Campo de Batalha (Novo)




Capítulo 12 – Campo de Batalha


 


         O feriado de Natal acabou mais depressa que devia, e logo os alunos que haviam ido para casa estavam voltando a Hogwarts. Emilly estava especialmente nervosa com o retorno de Jessy. Sua reação ao namoro de Emilly e Sirius tinha sido muito extrema, e a garota esperava que o tempo que Jessy passara longe a ajudaria a superar aquilo, embora já estivesse se preparando para mais xiliques. Quando a figura da moça, alta e desengonçada, saiu da carruagem sem cavalos nos limites de Hogwarts, e seus olhos emoldurados encontraram Sirius e Emilly de mãos dadas, a coisa mais surpreendente aconteceu. A garota sorriu e acenou para eles.


         Emilly chegou a olhar para trás para ver se havia mais alguém naquela direção que Jessy pudesse estar cumprimentando, mas não havia. Jessy andou até eles, arrastando seu malão velho e surrado. Quando chegou perto o suficiente, Emilly viu que os lábios dela tremiam, como se estivesse muito nervosa.


         - Emilly, eu queria que você me desculpasse. Eu... Eu me descontrolei, me comportei feito uma louca. Não sei... Não sei o que deu em mim. - falou, com a voz falha.


         Ela foi surpreendida pelo abraço de Emilly, que sorria como uma criança na manhã de Natal. Mal podia acreditar que teria sua amiga de volta, mal podia acreditar que a garota estivesse voltando ao normal.


         Jessy correspondeu ao abraço, muito embora quisesse jogar a morena para o lado e roubar Sirius dela. Mas aquelas duas semanas de férias tinham servido para conversar com sua mãe e ouvir seus conselhos, e Sra. Lendyner dissera que o melhor jeito de conquistar Sirius era fingir ser amiga de Emilly. Ela dissera que seja o que for que Sirius sentia pela garota era passageiro, mas para ele, naquele momento, era real.


         Então Jessy tinha que ser legal com a garota de quem ele gostava, para que ele a enxergasse bem e, quando o namoro acabasse, Siriuquinho correria para os braços de Jessy. Ela queria ver a cara de Emilly quando deixasse de ser a perfeitinha que tem tudo, queria ver a cara dela quando perdesse Sirius. E a garota já podia ver o início de seu progresso: espiando sobre o ombro da morena, que começava a soltar-se do abraço, ela viu Sirius sorrir.


**


         Com os corredores novamente cheios de gente e de vida, Hogwats voltava ao seu estado de agitação habitual. Uniformes negros, vermelhos e azuis zanzavam de um lado para o outro, a caminho das aulas, todos conversando animadamente sobre suas férias. O inverno começava a se desmanchar, as primeiras folhas verdes da primavera aparecendo nos jardins.  Era a pior época do ano para James Potter dar de cara com Severus Snape num corredor. Não que houvesse época boa para isso, é claro.


         - Potter... - chamou o sonserino, com seu habitual tom de escárnio.


         - Sai fora, Snape, não estou com paciência pra você hoje. - desvencilhou-se o moreno.


         - O que você fez com a Lily? - isso fez James parar e encarar o garoto, o cenho franzido.


         - O que está insinuando com isso, Ranhoso?


         - Acha que eu não vi os arranhões nela? Acha que eu não sei que a semana do Natal foi lua cheia? - como o grifinório não respondeu, Snape se aproximou, encorajado. - Não vou permitir que você arrisque a segurança dela de novo, Potter.


         - Você não está em posição de permitir coisa nenhuma, Snape. E não tente agir como se você se importasse com ela. - falou James, rangendo os dentes. Foi a vez dele se aproximar, ameaçador.


         - Então você admite? Admite que a levou para a casa dos gritos? - disse Snape, erguendo uma sobrancelha, como se esperasse que James fosse negar.


         - Não devo satisfações a você. Nem a minha vida nem a da Lily te dizem respeito. - ele respondeu, já perdendo a paciência. Ele não queria brigar, mas Snape estava forçando.


         - A vida dela me diz respeito, sim, porque eu me importo de verdade com ela, e não vou admitir que você deixe a Lily chegar perto daquela aberração que você chama de amigo novamente.


         Pronto, foi o que bastou para que James perdesse de vez o controle. Ele agarrou Snape pela gola da veste e o empurrou com agressividade para a parede, sem que o sonserino tivesse a mínima chance de se defender.


         - Nunca mais abra essa sua boca imunda para falar do meu amigo. E pare de tentar se meter na vida da Lily, ouviu? Você não tem mais nada a ver com ela. - ele falou, ainda segurando Snape pela roupa, sua voz quase um rosnado de tão feroz. A pesar da atitude de superioridade, Snape engoliu em seco.


         - James! - soou uma voz muito conhecida de ambos os garotos no fim do corredor. Lily.


         Ele soltou Snape e os dois encararam a ruiva, que vinha como um raio na direção deles, suas bochechas começando a corar. James não podia deixar de pensar como ela ficava linda com aquela cara de brava, mesmo que seu olhar fuzilante estivesse direcionado a ele. Lily chegou ao lado deles em um instante, e a fúria verde de seus olhos se voltou para Snape.


         - Quantas vezes eu tenho que dizer para você ficar longe da minha vida? - falou, e pela primeira vez Severus se encolheu, como se a garota tivesse lhe dado um tapa. Ela pegou James pelo braço e saiu tão rápido quanto chegou, arrastando-o junto. - E quantas vezes eu tenho que te dizer para não se meter com ele? - completou, uma vez que os dois já tinham saído do campo de visão de Snape, soltando o braço do garoto. - Francamente, James, achei que você já tinha passado dessa fase!


