O Baile de Inverno (Reescrito)
Capítulo 9 – O Baile de Inverno
Dia 23 de dezembro normalmente era apenas o dia do solstício de inverno, ou a véspera das férias de Natal, mas nesse ano em particular, significava algo a mais, algo que vinha agitando Hogwarts a mais de um mês. Era o dia do Baile de Inverno. Mesmo que fosse o máximo ir a um baile na maior noite do ano, as garotas viam uma desvantagem naquilo: sobrava menos tempo durante o dia para se arrumarem. Principalmente para Jessy, que na última hora dissera que iria com Peter, e suas amigas teriam que passar horas tentando dar um jeito no cabelo dela.
- Escrevam o que eu estou dizendo, nada mais vai ser igual por aqui depois desse baile. - falou Alice, enquanto mexia uma poção anti-volume simples que fazia para o cabelo de Jessy.
- Uuuh, falou a Madame Zuleica aqui! - brincou Lily, se referindo à professora de adivinhação delas, e as garotas riram. Ela e Emilly estavam com escovas na mão, perdidas em meio à palha de aço que Jessy chamava de cabelo, tentando penteá-lo.
- É, mas a Lice tem razão. Só a confusão que vem acontecendo de novembro pra cá por causa desse baile já é o suficiente para ocupar colunas de fofoca por semanas, imaginem o baile em si? - falou Emilly, e as outra três concordaram – Falando nisso, sabiam que o Snape vai levar a Katharine Burke?
- Aquela sonserina que tentou botar fogo no cabelo da Alice ano passado? Mas ela não anda atrás do Frederic Parkinson feito um cachorrinho desde sempre? - perguntou Lily, espantada. Katharine era uma ratazana invejosa e mal-amada, que volta e meia causava problemas para alguém, fazia sentido que Snape fosse ao baile com ela.
- É claro que anda, mas dizem que ele só a usa quando é conveniente pra ele. Agora o Parkinson está ocupado de mais, porque vai levar aquela vadia da Juliet Greengrass. - Alice falou, colocando um ingrediente no caldeirão.
- Ah, a miniatura da Bellatrix Lestrange, é como a chamam. Agora faz sentido. Por Merlin, os sonserinos babam nela do mesmo tanto que os caras das outras três casas babam na Emilly, e isso é dizer alguma coisa! - falou Lily, e levou uma cotovelada da amiga que estava ao seu lado.
- Nunca mais faça uma comparação dessas, Lily Evans! É claro que eles babam muito mais em mim. - foi a vez de Emilly levar uma cotovelada, e elas riram. - Mas falando sério, isso é assustador. Qual o sentido dessas garotas ficarem imitando a Bellatrix Lestrange? Ela pode até ser bonita e se vestir bem, mas vamos lá, ela é totalmente louca, Comensal da Morte, e uma vadia completa! Não dá pra entender isso.
- Verdade, Emy. E não são só as sonserinas, eu já vi umas garotinhas da Corvinal falando super bem dela, como se ela fosse uma diva da música ou coisa assim! E cada vez mais eu vejo essa nova geração de Hogwarts colocando os Comensais, não só a Lestrange, como se eles fossem deuses. - disse Alice, arregalando seus olhos azuis para enfatizar o horror.
- Isso é doentio do mesmo tanto que é preocupante, porque vocês sabem o que tudo isso quer dizer, né... - falou a ruiva, e Emilly e Alice assentiram. Jessy, contudo, virou a cabeça, bagunçando o único pedacinho de cabelo que as outras duas tinham conseguido desembaraçar.
- Não entendi. O que isso quer dizer? - Jessy perguntou, confusa. Emilly virou a cabeça da amiga novamente para frente, recomeçando a pentear seus cabelos, enquanto explicava.
- Quer dizer que Você-Sabe-Quem está ganhando poder, assim como seus seguidores. E não é só poder no sentido de magia, eles estão ganhando a cabeça das pessoas, cada vez mais gente quer ser Comensal, até as crianças agora, e quanto mais gente eles tiverem, piores eles vão ficar. Se ninguém parar isso logo... Vamos dizer que as coisas vão ficar feias.
Elas se calaram, absorvendo o peso daquilo. Aquela guerra estava cada vez pior, mas elas tinham o direito de se divertir ao menos no dia do baile, e logo se distraíram novamente com os preparativos para a festa.
