Avisos de início de ano (reesc



 


 


Capítulo 2 - Avisos de início de ano


            Uma fina chuva molhava o trem vermelho que se aproximava do grande castelo de Hogwarts. Dentro do trem, uma garota morena olhava pela janela, sua mente distante das amigas que conversavam ao seu lado.


 


             - Entenda, Emilly... – dizia a mulher sentada em um sofá enquanto uma garotinha em sua frente tinha os olhos úmidos de lágrimas


 


            - Eu não quero entender nada! – gritou a menina, desesperada, mas a mulher nem levantou os olhos para ela.


 


             - Você deveria aceitar, é seu destino. – a mulher lixando as unhas, quase sem prestar atenção no que dizia.


 


               - Mas não é justo, por que eu? Logo eu? – disse a garota com a voz trêmula, tentando controlar o choro, e a mulher finalmente levantou os olhos para ela.


 


              - Não seja tola, gerações antes de você carregaram isso sem reclamar. – ela disse, seus olhos frios olhando diretamente para os olhos marejados da menina.


 


              - Você não entende, nunca vai entender! Não sofreu como eu estou sofrendo!


 


               - Pare de exagerar e vá para o seu quarto. Cansei de ouvir seus dramas. – disse a mulher, sem mudar uma linha de sua expressão, e a menina saiu correndo do cômodo, bateu com força a porta atrás de si e rompeu em prantos.


 


            - Terra para Emilly! Cadê você? Acabei de te fazer uma pergunta! – chamou Alice, cutucando a amiga, que se voltou para elas.


 


            - Desculpem, garotas. O que eu perdi? – ela disse, rindo da cara de indignação de Lily.


 


            - Aparentemente todas as minhas férias! – falou a ruiva, levantando as sobrancelhas.


 


            - Nem vem, Lily, eu cheguei até depois do tombo que a Petúnia levou na praça! – disse Emilly, e Alice já ia refazer sua pergunta quando o trem parou. Emilly sorriu. – Chegamos!


 


            Elas se juntaram aos marotos e ingressaram na habitual confusão dos alunos para sair do trem.


 


                                                                                 **


 


            - Sonserina! - anunciou o Chapéu Seletor, que estava na cabeça de um garotinho de cabelos castanhos. O garoto se levantou e andou calmamente até a mesa de sua casa, e dois pares de olhos da mesa da Grifinoria o seguiram, fixando o olhar naquela mesa.


 


            Os olhos azuis de Sirius encaravam um grupinho que ria e dava boas vindas ao novato. Lestrange, McNair, Snape, Dolohov, e mais um bando de projetos de Comensais da Morte. Mas o que atraía sua atenção naquele grupo era um garoto franzino de cabelos negros. Ele sabia que um dia veria o irmão no meio daquele grupo, mas ainda assim aquela cena lhe doía o coração. Ele crescera com Regulus, e, quando eram pequenos, Sirius era admirado pelo mais novo. “Ele está ali por medo, o idiota. Depois vai se arrepender, e vai ser esmagado em dois tempos.” Sirius pensou com amargura. Por que sua família tinha que ser tão bagunçada?!


 


            Os olhos verdes de Lily também estavam fixos no mesmo grupinho da Sonserina, e também em um garoto magro de cabelos negros, mas não o mesmo garoto. A ruiva encarava um rapaz de cabelos mais compridos e sebosos, que estava conversando com Lestrange. Ela se lembrava, com amargura, dos tempos em que era amiga de Snape, de quando eles saíam juntos, e da época em que ele passou a andar com esses projetos de Comensais e se tornar um deles. Lily se perguntava se ele havia realmente mudando tanto num intervalo tão pequeno, ou se fora ela que ficara menos idiota com o passar do tempo. Claro que agora tudo o que ela sentia por Severus era raiva e mágoa, mas nem todos os seus sentimentos estavam tão claros quanto estes, e Snape a fazia lembrar dos motivos dessa sua confusão. Ela soubera, ou achava que soubera, o quanto ele sofrera nas mãos de Potter, e por isso a única certeza que ela tinha era a de que James era um grande idiota. Mas agora que ela sabia que era Snape o idiota, não tinha mais certeza de nada sobre Potter. Ela não sabia se devia confiar nele, não sabia se ficava brava ou achava graça de suas tentativas de conquistá-la, e não sabia por que se arrepiava quando ele estava perto. Por que seus sentimentos tinham que ser tão bagunçados?!


