AS RAZÕES DA MINHA ESCOLHA



- ASSIM NÃO DÁ. – Rufus Greenleaf bateu com força na mesa da Grifinória em pleno Salão Principal, fazendo um copo de suco de abóboras tombar para um lado e derramar todo o conteúdo sobre o colo de uma garota sardenta de cabelos curtos muito vermelhos. – Desculpa, Hippolita. Não foi minha intenção.

- Descontar sua frustração na mesa não vai resolver o problema, sabia, Rufus? – Uma outra garota, que se encontrava de frente para o garoto, levantou a vista de modo sério e retirou a varinha das vestes. Seus longos cabelos negros estavam amarrados num coque extremamente bem feito, usava óculos de armação quadrada que lhe concediam um aspecto de severidade. Ela apontou sua varinha para a ruiva e limpou a sujeira com extrema facilidade.

- Mas, Minerva... O que a gente vai fazer? – O rapaz ficou olhando com cara de súplica para a garota de semblante sóbrio e, como não recebeu uma resposta, cruzou os braços irritado e bufou. – Como eu gostaria de pegar aquele Avery. Eu ia dar umas porradas das boas nele e...

- E ia receber uma detenção. – Minerva acomodou-se com a postura reta na cadeira e olhou fixo para o amigo. Já havia abandonado os livros que tentava, em vão, ler. – Sinceramente, Rufus, você não está sendo muito sensato.

- Eu não estou sendo sensato? – Rufus devolveu o olhar para a garota. – Como você consegue ficar calma desse jeito? É o último jogo da temporada, Minerva. Se a gente perder esse jogo, a Sonserina ganha o campeonato.

- Sei disso. – retrucou a garota calmamente. – Mas não é razão para perdemos a cabeça...

- Como se você não estivesse preocupada também. – Dessa vez foi Hippolita quem a interrompeu.

- Preocupada? – Minerva pareceu ofendida. - Claro que estou. Só acho que existem coisas mais urgentes para lidar no momento. E agressão física nunca resolveu problema algum...

- Mas foi o causador de todo o problema. - Rufus encarou Minerva com um olhar atravessado e deu um pulo pra frente quando viu Hippolita pegar um pedaço de torta de abacaxi. – Nem pense em comer isso, mocinha. Pode estar envenenado ou coisa parecida.

- E o que eu vou fazer? Passar fome? – Hippolita se dirigiu a Minerva como se quisesse algum tipo de ajuda. Encarou a mesa farta de comidas deliciosas e suspirou.

- Tenho que ir. Quero chegar mais cedo na aula de Transfiguração. O professor Dumbledore me prometeu alguns livros sobre Animagia.

Minerva se levantou com uma tranqüilidade absurda, recolheu os livros na sua mochila e uma maçã do cesto no centro da mesa. Rufus fez menção de pegar de volta a fruta na mão dela, mas ao perceber a cara que a garota fez, desistiu.

- Ora, não seja tão neurótico.

- Diga isso ao pessoal na enfermaria. – Rufus encarou o vazio a sua frente. – Primeiro, o Avery quebra as pernas do Dawson naquele pequeno acidente suspeito do último jogo. Depois, o Gaiman e o McKean, dois dos possíveis batedores substitutos, são envenenados com o creme de maracujá. – Minerva continuava em pé segurando a maçã. – Não é estranho que apenas os dois tenham tido esse infortúnio?

- Eu estou com fome... – a barriga de Hippolita deu um ronco alto. – E se continuar desse jeito, a única batedora restante do time vai acabar na enfermaria por causa da desnutrição.

- Tudo bem. – Minerva jogou a maçã de volta no cesto e puxou o braço da amiga, forçando-a a levantar. – Vamos à cozinha, Lyta. Conheço uns elfos domésticos que podem nos dar uns lanches escondido. – os olhinhos da garota brilharam ao som da palavra “lanches”.

- Mas... – Rufus começou.

- Não tem como o Avery ou o Lestrange envenenarem a comida lá na cozinha, Rufus. E, olha bem pra Lyta...- Hippolita fez uma cara de doente para comover o rapaz. - Ela já está ficando verde de fome. Você quer que o time todo passe mal, é?

- Você sabe que não. Mas... Além de procurar um novo batedor, agora terei, também, que monitorar a comida de todo o time. – Rufus suspirou profundamente, na hora em que Minerva e Lyta se dirigiam à porta do Salão Principal. – Péssima hora para ser o Capitão do Time. – falou pra si mesmo.

- Isso não parecia ser problema antes. – Três garotos se aproximaram com caras abatidas e se sentaram ao lado de Rufus.

- Temos más notícias, “chefe”. – Brincou o mais alto. Era um rapaz de postura reta, tinha o cabelo loiro e cacheado, seus olhos azuis demonstravam grande desconforto com o que tinha a dizer. – Er... Estávamos falando com os outros alunos e... Bem... Como eu vou dizer isso a você?