**
Já estava quase na hora do baile, e James, Sirius, Frank e Peter estavam no Salão Comunal, esperando as garotas. Remus já tinha ido buscar Natalie na torre da Corvinal, tão animado e cheio de si que nem parecia que a lua cheia seria dali a poucos dias. Os garotos vestiam seus trajes a rigor, e estavam muito elegantes. James usava vestes pretas e tinha até penteado os cabelos, embora já os tivesse bagunçado de novo por causa do nervosismo. O traje de Sirius era azul-marinho, contrastando com seus olhos azul-acinzentados, Frank usava cinza e Peter marrom.
Nenhum dos quatro conseguia entender como as garotas conseguiam demorar tanto para se arrumarem; elas estavam trancadas naquele quarto desde o almoço, sendo que eles haviam se aprontado em menos de meia hora. Mas nenhum deles ousou reclamar quando as meninas apareceram no topo das escadas.
Elas estavam simplesmente deslumbrantes. Lily usava um vestido verde-esmeralda, da cor de seus olhos, joias douradas adornavam sua pele de porcelana, combinando com finos saltos da mesma cor, e seus longos cabelos ruivos com tranças elaboradas a deixavam parecida com uma fada. Emilly vestia um tomara que caia roxo; o corpete apertado, todo enfeitado com pequenos diamantes e bordado com fios de prata, definia sua cintura, e abaixo dele a saia caía em camadas de cetim. Seus cabelos estavam presos num coque elegante que deixava soltas algumas mechas, moldadas em cachos, e o coque também estava enfeitado com pequenos diamantes, assim como as joias que adornavam seu pescoço, orelhas e pulsos. Alice usava um vestido azul-turquesa e joias prateadas, seus cabelos negros também estavam presos num coque, mas o dela era apertado e bem estruturado, destacando os grandes brincos de prata que ela usava.
Até Jessy parecia um ser humano, apesar de usar um vestido amarelo-ovo. Seu cabelo não estava mais parecendo uma vassoura velha, agora seus cachos estavam brilhantes e bem definidos (aquela poção fazia milagres!). Juntando isso com quilos de maquiagem, e ela parecia outra pessoa. Por causa disso, a garota ficara tagarelando por quase meia hora sobre como Sirius ira desistir de ir ao baile com Emilly quando a visse bonita daquele jeito. Mas é claro que Sirius só tinha olhos para Emilly, e a morena teve que empurrar o queixo dele para cima, quando se encontraram ao pé da escada, para evitar que o garoto babasse.
- Como vocês estão lindas! – disse James, oferecendo o braço para a ruiva que sorria para ele. - Principalmente minha Lily.
- Sua, James? Desde quando? - ela disse, levantando uma sobrancelha provocativa.
- É o meu par pro baile, não é? - ele devolveu a brincadeira, e a garota deu uma risada, aceitando o braço dele.
Quase chegando ao Salão Principal, Sirius e Emilly se separaram dos outros e foram para a câmara lateral onde os três campeões e seus pares esperariam até o início do baile. Minerva os havia avisado a alguns dias sobre isso, dizendo que os campeões tradicionalmente começavam a valsa.
Os outros dois casais já estavam na câmara quando Sirius e Emilly chegaram, e a garota se surpreendeu ao ver Jack Andrews com a campeã de Durmstrang, Natasha. O garoto sorriu e acenou para ela, sem mostrar ressentimento por ela ter recusado seu convite, e Emilly acenou de volta, aliviada por ele ter conseguido encontrar um bom par. Sirius, entretanto, não gostou tanto assim daquela troca de sorrisinhos entre eles, e tratou de colocar um braço sobre os ombros de Emilly. Ela o olhou desconfiada, mas não teve tempo de dizer nada, pois McGonnagal chegou na câmara e anunciou que a valsa começaria.
Os três pares entraram no Salão Principal, que estava praticamente irreconhecível. O teto mostrava um céu estrelado e sem nenhuma nuvem; havia três dias que não nevava, deixando o clima perfeito para o baile e um céu perfeito que servia ainda mais de enfeite. As velas flutuantes haviam sido substituídas por pequenas esferas que emitiam um brilho azulado e glacial. No lugar das costumeiras armaduras, havia bonitas esculturas de gelo que não derretiam, e as paredes estavam cobertas por uma camada de gelo cintilante e enfeitadas por guirlandas de visco e hera. No lugar das grandes mesas das casas, havia uma enorme pista de dança; num canto, encostada numa das paredes, estava uma grande mesa de comidas e bebidas de todos os tipos; e o elevado onde ficava a mesa dos professores estava funcionando de palco para as Bruxas de Salém, que começaram a tocar uma valsa.