 


            - Lily, se você continuar encarando o Snape assim, certas pessoas vão achar que você está interessada... - Cochichou Emilly, quando percebeu os olhos da amiga na mesa da Sonserina, e despertou-a seus devaneios. - A não ser que você realmente esteja.


 


            - Você sabe que não quero nada com o Snape, Emy. - disse a ruiva, igualmente baixo. - Mas não entendi o que você quis dizer sobre... certas pessoas.


 


            - Entendeu sim, Lily. Você sabe que é o motivo daquelas confusões, que você disse que queria evitar, mas não está ajudando em nada a evitar qualquer coisa olhando pra lá assim. - respondeu Emilly, se referindo as frequentes brigas entre Snape e James , que Lily tem feito tudo para evitar ultimamente.


 


            A ruiva corou fortemente com o comentário da amiga, imaginando quantas interpretações negativas James podia ter  feito daquele olhar, e imediatamente justificando a si mesma que só se preocupava com aquilo porque não queria mais brigas por sua causa.


 


            A seleção não demorou muito para terminar, pareciam ter menos calouros naquele ano do que de costume. Os pais andavam com medo de mandar seus filhos para a escola, andavam com medo de tudo, por causa de Voldemort e seus Comensais da Morte. Até mesmo a mãe de James hesitara em mandá-lo para Hogwarts aquele ano, e o garoto tivera que insistir muito para convencê-la do contrário. Era tolice, na opinião dele, achar que pudesse haver no mundo bruxo um lugar mais seguro que Hogwarts, mesmo nos dias de hoje, talvez principalmente nos dias de hoje, já que corria o comentário de que Dumbledore era a única pessoa que o Lorde das Trevas temia.


 


            Assim que o último primeiranista se sentou, e o Chapéu Seletor foi guardado, o diretor se levantou, e todos se calaram. Depois de dar os corriqueiros avisos de início de ano, a voz de Dumbledore se tornou grave e ele começou um discurso que, antes de terminada a primeira frase, já prendia a atenção de todos.
            - Devo informar, também, que este ano não teremos competição de Quadribol entre as casas. - ele começou, mas foi interrompido por todos os estudantes que falavam ao mesmo tempo.
            - O que? Mas isso é um absurdo! - gritou James, e Sirius acompanhou os protestos, também aos berros. As vozes mais exaltadas eram dos jogadores dos times e dos maiores apreciadores do esporte. Dumbledore ergueu a mão e disse um "basta", numa voz calma. Quase ninguém ouviu. Emilly, que não era uma grande fã de Quadribol, percebeu a tentativa falha do diretor em acalmar os adolescentes enfurecidos, e resolveu ajudar, beliscando o garoto aos berros que estava ao seu lado.


 


            - Ai, Emy!
Ela congelou quando o cara se virou. Ela havia momentaneamente se esquecido de  que quem estava ao seu lado era Sirius Black, e ficou sem reação por uma fração de segundo. Do que ele a havia chamado? Ele não tinha realmente dito seu apelido, tinha? Ele não a tinha chamado por seu apelido, apelido que só era usado por pessoas próximas. Apesar do fato de suas pernas estarem roçando, eles dois não eram próximos desde o primeiro ano, quando eram amigos.


 


            Dito por ele, aquele apelido havia adquirido uma entonação e uma sonoridade completamente diferentes. Uma eletricidade percorreu seu corpo, partindo dos dedos que haviam tocado o braço dele. Então ela se lembrou de que devia estar brava com ele. Isso tudo se passou em tão pouco tempo que ele não percebeu seu momento de divagação. Emilly fechou a cara e o mandou calar a boca. Mal ele havia calado, Dumbledore já estava com sua varinha no pescoço. O segundo "basta" que ele disse retumbou por todo o salão, e todos os alunos se calaram.


 


            - Isso vai acontecer - continuou o diretor como se não tivesse sido interrompido - porque esse ano Hogwarts teve a honra de ser escolhida para sediar um dos maiores eventos estudantis do mundo. - pequenos cochichos e sussurros percorreram o salão, mas não o suficiente para interromper novamente o discurso. - Esse ano, nossa escola será a sede do Torneio Tribruxo.
Dessa vez, o choque da revelação foi maior que a imperatividade de Dumbledore, e novos comentários surgiram no salão dessa vez mais altos, e mais animados. Mas agora bastou que ele levantasse as mãos para que os alunos se calassem novamente. Estavam todos ansiosos para saber mais sobre aquilo.


