Descobertas
CAPÍTULO VII
A vida de Hermione não foi mais a mesma. No primeiro dia em que chegou foi à livraria no mesmo ho¬rário de costume, mas sentia que sua vida estava mudada. lançava-lhe olhares curiosos. Hermione tinha quase certeza de que a amiga não acreditara em uma palavra do que ela contara sobre as férias no México. No dia seguinte, porém, os jornais confirmaram sua história.
-— É verdade! — exclamou com um sobressalto, fa¬zendo os cabelos ruivos saltarem em torno do rosto delicado. — Está tudo aqui no jornal. O seqüestro aconteceu mesmo, veja!
Hermione sorriu, abaixando a vista para o jornal enquanto mantinha a expressão de espanto. Havia uma foto do piloto e outra do seqüestrador que não fora ferido sendo retirado do avião. Nenhuma foto de Draco, mas não foi surpresa para Hermione. Ele parecia muito acostumado a driblar a imprensa.
— Oh, aqui está uma menção ao homem que dominou os seqüestradores... — franziu o cenho, contendo a respi¬ração ao ler a descrição dramática do episódio. Ao terminar, le¬vantou a vista para Hermione: — Você fez isso?
— Ele disse que pediriam armas automáticas quando chegás¬semos a Miami — ela se justificou.
abaixou o jornal.
— Um mercenário profissional. — Olhou para a amiga. — Não acredito nisso. Não perguntou o que ele fazia antes de se casarem?
— Se o visse, não ficaria surpresa por eu não ter perguntado. — Afastou-se um pouco. Não queria falar sobre Draco. Precisava esquecê-lo. Ainda mais agora que ele estava a caminho de uma nova missão.
— Nenhum homem é tão irresistível assim — con¬testou. — Nem mesmo Dave. — Ela referia-se ao próprio marido. — A propósito, a sra. Jones telefonou para agradecer pelos livros autografados.
— Oh, fiz aquilo com prazer. Foi muito bom conhecer alguns autores durante a noite de autógrafos.
Hermione verificou o caixa, enquanto abriam a livraria.
— Onde ele está agora? — voltou ao assunto anterior.
— Contratando um bom advogado, espero — Hermione sorriu com pesar. — Batemos o novo recorde de casamentos arruinados. Uma semana.
— Talvez consigam contornar a situação — sugeriu, tentando animar a amiga.
Hermione não ousou olhá-la.
— Ele ganha a vida se arriscando, — salientou. — ¬Não posso passar o resto da vida me preocupando com ele. Prefiro deixá-lo enquanto ainda posso.
— Deve saber o que é melhor para você — deu de ombros. — Mas quando decide se aventurar entra mesmo de cabeça, não é? Casar com um estranho, capturar seqüestradores...
Hermione sorriu quando a amiga seguiu em frente resmungando. Sim, ela se aventurara muito. Mas agora tudo terminara. O melhor a fazer seria guardar as boas lembranças e continuar sua vida. Como primeiro passo, tiraria Draco da cabeça para sempre. Para isso, precisava parar de ler jornais. De agora em diante, todas as vezes que ouvisse falar em algum conflito no exterior, seria impossível não lembrar dele.
Claro que não foi assim tão fácil. Nas semanas que se seguiram, tudo conspirava para fazê-la lembrar de Draco. Principalmente , que tor¬nou-se desconfiada quando Hermione começou a dispensar o desjejum.
— Deve ser alguma praga daquele seqüestrador — Hermione brin¬cou certa manhã.
Percebeu o olhar intrigado de , ao vê-la sair do banheiro com um lenço de papel nos lábios.
— Está parecendo mais praga de cegonha, isso sim — respondeu.
Hermione riu, apesar da leve apreensão.
— Não estou grávida.
— Já tive um aborto. Mas nunca vou esquecer como me senti no início da gravidez. A gente fica pálida feito papel, vive se cansando à toa e o estômago está sempre enjoado, não importa o que você coma.
Eram os mesmos sintomas que Hermione vinha sentindo ultimamente, mas não queria admitir nem para si mesma. Viu-se obrigada a dar razão a . Sentou atrás do balcão com um profundo suspiro.
-— Sua maluca, não pensou nem em anticoncepcionais? — lamentou, passando o braço pelos ombros dela.