Sirius segurou firmemente na cintura de Emilly e os dois entraram na valsa junto dos outros campeões, seguidos por uma onda de aplausos. Ser criado numa família tradicionalista tinha lá seus lucros, e graças a isso tanto Sirius quanto Emilly dançavam valsa desde pequenos, e isso se evidenciava ainda mais ao lado dos outros dois pares desajeitados. Após alguns compassos, outros casais começaram a se juntar à dança, tirando os três campeões do centro das atenções, e logo o Salão estava cheio de casais dançando. Sirius sempre odiou valsa, mas agora parecia a dança mais maravilhosa do mundo; era por causa da valsa que ele tinha Emilly assim, presa em seus braços, olhando-o nos olhos daquela maneira. Ele levou as duas mãos até sua cintura e a levantou, rodando-a no ar. Emilly sorriu, voltando ao chão, e os dois continuaram dançando, totalmente imersos um no outro.
Totalmente imersos um no outro, James e Lily rodopiavam pelo Salão. Ela não estava muito segura com as passadas, ainda mais em cima daqueles saltos, mas James guiava muito bem. Bem demais, pensava Lily, inebriada pela proximidade de seus corpos. Através dos óculos, os olhos dele pareciam brilhar ainda mais na luz azulada do Salão, e ele sorria de lado, aquele sorriso charmoso que a deixava meio tonta. Resistir a James Potter estava ficando cada vez mais difícil, mas Lily tinha medo de ceder e se magoar como todas as garotas que cediam aos encantos dele. Eles se afastaram, ficando presos apenas por uma mão, e em seguida ela voltou rodopiando para os braços dele. De fato, James sabia conduzir muito bem, ela tinha que admitir.
Peter não sabia conduzir nada bem. E Jessy também não sabia muito como ser conduzida. Ele ficava mais ou menos na altura do queixo dela, e era estranho dançar com um garoto tão mais baixo, ainda mais um garoto que pisava no seu pé o tempo todo. Não que Jessy pudesse reclamar, porque também estava pisando no pé dele, mas reclamava mesmo assim. Ela não conseguia tirar os olhos de Emilly e Sirius dançando. Ela estava linda, toda coberta de diamantes, como é que Sirius iria olhar para Jessy desse jeito? Em seus sonhos, talvez se Emilly recusasse o convite dele, a próxima opção seria ela, Jessy. Claro, ela queria ter sido a primeira opção, mas Emilly tem sempre que ser a primeira em tudo, a mais bonita, a mais popular, a melhor... Era difícil engolir isso, ainda mais quando se tratava de Sirius. Seu Sirius, como Jessy costumava dizer. Ela sempre declarara que Sirius era dela, e agora Emilly tinha a audácia de tentar roubá-lo? Claro, porque Emilly-Perfeita Carey sempre conseguia tudo, tudo que Jessy queria.
Tudo que Remus queria era dizer a Natalie o quanto gostava dela. Ela estava linda, com um vestido azul esvoaçante e seus cabelos loiros puxados para trás com uma tiara prateada, toda cravejada de pedrinhas. E ela sorria, dançando em seus braços. Que sorriso bonito ela tinha! Mas logo a valsa acabou, e as Bruxas de Salém começaram a tocar o que eles realmente sabiam: Rock. E é claro que a dança também mudou, e Remus relutantemente separou seu corpo do dela para que pudessem se adequar à mudança. Ainda assim, dançar com Natalie continuava perfeito, seu sorriso, seu olhar, sua voz, suas mãos presas às dele, tudo isso continuava fabuloso. Ele não queria estragar esse momento falando de mais, mas sabia que a noite ainda era uma criança, e que não sairia daquele baile sem falar a ela o que sentia.
A noite ainda era uma criança, mas para Jessy acabara junto com a valsa. Livre da obrigação de dançar, ela se livrou de Peter e sentou-se em num dos bancos dispostos nos cantos do Salão, cruzou os braços e pendurou um bico, aquela sua típica pose de quando estava contrariada. Ficou os observando de longe, Sirius e Emilly dançando juntos, pulando com a música. Eles dançavam tão bem juntos que as pessoas em volta até se afastavam um pouco para os olharem melhor, como se eles fossem a atração, e não a banda. Devia ser Jessy ali, linda e ao lado de Sirius.