         - Eu não o procurei de propósito, Lily. Na verdade, eu nem queria brigar, mas ele provocou! - falou o garoto, tentando se defender. A ruiva revirou os olhos, exasperada.


         - Ele sempre provoca, não é mesmo? Por que você nunca assume a culpa, James? - a decepção em sua voz afundou algo no estômago dele.


         - Eu assumiria, se eu tivesse alguma culpa aqui! Eu sei que eu fui um idiota mimado, admito que já fiz muitas coisas estúpidas, mas isso é passado, Lily, você tem que acreditar em mim!


         - Eu acreditaria, se você me desse provas disso, mas toda vez que você se encontra com Snape vocês parecem voltar para o quinto ano! - sua voz já estava se alterando, e algumas pessoas em volta viravam o rosto para ver o que acontecia. Lily o conduziu para um corredor vazio, não queria ser alvo de fofocas mais do que já era.


         - Eu não te dou provas o suficiente do quanto eu mudei? Lily, você tem ideia do quanto eu me esforço para ser melhor por você? - ele já estava quase gritando, e a mágoa em sua expressão a fez sentir-se culpada. Estava sendo muito dura, ela sabia o quanto James havia amadurecido. - Desculpe, mas eu não consigo ouvir um idiota ofender meus amigos e tentar se intrometer na sua vida e simplesmente não fazer nada a respeito!


         - Não estou questionando seus motivos, acredito que ele tenha provocado, o problema é que você não devia ter cedido! Estou cansada de te ver brigando com ele, ainda mais por minha causa! - por que James não conseguia compreender aquilo?


         - Por que? Tem medo que eu machuque seu Sev? Se importa tanto assim com o bem estar dele? - alfinetou James, ressentido, e a raiva de Lily aumentou. Aquele garoto conseguia a tirar dos eixos das melhores e das piores formas, e agora ele havia atingido um nervo.


         - Não! É porque eu me preocupo com você! Não quero te ver brigando com projetos de Comensal, não quero que você se machuque! É tão difícil perceber o quanto eu gosto de você? - ela gritou, corada de fúria. Lily estava esperando outra resposta enfurecida, mas em vez disso James a segurou pela nuca e juntou seus lábios aos dele.


         Toda a intensidade da briga foi transferida para aquele beijo, que Lily correspondeu prontamente, enlaçando os braços em seu pescoço.           


         - Finalmente! Achei que nunca fosse admitir. - ele sussurrou contra seus lábios quando partiram o beijo.


          A ruiva soltou uma pequena risada e tomou novamente a boca dele, o beijo dessa vez mais suave e calmo. As mãos dela acariciavam seus cabelos negros, enquanto ele envolvia sua cintura, colando seus corpos. Os dois se esqueceram de Snape e de todo o resto do mundo, afinal, tudo parecia girar em torno daquele momento.


         - Ai meu Merlin! - uma voz estridente fez o favor de quebrar o encanto. Os dois se separaram, assustados, e viraram-se para a fonte do grito. Jessy estava parada do outro lado do corredor, seus olhos arregalados ampliados pelos óculos e seu queixo caído. Ao seu lado estavam Emilly, Sirius, Alice, Frank, Remus, Nathalie e Peter, todos com expressões parecidas com a da garota. - O que eu perdi nesse feriado?


         - Não sei, mas acho que eu perdi também. - falou Remus, com um pequeno sorriso em seus lábios.


**


         A notícia de que James e Lily estavam juntos se espalhou em Hogwarts rapidamente, graças a Merlin sem ajuda de cartazes inconvenientes. Os dois não mudaram muito por causa disso e, ao contrário do que se esperava, as provocações e o sarcasmo entre eles apenas aumentaram. Hogwarts logo entrou novamente nos eixos e, embora ainda fosse um pouco estranho o comportamento pacífico de Jessy, não era difícil se acostumar com a tranquilidade que aquilo trazia.


         Janeiro passou sem muitos incidentes, a neve dando aos poucos lugar às flores e folhas que começavam a surgir em Hogwarts. Foi no final desse Janeiro que Dumbledore anunciou num jantar que a segunda tarefa do Torneio Tribruxo seria dali a um mês. A escola entrou novamente em alvoroço, todos comentando animados suas expectativas para a segunda fase do torneio. Menos, é claro, os três campeões, que não faziam a mínima ideia de como se preparar para a tarefa, e Sirius começava a ficar desesperado com esse fato. Tal situação se propagou durante todo o mês, até que, depois de uma aula de Transfiguração, na semana da tarefa, McGonnagal pediu para que ele aguardasse um momento na sala. Quando todos os outros alunos haviam se retirado, ela se aproximou do campeão e disse:


         - Sr. Black, devo lhe informar uma coisa sobre o Torneio. Como vencedor da Primeira Tarefa, o senhor tem direito a um prêmio.


         - Mais que os galeões que tinham naquele baú? - ele falou, um pequeno sorriso. Havia aberto o baú no dia seguinte à primeira tarefa, e ele estava cheio de moedas de ouro que o garoto, agora que não tinha mais sua herança, guardara bem.