Apesar de ser apenas quatro anos mais velha, às vezes agia como se a diferença de idade entre as duas fosse bem maior. Hermione deixou as lágrimas virem à tona. Andara contendo-as durante muitos dias. Na noite anterior, durante o noticiário da tevê, entrara em pânico ao ver um homem loiro em meio às tropas que atuavam em uma ação guerrilheira na África.
— Estou grávida — admitiu mais para si mesma do que para a amiga.
— Sim, eu sei.
-— Oh, , estou com tanto medo! — disse num soluço. — Não entendo nada de crianças.
— Calma, calma, srta. Granger, também não entendo nada de bebês, mas daremos um jeito. — Sorriu com afeição sincera. — Cuidarei de você. — Procurou os olhos de Hermione. — Quer ter esse filho?
Hermione deu de ombros.
— Uma vez assisti um filme de como os bebês se desenvolvem. — Pousou a mão sobre o ventre. — Mostraram o que acontece quando uma gravidez é interrompida por um aborto. — Levantou a vista. — Chorei muito.
— Às vezes isso tem que ser feito pelo bem da situação — salientou.
— Somente em algumas circunstâncias, quando há risco — Hermione anuiu. — Mas nunca vou encarar isso como uma atitude casual para a contracepção. Quanto a mim... — respirou fundo. — Eu quero esse filho. — Uniu as mãos com um leve sorriso. — Será que ele vai ser loirinho?
— Também pode ser ela — lembrou.
-— Sim, claro. Adoro meninas loirinhas. — Suspirou. — Não é incrível sentir uma outra vida crescendo dentro de você?
— Sim, a época em que fiquei grávida foi a mais feliz da minha vida.
Hermione sorriu para a amiga.
— Pode compartilhar essa gravidez comigo.
Os olhos de encheram-se de lágrimas. Desviou o olhar antes que Hermione pudesse perceber alguma fraqueza de sua parte.
— Claro que posso. Agora você precisa ir ao médico e ver com quanto tempo está.
— Eu já sei — Hermione respondeu, lembrando-se da manhã em que Draco a amara com um carinho que nem mesmo ele se achava capaz.
— Precisará de vitaminas — prosseguiu —, e uma dieta adequada.
— Roupas de bebê, um berço... — Hermione completou com ar sonhador.
— Isso somente depois do sétimo mês — disse com firmeza. — Também precisa ser realista. Às vezes acontece, de outras não. Porém, ajuda não se envolver demais logo no início.
— Ah, sua estraga prazeres! — Hermione protestou.
— O médico lhe dirá a mesma coisa. Hermione. Comprei os móveis do bebê quando estava com um mês de gravidez. Abortei com quatro meses e agora estou com tudo lá em casa, estocado. Não cometa o mesmo erro.
Hermione arrependeu-se do comentário e afagou o ombro da amiga.
— Obrigada por ser minha amiga e se importar tanto comigo.
— Alguém precisa fazer isso. — hesitou um instante. — Vai contar a ele?
— Como? Nem sei onde ele está! — revirou os olhos.
— Deus, ela está casada com o homem e nem sabe onde ele mora!
Hermione riu do jeito da amiga.
— Bem, não tivemos muito tempo para conversar.
— Já deu para notar — respondeu olhando para a barriga dela.
— Mesmo que eu soubesse onde ele está, acho que não contaria. Ele disse que não queria filhos. Ficaria furioso se soubesse. Será melhor que o divórcio prossiga sem que Draco saiba da gravidez.
— Mas como conseguirá se divorciar sem nem mesmo saber onde ele está?
— Draco está providenciando o divórcio, não eu. Ele tem meu endereço.
— Ótimo. Agora vamos vender alguns livros? Ah, mas primeiro ligue para o médico — anunciou voltando para seu posto de atendimento.
A saúde de Hermione estava boa. O médico da família receitou algumas vitaminas para ela tomar durante o pré-natal. O dr. Henry Carter sorria satisfeito cada vez que Hermione voltava para visitá-lo. Ela ficava cada dia mais feliz com a gravidez.
— Está mesmo gostando dessa gravidez, não é? — perguntou ele durante a terceira visita, quando ela já estava com quatro meses e meio.