Sua visão, contudo, foi cortada por quatro garotas que entraram em sua frente. Elas também estavam de bico amarrado e braços cruzados, mas a raiva delas estava voltada pra Jessy. Eram as garotas da Lufa-Lufa, para as quais ela contara que iria ao baile com Sirius. Fora bom mentir para elas, pois assim mentia para si mesma, e era bom viver na ilusão. Mas agora ela teria que encarar as consequências dessa mentira.
- Você disse que viria ao baile com o Sirius Black. Não é isso que está parecendo. - disse uma das garotas, e as outras concordaram, em coro.
- Não foi culpa minha! Ele vinha comigo, mas a Emilly roubou ele de mim! - disse Jessy desesperada, e as garotas arquearam as sobrancelhas, descrentes.
- Ah é? E posso saber como ela fez isso? - perguntou a Lufa, que parecia ser a única com coragem de falar, e as outras repetiram “é, como ela fez isso?”.
- Ela... ela mostrou os peitos pra ele!
- Até parece, né Jessy! Deixa de ser mentirosa, que coisa mais feia! - falou a menina, e as outras concordaram, saindo todas juntas. Talvez Jessy não tenha conseguido enganar as Lufas, mas aquela mentirinha foi suficiente para enganar a si mesma, e ela logo mergulhou em seu mundo de fantasia, onde Sirius estava hipnotizado e Emilly era uma vadia que o estava roubando dela. Aquilo seria suficiente, por enquanto.
O beijo de Natalie era o suficiente para deixar Remus feliz por toda a noite. Ainda assim, ele queria mais, e puxou novamente os lábios dela para os seus. Ele conseguira, finalmente tivera coragem para dizer a ela como se sentia, mas a garota nem o havia deixado terminar, calando-o com um beijo tímido.
- Você também é muito especial para mim, Remus. - ela falou, quando se soltaram do beijo. Aquela era, com certeza, uma das melhores noites de Remus.
- Olha só, Lily, é o Aluado com a Natalie! - mostrou James, a alguns metros dali, perto da mesa de bebidas. Ele e Lily estavam se divertindo como nunca naquela festa, e ele ficava cada vez mais fascinado pela ruiva.
- Que gracinha! Mas já não era sem tempo, né... - falou Lily, servindo-se de cerveja amanteigada. - Hey James, qual é o sentido desses apelidos que vocês quatro usam? - James quase engasgou com a bebida. Droga, ele se esquecera de que Lily não sabia sobre a condição de Remus e tudo o mais.
- Se eu te contasse, teria que te matar. - ele brincou, recuperando a compostura. A ruiva revirou os olhos, mas resolveu não insistir, teria tempo para isso depois.
- Então, você vai pra casa no Natal? - ela mudou de assunto, deixando-o aliviado.
- Não, meus pais me escreveram semana passada dizendo que é mais seguro que eu fique em Hogwarts. Eles estão tentando se proteger, me proteger, não se envolvendo muito, não declarando oposição a Você-Sabe-Quem, mas ainda assim... Não é mais seguro lá fora, mesmo para um “sangue-puro” como eu. - o garoto fez uma careta ao se chamar de sangue-puro, ele odiava aquele conceito. Não era só por isso, também, que ele estava ficando em Hogwarts: a lua cheia seria na semana do Natal, e eles ficariam para ajudar Remus.
- É exatamente por isso que eu queria passar o Natal em casa, pode ser o último Natal que eu vou passar com eles. Ainda mais considerando que eles são trouxas. Mas minha mãe também me escreveu pedindo para eu não ir. Só que a preocupação dela era outra: minha irmã vai passar o Natal lá em casa com a família do noivo dela, e criou o maior caso de que eu, a “aberração da família”, ia estragar tudo se fosse pra lá.
- Sinto muito, Lily. É bem difícil lidar com sua irmã, né? - ele falou, colocando a mão em seu ombro, e ela sorriu de leve.
- É sim. Mas normalmente meus pais não deixam ela criar caso comigo, é só que minha mãe está meio louca com essa coisa do casamento da Petúnia. Deixa isso pra lá, James, a gente tá num baile, lembra? Temos que nos divertir.
