentes, da montanha-russa, com Arthur e Molly apavorados:
- Que coisa horrível! Medonha! Deus me livre – resmungavam, sem ar. Os gêmeos, Gina e Rony achavam ótimo. Arthur parou o olhar no rosto assustado de Harry e Hermione. - O que houve?
- Han... É... - gemeu Hermione. - Arthur... Nós vimos... Um Comensal da Morte, aqui no parque!
Todos pararam e olharam o casal.
- Verdade! Ele foi pra lá, vestido de monstro! - apontou Hermione.
Mas Arthur ergueu as mãos, acalmando-os.
- Não se preocupem, meninos. Parte desse parque é administrado por um bruxo, vocês sabem, ele pôs os trouxas fantasiados de monstros e bruxos, não seria surpresa ele colocar alguns Comensais e dementadores soltos por aqui para agradar ao público bruxo, não é?
- Claro...! - divertiu-se Fred. – Pra ajudar a gente a se sentir em casa! Vocês ainda não cruzaram com Você-Sabe-Quem? - todos deram gritinhos e empurrões em Fred, que pediu desculpas, rindo. - Desculpe, desculpe, mas não acho que seja difícil ele ter soltado um desses por aí de sacanagem, não é?
- Eu não quero encontrar um Lorde das Trevas nem que seja de pelúcia! Tratem de parar com essas idéias. - resmungou a mãe.
- Vamos continuar? Estou adorando - disse Rony, empolgado. - Eu quero ir lá naquilo agora - e apontou a roda gigante.
- Ah, a roda gigante - disse Harry. - Eu até gosto da roda gigante.
- Me admiro seu primo nunca ter tentado te jogar lá de cima.
- Não, eu sempre tive o cuidado e ficar pra trás e meus tios me esquecerem e deixarem eu ir em outra viagem...
Os dois entraram no brinquedo ainda rindo, mas não caberia todo mundo numa só viagem.
- Deixa a gente ir junto - murmurou Rony, referindo-se a ele, Harry e Hermione.
- Eu posso ir então? - pediu Gina.
- Pode, senta aqui, Gina! – disse Hermione, pulando para o lado e saindo de perto de Harry, deixando um lugar vago para a garota. E assim subiu com os quatro a bordo.
- Uau!... - exclamava Rony. - olha só que altura!
O prédio administrativo do parque ficava ao lado esquerdo do lugar, próximo à entrada, entre muitas árvores que quase o escondiam. Parecia um prédio de uma empresa, com quatro andares, persianas e luz fria, uma pequena pracinha circular na entrada, com várias flores e mais uma vez o “Parque Arlong”, dessa vez esculpido em concreto e no centro da pracinha. Alguns poucos trouxas de uniforme entravam e saiam do prédio, outros menos numerosos de terno. Entre ele uma peculiar figura, vindo à pé, na direção do prédio, com um vestido largo, longo e pesado azul turquesa, com uma chapéu pontudo também azul, longas barbas brancas e um óculos de meia lua. Ele parou defronte o prédio, olhando para toda a construção, dando um sorriso discreto. Assim que pôs os pés nas dependências do lugar uma mulher morena, de crachá, se aproximou, sorrindo. Não parecia se importar com a roupa extravagante do senhor:
- Poderia ajudá-lo? –perguntou.
- Ah, sim... eu sou... – ele não terminou. Uma voz masculina o chamou, como se tentasse confirmar.
- Professor Dumbledore...? – o professor se virou e viu um homem de uns 40 anos, de terno, com os olhos um pouco puxados, denunciando a descendência japonesa em algum lugar da árvore genealógica, o cabelo preto cheio de riscos brancos, como se tivesse jogado talco nele, dando a ele um ar de ouriço. Sorrindo, muito simpático, vindo em seu encontro, esticando a mão - ...é o senhor, não é?... Eu sou Toji Málaga... Guilherme Kojiro...
Dumbledore deu um “ah...” e esticou a mão, cumprimentando o homem, que se aproximou e pôs as mãos nos seus ombros, como se fosse velho amigo:
- Pode deixar, Meg... eu o acompanho. – disse, olhando a mulher, para em seguida voltar a atenção pra Dumbledore – Estamos te esperando. Sinta-se em casa...
- Não se incomode comigo... senhor Kojiro. Só vim falar com a sua esposa, não quero tomar o tempo de vocês...
- Tudo bem, o senhor é muito bem vindo – e em seguida olhou o relógio, para depois pegar uma pasta preta que estava no balcão – Infelizmente já estou atrasado... tenho um vôo agora... mas pode subir, sem problemas, a Leah está te esperando, no último andar, na sala dela... precisando, é só perguntar para qualquer funcionário.