— Muito! — Tocou a saliência em sua barriga. — Acho que ele mexeu hoje pela manhã — acrescentou, feliz. — A sensação lembrou as asas de um passarinho tentando se libertar.
— Sim — o médico sorriu, compreensivo. — Outras mães já me disseram isso. Os primeiros sinais de um bebê sadio. Os exa¬mes que já fizemos comprovam isso.
Hermione adorara realizar o ultra-som. Ganhara uma foto da cabeça do bebê.
-— Alguma notícia de seu marido? — o médico inquiriu.
— Não — Hermione sentiu um frio na espinha. Abaixou a vista para as mãos. — Talvez ele nunca volte.
— Sinto muito. Perguntei por que gostaria que você se inscre¬vesse para ter aulas de parto natural. Mesmo que não queira esse tipo de parto, os exercícios a ajudarão no momento de dar à luz — ele explicou. — Porém, infelizmente, os exercícios requerem a participação de um parceiro.
— Gina não pode fazer comigo?
O dr. Carter sorriu. Ele conhecia .
— A melhor pessoa que conheço para um treinamento — disse ele. — Na verdade só o que ela precisa fazer é ficar ao seu lado e lhe dizer quando respirar.
— Ela já faz isso muito bem — Hermione brincou.
— Ok. Vou inscrevê-la para o próximo mês. Está indo muito bem. Agora pode ir e não se esforce demais, ouviu? O calor está terrível nesse verão.
— Tem razão — ela anuiu, ajeitando a delicada bata de gravidez. Após marcar a consulta seguinte, Hermione voltou para a livraria. O dia estava lindo, do tipo que inspira artistas a realizar belas obras de arte. Enquanto caminhava, cantarolava baixinho, feliz pela gravidez estar correndo tão bem.
Entrou com passos vagarosos no pequeno shopping center lo¬calizado no centro de Greenville, alheia à agitação das pessoas e das crianças brincando na calçada. Abriu a porta da livraria com um leve sorriso nos lábios. Deparou-se com Draco.
Ele trajava uma calça cáqui e camisa branca. Trazia uma nova cicatriz no supercílio direito. Parecia um pouco mais magro, embora continuasse tão atraente e irresistível quanto antes. Devia estar pensando o mesmo, pois não desviava, os olhos dele, boquiaberta.
Draco também examinava o local. Ao ver Hermione, abaixou a vista para a barriga dela, tornando-se visivelmente espantado. Para ele, foi como se lhe houvessem roubado o ar dos pulmões. Voltara para ver se poderiam começar uma vida em comum e se Hermione pensara melhor sobre a situação. Agora se deparava com isso!
Hermione percebeu o terror nos olhos dele. Se esperava algum tipo de reconciliação, agora sabia que não passara de ilusão de sua parte. Depois de tantas noites de solidão e esperança de revê-lo, a reação de Draco fora decepcionante. Passara muito tempo imaginando como ele reagiria se ela contasse sobre o bebê. Agora sabia.
Era muita coisa de uma vez. O reencontro, a ânsia de abraçá-lo, os meses de preocupação...
Hermione desmaiou diante dele.
Quando voltou a si, estava no aposento no fundo da livraria, onde costumava comer lanches com Gina . Viu-se deitada no sofá, sem sapatos e com um pano úmido na testa.
—... passou momentos difíceis — dizia . — Ela é sau¬dável, mas não descansa o necessário.
— Nunca deveria ter me casado com ela — ouviu a voz de Draco.
— Você é um presente de grego, sabia? Hermione nunca teve nada ou ninguém para tornar a vida dela mais fácil. Os pais a aban¬donaram quando ela não passava de um bebê! Hermione nem sabe quem eles são. Nunca teve um namorado de verdade. Não tinha ninguém no mundo, além de mim. Agora aparece você de repente, faz ela cair a seus pés, a engravida e abandona! Portanto, se lhe resta pelo menos um mínimo de dignidade, peço que saia da vida dela e a deixe em paz.
— E a deixe aos cuidados de sua piedade? — Draco ironizou. — Nunca!
"Essa não", pensou Hermione. Sabia bem o que estava prestes a começar. A Terceira Guerra Mundial. Draco e Gina tinham gê¬nios explosivos demais.