- Verdade. E, olha só, tem um lado bom nisso: vou passar o feriado todo do seu lado! - disse James, abrindo um sorriso tão fofo que ela não pôde evitar rir.
- Nossa, que animador! - Lily falou sarcástica, e o sorriso dele se transformou num biquinho, que a fez rir mais ainda, e ele riu também. As risadas foram sumindo aos poucos e deixando apenas leves sorrisos em seus lábios, e seus olhos se comunicando intensamente.
- Seu sorriso é lindo, Lily. - ele falou, sua mão acariciando os cabelos dela de leve. A ruiva não conseguiu encontrar uma resposta, e os dois continuaram apenas se olhando, num daqueles momentos em que se perdia a noção do tempo e do mundo ao redor. Eles foram despertos por uma nota alta de guitarra que veio do palco, começando a introdução de uma música.
- Eu adoro essa música! - ela falou, corando ao perceber o quanto estavam próximos. - Vem, vamos dançar. - E os dois desapareceram na pista de dança.
**
A pista de dança estava cheia, e, por mais divertido que estivesse, Emilly precisava de ar fresco e alguma bebida. Ela já estava prestes a dizer isso para Sirius quando ele se inclinou para ela e aproximou os lábios de seu ouvido. Ela sabia que ele fizera aquilo para ser ouvido em meio ao barulho, mas não deixou de sentir arrepios com a respiração dele em seu pescoço.
- Que tal uma bebida? - ele falou, e Emilly assentiu.
Os dois abriram caminho para fora da multidão e foram até a mesa de bebidas. Antes, porém, que chegassem lá, Sirius a puxou pela mão para um dos corredores desertos que saíam do Salão. Ela foi encostada à parede fria, com o coração aos saltos, sentindo o corpo dele se encostar ao seu. A mão dele, ainda presa à de Emilly, foi também para a parede, seus dedos se entrelaçando com um encaixe perfeito.
- Eu não aguento mais, Emilly. Não aguento mais te olhar disfarçadamente, ficar todos os dias ao seu lado sem poder te tocar. - Com as respirações alteradas e os olhos presos um ao outro, seus rostos se aproximavam mais e mais a medida que ele falava, com a voz sussurrada. - Não aguento mais te ver todo dia e não poder te beijar, e dizer que você é a pessoa mais especial do mundo pra mim.
Havia mais a ser dito, mas naquele momento foi inevitável que seus lábios se tocassem, com uma sutileza impressionante. Como eram macios aqueles lábios, Emilly pensava, bem melhor do que ela havia imaginado. Não tardou para que a língua dele abrisse caminho entre seus lábios e o beijo se tornasse mais intenso. Tudo que havia a ser dito foi demonstrado naquele beijo, aquela troca tão grande de carinho e de sentimentos que fazia qualquer palavra desnecessária. Depois de muito tempo, eles romperam o beijo, ofegantes.
- Eu quero você, Emy, quero que seja minha... - ele provavelmente completaria a frase com 'namorada', mas Emilly o interrompeu, colocando o indicador sobre seus lábios.
- Já sou sua há muito tempo, Sirius. - e as bocas deles se encontraram novamente, dessa vez mais furiosos e necessitados, se procurando, se conhecendo. Emilly passava a mão pelos cabelos dele, enquanto Sirius a segurava pela cintura puxando-a mais para perto. Um besouro zumbiu perto do ouvido de Sirius e ele abanou a mão para espantá-lo, sem romper o beijo. Os dois ficaram ali por um bom tempo, apenas se beijando, sem saber quanto tempo exatamente havia passado.
- Temos que voltar pra festa, Si. - Ela disse em certo ponto, mal se aguentando em cima dos saltos, enquanto ele beijava seu pescoço.
- Festa? Que festa? - Sirius brincou, voltando a tomar seus lábios. Como é que ela ia resistir a uma coisa daquelas? Suas bocas se juntavam tão perfeitamente, como se tivessem sido feitos um para o outro. Mas, com uma força de vontade incrível, ela se afastou do beijo e olhou-o nos olhos. Aqueles olhos acinzentados, ainda mais bonitos escurecidos assim pelo desejo.
- É sério, vão sentir nossa falta. - ela disse, mas estava com tanta vontade de ir quanto ele.