- Agradeço, Kojiro... e boa viajem.
Kojiro acenou já da saída, e o professor voltou a olhar para frente, um corredor que ia de um lado para outro do prédio e uma escada que dava acesso aos outros andares. Um elevador de cada lado, para facilitar o trabalho do pessoal que carregava pilhas de papéis. Dumbledore parou defronte um deles e, quando a porta se abriu, dois rapazes, mais uma faxineira, entraram.
- Pode entrar, senhor – disse um deles. O professor olhou as escadas, o elevador, antes de dizer:
- Não, obrigada. Gosto das escadas trouxas. Não se mexem.
Os três se olharam quando a porta do elevador se fechou.
- Moço estranho... – comentou um deles. – Naquela idade, subir de escada?
- Ele vai ver a senhora Málaga – disse a faxineira – é no último andar...
O sino do elevador tocou, e a porta se abriu, no último andar. Nessa hora Dumbledore passava na frente deles, sorrindo.
- Seus elevadores precisam ser mais rápidos. Perdem tempo usando eles, sabiam?... Até logo.
O professor passou, andando suavemente até o fim do corredor. Os três ficaram boquiabertos, ainda dentro do elevador. Ao passar por um outro homem, de gravata e uma prancheta, ele perguntou onde era a sala dos ‘donos’ do Parque, e ele teve de atravessar uma grande sala, com vários trouxas – e bruxos que acenaram – falando ao telefone, carimbando papéis, batendo documentos nos computadores, escrevendo cartas com pena e nanquim, até chegar á porta ao fim da sala. Na sossegada salinha uma moça de óculos mexia em uns papéis, sentada numa mesa. A secretária atendeu Dumbledore e falou por telefone com a pessoa na outra sala, atrás dela, avisando que a ‘visita’ estava ali. O professor esticou os olhos para a porta à sua frente, ao lado da secretária e observou curioso a plaquinha preta e dourada:
Administração Geral Bruxa
Leah R. Toji Málaga
- Pode entrar, senhor – disse a secretária.
- Obrigado.
Dumbledore entrou na sala, e fechou a porta, impedindo que toda a agitação de fora invadisse o lugar. Uma sala até muito silenciosa, dava pra se ouvir as folhas das árvores do lado de fora, e, claro, vez ou outra o barulho do pessoal que gritava nas montanhas-russas. Ele ainda correu o olhar pela sala ampla, com tapete, dois sofás pretos e grandes, ao fundo uma estante com livros, na sua frente uma grande mesa de madeira pesada e escura, com telefone, fax, porta canetas, cadeira grande e almofadada, como um escritório de qualquer presidente de empresa que se preze. No canto direito da sala, onde não tinham janelas, uma longa prateleira, cheia de retratos, na parede alguns quadros grandes e pintados no estilo oriental, com ideogramas, paisagens, árvores, rios, flores, pessoas. E algo que chamou a atenção do professor: espalhado pelo lugar muitas réplicas de armas japonesas, nas paredes, mas, nessa prateleira, duas grande katanas – espada japonesa – pretas, em um suporte de ferro. Após a observação, ele olhou para os lados, suspirando e colocando as mãos pra trás:
- É um lugar deveras agradável.
E desceu o olhar para a única pessoa, além dele, que estava na sala: uma mulher, de costas, olhando da janela o carro cinza de Kojiro sair do Parque. Ninguém em sã consciência diria que ela era mais velha que o marido, era alta, com os cabelos muito finos, pretos e brilhantes, até pra baixo dos ombros, e alguns fios que caíam pelo rosto, como uma franja que a gente corta, mas esquece de aparar e ela cresce por demais. Também usava um tipo de terno preto, com uma blusa branca por baixo e botas por debaixo da calça. Ela deslizou os olhos para ele e virou-se, dizendo com uma voz um tanto melancólica:
- ...Alvo Dumbledore.
O professor sorriu por debaixo das barbas. Olhou com mais cuidado o rosto da mulher erguendo os olhos azuis por cima dos óculos:
- Leah... Málaga. Há quanto tempo.
Ela veio andando calmamente até a mesa, pôs a mão sobre a cadeira e ofereceu a da frente para ele:
- Por favor, sente-se.
- Não, obrigado. Estou bem de pé...