— E que tipo de ajuda ela receberia de você, seu... seu...
— Não. — Hermione pediu com voz fraca. Ao abrir os olhos, notou que eles estavam um diante do outro, prontos para a batalha. Ambos voltaram-se para ela. — Não. — repetiu com mais firmeza. — Se quiserem discutir, podem ir para a rua, por favor. Não suporto discussões.
— Desculpe, querida — disse . — Você está bem?
— Sim, obrigada.
Hermione sentou, pressionando o pano úmido contra o rosto en¬quanto Draco a fitava com olhar irado. Seu rosto lembrava o de uma estátua de mármore.
— Bem, não precisa me olhar desse jeito — disse a ele, seca. — Lembre que eu não engravidei sozinha! — conteve a vontade de rir.
— Vou deixá-los sozinhos para conversarem — anunciou.
— Conversaremos em casa — Hermione avisou, sem desviar o olhar de Draco. — Pelo menos, lá poderei atirar coisas e gritar quando quiser.
Ficou de pé enquanto Draco tentava não rir da fúria dela.
— Não se mexa tão rápido, não fará bem a você — ele re¬comendou tomando-lhe a mão. Olhou para Gina — Agüentará por uma ou duas horas?
— Claro. E você? — replicou ela. Draco não pôde evitar o sorriso.
— Sim, mamãe — brincou. — Não vou machucar sua cria.
Conduziu Hermione para fora da livraria, deixando que ela lhe in¬dicasse o caminho do apartamento. Hermione morava depois do pri¬meiro lance da escada. Draco franziu o cenho. Não gostou nem um pouco do detalhe da escada.
— Precisará mudar daqui — asseverou depois que entraram no apartamento.
— O quê?! —Hermione virou-se para olhá-lo.
— Precisa se mudar — Draco repetiu. — Não pode ficar subindo e descendo escadas desse jeito.
— Não estou doente, Draco, apenas esperando um filho — disse ela, encarando-o. — É um menino, se quer saber, e vou chamá-lo de Joshua.
O rosto dele continuou impassível. Olhou-a com atenção. Pela primeira vez, em meses, sentiu-se completo novamente. Deixar Hermione fora a coisa mais difícil que já fizera na vida. Todo o tempo em que ficara longe, não conseguia parar de pensar nela, dese¬já-la...
Ainda a desejava, mas Hermione estava grávida. Ele não queria um filho e nem que ela estivesse nesse estado. A visão trazia-lhe lembranças insuportáveis.
Ele nem pretendia voltar; não iria mudar seu estilo de vida. Seus maiores medos vieram à tona no momento em que ele a viu, na livraria.
— Trouxe os papéis do divórcio com você? — Hermione indagou com calma.
Draco resfolegou, irritado. Acendeu um cigarro sem nem per¬guntar se ela se importava.
— Não mudou mesmo de opinião, não é? — indagou ele com a voz tão fria quanto o olhar. — Como posso me divorciar com você nesse estado? Não vai querer ajuda para sustentar a criança?
Ele não a teria magoado tanto se a tivesse esbofeteado. Os olhos de Hermione encheram-se de lágrimas, mas ela continuou encarando-o.
— Saia daqui! — bradou.
— Essa criança é mesmo minha?
Hermione pegou o primeiro objeto que viu pela frente, uma pequena estatueta em estilo grego, e atirou nele.
— Maldito!
Draco desviou-se a tempo de o objeto acertar a porta, partindo-se em uma porção de pedaços.
— Saia da minha casa! E da minha vida! — Hermione vociferou. — Oh, Deus, odeio você! Odeio!
Correu para o banheiro, tomada por uma nova onda de náusea. Chorou muito, alheia ao homem que pouco depois segurava um pano úmido junto à sua testa.
-— Odeio você — repetiu quando se recuperou o suficiente para falar.
Manteve a cabeça encostada à parede, mal conseguindo ficar de pé.
Draco enxugou-lhe o rosto com gentileza. Deixando o pano de lado, tomou-a nos braços, levando-a para o quarto. Deitou-a com cuidado e ligou o ventilador, posicionando-o de uma maneira que não a soprasse diretamente.
— Durma um pouco — disse a ela. — Depois conversaremos.
— Não quero conversar — Hermione respondeu num tom fraco.