 


            Os olhos da maioria dos alunos brilhava enquanto Dumbledore explicava que receberiam durante todo o ano letivo os alunos de Beuxbattons e Durmstrang, enquanto ele descrevia o processo de seleção do Cálice de Fogo, falava das três difíceis tarefas que os campeões deveriam enfrentar, e, quando ele começou a falar do prêmio, era quase palpável a animação dos estudantes, todos concentrados mais na parte da "glória eterna" do que na da taça.
            - Mas não se deixem levar pela promessa do prêmio. - advertiu o diretor. - Esse torneio não é para qualquer um! Sobreviver às tarefas é o maior desafio! E uma vez escolhido pelo Cálice, não há volta. - seu tom era grave, e era possível detectar o desânimo de alguns alunos. Rabicho soltou um pequeno guincho de medo. Mas em seguida, o rosto de Dumbledore se iluminou, e ele disse com um sorriso que deixassem para depois essas preocupações, porque agora eles receberiam os convidados.


 


            Assim que ele disse essas palavras, as portas do Salão se abriram e entraram os estudantes de Beuxbattons e Durmstrang, acompanhados de seus respectivos diretores e dos aplausos dos alunos e professores de Hogwarts. Eram cerca de vinte alunos de cada casa, todos, aparentemente, no final da adolescência. A tradicional capa preta de Hogwarts em Beauxbatons era trocada por descolados uniformes azuis de seda e em Durmstrang usavam uma capa marrom por cima de um uniforme escarlate.


 


            Os alunos das escolas visitantes se espalharam pelas quatro mesas, mesclando-se com os estudantes de Hogwarts. Emilly se apresentou para o garoto búlgaro e a garota francesa que estavam ao seu lado, e eles se introduziram como Anton Drozdov e Nicole Chevalier. A garota era loira e magra, com olhos azuis e voz aguda, e Emilly acho seu jeito esnobe irritantemente parecido com o de sua mãe. O garoto, por outro lado, tinha cabelos castanhos bem curtos e olhos escuros, era, de certo modo, bonitinho, e dava a impressão de ser gentil. Emilly olhou à sua volta e viu que seus amigos também estavam conhecendo os búlgaros e franceses que estavam ao lado deles. Ela flagrou o momento em que o garoto de Beuxbattons que estava ao lado de Alice tentou dar um beijo em seu rosto e ela gritou:


 


            - Hey, eu tenho namorado, ouviu?! - O grito chamou atenção de quem estava em volta, e o garoto se afastou, desculpando-se.


 


            - É que na França temos costume de nos cumprimentar com beijos no rosto.


 


            Emilly se segurou para não rir da amiga, que corava como um pimentão, pedindo mil desculpas. Então ela se virou para as outras duas. Lily, como sempre, estava brigando com James, desta vez provavelmente porque ele se intrometera na conversa dela com o garoto francês ao seu lado (aparentemente, o nome dele era Pierre) e dissera para o cara desistir, que Lily era dele. E Jessy, como sempre, encarava Sirius, com raiva.


 


            Espera aí! O que?! Jessy nunca encarava Sirius com raiva! A não ser que houvesse uma garota ao lado dele... Esse pensamento atraiu instintivamente os olhos de Emilly para o moreno, e antes que pudesse se perguntar por que diabos estava fazendo aquilo, ela o viu conversando com a tal Nicole. A garota ria de algo que ele falava, e o modo como eles se olhavam era tão... repulsivo, que Emilly teve que desviar os olhos. Agora ela podia ver exatamente sua mãe naquela garota: uma vadia completa.


 


            O sentimento que percorreu por ela foi algo parecido com raiva, tanto da francesa quanto de Sirius. Como se não houvesse tietes o suficiente em Hogwarts, só o que faltava era chover francesinhas metidas-a-besta para se juntarem a Jessy. É claro que ela não negava que Sirius Black era bonito, mas não é como se ele tivesse um tipo de magia hipnótica que fizesse todas as garotas de QI reduzido correrem atrás dele.


 


            Ela também estava com um tipo de ressentimento por ele. Será que Sirius era tão burro assim, que não conseguia ver que aquela francesa idiota era exatamente igual a Jessy? Ah, não, ela pensou, a francesa é bonita, não é? Deve ser a única coisa que importa para ele... Ela reprimiu o pensamento no mesmo instante. Porque ela deveria se preocupar com quem Black leva para sair, afinal? O problema é dele, foi o que ela pensou.