O professor continuou sorrindo, com as mãos para trás. Ela, então, puxou a cadeira, sentou-se e colocou os pés em cima da mesa, olhando o professor em frente à sua mesa. Ela tinha os olhos com um contorno como se fosse uma cobra peçonhenta que virou gente, estranhamente violetas, as sobrancelhas muito delineadas e o nariz fino. E tinha um sorriso. Um sorriso estreito, debochador e irritante, que, somados ao quase constante olhar de peixe morto dava a certeza que ela falava com você pensando “Você é um inútil babaca, um verme cego nojento que eu sequer preciso me dar ao trabalho de dirigir a palavra, mas faço a imensa caridade de te aturar porque eu sei que, no fundo, sabe que eu sou muito melhor que você.” E saber que ela dizia tudo isso com um simples e superior olhar despertava uma vontade gigantesca de socá-la. Leah não era uma mulher exatamente bonita, sua figura fugia muito do padrão da normalidade, mas, ainda assim, ela chamava a atenção. Talvez pelo fato de ser mesmo meio estranha. Ela lhe atraía, e você não sabia o porquê. Ela tinha uma presença extremamente forte, mesmo parecendo ter um semblante apático.
- Sinceramente... – comentou Dumbledore, um tanto calmo – Pensei que jamais a veria novamente. Mas veja o que o destino nos apronta... estamos, mais uma vez, com os caminhos cruzados.
Leah suspirou, meio incomodada, e cruzou os braços.
- Não estava em nossos planos voltar pra cá.
- Eu sei. – disse, se aproximando da prateleira e olhando os porta-retratos. – Vocês conseguem administrar todos esses... parques de onde moram. E, se não conseguem, Kojiro está à disposição dos clientes.
Ele olhou foto por foto. Uma foto do marido, Kojiro, com um pesado agasalho de neve, e um esqui preso ás costas. Outra foto, Leah, de óculos escuros, na borda de um barco, distraída, olhando o mar, outra, de um molequinho sorridente e cabelos arrepiados, agarrado em um galho de árvore como um macaquinho. E uma outra, uma jovem de uns 15 anos, muito bonita, apoiada em uma parede, como uma foto de modelo fotográfico. Lembrava muito a mãe, com a diferença de ter os olhos levemente puxados. Nessa última Dumbledore parou o olhar durante alguns instantes, para depois pegá-la e examinar de perto, levemente tristonho. Leah o olhou com o canto do olho, sem perder a pose, apesar de sentir a garganta apertar.
- Uma garota linda... – falou brandamente, sem tirar os olhos da foto preto-e-branco. – As formas de aprendizagem que a vida nos impõe são realmente imprevisíveis.
- Quem não aprende pelo amor... aprende pela dor, professor.
Dumbledore não deixou escapar um risinho, dando-lhe as costas.
- Você sempre levou tudo à ferro e fogo. – ele parou na frente de um recipiente de vidro, com alguns docinhos cristalizados dentro. Seu olhar pareceu brilhar – Isso são doces cristalizados do Brasil? Posso pegar um? – perguntou, com a boca cheia de água. Leah o olhou, estreitamente mal humorada, e o professor abriu o recipiente, sem esperar a resposta, pegando um cubinho de abóbora com a casca cristalizada e o recheio muito tenro e saboroso, e pareceu se deliciar com aquilo – Hum... isso nos leva ao céu e trás de volta. Puxa vida, vou levar um figo no bolso está com a cara ótima. – E sem receio enfiou um gordo figo verde no bolso. Voltou a olhar Leah, depois de chupar os dedos, e pareceu voltar à seriedade inicial - Achei que tinha mudado, mas continua exatamente igual à Leah que eu conhecia... e que eu vi desaparecer há quase vinte anos, pra levar uma vida de quase trouxa; pacífica, e um tanto rotineira.
- Eu só tentava levar uma vida normal. Longe de toda essa loucura.
Dumbledore suspirou mais uma vez, olhando novamente o porta retrato. Pelo olhar da menina da foto ela devia ser de um gênio difícil. Será que conseguia ser pior que a mãe?
- Engraçado tudo isso – comentou, virando o olhar para Leah – Você desapareceu daqui, fugindo do seu passado. E agora, que foge pela segunda vez, de um mais recente, dá de cara com ‘aquele passado’ do qual você fugiu primeiro...
Leah deu um longo suspiro também, olhando para fora da janela.
- Eu... estou cansada. – sussurrou, tentando não parecer tão deprimida.
Dumbledore, voltou-se para Leah e disse, olhando a mulher:
- Todo mundo perde alguma coisa durante a vida. Algumas coisas muito valiosas, outras não tão necessárias. O importante é não abandonar. – ele parou bem na frente da mesa, olhando para ela com o habitual olhar tranqüilo – Às vezes você pode encontrar as coisas que tinha perdido. Mas nunca mais irá achar aquelas que abandonou.
