Capitulo 1



Obs1:Esse capitulo é muito especial!!!Ele é dedicado a minha irmã Carol que está fazendo aniversário hoje!!!Ela é minha assistente particular..hehehe...Ela é que diz se as capas das minhas fics estão boas ou não!!!Bjux pra ela e que ela seja muito feliz!!!!



CAPÍTULO 1


Montana, 1879


Talvez Harry Potter não pretendesse vender sua alma ao diabo, porém, estava muito próximo de cometer um desatino.
Parado no alto da trilha tortuosa que ladeava a estrada, o que tinha em mente contrariava tudo aquilo que seus pais lhe haviam ensinado.
Ouviu, ao longe, o barulho de cascos batendo contra o solo. Relaxou, por um momento, os músculos retesados, deixando-se invadir pela serena beleza da tarde que caía. Finalmente, o inverno havia terminado, e a vegetação luxuriante, bafejada pela primavera, começava a brotar nos campos de Montana. O verão prometia ser longo e cálido. Ouvira dizer que a estação tinha favorecido o nascimento de muitos bezerros. Contudo, nada podia falar àquele respeito, ao menos por experiência própria. O rebanho que ele e o pai tinham reunido durante os últimos dez anos havia sido dispersado quando a fazenda fora atacada, e o pai, enforcado por um crime que não cometera. Não havia restado nada, a não ser a casa parcialmente consumida pelo fogo, as muitas lembranças e a promessa que fizera de se vingar dos responsáveis.
Por tudo aquilo e, principalmente, pelo juramento que proferira naquela noite fria e chuvosa de outubro passado, ele estava ali. Estava disposto a arriscar a própria alma. Por isso, levantou o rifle assim que viu a diligência.
Uma leve hesitação o deteve. Quando criança, como todos os meninos, muitas vezes brincara de bandido e mocinho. Crescera, porém, com sólidos princípios morais e um forte senso da diferença entre o certo e o errado. Não era de sua índole agir erroneamente, mesmo que fosse pela melhor das razões. Embora soubesse que o fim não justificava os meios, sentia que precisava de ajuda para que a justiça fosse feita.
_Você não tem escolha - murmurou para si mesmo, empunhando novamente o rifle.
A grande diligência aproximava-se, sacolejando pela estrada poeirenta, puxada por seis possantes cavalos. Da distância em que se encontrava, era-lhe impossível distinguir a janela e identificar os passageiros que viajavam no veículo. Tinha certeza, porém, de que ela estava lá. Recebera um telegrama informando de sua chegada a Whitehorn, naquele dia. Stoner devia estar esperando por ela. Harry, por sua vez, estava determinado a impedir que aquilo acontecesse. Não por enquanto, pelo menos.
Levantou o rifle, apoiando a coronha no ombro, e mirou cuidadosamente. Um tiro bem colocado faria com que o eixo se quebrasse e obrigaria a diligência a parar, sem oferecer risco a seus ocupantes. Não podia se permitir o menor erro. Embora estivesse prestes a seqüestrar uma mulher inocente, não estava em seus planos a morte de nenhum dos passageiros.
Logo depois da curva, havia um trecho em que o caminho contornava uma elevação. Acostumados ao trajeto, os cavalos diminuíram o passo. Naquele exato momento, Harry puxou o gatilho.
O tiro espocou, assustando os cavalos, que empinaram. O condutor segurou as rédeas com firmeza, gritando para que se acalmassem. Ouviu-se um ranger de madeira. O eixo, atingido pela bala, vergou sob o peso da diligência, que afundou no solo. A roda esquerda trincou-se, e a outra desprendeu-se, rolando para longe. Toda a estrutura do veículo desabou sob o solo, e os cavalos, arqueando sob tamanho peso, estacaram. O ar encheu-se de gritos de desespero.
Harry começou a descer a colina. Baixara o rifle mas continuava alerta, pronto para usá-lo se fosse necessário. Pedia aos céus que ninguém tentasse bancar o herói. Assim que surgiu por entre os arbustos, Charlie, o cocheiro, avistou-o. Embora se mostrasse profundamente abalado, não parecia estar ferido.
_É você, Harry? - perguntou, franzindo as sobrancelhas grossas. - Você ouviu aquilo? Fomos atingidos por um tiro. Que maldição! Gostaria de saber quem atirou na diligência. Não estamos transportando dinheiro, todo mundo sabe disso. Só mantimentos e passageiros. O malote de pagamento vai ser despachado somente na semana que vem. Odeio quando acontece uma coisa dessas!