         - Sim, mais que os galeões. Foi debatido por algum tempo qual seria esse prêmio, e acabou por decidir-se que você ganharia uma dica a mais para a Segunda Tarefa. - os olhos de Sirius brilharam quando ela disse aquilo, ele estava completamente perdido para descobrir o que seria a próxima tarefa, e o tempo corria contra ele. - A dica é a seguinte: procure na embalagem, e não no conteúdo. É só o que eu posso dizer. 


         - Obrigado, Professora. - ele disse, sorrindo. Já tinha uma ideia do que aquilo queria dizer, e mal podia esperar pelo fim do dia para ver se estava certo.


         O problema é que nem sempre as coisas acontecem como esperamos. Às vezes é ridículo e frustrante como uma coisa tão simples e banal pode tomar proporções enormes e catastróficas. Foi assim com a primeira briga de Sirius e Emilly. Tudo estava muito bem, até que um fato totalmente insignificante ocorreu, e as coisas começaram a desandar. E toda a confusão começou com um dever de Transfiguração. Eles assistiam àquela aula junto da turma da Durmstrang, e Emilly era uma das melhores da turma naquela matéria. Era mais que natural, portanto, que alguns alunos pedissem ajuda para ela quando sentiam dificuldade. O problema era quando ditos alunos eram búlgaros bonitinhos que já haviam a beijado.


         Emilly estava do lado de fora da sala de McGonnagal quando Anton Drozdov se aproximou. Ela estava com as amigas esperando Sirius, que havia ficado para trás a pedido da professora, para receber a dica para o torneio. Não havia nada de mais na forma como Anton se portava, ele na verdade parecia muito envergonhado em estar pedindo um favor à garota que o dispensara.


         - Oi Emilly. Desculpa te incomodar, mas me disseram que você podia ajudar com o dever de Transfiguração. Eu consigo transformar o relógio em rato, mas não consigo fazer que rato fique vivo, e agora a professora passou para outra lição, e... Bem, me disseram que você podia ajudar.


         - Bom, eu não sei se vou ter tempo para realmente te ensinar, estou meio atolada com os meus deveres, mas eu posso te dar uma dica. - ela falou, se compadecendo do quanto o garoto estava corado.


         Foi nesse instante, porém, que Sirius saiu da sala, para se deparar com sua namorada conversando com o búlgaro que poucos meses atrás havia saído com ela. O que diabos aquele cara achava que estava fazendo? Ele sabia que Emilly não tinha intenções de reestabelecer contato com Anton, mas sabia também que as intenções dele não deviam ser assim tão inocentes. Ele andou decidido até onde os dois conversavam, pegando o final da frase da Emilly.


         - Então, tente transformar ele de dentro pra fora, se concentrando no interior do relógio se transformando no interior do rato, pra ele não acabar vazio por dentro.


         O rosto do búlgaro se iluminou com a compreensão. Bem nesse momento Sirius chegou, passando o braço sobre os ombros de Emilly e plantando um beijo em sua bochecha. Ela o olhou de lado, um pouco desconfiada, mas Sirius já estava em ação.


         - Hey baby, sentiu minha falta? - ele falolu, em tom de brincadeira, e depois se virou para Anton, a hostilidade mal escondida por baixo da educação. - Oi... Anton, não é?


         - É... oi. Então, acho melhor eu ir, ou vou me atrasar para a próxima aula. Muito obrigado, Emilly. - disse o búlgaro, quase tropeçando nas palavras, e saiu o mais rápido que pôde.


         Assim que o garoto virou as costas, Emilly tirou o braço de Sirius de seus ombros e afastou-se um passo dele. Seus olhos castanhos queimavam com uma raiva que o garoto nunca tinha visto direcionada a ele.


         - O que diabos achou que estava fazendo, Sirius Black? - ela falou, controlando-se para manter a voz baixa. Os Marotos e as meninas saíram de fininho, sabendo que os dois precisariam de privacidade.


         - Cumprimentando você, oras! - ele disse, mas não teve a chance de falar nada mais.


         - Não, você estava ameaçando o Anton! Acha que eu não percebi sua hostilidade com o pobre garoto? Ele estava só pedindo ajuda em Transfiguração, por Merlin!


         - E você acha que eu não percebi o jeito que ele olha pra você? Ou será que já se esqueceu de que ele saiu com você no início do ano? - retrucou Sirius, começando a perder a paciência.


         - Parece que você se esqueceu de que eu o dispensei! E, caso também tenha se esquecido, eu escolhi estar com você, seu idiota. Achei que soubesse que, se um dia eu mudar de ideia sobre isso, vou te avisar primeiro e terminar com você, e não sair me jogando nos braços de qualquer um! Como você pode desconfiar assim de mim?


         - Eu confio em você! Só não confio nele. - os dois estavam quase aos berros, e era uma surpresa que ninguém tivesse vindo ver o que estava acontecendo. Ou talvez as pessoas de longe percebessem que era uma briga de casal e sabiam melhor que se meter nisso.


         - E o que é que ele ia fazer? Me agarrar em público contra a minha vontade? Me arrastar pelos cabelos até a caverna dele? Merlin, Sirius, você está agindo como um primitivo, marcando território como um maldito macho alfa! Mas acontece que somos civilizados, eu sou uma mulher livre e não sou sua propriedade! Então é bom que se lembre de que estou com você porque quero, e posso deixar de querer em um instante se você continuar se comportando como um merda! - ela saiu como um furacão, sem deixar espaço para que ele dissesse mais nada.