- Verdade, somos presenças muito ilustres, não é? - ele concordou, e se afastaram relutantes. Entraram novamente no Salão de braços dados, e foram ofuscados por alguns segundos pela luz.
O casal foi pegar algo para beber e encontraram Peter sentado em frente ao balcão de bebidas, servindo-se de Whisky de Fogo com as mãos trêmulas.
- Rabicho, o que você tá fazendo aqui? Cadê a Jessy? - perguntou Sirius, se aproximando do amigo para servir Vinho dos Elfos para ele e Emilly
- Ela está sentada lá, com um bico de todo tamanho. Ela não quer saber de mim, não. - falou o garoto, já com a voz meio mole. Era uma cena de dar dó.
- E só por isso você vai ficar aqui feito um perdedor? Corre atrás dela, cara. - disse Sirius, e deu um tapinha encorajador nas costas do amigo. Rabicho resmungou alguma coisa como “É, vou mesmo. Valeu”, e Sirius e Emilly se afastaram.
- Falando em Jessy... - Emilly começou, hesitante, olhando para seu copo. - Vamos ser discretos hoje, ok? Só hoje, Sirius, eu não quero estragar o baile da minha amiga.
Sirius assentiu de leve e ela sorriu, aliviada. O que ele não fazia por ela, para ver aquele sorriso lindo? Mas mal eles sabiam que o baile de Jessy estava prestes a ser arruinado. Tomado por uma ébria coragem, Rabicho virou o resto do copo num gole só e foi até Jessy, que estava sentada num canto, ainda emburrada.
- Jessy, vamos dançar. - ele falou, mais em tom de ordem do que de pedido.
- Me deixa em paz, Peter. - Ela levantou seus olhos marejados para o garoto e voltou a olhar para a pista de dança, sem desamarrar o bico. O garoto já estava se virando para obedecê-la quando se lembrou de novo do que Sirius dissera, e resolveu insistir. Sirius devia saber dessas coisas, afinal.
- Não deixo não, Jessy. Levanta daí e olha pra mim. - como ela não se mexeu, Rabicho se sentiu no direito de puxá-la pelo braço. Ela se levantou com uma careta de protesto. - Olha pra mim. Não dá pra ver que eu gosto de você? Me enxerga, Jessy, por favor!
Jessy nem teve tempo de dar uma resposta mal educada, ele a puxou pelo braço e colou seus lábios aos dela. Era a primeira vez que algum garoto a beijava, e ela não podia ter odiado mais. Era aquele bafo horrível de Whisky de Fogo e o pensamento de que ele não era Sirius, ela não podia suportar. Jessy o empurrou com força, quase fazendo-o cair, e saiu correndo, incapaz de dizer sequer uma palavra. Ela seguiu para o dormitório, cega pelas lágrimas. A garota tentou bloquear as imagens que apareciam em sua mente, de Emilly se divertindo no baile com Sirius, ela nem queria imaginar o que eles estariam fazendo agora. Jessy arrancou aquela droga de vestido feio assim que chegou no quarto, entrando em seus pijamas de ursinho e caindo na cama, imersa em sua falta de sorte. Por que nada dava certo pra ela?
Depois de um fora horrível daqueles, Rabicho também resolveu dar o fora. Ele saiu cabisbaixo do Salão, chutando pedrinhas pelo caminho. Se Jessy pelo menos abrisse aqueles olhões dela e deixasse de ser cabeça dura... Os dois podiam ser felizes juntos. Mas não, ela só queria Sirius, Sirius e mais Sirius. Será que ela não se tocava que o Sirius não queria nada com ela, que o Sirius é doido pela Emilly há sabe-se lá quanto tempo? Até o próprio Rabicho, que é lerdo como uma mula para esse tipo de coisa, já tinha percebido! Mas, também, quem mandou ele se apaixonar por uma iludida cabeça-dura? É, nada dava certo mesmo para ele.
Enquanto isso, de volta ao baile, James tomava o copo de Whisky de Fogo da mão de Lily. Ele não sabia se ela já havia tomado aquilo antes, mas era uma bebida bem forte, mesmo que ela só tivesse tomado umas duas ou três doses. Eles conversavam descontraídos numa mesa, e ela o olhou confusa quando ele tirou o copo de sua mão.
- Me concede uma última dança? - ele perguntou, se levantando e estendendo a mão.
- Última? - Lily segurou a mão dele para se levantar, sorrindo intrigada.