Ela fechou os olhos de deu mais um longo suspiro, fazendo descer pela garganta alguma coisa muito dolorida. O professor concluiu.
- Eu não sei exatamente o que você perdeu, Leah... mas está à um passo de abandonar.
Os dois trocaram um longo olhar. Ela tirou os pés da mesa, e endireitou-se, mantendo os braços cruzados. Dumbledore deu um leve e inocente sorriso:
- Para que sua vida não tenha mais sentido não basta perder tudo. Você tem que abandonar. Se você não consegue abandonar, mais cedo ou mais tarde você volta pra procurar o que deixou pras trás. Agora você está procurando alguma coisa que perdeu há vinte anos. Eu realmente almejo que não demore tanto tempo para que procure por aquilo que perdeu recentemente.
Ela começou a ficar incomodada e mal humorada:
- Muito bem, Alvo Dumbledore... vamos logo ao que realmente nos interessa.
*
“BLANC” - a roda deu um tranco e eles pararam lá em cima, para que outras pessoas descessem e subissem embaixo dela.
- Ai... – murmurou Gina, enquanto Rony procurava explicação. - O que houve? O que foi?
Harry e Hermione riram.
- É assim mesmo. Olha que legal, Rony - continuou Harry, debruçando e olhando a grande altura que havia e a vista ampla. - É mais ou menos essa sensação que tenho enquanto estou no alto procurando o pomo num jogo de quadribol.
- Ju... Jura? Fantástico, mas... Quer saber, talvez seja melhor continuar só como espectador... - Rony correu os olhos enquanto a roda se movimentava e eles devagar desciam. - Que castelo preto é aquele? Grande, hein?
- É o trem fantasma! É um lugar onde você anda de carrinho em corredores escuros cheios de monstros, corpos, bichos, teias de aranha, machados, correntes...
- Urgh... Acho que não vou, não...
- Ah, deve ser legal - disse Hermione. - Esse trem fantasma é diferente, você vai de carrinho durante o primeiro andar, e quando sobe pro segundo, desce e continua a pé, até o último andar!
- Deve ser legal, não? - disse Harry.
- Dizem que é de arrepiar os cabelos.
A portinhola se abriu e os meninos desceram. O céu já estava rosa do cair da tarde. O resto da família se reuniu de novo.
- Vamos comer algo? - sugeriu Arthur. - Antes que anoiteça, assim podemos visitar o resto das atrações.
- Vamos, tem muito lugar legal aqui para se comer - disse Hermione, dirigindo-se à praça de alimentação.
- O que o traz aqui, professor? – comentou Leah, tentando parecer desentendida.
- Ah, sim... – retrucou Dumbledore, voltando a passear pela sala, dessa vez parando pra reparar nas katanas negras. – Bom... se quer saber eu acho que no fundo você ‘sentia’ que, uma hora, teríamos de nos encontrar.
- Descobriu isso sozinho? – perguntou, erguendo as sobrancelhas e reforçando o olhar de superioridade e deboche.
- Hum... katanas... espadas samurais... as melhores espadas que se têm notícia. Capazes de cortar aço. Aliados a um poder mágico bem encaminhado... pode abrir uma fenda no céu. – Ao dizer isso Dumbledore riu – Bom... acho que você não largou sua antiga mania, Leah. Acertei? Ou talvez... as trouxe porque sabe que terá de usa-las de novo?
- Não estou interessada em suas teorias. Elas agora são peça de decoração.
- A aura que as envolve diz que ainda fazem parte do seu espírito. – sorriu satisfeito – Será que ao serem desembainhadas trarão de volta aquela época em que as trevas dominavam os dois mundos?... Ou talvez elas estejam aguardando ansiosamente serem desembainhadas para impedir que isso não volte a acontecer?
Leah olhou Dumbledore demoradamente, com os olhos estreitos. Não descruzava os braços de jeito nenhum, para não perder a pose de “fortaleza”. Ficaram trocando um longo olhar, como se conversassem em silêncio. Até ela dar um sorrisinho meia boca:
- Você está com medo.
Dumbledore ergueu as sobrancelhas, inocente:
- Perdão...?
- Foi o que eu disse. – sorriu – Você está com medo. Por isso está aqui.
- ...Descobriu isso sozinha? – retrucou o professor, mantendo a serenidade diante do olhar debochado dela. Leah respirou fundo, concluindo.