Olhou ao redor, desanimado. Pulou da boléia para o chão, contornando e examinando a cabina dos passageiros, que se inclinara perigosamente, quase tombando.
_Você viu alguma coisa? Conseguiu avistar o miserável que fez isso?
_Pare onde está - ordenou desse, em voz baixa. Charlie, porém, nem sequer prestou atenção no que ele dissera. Continuou a resmungar.
_Isso não faz sentido para mim. Por que foram escolher logo essa viagem, em que não há nada de valor ? Atingidos, veja só! Agora, vamos ter de andar até a cidade. Você sabe a que distância estamos dela ?
_Uns cinco quilômetros, mais ou menos - respondeu Harry, sem hesitação.
Planejara tudo, cuidadosamente. Procurara interceptar a diligência no local apropriado, não tão longe, para que pudessem caminhar até a cidade, mas não tão perto, para que pudesse fugir sem problemas.
Charlie arrancou o chapéu e passou um lenço pela cabeça suada.
_Estávamos até adiantados... - resmungou.
_Charlie - murmurou Harry, levando o rifle ao ombro -, quero que peça aos passageiros para descerem.
Os olhos do velho cocheiro arregalaram-se como se apenas naquele momento, houvesse se dado conta da arma apontada para seu peito.
_Harry, o que está acontecendo?
_Tenho um negócio a tratar com um de seus passageiros. É só. Faça o que lhe pedi, Charlie. Não quero machucar ninguém.
Alguém tentava abrir a porta da cabina, chacoalhando desesperadamente a porta.
_Senhor! - Uma voz masculina chamou. - Cocheiro, pode me ouvir?
Charlie revirou os olhos, em um sinal claro de irritação.
_Ao inferno todos esses moradores do leste, são uns tolos afetados. A diligência veio lotada com eles. Nenhum deles tem bom senso, com exceção da srta. Granger. Ela foi a única a imaginar que sou um ser humano e tenho um nome, se é que você pode acreditar em uma coisa dessas.
Harry começou a impacientar-se. Meter-se no caminho do crime era demais para ele. Nem mesmo Charlie o levava a sério. Fez pontaria e disparou um tiro certeiro entre um dos raios da roda dianteira. Charlie pulou, assustado.
_Harry, o que está acontecendo? Bastaria pedir, que eu teria parado a diligência. Não precisa ficar atirando. Não acha que essa brincadeira já foi longe demais?
_Ponha as mãos para trás.
_O quê? - O velho cocheiro o encarou, estarrecido. - Harry, por que está fazendo isso? Pretende me amarrar?
_Exatamente, Charlie. Não tenho outra escolha.
Aproximou-se do velho, puxando um pedaço de corda que trazia presa ao cinto. Em questão de minutos, as mãos de Charlie estavam amarradas às suas costas. Com gentileza, levou-o até perto da diligência.
_Sente-se - disse, ajudando-o a subir à boléia.
Os olhos de Charlie revelavam toda sua surpresa e desolação.
_Harry, eu o conheço há anos, desde que você era apenas um garoto. Nem parece você, filho.
_Eu sei - Harry resmungou, baixando a cabeça. Meio sem jeito, acrescentou: - Sinto muito.
_Alguém, por favor, pode me explicar o que está acontecendo aí fora? - reclamou um homem, com um sotaque afetado. - Escute, cocheiro! Estamos praticamente amontoados dentro desta cabina. Ninguém está ferido, mas as senhoras estão em uma situação bastante desconfortável. Pelo que pudemos observar, não há sinal de índios. Se for um salteador, talvez possamos suborná-lo...
Harry agarrou a maçaneta da porta, abrindo-a com violência. O homem, pego de surpresa, despencou do assento, caindo com o rosto na poeira. Mal olhando para o infeliz, Harry inspecionou o interior escuro da diligência, procurando a passageira que lhe interessava.
No chão da cabina, em meio a uma profusão de saias e combinações de rendinhas, três mulheres o encaravam, com os olhos cheios de terror. Uma delas, a mais bem vestida, devia ser a esposa do cavalheiro que ele derrubara. Estava pálida e com a fisionomia contraída. As mãos, muito brancas e cobertas de jóias, revelavam que jamais enfrentara um trabalho duro. A outra passageira parecia-se com a avó de Harry. Em um impulso, ele apressou-se a saber se a velha sofrera algum ferimento.