         Que droga! Emilly estava bagunçando com seus sentimentos, fazendo-o agir por impulso, e ainda brigava com ele por isso! Sirius sabia que ela estava certa, e isso o irritava ainda mais. Ele queria poder dizer o quanto se importava com ela, o quanto odiava que outros caras a vissem como um pedaço de carne, mas sabia que tudo isso era um instinto, uma droga de impulso primitivo. Ela tinha todo o direito de estar brava, mas ele também tinha todo o direito de sentir ciúmes! Anton não era um cara qualquer, era um cara que já tinha provado os lábios dela, que ainda a olhava como se quisesse mais... Sirius nunca fora do tipo ciumento, mas simplesmente não podia evitar o que sentia.


         E o pior de tudo era que a aula de Transfiguração era o primeiro horário, e os dois ficaram o resto do dia sem se falar, olhando de cara feia um para o outro. E é claro que essa situação foi rapidamente percebida por Jessy, que, obviamente, tirou proveito da briga do casal. À tarde, enquanto os Marotos e as meninas se dirigiam aos jardins para aproveitar o horário livre para descansar, ela se aproximou de Sirius, que estava um pouco distante do grupo, ainda visivelmente chateado e pensativo.


         - Sirius, - ela começou, em um tom baixo, como se contasse um segredo - eu soube que você e a Emilly brigaram… - e antes que ele pudesse expressar alguma reação, continuou com voz dramática - Mas eu só queria que você soubesse, que você pode contar comigo nesse momento difícil. Eu sei que é duro perceber que a pessoa que a gente gosta não é a certa para a gente, mas às vezes você só precisa olhar para o lado pra ver que a pessoa com a qual você está destinado a ficar está lá te esperando… - ela finalizou encarando-o e erguendo as sobrancelhas sugestivamente, e é claro que na cabeça dela, estava sendo super discreta.


         Jessy estava se deliciando com o fato de Emilly e Sirius terem brigado, para ela era como se os avisos de sua mãe estivessem se cumprindo e ela devesse agarrar essa oportunidade de acabar de fato com o relacionamento dos dois. Quem não estava se deliciando nem um pouco com aquela conversa maluca era Sirius, que tratou logo de se afastar dela, embora discretamente, em um gesto claro de que não queria proximidade, a olhando desconfiado.


         - Achei que você tinha tomado juízo, Jessy. E aquelas desculpas que pediu para Emy depois das férias? Não valiam nada? - ele disse, erguendo a sobrancelha. Jessy abriu e fechou a boca algumas vezes, sem saber o que dizer, e Sirius se aproveitou do seu silêncio para finalizar: - Me deixa sozinho, Jessy, por favor.


         Não esperou que a garota saísse, ele mesmo se levantou e entrou novamente no castelo, entrando por algumas passagens secretas que o levaram rapidamente para a torre da Grifinória. Entrou em seu dormitório, e só então se permitiu extravasar sua raiva, tanto da briga que tivera com Emilly, quanto de Jessy. Chutou com força seu malão, vendo nele o rosto redondo da garota. O malão se deslocou para trás com o chute, e esbarrou em algo com um baque metálico. Inclinou-se para ver o que era e encontrou o baú que pegara no Lago na primeira tarefa.


Depois de toda aquela confusão, havia se esquecido completamente da conversa com McGonnagal sobre o Torneio. Qual fora mesmo a dica que ela lhe deu? Algo sobre não procurar no conteúdo, e sim no recipiente… A única coisa a que aquilo remetia, para Sirius, era aquele baú, que quando ele o ganhara achou que conteria uma pista para a próxima tarefa, mas quando o abriu e o encontrou cheio de galeões concluiu que era apenas um prêmio. Mas com aquela dica, as coisas mudavam. Pegou o baú pequeno e prateado, levando-o para sua cama.


Inspecionou primeiro todo o exterior do objeto, mas era completamente liso, exceto pelo símbolo que indicava ser aquele o tesouro da primeira tarefa. Abriu-o então, revelando um interior vazio, já que ele tinha guardado os galeões num lugar mais seguro, forrado com um veludo negro. Observou também o forro, que era igualmente liso. Nenhuma inscrição, nenhuma marca. Será que ele devia usar algum feitiço? Pegou a varinha nas vestes e a apontou para o objeto, murmurando todos os feitiços que detectavam magia que ele se lembrava. Nenhum resultado. Talvez alguma poção? Mas ele não conhecia poções tão bem, teria que pesquisar.


Ficou alguns momentos ali, olhando para aquele forro negro… e então algo estalou em sua cabeça. Era um forro! Estava cobrindo alguma coisa! Soltou a varinha e começou a rasgar o veludo com as mãos, primeiro na tampa, revelando o mesmo metal do exterior, e então dos lados da caixa, novamente encontrando apenas metal liso. Sem muito ânimo, e temendo ter estragado uma possível pista invisível no veludo, rasgou o forro do fundo. Mal acreditou nos próprios olhos quando o metal se revelou e havia gravado nele um desenho em baixo relevo ocupando todo o fundo. Era uma árvore grande no centro do desenho, e em ambos os lados diversas árvores aglomeradas, claramente sugerindo uma floresta. Só podia ser a pista, complicada de encontrar, mas uma vez descoberta, seu conteúdo era bem claro: a Segunda Tarefa seria na Floresta Proibida.