Adormeceu pouco depois, cansada demais para protestar. Draco sentou-se ao lado dela, arrependido pelo que acontecera. Percorreu a vista pelo corpo estendido na cama. Num gesto quase incons¬ciente, afastou o tecido da bata. A barriga estava femininamente arredondada. Então era assim que a mulher ficava na gravidez, pensou consigo.
Estremeceu ao lembrar de uma outra mulher, também grávida. Mas Hermione era diferente. Tocou a saliência do ventre com dedos hesitantes. Sim, era firme. Seu filho estava ali. Um menino, se¬gundo ela. Como Hermione poderia ter tanta certeza? Bem, atualmente os médicos faziam exames para descobrir essas coisas. Tocou a parte de cima da saliência e de repente sentiu algo se mover sob seus dedos. Afastou a mão, surpreso.
Hermione acordara quando ele tocara sua barriga pela primeira vez. Observava com fascinação as expressões passarem pelo semblante de Draco. Porém, não conseguiu conter o riso diante da última. Ele voltou a olhá-la.
— O que eu fiz? — indagou.
— O bebê mexeu — Hermione explicou.
— Mexeu? — Franziu o cenho, voltando a olhar a barriga dela. Embora hesitante, tocou-a novamente.
Hermione levou a mão dele até um lado de sua barriga. Pressionou-a um pouco e o bebê mexeu de novo. Draco sorriu, satisfeito.
— Quando eles ficam maiores, começam a chutar — Hermione explicou. — O médico disse que quanto mais ativos, mais sau¬dáveis eles são. Esse aqui não pára de se mexer.
— Nunca pensei... — Percorreu a vista pelo corpo dela, antes de se concentrar no rosto. — Nunca vi uma mulher grávida assim.
— Não ligo por estar me olhando dessa maneira — Hermione sussurrou, encantada com a maneira como Draco reagia à visão de seu corpo.
Havia algo diferente no rosto dele, uma espécie de ternura. Ele levantou a bata até o queixo de Hermione surpreso com as mu¬danças nos seios dela.
— Estão mais firmes — comentou. — E mais escuros aqui. —Deslizou o dedo por um mamilo, fazendo Hermione estremecer diante das lembranças que lhe vieram à mente.
— Pequenas mudanças — comentou, esforçando-se para res¬pirar. — Eles vão crescer mais de agora em diante. Melhor, assim poderei amamentá-lo bem.
Draco sentiu uma onda de emoção.
— Não pensei que as mulheres se preocupassem com isso hoje em dia.
Hermione sorriu.
— Quero fazer tudo. Estou adorando me sentir grávida. Nunca tive alguém que dependesse de mim, sabe. Alguém para cuidar, amar... Ele será minha vida. Cuidarei dele com carinho, brinca¬remos quando ele estiver maior... Pretendo levá-lo a todo lugar comigo e... — interrompeu-se ao ver a expressão no rosto de Draco. — O que você disse sobre a ajuda para sustentá-lo não será necessário. Ganho o suficiente para nos sustentar. Irei tomá-lo sob minha responsabilidade.
Draco nunca se sentira tão vazio e sozinho na vida. Olhou para o ventre de Hermione, desejando todo aquele carinho para si. Porém, isso era impossível. Hermione não o queria mais. Ela mesma dissera isso. Abaixou a bata devagar.
— Será uma boa mãe — disse para ela.
— Lamento que tenha sabido dessa maneira. Eu teria escrito para você, mas não tinha nem seu endereço.
Draco ficou de pé. Aproximou-se da janela e acendeu outro cigarro. Parecia sozinho, perdido.
— Você... sofreu algum ferimento? -— indagou Hermione, evitando encará-lo.
— Só alguns arranhões.
Draco observou a fumaça do cigarro durante algum tempo, antes de voltar a olhar a cidade através da janela. Não fizera nada direito desde que saíra daquele maldito avião. Queria falar sobre reconciliação, mas quando a vira grávida sentira-se totalmente perdido. Tudo por causa das más lembranças, claro. Elas o per¬seguiam onde quer que ele fosse.