- Acha que não percebi essa sua carinha de sono? - Ela deu uma risada e assentiu, enquanto os dois iam para a pista de dança, muito mais vazia agora. As Bruxas de Salém tocavam uma música lenta, “Magic Works”, se Lily não se enganava. Era bom sentir a mão dele segurando sua cintura enquanto eles rodopiavam no Salão ao som da música, seus olhares se comunicando. Depois da dança, eles subiram juntos as escadas que levavam à torre da Grifinória, Lily com a cabeça escorada no ombro dele. Chegaram ao Salão Comunal sem trocar nenhuma palavra.
- Obrigada, James, o baile foi... - ela não encontrou palavras para terminar a frase, então fez a única coisa que queria realmente fazer. Lily se aproximou de James e tocou os lábios dele com os seus. Ele correspondeu por alguns segundos, maravilhado e surpreso, mas logo sentiu o gosto de Whisky de Fogo em sua boca e se afastou. Se ela estivesse fazendo isso só por causa da bebida, ele se sentiria um lixo depois.
- Não, Lily. Isso é o que eu mais quero, mas não agora. Eu não me perdoaria se eu me aproveitasse de você assim. Vá para a cama. – ele disse e lhe deu um beijo na testa, se afastando antes que cedesse à tentação de mudar de ideia.
Lily fez que sim com a cabeça e subiu as escadas, os lábios formigando com a sensação do beijo. Ela até pensou em explicar que não estava nem um pouco bêbada, mas desistiu.
**
Vários andares abaixo, Emilly estava quase desistindo daquela história de discrição. Ela e Sirius estavam dançando aquela música linda, as mãos dele seguravam firmemente sua cintura, uma delas acariciando suas costas, enquanto ela tinha o pescoço dele enlaçado por seus braços, suas unhas arranhando de leve a nuca dele e sentindo os cabelos dele se arrepiarem ali. Mas o mais mágico daquele momento era o olhar que eles trocavam, aquele olhar que transmitia ao outro tudo que as palavras não conseguiam. Seus lábios se tocaram de leve e ela se afastou, lembrando-se que estavam sendo discretos.
- Aqui não – ela sussurrou, e os dois saíram da pista de dança, rumo à saída do castelo. Passaram por Alice e Frank se agarrando violentamente em um canto, e por três garotas da Lufa-Lufa, aquelas que andavam com Jessy, bêbadas numa mesa, com uma garrafa de Whisky de Fogo pela metade.
- Sirius, larga essazinha aí e vem dançar com e gente! - disse uma delas, com a voz embolada pela bebida, e as outras duas concordaram “é, larga essazinha aí!” em coro.
Emilly não conseguiu segurar a risada, e Sirius olhava para as Lufas como se elas tivessem duas cabeças. Os dois continuaram andando, de braços dados.
- Qual o problema dessas garotas? - ele perguntou, ainda com uma expressão de estranhamento engraçadíssima.
- Sei lá, elas são só umas mal-comidas, não liga pra isso.
- Mal-comidas? - ele repetiu, rindo. - Como sabe se elas são mal-comidas?
- Ora, se elas não fossem mal-comidas não estariam correndo atrás de você. - ela falou, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, e Sirius soltou uma das suas gargalhadas que lembravam um latido.
Ele abriu a porta do Salão e os dois saíram para o jardim. Há três dias não nevava, e ainda havia um pouco de gelo derretendo aos pés das árvores, mas o gramado estava praticamente intacto, molhado apenas pelo orvalho. O céu estava claro, com uma lua quase cheia dando um brilho azulado para as coisas. O vento gelado de dezembro, porém, arrepiou os braços descoberto dela, mas Sirius já havia tirado a capa de sua veste e a jogado sobre os ombros da garota. Emilly sorriu e os dois se sentaram na relva, em frente ao lago.
- Então, por que você está correndo atrás de mim? - ele perguntou, com um sorriso brincalhão nos lábios, e ela ergueu as sobrancelhas, surpresa.
- Não estou correndo atrás de você! - Emilly deu um tapinha de leve no ombro dele, para mostrar sua indignação, e eles riram.
- Está correndo atrás de que, então? - ele disse, segurando a mão dela em seu ombro. Os olhos deles se comunicavam de novo, aqueles olhos cinzentos brilhando azulados na lua.