Finalmente uma boa notícia, pensou, afinal Sirius estaria em vantagem, conhecia bem a Floresta Proibida, certamente não como a palma de sua mão, mas muito mais que seus adversários. Guardou novamente o baú, se livrando da bagunça que fizera com o veludo rasgado, e desceu para assistir à sua próxima aula, que não demoraria muito a começar. As últimas aulas da tarde foram como as da manhã, Emilly o evitando e Sirius sem conseguir prestar atenção em nada além da garota e da briga que tiveram. No fim do dia, ele pretendia abordá-la no Salão Comunal e se desculpar, mas Emilly saiu antes dele no jantar e foi direto para seu quarto, e ele não conseguiu nem vê-la.


Foi deitar-se de mau humor, a descoberta da tarefa totalmente ofuscada pela sua frustração com a namorada, e acordou igualmente para baixo. James, por outro lado, que ainda estava radiante por ter tão recentemente se acertado com Lily, não suportava ver o amigo tão desanimado. Era uma morna manhã de sábado, e ele não queria que Sirius passasse todo o fim de semana resmungando pelos cantos.


- O que você acha de uma partida de Quadribol para te animar um pouco? - sugeriu James no café da manhã. Sirius assentiu sem muito ânimo, mas o fantasma de um sorriso surgiu em seus lábios.


Foram todos do grupo atrás de Madame Hook depois da refeição para lhe pedir as bolas emprestadas. Quando estavam se dirigindo para o campo, porém esbarraram em um grupo de sonserinos indo na direção oposta. Snape estava entre eles, assim como os outros garotos com quem James e Sirius haviam duelado no Halloween.


- Vão jogar Quadribol? - perguntou Mulciber, dando um passo a frente, quando viu o baú nas mãos de James. O grifinório apenas levantou uma sobrancelha, indicando que era bem óbvio o que estavam indo fazer. - Que tal um pouco de competição para deixar o jogo emocionante?


- Está querendo jogar com a gente? - perguntou James, incrédulo.


- Com medo de perder? - provocou o sonserino, e os outros atrás dele abafaram risadas.


- De vocês? De jeito nenhum! - devolveu Sirius, olhando de relance para seu irmão, que o fuzilava com os olhos.


Foram todos para a quadra, e lá dividiram os times. De um lado, Regulus como apanhador, Mulciber e Nott como batedores, McNair como goleiro, Parkinson e os gêmeos Amico e Aleto Carrow como artilheiros. Do outro lado, James como apanhador, Sirius como batedor junto de Frank, Nathalie como goleira, ocupando a posição na qual ela jogava no time da Corvinal, Remus Alice e Emilly como artilheiros. Essa ultima parte, porém, gerou uma certa discussão. Sirius a puxou pelo braço quando ela se voluntariou para jogar, a levando para alguns passos de distância.


- De jeito nenhum que você vai jogar, Emilly, você não pratica muito, e esse jogo vai ser pesado, esses caras são quase todos do time da Sonserina e não vão pegar leve! - ele falou em tom sussurrado, a preocupação por ela fazendo que se esquecesse de que estavam brigados.


 - Não tente me controlar, Sirius! - ela respondeu furiosa, a briga do dia anterior ainda fresca em sua memória. - Sou grandinha o bastante para fazer minhas próprias escolhas, vou jogar e é melhor que não ouse tentar me impedir.


Ele não ousou, e os catorze jogadores subiram em suas vassouras, enquanto Lily, Jessy, Peter, Snape e Katherine Bruke foram para as arquibancadas. Lançaram os balaços e o pomo, e então a goles foi para o ar. Alice e Parkinson foram de encontro à bola, e a garota conseguiu pegá-la, voando diretamente em direção aos aros adversários. Em poucos segundos, os gêmeos Carrow estavam um em cada lado dela, dando-lhe cotoveladas e tentando tirar a goles de suas mãos. A garota conseguiu passar a goles para Remus, quase sendo interceptada por Amico. Os gêmeos foram na direção do garoto, mas ele já estava a alguns metros de distancia, e passou a goles para Emilly antes que eles o alcançassem.


A morena avançou para os aros, com Remus chegando ao seu lado ao mesmo tempo em que Parkinson, e o grifinório empurrou o outro antes que ele pudesse chegar perto da garota. Alice e os Carrow voavam a toda velocidade em direção a ela, Alice para protegê-la e receber a goles, se necessário, e os gêmeos para tomar a bola, mas Emilly estava mais rápida que os três, indo diretamente para os aros. Sirius, que assistia a tudo, encontrou rapidamente um balaço e jogou-o na direção do goleiro, não para acertá-lo, apenas para confundir e assustar o rapaz, e funcionou. Logo depois que o balaço passou pelos aros, Emilly atirou a goles e o goleiro não foi rápido suficiente para pegá-la. 10 pontos para o time deles. Ela deu uma guinada em sua vassoura e voou até Sirius, enquanto McNair pegava a goles e atirava para um dos seus artilheiros.


- Pare de tentar me ajudar, eu sei jogar, Sirius! - ela gritou por sobre o vento quando passou por ele, seu cenho franzido e os belos cabelos castanhos esvoaçando atrás de si.


- Disponha! - gritou de volta, e saiu, resmungando, e voltou a observar o jogo.