Voltou a olhar Hermione, preocupado com a aparência dela. A amiga dela dissera que Hermione andava muito cansada. Sim, ela parecia mesmo um pouco abatida. O rosto dela estava radiante no mo¬mento em que ela entrara na livraria, mas aquele ar de felicidade desaparecera de repente. E tudo por culpa de sua atitude fria e idiota. Ele a magoara. Mais uma vez. Porém, sem intenção.
— O que eu disse antes... — começou com relutância, olhando para ela. — Sei que o filho é meu.
— Como sabe? — Hermione sentou, exibindo um sorriso vazio. — Talvez eu tenha tido uma legião de amantes depois que você foi embora.
— Voltei com a intenção de tentar salvar nosso casamento — Draco confessou, esperando alguma reação da parte dela.
Hermione limitou-se a olhá-lo, lutando para manter a calma.
— E agora?
Draco desviou a vista para a janela, enfiando uma mão no bolso.
— Agora não sei — respondeu.
Hermione tocou os pés no chão.
— Não mudei de idéia, mesmo que você tenha começado a mudar de opinião -— disse antes que ele pudesse falar. — Tudo que desejo agora é ter meu filho e continuar administrando a livraria para conseguir nos sustentar. Não suportarei nenhum tipo de pressão nesse momento. Espero que entenda.
— Refere-se sempre ao bebê como se fosse mesmo um menino — Draco comentou.
— E é mesmo — Hermione confirmou. — Fiz os exames.
Draco sentiu-se ainda mais estranho. Um filho. Um garotinho parecido com ele. Olhou para Hermione como se nunca tivesse visto uma mulher antes. Estudou cada detalhe de seu corpo.
— Não fique tão preocupado, Draco. Não espero nada de você — declarou ela, ficando de pé. — Agora, se já disse tudo que queria, tenho trabalho a fazer. Vou lhe dar o nome do meu advogado...
— Não!
A palavra saiu antes que Draco tivesse consciência de sua atitude. Não podiam se divorciar. Droga, ele nem queria pensar nessa hipótese! Hermione teria seu filho e ele também o queria!
— Não vou viver com você — ela disse.
Draco enrijeceu o maxilar.
— Vai sim.
— Não pode me obrigar.
Draco encarou-a. Os lábios rosados estavam curvados com ar de desafio e os olhos amendoados assemelhavam-se a nuvens de tem¬pestade. Grávida. De repente, ele começou a sorrir.
— Gosto de você — disse a ela. — De verdade. É sincera, corajosa, não tem medo de desafios. É uma mulher incrível, Hermione.
Ela mudou de um pé para outro. Draco não conseguiria afetá-la dessa maneira, disse a si mesma.
— Não lembra que me chamou de cabeça-dura? — provocou-o.
Draco apagou o cigarro, mantendo o sorriso. Aproximou-se dela com um brilho diferente no olhar. Hermione deu um passo atrás.
— Uma cabeça-dura muito sexy — insinuou. — Grávida, mas mesmo assim desejável. Não quero o divórcio, Hermione. Eu quero você.
— Não estou à venda — replicou ela, movendo-se até a parede barrá-la. — Vá embora, Draco. Vá explodir alguma coisa.
— Na verdade, não ando explodindo coisas por aí — murmurou ele, apoiando as mãos na parede, aprisionando Hermione entre os bra¬ços. — Sou especializado em logística e estratégia.
— Pode morrer, de qualquer maneira — ela replicou.
Draco deu de ombros.
— Também posso morrer atropelado por um carro quando sair daqui.
— Não tão facilmente — Hermione argumentou.
— Eu te quero, Hermione.
— Sim, eu sei. Mas querer não é suficiente. Você já disse que nunca voltará a se apaixonar, portanto, tudo que está me oferecendo é seu corpo, entre uma guerra e outra. Não vou negar que você é muito atraente e, na cama, é tudo que uma mulher poderia querer, porém, está me pedindo para conviver com a morte, Draco. Não serei capaz de suportar isso.
Draco suspirou e fez menção de falar, mas antes que ele pudesse fazê-lo, Hermione tomou uma das mãos dele e levou-a até sua barriga.
— Estou com seu filho abaixo do meu coração — sussurrou, pressionando um pouco mais a mão de Draco. — Não posso viver com medo de perder vocês dois.
Ele franziu o cenho.
— Não estou entendendo.
— Draco, eu posso ter um aborto — Hermione explicou.