- Não enrola, Bob. – Rufus estava muito vermelho. - Conta logo!

Robert Gadling desviou a vista do Capitão e encarou os outros dois com cumplicidade. Ele não queria ser o transmissor daquela mensagem, mas não havia alternativa. Ele respirou fundo.

- Aparentemente... – Já que tinha de dizer, que fosse rápido. – Os demais alunos não querem participar do time de quadribol.

- Não entendi. – Rufus pareceu confuso por um momento.

- Os demais alunos não querem participar... – Robert começou a falar calmamente, mas foi seriamente interrompido pelo Capitão.

- Eu entendi o que você falou, Bob. O que eu não entendi foi... Por quê?

- As ameaças e os recentes acontecimentos com o Gaiman e McKean devem ter amedrontado os demais. – um dos outros dois rapazes se intrometeu na conversa, Mike Swordfish. Ele era negro, tinha os cabelos raspados e os seus olhos arregalados o deixavam com uma aparência de alerta freqüente. – Até o Neil aqui pensou em sair do time. – o rapaz apontou com o polegar para o outro que continuava amuado num canto.

- O QUÊ? – Rufus se engasgou com a própria saliva.

- Eu... – Neil ficou vermelho de repente. – É mentira!

- Está me chamando de mentiroso? – O rapaz negro precipitou-se para trás com os punhos cerrados. – Repete o que você disse, seu medroso maldito.

- Repito sim. – Neil tinha uma aparência mirrada e, freqüentemente, seu rosto era bastante pálido. No entanto, agora, ele estava mais vermelho que o cabelo de Hippolita. – Você distorceu o que eu disse logo cedo.

- Não distorci nada. – Mike avançou ainda com os punhos cerrados e Robert se pôs no caminho, quase levando um soco.

No momento em que Rufus ia interferir, duas figuras imponentes surgiram às suas costas. Duas mulheres com longos cabelos tão negros quanto as penas de um corvo, suas faces alvas e delicadas lhe conferiam uma aparência de bonecas de porcelana. Elas eram bastante parecidas. Muitos dos alunos de Hogwarts freqüentemente as confundiam e, num primeiro momento, até poderiam se passar por irmãs gêmeas, mas não o eram. Eram as detestáveis primas Black, Lucretia e Walburga. Nesse momento elas sorriam e Rufus sabia que isso não poderia ser uma coisa boa.

- Vejo que o cavalheirismo Gryffindor tem ótimos representantes, não acha, Lucretia?

- Perfeitamente. – Lucretia sorriu sarcasticamente. E, com uma voz infantil e irritante, completou. – O que se passa, Wood, está com medinho? Medo de ser envenenado por uma maçã?

- Ou, quem sabe, perder uma das pernas? – Walburga deu uma risada após o comentário. - Pensei que coragem era uma característica Gryffindor. Acho que se enganaram, não é, Lucretia? – Neil avançou enfurecido. Bob segurou o rapaz com um dos braços. As primas, ignorando a reação deles, deram as costas e saíram dando risadinhas irritantes.

- O que vamos fazer agora? – Rufus suspirou. Desabou sobre a cadeira e pôs as mãos no rosto num ato de desespero.

- Vai aceitar provocações delas, chefe? – Bob sentou ao seu lado e deu duas tapinhas amigáveis nas costas dele.

- Elas têm razão... – Rufus murmurou.

- O que você está dizendo? – Mike se surpreendeu, tirando a vista de Neil. – Só porque o Wood é um cov... – Bob deu um cutucão nas costelas dele. – Que foi? Por acaso eu estou falando alguma mentira?

- Vou ignorar o que você disse por um momento. – Neil se aproximou ainda vermelho de raiva. – O que temos de fazer, apenas, é arrumar alguém com tamanha coragem para enfrentar desafios ou...

- Coisa que, aparentemente, é impossível. – Rufus olhou para a extensa mesa Gryffindor. – Quem diria que a Casa dos corajosos fosse, na verdade, um local de covardes?

- Deixe-me terminar meu raciocínio. – Neil encarou os amigos. – Ou estúpido o suficiente para não entender as provocações.

- De quem você está falando? – Mike olhou de esguelha para Neil. E o viu apontar para um canto na mesa. – Oh, não. Você não pode estar falando sério...

- Quem...? – Bob e Rufus falaram ao mesmo tempo e olharam na mesma direção.

- Ah. Qual é, galera? – Neil sorriu amarelo. – É uma opção...

Nesse momento, um rapaz um pouco mais alto que Bob se levantou desajeitado. Os quatro rapazes olhavam para ele extasiados. Ele tinha os cabelos desarrumados e uma aparência um pouco intimidadora. Alguns alunos se distanciavam, com medo, quando ele passou. Neil e Rufus se aproximaram com cautela.

- H-Hagrid? – Rufus chamou.



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