Os sonserinos estavam com a posse da goles, e pareciam furiosos por começarem o jogo perdendo pontos. Os Carrow praticamente ignoravam o outro artilheiro, jogando a bola de um para o outro em uma sincronia tão perfeita que pareciam ler as mentes um do outro. Conseguiram atravessar o campo sem que a goles lhes fosse tomada, e quando chegaram perto dos aros, Aleto foi para a esquerda e mirou como se fosse atirar a goles, fazendo que Nathalie fosse para aquele lado, mas em vez de tentar fazer o gol, ela jogou para seu irmão, que estava na direita desprotegida, e a goles passou pelo aro antes que a corvinal pudesse fazer alguma coisa. A goleira pegou a bola e a atirou para Remus, continuando o jogo.


Os Carrow eram rápidos e cruéis, seus pés e cotovelos atingiam sem dó os adversários que marcavam, e seus passes um para o outro eram impecáveis. Parkinson era menos veloz, mas era um brutamontes, condizente com sua cara de buldogue, e jogava como tal. Sirius e Frank tentavam acertar balaços neles sempre que podiam, mas Mulciber e Nott interceptavam boa parte dessas tentativas, e os batedores adversários também tinham um gosto pela violência, e Sirius perdeu a conta de quantas vezes defendeu seus amigos contra balaços vindos deles. O jogo seguia, veloz e violento, e os sonserinos, enfurecidos por terem levado o primeiro gol, logo passaram na frente. Embora Nathalie fosse uma ótima goleira, e Remus, Emilly e Alice fizessem um bom número de gols, a vantagem da sonserina sobre eles começava a crescer, e Sirius estava rezando para que James pegasse logo o pomo.


Lily assistia ao jogo com os olhos vidrados. James era apenas um pontinho negro em sua visão naquele instante, pois estava bem acima do jogo, procurando pelo pomo, e fora alguns balaços dos quais Sirius o salvara, estava fora de perigo. Mas a ruiva se preocupava com seus outros amigos também, principalmente os três artilheiros, que estavam constantemente trocando cotoveladas com os sonserinos e eram alvos de balaço durante todo o tempo, embora Sirius e Frank os defendessem bem. À medida que o jogo prosseguia e se tornava mais furioso, Lily não conseguia deixar de notar como ele havia se tornado mais uma luta do que um jogo. Parecia que tudo ultimamente estava se transformando numa extensão do campo de batalha, e ela se perguntava quanto tempo demoraria para estarem realmente em um.


Bem quando Lily pensou aquilo, começou uma confusão. Remus estava com a goles, com Aleto ao seu lado cobrindo-o de empurrões para tentar roubar a bola, e ele empurrava também a garota tentando afastá-la, mas nada funcionava. Tentando então outra tática, ele deu um forte chute na palha da vassoura dela, dessa vez conseguindo afastá-la, mas o chute fez a vassoura girar várias vezes no ar, quase derrubando a sonserina. Amico estava ao lado da irmã antes que qualquer um pudesse piscar, ajudando-a a reestabelecer o equilíbrio. Quando ela lhe abriu um pequeno sorriso, indicando que estava bem, ele deu um beijo na testa da irmã - surpreendendo os grifinórios, que nunca esperariam um gesto assim de alguém como eles - e voou até Remus. O grifo protegeu a bola, achando que o Carrow tentaria roubá-la, mas a mão de Amico foi para o rosto dele em vez disso, em um soco que o fez soltar a bola e deslocar-se para o lado.


Em poucos segundos, todo o time estava em volta de Remus, verificando se ele estava bem e gritando insultos contra Amico, que os insultava de volta, com a irmã ao lado. Sirius e James estavam prestes a partir para cima deles quando Alice se colocou no meio.


- Parem com essa loucura! Eles vão ganhar o jogo! - ela gritou, mais alto que as outras vozes, chamando a atenção deles.


Nathalie, que estava ao lado do namorado, arregalou os olhos e voltou para os aros a tempo de agarrar mais um arremesso de Parkinson, que, pelas contas de Lily, já havia feito cinco gols enquanto o resto dos times discutia. Voltaram a jogar, ainda mais furiosos que antes, e a vantagem da Sonserina nos pontos só aumentava, assim como só aumentava a quantidade de chutes e empurrões dados por ambos os lados. Em certo ponto, Alice estava com a posse da goles e Parkinson a estava marcando duramente, quando Frank chegou perto de um balaço. Sirius viu o que ele ia fazer e tentou impedi-lo, afinal o amigo não era tão experiente como batedor, e podia acabar acertando Alice por acidente, mas o garoto estava muito longe, e antes que ele pudesse fazer algo Frank já havia rebatido o balaço na direção de Parkinson. Por sorte, Alice não foi atingida, mas o balaço acertou em cheio o braço do sonserino.


Ele gritou e Amico Carrow foi em seu auxilio, enquanto Aleto tomava seu lugar na marcação de Alice. Os sonserinos voaram juntos até as arquibancadas, e Parkinson desmontou de sua vassoura para sentar-se ao lado de Katherine Bruke, que foi imediatamente checar se ele estava bem e se prontificou para ir com ele até a enfermaria.
         - Snape, entre no lugar dele - Lily conseguiu ouvir Carrow dizer, devido a pouca distancia em que estavam, estendendo a vassoura de Parkinson para o sonserino de cabelos ensebados. Severus começou a resmungar algo sobre não saber jogar, mas o outro garoto o cortou. - Quer perder para eles?


Snape olhou para o campo de quadribol, lançou um olhar ressentido a Lily e voltou a olhar para o campo antes de pegar a vassoura do colega e montar, um pouco desajeitado. Apesar de dizer que não sabia jogar, ele conseguia voar decentemente, e conseguia acertar os passes, mas a maior parte do jogo passou para as mãos dos Carrow. A grifinória conseguiu diminuir um pouco a diferença de pontos, mas os gêmeos ainda estavam furiosos pela briga, e o jogo se manteve com os sonserinos na frente.