— E isso é provável?
— Estou saudável e o bebê também. Entretanto, não há ne¬nhuma garantia definitiva — declarou ela, abaixando a vista.
— Fica... assustada com a idéia de perdê-lo? — Draco inquiriu, hesitante.
Hermione voltou a olhá-lo.
— Claro que sim!
Mais uma vez, Draco lembrou de outra mulher, em uma época distante, censurando-se pelo lapso. Hermione queria o bebê. Estava estampado em seu semblante.
— Não posso viver preocupada com ele e você ao mesmo tempo — Hermione declarou. — Ele merece uma chance. Você já tem idade suficiente para assumir seus próprios erros, mas sou responsável por ele agora.
Draco olhou-a por um longo tempo. Por fim, desviou a vista com um suspiro.
— Trabalho nisso há muitos anos — disse depois de alguns segundos, olhando para o chão. — É tudo que sei fazer.
Não estou pedindo para você mudar — Hermione lembrou.
Draco levantou a vista para ela.
— Estamos casados.
— Mas podemos nos divorciar.
— Não quero nenhum divórcio, droga! — ele explodiu.
Hermione continuou olhando-o, à procura das palavras certas. Draco respirou fundo, impaciente.
— Eu sabia que você era sinônimo de problema desde que a vi pela primeira vez — resmungou. — Uma vendedora de livros com a cabeça mais dura que já conheci, mas corpo e alma de um anjo. Você está em mim como meu próprio sangue, Hermione. A essa altura, eu teria de morrer para esquecê-la.
Ela ergueu os ombros, sorrindo.
— Bem, encare pelo lado positivo — disse a ele. — Nunca terá de brigar com outros homens por causa de sua esposa.
Draco também sorriu, balançando a cabeça.
— Quer apostar? Do jeito que está bonita...
— Estou com aparência de grávida. E dentro de dois ou três meses, estarei parecendo uma baleia.
— Menos para mim.
Draco abaixou a vista para os sapatos.
— Bem, vou para casa arrumar as malas. Ainda há algumas pessoas que preciso ver.
— Arrumar as malas?
Ele levantou a vista.
— Virei morar com você — asseverou. — Pouco me importa se não gostar da idéia. Não quero vê-la trabalhando demais e subindo e descendo aquela maldita escada. Tem razão. Precisa de alguém para cuidar de você. Pelo menos até o bebê nascer — acres¬centou. — Depois disso, tomaremos as devidas decisões.
Hermione teve vontade de recusar, todavia a gentileza de Draco a desarmou.
— Mas, seu... seu trabalho...
— Ele que vá para o inferno! — Draco replicou. Fitou-a com olhar perigoso. — Tenho contas suficientes em bancos estran¬geiros para comprar todo esse prédio se for preciso. Trabalho porque gosto, e não por precisar de dinheiro.
— Mas...
— Shh. Falar demais não é bom para o bebê. Voltarei no sábado.
As coisas estavam acontecendo rápido demais, pensou Hermione. Aturdida, observou Draco se aproximar.
— Minha feiticeira de olhos castanhos — sussurrou ele. Puxou-a gentilmente para si, beijando-a de leve. — Abra os lábios — murmurou. — Há meses que não a beijo.
— Aposto que não deixou de beijar outras mulheres durante esse tempo.
Draco levantou a cabeça.
— Nenhuma. — Deslizou os dedos pelo rosto dela. — Nem mesmo olhei para alguma. E sim, sempre há mulheres nos círculos que freqüento. Mulheres bonitas, sem princípios e loucas por di¬nheiro. Porém, eu só conseguia pensar em você e na maneira incrível como nos amamos naquela manhã em que concebemos esse bebê.
Surpreendeu-se ao ver lágrimas nos olhos de Hermione.
— Você sabe que foi naquela manhã? — ela indagou com a voz embargada.
— Claro. Você não? — Draco sorriu.
— Você e mais experiente que eu — ela justificou.
— Não nesse jeito de fazer amor — respondeu ele. — Não menti quando disse que nunca havia amado daquela maneira.
— Importa-se mesmo com o bebê? — Hermione fez a pergunta que mais importava para ela no momento.
Com um leve toque, Draco desfez a ruga de preocupação na testa dela.