- Não... você não está com medo, Dumbledore. Você teve de se sujeitar a procurar minha ajuda. Justo a minha. Você está... apavorado, eu diria.
O professor achou interessante o que ela disse, mas não se abalou:
- É um comentário ousado e sarcástico... é, realmente, não há muita diferença entre você e a Leah de antes. Aliás, nem parece que você tem a idade que tem. Não lhe dariam mais de trinta e poucos anos.
- Bruxos de sangue puro. – murmurou Leah, meio de má vontade – Sabe que nós vivemos muito mais que os trouxas. O professor é bem inteligente por deixar essa aparência de velho cansado.
- Sua franqueza ainda é um de seus grandes trunfos, Leah... mas não estamos aqui para simples trocas de elogios. Você, no fundo, sabe o que me traz aqui. Preciso, mais uma vez, das suas habilidades.
Leah se arrumou na cadeira mais uma vez.
- Você veio pedir minha ajuda mesmo sabendo quem eu fui. Quem eu ainda sou. Não acha arriscado demais?
- Eu acredito em você, assim como Lílian acreditou. Sei que não gosta de ouvir falar dela... mas está na hora de enfrentar de frente tudo o que já aconteceu. Antes que seja tarde. Ainda há tempo. Um curto tempo.
- Então... se Lílian estivesse viva, não precisaria se preocupar em andar atrás de mim, não? Ela se encarregaria de tudo.
- Não. – balançou a cabeça – Não podemos dizer o que ela faria, já que não está mais por perto. De qualquer jeito, eu preciso de você, não de Lílian. Vim aqui pedir que nos ajude. Voldemort voltou, você sabe muito bem disso, e como era de se esperar, ele está mesmo de novo atrás da Espada dos Deuses e das outras espadas mágicas, e não pode encontrá-las. Nem ele, nem seus comensais.
- Como tem coragem de vir aqui e me pedir isso? Como pode ter certeza de que eu já não estou do lado deles? Tudo o que eu já fiz, o que eu sou, o que eu significo pra todo mundo...
- Você não tem nada de parecido com Voldemort, Leah. Eu sei disso. Você foi a melhor bruxa dele, a mais poderosa, que, de uma hora pra outra, usou suas habilidades para afundar o nosso mundo num mar de trevas e sangue. Você significa muito para Voldemort... mas não tem mais ligação alguma com ele.
- Infelizmente eu ainda tenho, professor. O senhor sabe que não tenho como deixar de ter.
- Eu sei que não tem. – sorriu – Ou nessa hora todos nós já estaríamos mortos. E é por isso que vim aqui. Porque sei que podemos mudar a história; você pode fazer parte do nosso lado, dessa vez, desde o início.
Leah pensou, desmanchando a expressão de superioridade. Olhou a parede alguns instantes, para finalmente descruzar os braços e se debruçar na mesa, apoiando o rosto na mão:
- Afinal, qual o problema?
- Vamos buscar as Espadas também. Mas quero convidá-la para nos ajudar a formar mais uma nova elite de bruxos... uma nova geração dos lendários bruxos espadachins. Bruxos jovens e poderosos, que sabem unir as habilidades mágicas ao manejo impecável das artes com espada. Você sabe do que eu falo.
- Hum...
- Tenho uma série de bons alunos que serão excelentes bruxos. E que precisam ser treinados. Por você. E pelos ex Aurores Supremos.
- Então... – suspirou Leah – Ser uma professora. Uma “treinadora secreta” de um bando de pirralhos.
- Uma meia dúzia, sorriu; coisa pouca.
- Tenho alguém de interessante? – murmurou.
- Descendentes dos Malfoy, dos Weasley, dos Longbotton... uma espécie de, se me perdoa a brincadeira, ‘Lílian Evans’ e, claro... um... um... como se chama mesmo? - Dumbledore fingia forçar a memória - Acho que você conhece... algum... Potter?
Leah voltou a cruzar os braços, mordendo os lábios, pensando. Dumbledore a olhava por cima dos óculos.
- Tudo bem. – finalizou, olhando o professor – O abacaxi é meu.
- Ótimo. – sorriu o professor, orgulhoso – Então estou de saída. Se quiser conhecer alguns dos seus futuros alunos... dê uma passada agora lá pela praça de alimentação. Curiosamente, eles vieram se divertir hoje. No seu parque.
Leah ergueu as sobrancelhas:
- Eu sei disso. Feliz coincidência, não, Dumbledore?
O professor saiu sorrindo, recolocando o chapéu de bruxo.