Certo tempo depois, Aleto estava com a posse da goles, com Emilly e Alice a conduzindo para o lado oposto ao que ela pretendia ir, em direção aos aros sonserinos. Sirius observava, achando estranho fato de que Amico não estava flanqueando a irmã, mas se dirigindo ao lado oposto do campo, se aproximando dos aros que Nathalie guardava, enquanto Snape estava… Com um estalo, Sirius percebeu a jogada. Snape estava no meio do campo, Amico próximo aos aros e Aleto não estava sendo conduzida coisa nenhuma, estava indo na direção oposta porque queria. Ela estava atraindo a marcação para o lado errado, ia mandar a goles para Snape, que a mandaria para Amico, que estaria desimpedido para fazer um gol.


A garota puxou então o cabo da vassoura e virou a cabeça para dar uma piscadela para o gêmeo, antes de mandar a bola pra Snape. Bem nesse instante, um balaço passou perto de Sirius, e ele agiu por impulso, rebatendo-o na direção de Snape. Esperava que o sonserino se distraísse para desviar do balaço e perdesse o passe, mas havia se esquecido de que Snape não era um jogador tão hábil. Os reflexos de Snape não foram suficientes para que ele desviasse, e o balaço o atingiu em cheio nas costelas. O garoto desmaiou com a dor e caiu da vassoura, Nott conseguindo pegá-lo antes que ele caísse no chão.


Com aquilo, o jogo acabou. Todos voltaram ao chão e, por um segundo de trégua, agiram como um só, preocupados com o garoto. Aleto verificou o pulso dele e verificou que Snape estava pálido e desacordado, porém vivo. Nott levantou seu corpo franzino nos braços fortes e saiu, carrancudo e sem dizer uma palavra, para levá-lo à enfermaria. Sirius começou a segui-lo, sentindo-se culpado por tê-lo machucado tanto; apesar de odiá-lo, não queria matar Snape num jogo de quadribol. Antes que pudesse dar um passo, porém, Regulus entrou em seu caminho.


- Você tem merda na cabeça, Sirius? O que estava pensando? - disse o garoto, furioso, empurrando os ombros do irmão.


- Cala a boca, Regulus, eu só estava jogando, a culpa não é minha se ele é burro demais para desviar de um balaço! - falou, irritado, vendo Nott se afastar. Os outros sonserinos fecharam o caminho do garoto e o encararam como se pensassem que a culpa era dele, sim. Logo James e Remus chegaram ao lado de Sirius, e em seguida os outros Grifinórios estavam lá também, encarando os alunos da outra casa. Por um breve instante, o ar ficou suspenso como em uma preparação antes de uma grande luta, ou uma breve calmaria antes de uma tempestade. Os Sonserinos levaram as mãos para suas varinhas, e os Grifinórios repetiram o gesto, mas Remus andou um passo à frente.


- Parem com isso! Já vamos nos meter em confusão suficiente por esse acidente, e acho que ninguém aqui quer pegar uma detenção. - ele disse, e depois de um pequeno momento de hesitação, as varinhas foram soltas.


- Dessa vez passa... - disse Aleto, com um olhar fulminante para os grifinórios, e então virou-se para o irmão, tornando sua expressão um pouco mais calma. -Vem, vamos ver se o Snape está bem. - segurou a mão de Amico e ele foram para a direção da enfermaria, seguidos por Mulciber. Regulus permaneceu por um segundo, seus olhos presos ao irmão, mas McNair o puxou pelo braço e eles também se foram.


- Eu vou também, a culpa foi minha. - disse Sirius em um tom baixo, e começou a andar para o mesmo lugar que os sonserinos, e seus amigos o seguiram.


- Não foi culpa sua, Sirius, é um jogo, e ele podia ter desviado se não fosse tão estúpido. - retrucou James, andando ao seu lado, mas o amigo não se convenceu.


- É Siriuquiho, não foi culpa sua… - disse Jessy, indo imediatamente para o outro lado dele. Mas o rapaz a ignorou completamente. Estava preocupado demais com Snape para dar atenção às maluquices dela. Emilly fechou a cara ao ver aquilo; onde estava a Jessy arrependia e consciente que lhe pedira desculpas na volta às aulas? Mas a própria Emilly também estava preocupada demais para pensar naquilo no momento.


Quando chegaram à ala hospitalar, Snape estava deitado em um leito, e madame Pomfrey colocava para fora do cômodo Slughorn e McGonagal, cercados pelos outros Sonserinos (Parkinson já com o braço curado), que explicavam o que havia acontecido. À medida que se aproximavam, porém, podiam ouvir que a versão deles era um tanto distorcida.


- Ele claramente queria matá-lo. Snape teve sorte que o balaço acertou nas costelas, porque tenho certeza que ele mirou na cabeça. - dizia Regulus, de braços cruzados, os colegas confirmando com a cabeça.


- Como é? - interrompeu James, em defesa do amigo, e todos os olhos recaíram no grupo deles. - Isso é ridículo, todo mundo viu que o Sirius não mirou pra acertar! - disse o garoto indignado.


- Siriuquinho nunca faria isso! - completou Jessy, se agarrando ao braço de Sirius, que a afastou sem cerimônias, de olhos fixos na professora.