- Do tempo perdido. - ela murmurou, e seus lábios finalmente encontraram os dele novamente, eletricidade percorrendo os corpos de ambos.
- Olha só. – disse Sirius, um tempo depois, pegando uma pedrinha perto dos pés dela e fechando-a na mão. – Sopra. – ele falou estendendo a mão para Emilly. Ela lhe lançou um olhar inquisitivo, mas soprou de leve os dedos dele. Sirius abriu a mão e a pedrinha tinha agora o formato de um coração.
- Que gracinha! Como é que você fez isso?
- Tenho estudado como conduzir magia sem varinha, mas até agora isso é o máximo que eu consigo fazer. - ele disse, como se isso não fosse grande coisa. - Toma, fica com ele. - Sirius entregou o coraçãozinho na mão dela e aproximou os lábios de seu ouvido, sussurrando de leve. - Para você lembrar que meu coração é seu.
Não tinha resposta melhor que um beijo. Emilly não sabia que Sirius Black podia ser tão romântico, e estava adorando aquilo. Eles ficaram por um longo tempo se beijando, sem pensar em mais nada, se esquecendo de todo o mundo em volta deles. Depois se deitaram lado a lado na relva, contemplando aquele céu límpido tão incomum no inverno.
- Está vendo aquela estrela ali? – disse Sirius apontando para o céu.
- Eu estou vendo um monte de estrelas, Sirius. – ela respondeu o óbvio.
- Aquela ali, Emy. A mais brilhante de todas.
- Ah, eu estou vendo. Ela é linda!
- Não é? Ela se chama Sirius. – ele disse, e Emilly riu, sem acreditar. - É verdade!
- Você tem o nome de uma estrela? – ela perguntou, ainda sorrindo.
- Uhum. Eu e metade da minha família. Meu pai mesmo se chama Órion, não lembra?
- Ah é verdade... Que gracinha, Sirius, você é uma estrelinha! - ela zombou.
- Não, estrelinha é muito gay. Eu sou um estrelo macho. - Sirius se fingiu de ofendido, e Emilly riu. Ele a beijou ardentemente, como que para provar que era mesmo um estrelo macho.
- Muito macho por sinal... – ela comentou, meio zonza, quando partiram o beijo. Os dois voltaram a olhar para as estrelas e ficaram ali um pouco, conversando amenidades, Emilly acomodada no ombro dele enquanto Sirius acariciava seus cabelos. E depois foram para seus dormitórios, com uma paz que há muito tempo não sentiam e a certeza de que tinham um ao outro.
**
Alice e Frank estavam no sétimo andar, encostados numa parede, se beijando com fúria, ele com a mão na coxa dela, ela arranhando o pescoço dele. Ambos tinham apenas uma coisa em mente. De repente, eles sentiram a parede tremer sob eles.
- O que você fez? – Frank perguntou, ofegante, ao partir o beijo.
- Eu não fiz nada. Não foi você? – disse Alice, com os olhos turvos e os lábios vermelhos. Ele fez que não com a cabeça.
- Hey, de onde surgiu aquela porta? – Frank olhava para uma porta ao lado deles, onde antes não havia nada além de uma parede lisa e vazia.
- Vamos ver o que é. – sugeriu Alice.
Eles giraram a maçaneta com cuidado e abriram a porta. Deram de cara com um quarto todo decorado com corações de todos os tipos e tamanhos e uma cama redonda no centro.
- Wow! De quem será isso aqui? – disse Frank, maravilhado.
- Tanto faz, agora é nosso. – disse Alice apontando a varinha para a porta e trancando-a.
- Tem certeza que você quer... Aqui e agora? Quer dizer, você bebeu um pouco, pode se arrepender depois...
- Tá brincando? Um quarto que aparece do nada! Vai ser a coisa mais mágica da minha vida. E eu sei que você não vai deixar que eu me arrependa.
Frank a beijou gentilmente, e abraçou-a pela cintura. Ele passou os beijos para o pescoço e virou Alice de costas, sem parar de beijar seu pescoço e ombros. Alice sorriu ao sentir os dedos dele abrindo o zíper de seu vestido.
N/A: O desenho do James e da Lily no banner foi achado na internet, não fui eu que fiz.
Comentários (1)
Amei o cap. reescrito! James e Lily mtooo fofos. Sirius/Emilly e Frank/Alice tbm!
2012-11-25