A noite já começava, e todos conversavam animados nas mesas da praça de alimentação quando Harry sentiu um leve par de mãos repousar sobre seus ombros, e a rouca e confortável voz de Dumbledore dizer:
- Como é bom saber que tantos alunos meus aproveitam as férias de maneira unida e saudável.
- Professor Dumbledore! – sorriu Harry.
Dumbledore riu-se e fez um gesto para que os presentes não fizessem muita festa.
- Professor! - exclamou Arthur, sorrindo. – veio conhecer o parque também? Achei bárbara a idéia de unir trouxas e bruxos num só ambiente... os garotos estão adorando.
- Bom, Arthur... também vim conhecer. Mas não sou muito fã dessas atrações que os trouxas inventam. Na verdade, vim trocar algumas palavras com uma nova professora de Hogwarts...
- Num parque de diversões?... - espantou-se Rony.
- Estranho para vocês? Ela é a esposa do dono deste parque, ele é trouxa. Mas para dizer a verdade, acho que eu ‘adivinhei’ que ela estaria por aqui. Sabem... ela mudou-se para bem longe faz 20 anos. Mas, por uma peça do destino, está de volta. Num momento bem oportuno, eu diria.
- Ah, então é por isso mesmo que a gente cruza com tantas coisas do mundo bruxo... Harry e Hermione disseram que viram um Comensal da Morte...
Dumbledore olhou os dois sob os óculos de meia lua.
- Verdade?... Nada mais natural num parque que é bruxo e trouxa ao mesmo tempo... - e abriu um sorriso muito calmo – Sem contar que uma brincadeira de mal gosto dessas é bem típico dela. Creio que se houvesse algo realmente errado por aqui, sua cicatriz avisaria, não, Harry?
- Hum... - resmungou Harry, olhando para o lado. – É, ela está... hum... normal.
- Não há problema. Mas não condeno a cautela de vocês dois, afinal é justificável pelos apuros que já passaram. Querem um conselho? Podem descansar, aproveitem o passeio... Ah! Sra. Málaga, por favor, se aproxime...
Dumbledore desviou-se das cadeiras para ir ao encontro de Leah. Ela se aproximou de todos, como se não tivesse falado sobre nada, como se estivesse apenas passeando pelo parque.
- Gostando do passeio, professor?... Acho que ainda não teve tempo de conhecer tudo, não? Faz pouco tempo que deixou minha sala.
- É um ambiente agradável, Leah, apesar do pouco tempo. Adorei a idéia de mesclar os mundos trouxa e bruxo, vocês conseguem garantir diversão pra ambas as partes. Os bruxos nem precisam se preocupar com a aparência. Os trouxas podem achar que apenas são parte do espetáculo. Louvável.
A mulher ergueu as sobrancelhas, como se não soubesse do que se tratasse.
- Apenas uma idéia original posta em prática, professor, nada de exuberante... Algum comentário adicional? Estamos só começando...
Dumbledore apontou os alunos com a cabeça, sorrindo:
- É que meus alunos já cruzaram com um Comensal da Morte nas redondezas... Esses são os Weasley, Sr. Arthur Weasley, diretor no Ministério da Magia, Sra. Molly Weasley, meus ex-alunos, Fred e Jorge, Rony e Gina, como preferem ser chamados, começarão o sétimo e sexto ano, Hermione Granger – ela acenou com a cabeça, enquanto Dumbledore continuava. - e este é Harry Potter, também no sétimo ano...
Ao parar os olhos em Harry Leah não deixou de erguer as sobrancelhas. Harry notou que, apesar da reação, ela não parecia lisonjeada ao vê-lo, coisa que quase sempre acontecia.
- Harry Potter?... Você está enorme. Tenho certeza de que o reconheceria... mesmo sem essa cicatriz.
Harry passou os dedos na testa. O que ela queria dizer com ‘mesmo sem a cicatriz’ e ‘enorme’? Leah virou para Hermione, parou os olhos nela durante um longo tempo, com o olhar estreito. Deu um sorrisinho levemente tonto, fazendo o olhar de peixe morto voltar ao rosto:
- Você é... Hermione Granger...? Hum... tem razão, você se parece muito com uma velha... amiga minha, filha de trouxas. Sabe... ela foi uma grande bruxa.
- Hermione também já é uma grande bruxa – sorriu Dumbledore. Hermione ficou sem jeito – Se será tão boa quanto a sua amiga, só o tempo dirá.
Málaga deu um passo para trás, e voltou a olhar Harry.
- Então... Está gostando do parque, Harry?... Você está se tornando um homem muito, muito bonito, idêntico ao seu pai... - ela fez uma pausa como se fosse dizer algo que tirasse toda a beleza que ela tinha dado pro menino no primeiro elogio - Se não fossem os olhos de sua mãe.