-— Preciso me acostumar à idéia, só isso. Vivo com liberdade há muito tempo.
— Sim, eu sei. -— Hermione hesitou. — Draco, não precisa fazer isso. Quer dizer, vir para cá...
Ele interrompeu-a com um beijo, abrindo os lábios dela com destreza. Hermione sentiu o desejo reacendendo dentro de si.
Draco acariciou-lhe os cabelos da nuca, encostando a cabeça de Hermione contra o músculo firme de seu braço. Deslizou a outra mão pelo ombro e o seio dela, numa doce tortura.
— Draco, por favor... — Hermione sussurrou com voz trêmula. Ele mordiscou o lábio dela.
— Quer fazer amor?
Hermione abriu os olhos, voltando a encará-lo.
— Não.
Draco sorriu, acariciando os mamilos dela com os polegares. Hermione estremeceu sob o efeito do desejo, fazendo-o sorrir ainda mais.
— Sim, você quer — murmurou ele.
— Minha mente não quer — ela retrucou, tentando se salvar da prisão de sensualidade com a qual Draco queria envolvê-la.
Ele beijou-a mais uma vez, acariciando-lhe o ventre.
— Não farei você perder o bebê — sussurrou. — Não se eu for cuidadoso. E prometo que serei.
Hermione sentiu um delicioso arrepio percorrer seu corpo. Draco sor¬riu, puxando-a para si num abraço infinitamente carinhoso.
— Não é isso — murmurou com os lábios junto ao ombro dele. — Não me envolva ainda mais, Draco. Senão será difícil demais deixá-lo partir. Apenas... apenas me faça acreditar que estamos no México, passando alguns dias de férias. Está bem?
Draco permaneceu muito quieto, afagando-lhe os cabelos.
— Hermione...
— Por favor.
Ele respirou fundo, soltando-a.
— Tudo bem. Apenas férias. — Olhou para a barriga dela e sorriu. — Para nós três.
— E... nada de sexo — Hermione acrescentou.
Draco procurou os olhos amendoados, notando neles o medo que Hermione tinha de perdê-lo. Ficou preocupado, mas sem saber ao certo como lidar com a situação.
— Tem certeza? — perguntou. — Poderemos nos amar sem prejudicar o bebê.
— Sim, eu sei. Mas não quero mesmo assim.
Hermione estava impondo limites impossíveis para seu autocontrole, pensou Draco. Entretanto, não poderia virar as costas para a res¬ponsabilidade que tinha com ela. Deu de ombros, como se não se importasse.
— Ok — concordou. — Nada de sexo.
Hermione respirou com mais alívio. Esperava que ele fosse discutir. Draco beijou-lhe a ponta do nariz.
— Claro que sempre terá a chance de me seduzir quando quiser — ele acrescentou.
— Obrigada — respondeu Hermione com um sorriso relutante. — Manterei isso em mente.
Draco deu-lhe uma piscadela.
— Nos veremos no sábado. Descanse um pouco mais. Passarei na livraria para avisar à Mamãe Ganso onde você está. Cuidado com essa escada, ouviu? — acrescentou com firmeza.
— Sim, general.
Draco sorriu. Saiu fechando a porta atrás de si. Hermione ficou parada por um longo tempo antes de ir deitar. Perguntou-se no que estava se metendo. Draco não conseguiria ficar longe dela, tinha certeza disso. Seria apenas mais uma dor de cabeça.
Por outro lado, ele parecia realmente preocupado. Não a dei¬xaria sozinha durante os próximos cinco meses. Sorriu ao pensar que teria de lidar com Draco e Gina ao mesmo tempo. Sem dúvida, seria uma gravidez complicada.
O mais importante, porém, era que Draco estava demonstrando interesse pelo filho. Hermione imaginou como seria tê-lo por perto mesmo depois que o bebê nascesse. Se conseguisse livrar-se dos riscos que corria no trabalho, Draco se tornaria um ótimo pai.
"Mas isso não passa de sonho", pensou Hermione com um suspiro resignado.
~*~
E ai meu povo!
Vcs gostaram do cap?
Gente não queiram me matar! E que eu to com uma montanha de coisas pra estudar e quase não tenho tempo de escrever! x)
Mas mesmo assim comentem viu?
Beijos
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