 


            Ainda com uma raiva injustificável, Emilly se virou para Anton e começou a puxar assunto com ele. Ela acabou descobrindo que o garoto era realmente muito simpático e educado, apesar de que seu sotaque a irritava um pouco.


 


            Depois do farto jantar, os alunos se dirigiram para seus respectivos dormitórios. No dormitório feminino, Alice tagarelava sem parar sobre seus novos conhecidos. Ela mandava Lily não dar muita importância para o tal garoto francês, para ocupar seu tempo com James Potter, que valia mais a pena, e a ruiva revirava os olhos com o comentário da amiga.


 


            - Por outro lado, você, dona Emilly, devia realmente investir naquele búlgaro bonitinho! Qual é mesmo o nome dele?


 


            - É Anton, e eu concordo plenamente com você, Lice.


 


            - Ah, eu sei que concorda. Ao contrário da Lily, você já sabe que eu sempre estou certa quando se trata desse tipo de coisa. - disse Alice, piscando divertidamente para a amiga, fazendo-a rir.


 


            - Quase sempre, cupido sem asa. Não se esqueça de que se não fosse por mim, você e o Frank nem estariam juntos, porque você achava que ele era burro.


 


            - Tá bom, você tem razão, você também tem seus momentos de cupido, satisfeita? Mas essa história também não é culpa minha, o Frank sempre foi caladão, e ele nunca acertava os feitiços de primeira nas aulas... - resmungou Alice, e a morena riu concordando.


 


            Enquanto isso, Lily estava ouvindo pacientemente (ou pelo menos fingindo ouvir) Jessy reclamar sobre a tal francesa que se sentara ao lado de Sirius no jantar. Emilly, no entanto, não estava tão paciente assim, e não demorou para que ela se irritasse com a amiga.


 


            - Jessy, quer calar a boca? Já ouvi o suficiente dessa sua idiotice no trem. Parece que você piora a cada ano!


 


            - Para de ser reclamona, Emy, se você tivesse visto a saliência daquela francesinha metida, estaria tão brava quanto eu! - retrucou Jessy.


 


            - Acontece que eu vi, Jessy, e a burrice dela parecia tanto com a sua que me irritou durante todo o jantar. Agora você podia por favor calar a boca e acabar logo com isso?


 


            Emilly aproveitou enquanto Jessy estava calada, tentando processar o que ela dissera, para murmurar um “boa noite” irritado e apagar as luzes. Esse gesto não passou despercebido por Alice, que começou a considerar que talvez estivesse errada sobre Emilly e o búlgaro. Ela sorriu triunfante para si mesma. É, Alice estava definitivamente vendo alguma coisa acontecer.


 


                                                                                      **


 


            Já no dormitório masculino, os Marotos e Frank Longbotton discutiam animadamente sobre suas chances de participarem do Torneio Tribruxo e o que esperavam das tais tarefas.  Rabicho logo declarara que não colocaria seu nome no Cálice de Fogo de jeito nenhum, mas os outros quatro se gabavam que iam não apenas colocar seus nomes, mas acreditavam que seriam escolhidos e que venceriam o torneio. Logo a conversa se tornou uma confusão de risadas e travesseiradas, quando eles tentavam estimar quanto cada um deles duraria no torneio.


 


            - No final das contas, aposto que o Cálice vai escolher algum nerd da Corvinal. - disse Sirius, e os outros concordaram.


 


            - Falando em escolher, senhor Almofadinhas, você tem que se decidir: Emilly Carey ou francesinha loira? - provocou James cutucando o amigo


 


            - Deixa de ser besta, chifrudo. Você não viu a Emilly dando mole para aquele búlgaro idiota? Não é como se eu pudesse ficar escolhendo. - ele respondeu, meio irritado.


 


            - Então se não tivesse búlgaro, você escolheria a Emilly? - perguntou Remus, sorrindo.


 


            - Não! - ele respondeu imediatamente, depois hesitou. - Quer dizer, talvez... Não sei, ok?


 


            - Tsc tsc, tá apaixonadinho... - falou James balançando a cabeça.


 


            - Cala a boca, Pontas! - disse Sirius, jogando um travesseiro no amigo.  - Vamos dormir antes que essa conversa tome rumos indesejados. - ele resmungou antes de murmurar um “boa noite” irritado e apagar as luzes.



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