- Conheceu meus pais?... - jogou Harry na mesma hora, olhando-a fixamente e levantando-se da cadeira. Ela afastou o rosto e se mostrou um pouco envergonhada.
- Bem... Eu... Estudava em Hogwarts na mesma época que seus pais, e... - Dumbledore sorriu da situação, Harry olhou para ele sem entender.
- O que houve? – perguntou, curioso.
- Acalme-se, Harry. - disse Dumbledore. - Bem, digamos que a Sra. Málaga tenha seus motivos para não admirar muito sua mãe enquanto tece elogios ao seu pai...
- Quais?
- Eu poderia dizer... bom... como sintetizar tudo? Digamos que a senhora Leah... foi a primeira namorada de seu pai.
- Essa desculpa não vai colar. – riu Leah, sínica.
- ...O quê?... - Harry ficou surpreso. Dumbledore continuou, sorrindo.
- Não se preocupe, seus pais se casaram e Leah se tornou uma das maiores amigas deles. Passaram por muitas coisas juntas. Muitas mesmo. Levaríamos dias contando.
- Eu estava em meio à batalha contra o Lorde Voldemort quando eles foram mortos, saí viva, mas infelizmente não pude fazer nada para ajudá-los. – suspirou Leah, tentando chegar logo aos “finalmentes” do assunto - Às vezes eu ainda ponho a cabeça no travesseiro e me culpo por não os tê-los salvo naquela noite. Era minha obrigação.
Nenhum dos três percebeu o tremor que assolou a mesa quando ela disse sem medo algum o nome do Você-Sabe-Quem ou quando relembrou a noite da morte de Lílian e Tiago. Só Dumbledore, que fez um sinal com a mão para que se calassem, ao olhar a mesa.
- Sem recordações tristes, por favor... A família Weasley e seus convidados estão aqui para se divertir, não há motivos para que continuemos com essa conversa, quem sabe em outra oportunidade.
Rony concordou rapidamente com a cabeça, enquanto Dumbledore colocava a mão sobre os ombros de Leah, dizendo um “vamos?...”.
- Claro, claro, professor – respondeu. – Precisa ir embora ou podemos trocar mais uma meia dúzia de palavras?... O senhor sabe, vinte anos... precisamos colocar as fofocas em dia. – Dumbledore riu, comentando que era bom vê-la voltar a falar bobagem, como antes - Bem, até o início das aulas, garotos, foi um prazer. Adeus.
Os garotos responderam apenas com algumas palavras monossílabas e observaram os dois se afastarem da mesa.
- Tia estranha... – resmungou Rony. – Mas não parece nociva... Harry?
- Hum? – resmungou Harry, olhando o amigo. – É, ela parece ser legal... Mas acho que ela tinha raiva da minha mãe. Se é que era raiva.
- Imagina - disse Rony. – Deve ser só coisa de quando eles estudavam... sabe como é... será que o Lupin ou o Sirius conhecem a tia aí?..
- Não se preocupe, Harry – tranqüilizou Molly. – a Sra. Leah Málaga é uma boa pessoa. Ouvimos falar dela há algum tempo.
- O Ministério falou sobre umas mudanças que ela fez num castelo de bruxaria onde trabalhou, na América. – comentou Sr. Weasley, arrumando os óculos – Faz tempo... ela parece colecionar alguns inimigos, mas parece saber muito bem como “levar as coisas onde que põe a mão”. Sinceramente, muitos bruxos não gostam dela, mas ela era bem relacionada entre a última elite de Aurores.
Harry apenas olhou para ela e respondeu com um aceno de cabeça. Eles saíram da praça de alimentação e continuaram a visitar os brinquedos. Quando a noite chegou, vários caras vestidos de monstros saíram andando pelo parque, zanzando entre as pessoas e fazendo cara feia. Incluindo alguns dementadores e Comensais da Morte. No fim, todos já haviam se acostumado com a idéia e até achavam divertido.
- Olha só. - disse Rony, achando ótimo. - Um auror ficaria perdidinho aqui, no meio de tantos Comensais e dementadores!
- Só falta irmos ao tal trem fantasma – disse Jorge, olhando para Gina, que estava assustada olhando o grande castelo. – Que foi? Está com medo?
Gina, meio forçada, fez um não com a cabeça:
- Vai sonhando. – desafiou o irmão, fingindo segurança.