McGonnagal andou alguns passos em direção aos grifinórios, encarando-os com seu olhar severo. - O que tem a dizer sobre isso, Sr. Black? - perguntou, em tom imparcial.


- Estávamos jogando Quadribol, professora, meu único objetivo foi distrair o Snape, para ele não pegar a goles... - disse o rapaz.


- Ele é inocente, professora! - exclamou a garota alta, tentando novamente segurar em Sirius, e o rapaz a afastou novamente, começando a ficar irritado com aquela atitude. Tinha coisas mais importantes para tratar, porém.


- Bem, todos sabemos da rivalidade dos senhores com Sr. Snape... - começou a professora, com um tom de reprovação que fez o sangue dos grifinórios gelar. - contudo, todos sabemos também os riscos do Quadribol, e não posso punir ninguém por um acidente de jogo.


- De acordo. - disse Slug, e os sonserinos começaram a protestar. Sirius abriu a boca para agradecer e para perguntar como Snape estava, mas tanto ele quanto às palavras irritadas dos sonserinos foram interrompidos pela chegada de Dumbledore.


A professora McGonnagal trocou um olhar carregado com o diretor, que após um breve momento assentiu, com um leve suspiro.


- Um triste acidente, estou certo de que todos lamentamos, e espero que o garoto se recupere depressa. - disse com voz serena. Seus olhos ainda nos da professora, numa expressão enigmática. Seus olhos claros passaram então pelos alunos. - Creio que devamos deixá-lo repousar agora.


Todos obedeceram àquela ordem implícita, os Sonserinos indo na frente, aos resmungos e cochichos, e os professores ficando alguns passos para trás. Então Jessy tentou pela terceira vez pendurar-se em Sirius, com um sorriso bobo no rosto.


- Ah Siriuquinho, eu sabia que você não ia ser punido, afinal você é perfeito e… - ela começou a tagarelar, mas ele tornou a se afastar, olhando-a pela primeira vez desde o começo da confusão, e havia irritação em seus olhos.


- Me larga, Jessy! Você não tem noção de educação? Eu já disse mil vezes que não quero nada com você, e não vou mudar de ideia! Está só se colocando num papel ridículo. - disse de uma vez, deixando sua irritação transparecer.


A garota não pareceu tão alta naquele momento, de tanto que se encolheu com as palavras cortantes de Sirius, e depois de um breve instante, cobriu o rosto com as mãos e saiu correndo, o barulho estridente de seu choro podendo ser ouvido por todo o corredor. Os grifinórios continuaram a seguir o caminho, em um silêncio tenso, com os três professores também calados atrás deles.


A hora do almoço se aproximava, então eles se dirigiram para o Salão Principal, eventualmente recomeçando a conversar, apesar de Emilly ter ficado calada durante todo o tempo. A morena estava arrasada por dentro, por mais que não deixasse isso transparecer em suas feições. As palavras de Jessy no recomeço das aulas aparentemente tinham sido tão vazias quanto os reais sentimentos de sua amiga por Sirius. Logo quando estava achando que tudo finalmente ficaria bem, Jessy voltara a agir como antes, e aquilo a deixava completamente perdida.


Quando chegaram ao Salão, os marotos e as garotas foram se sentar à mesa da Grifinória, mas Sirius parou no meio do caminho e segurou Emilly pela mão, puxando-a para o lado oposto. Entrou com ela em um corredor aleatório, por coincidência o mesmo corredor para o qual ele a puxara no Baile de Inverno. Ela resistiu um pouco, lembrando-se que estava brava com ele, mas Sirius a segurou pelo ombro e olhou no fundo dos seus olhos, de uma forma que parecia penetrar em sua alma, e a garota viu que ele entendia como ela estava se sentindo.


- Ela não devia… - ele começou a dizer, mas Emilly esqueceu-se da briga e o surpreendeu com um abraço. Por mais que tentasse sempre ser forte, naquele momento ela precisava de apoio.


- Não acredito que todos esses dois meses foram uma mentira. Achei que teria minha amiga de volta, Sirius, achei que ela finalmente tivesse superado esse bobeira. - disse, enterrando o rosto no pescoço de Sirius, que levou uma mão para acariciar seus cabelos.


- Eu não sei se ela consegue superar, Emy… - disse, sentindo um aperto no peito por dizer a ela essa dura verdade. - Eu sinto muito.


- Tudo bem. Eu já devia ter me acostumado. - disse, sentindo-se um pouco melhor com o conforto dele. Doía nela ver sua amiga continuar presa àquela obsessão, mas não havia nada que pudesse fazer.


- Eu… também sinto muito por ontem, por aquela briga. Eu confio em você, só me deixei levar pelos ciúmes. Desculpa. - falou, afastando apenas um pouco o abraço para olhá-la nos olhos.


- Tudo bem, eu também exagerei um pouco, não devia ter ficado tão nervosa. - ela admitiu, uma de suas mãos subindo para acariciar de leve o rosto dele. Seus lábios se encontraram num beijo profundo, e quase perderam o almoço ali. 


Quando voltavam para a mesa, Emilly apertou a mão do namorado, olhando para ele com uma expressão preocupada, e ele sabia qual era o motivo da preocupação: faltavam três dias para a Segunda Tarefa.




N/A: Peço desculpas pela demora enorme para postar um novo capítulo, mas eu estava meio apertada com a faculdade. Obrigada a todos que leem e comentam a fic, continuem dando sua opinião, ela é muito importante para mim! Bjos. 

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