Todos se dirigiram para o castelo. Quem saía pelo lado esquerdo dele, por um portão, tremia as pernas e ria ao mesmo tempo. Quem entrava, entrava sentado em um carrinho que lembrava os de Gringotes, cabendo quatro pessoas. Fred então olhou o resto dos meninos e sorriu.
- E aí? Vamos encarar?
- Certeza... Se não tiver nenhuma aranha gigante, lógico; adiantou Rony.
A turma inteira parou na grade do brinquedo e esticou o pescoço para tentar ver alguma coisa, mas não conseguiram por causa dos panos pretos que cobriam o corredor de entrada.
- Vamos logo, minha gente - apressou Fred, entrando na fila.
- Eu não entro - disse Arthur, fazendo os meninos o olharem espantados. - Sinto muito, mas eu os aguardo aqui fora, não tenho mais idade para tantas emoções num só dia.
- Francamente, pai...
- Eu também fico - acrescentou Molly. - Podem ir.
- Era só o que me faltava - resmungou Fred, em seguida olhando Harry e Hermione. - AGORA vocês vêm, né?
Os dois se entreolharam e resolveram dizer que sim, com ela justificando que “o medo que passariam era coisa da cabeça, porque os sustos não passavam de bonecos e montagens, muito mal feitos, por sinal.”
No carrinho da frente foram Fred, Jorge e Gina. Atrás, Harry, Rony e Hermione. Gina, aliás, queria de qualquer jeito ir no de trás, para saber mais ou menos o susto que levaria, mas achou melhor ficar na frente mesmo e não correr o risco de levar um susto e agarrar alguém pelo pescoço, pagando um mico fenomenal. A partida foi dada com um solavanco, e os carrinhos foram em direção ao fim do corredor e desapareceram nos panos pretos. Do lado de fora os pais de Rony davam sarcásticos tchauzinhos para os garotos. Na seqüência, os carrinhos davam trancos barulhentos a cada curva fechada, gritos e luzes piscavam enquanto monstros, bruxas, facas, machados, morcegos e, para azar de Rony, aranhas e teias raspavam e se jogavam na frente dos garotos, que mais riam da situação do que gritavam. Com exceção de Rony, é claro. Os carrinhos então pararam em um lugar onde viraram e apontaram para uma grande subida, para irem ao segundo andar.
- Já, já teremos de continuar à pé, disse Hermione, ofegante de sustos e risadas.
- Espero que não tenha mais aranhas, resmungou Rony, com a mão no peito. Harry riu o virou-se dizendo:
- Não se preocupe, pelo menos à pé você vai poder dar um soco na cabeça dela e... ai. - Harry levou a mão na testa cortando a risada no meio. Rony e Hermione pularam no assento.
- Que foi?! – Perguntou Rony, assustado. Harry tentou acalmá-lo, dizendo que provavelmente resultado de alguma batida em algum brinquedo que ele não percebeu. Os amigos deram um "Ah..." e voltaram a olhar para a frente. Então o carrinho deu outro forte solavanco e começou a subir devagar a rampa.
N.A 1: Muito bem, estou tentando me familiarizar com as tags, formatações e etc da Floreios. Se a fic estiver com a formatação zuada, me perdoem! Pretendo deixar ela tinindo o quanto antes, porque eu sei o quanto é ruim ler uma coisa bagunçada. Se escapou algum erro de portugues ou de digitação, perdoem também, porque essa semana foi meio atrapalhada.
N.A2: Pretendo atualizar a EdD aqui toda semana, entre sexta, sábado ou domingo. Contando todas as fics e capítulos, se minha série for publicada por aqui por inteiro, será um ano e meio de capítulos, HAHAHAHHAHAHA
N.A3: Para quem conhece a série, sabe que esse capítulo leva o nome da personagem original mais famosa da série. Ela não deveria aparecer muito, ams como eu faço da EdD uma série quase que Universo Alternativo, já que os bruxos usam e procuram por espadas pelo mundo, e etc, eu precisava de alguém que fosse "da área"e assim eu pudesse usa-lo de gancho para colocar todos os personagens dos livros no contexto e no mundo da fanfic. E essa função cabe à Leah. Muita gente a adora, outra parte a detesta, mas acho que todos sabem que ela ainda esconde muita coisa na manga. Ah, e junto com a Leah aparece também o Guilherme, que todos chama de Kojiro, marido dela. Outro personagem original que todo mundo adora. Mentira. N'so mulheres é que o adoramos. Afinal, ele é um doce e adorável pedaço de mal caminho!
N.A 4: Até o próximo capítulo, onde as coisas desandam e um fato importantíssimo pra série acontece!
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