_Senhora, está machucada? - perguntou, procurando dar à voz um tom impessoal.
Lentamente, ela levantou o rosto, tentando afastar as mechas de cabelos grisalhos que lhe escondiam os olhos.
_O sr. Prichard disse que estávamos sendo atacados pelos índios, mas você... Você não me parece um deles. Isso é um assalto, não é? - acrescentou, à beira de um ataque de nervos, diante daquela perspectiva.
_É sim, senhora. Mas não quero machucar ninguém. - A mulher de aparência pomposa levou as mãos ao peito farto e começou a lamentar-se.
_Esse homem pretende nos violentar. Oh, meu Deus, que desgraça! Um destino como esse é bem pior que a morte.
Harry relanceou os olhos para o marido, que ainda continuava estatelado no chão e, por um momento, pensou em jogá-la deitada ao lado dele. Depois, imaginou-se fazendo o que ela dissera. Havia três mulheres, e ele era apenas um. Com certeza, ela não poderia pretender que ele tivesse em mente violentar todas elas.
O absurdo de tal pensamento fez com que quase se distraísse. Lembrando-se, contudo, da razão pela qual atacara a diligência, concentrou-se em seu propósito, evitando responder à provocação. Dirigiu sua atenção para a terceira passageira.
No instante em que a contemplou, deu-se conta de que criara, na imaginação, uma imagem para Hermione Granger, totalmente distorcida da realidade. Ela era jovem, o que já esperava. Os olhos, grandes e de um castanho intenso, demonstrando mais curiosidade do que medo, dominavam-lhe o rosto. A pele bronzeada, com algumas sardas, indicavam que costumava tomar sol sem um chapéu apropriado. Mantinha-se sentada, no chão inclinado da cabina, apertando nos braços, de forma protetora, a passageira mais idosa. Não parecia ser grande ou forte o suficiente para enfrentar uni homem, mas havia um quê de determinação e ousadia na maneira com que levantava o queixo anguloso. Talvez fosse mais valente do que demonstrava.
_Srta. Granger - disse Harry, procurando ser educado. -, gostaria que me acompanhasse.
A voz lamurienta da ricaça se fez ouvir, novamente, agora mais aflita.
_Ele vai violentar a todas nós. Harold, você precisa me salvar!
Harold mexeu-se, erguendo-se do chão.
_Sim, querida. Tire as mãos das mulheres, senhor!
Por um instante, Harry pensou em rebater a acusação. Nem sequer tocara em alguma das passageiras. Em vez de falar, virou-se, sentindo uma estranha sensação na base da espinha. Descobriu que Harold empunhava uma pequena pistola e a apontava diretamente para seu peito.
_É uma arma pequena, porém muito eficiente - disse o cavalheiro. - E não hesitarei em usá-la.
_Nem eu, tampouco - respondeu desse, inserindo um cartucho no rifle. - Quer descobrir qual de nós ainda continuará de pé, depois de uma competição de tiro? - perguntou, calmamente, mirando o peito empoeirado de Harold. - Dessa distância, vai ser difícil deixar de acertá-lo.
_Harry, em que espécie de encrenca está tentando se meter? - gritou Charlie, apavorado. - Você não pode matá-lo, mesmo que ele mereça.
Harry estava ciente daquilo. A advertência do cocheiro, no entanto, serviu apenas para irritá-lo. Harold, aproveitando a situação, apressou-se a sair da mira do rifle, mas Harry, com um movimento rápido, chutou-lhe a mão, fazendo a pistola voar para longe.
_Você quebrou meu pulso - gritou Harold, ganindo como um cachorro ferido. - Ouvi quando o osso se partiu - continuou ele, segurando com a outra mão a articulação atingida. - Por Deus do céu, que espécie de criatura é você?
_Um homem desesperado - resmungou Harry, voltando-se para Hermione Granger. - Senhorita, eu preferia não ter que machucar ninguém mais. Por favor, venha comigo.
A jovem encarou-o. A curiosidade dera lugar ao medo. A cor fugira de seu rosto. A intensa palidez fez com que Harry se recordasse de outra mulher, frágil, medrosa. Afastou as lembranças da mente. Não lhe serviam para nada. Tinha que fazer o que fosse preciso para que prevalecesse a justiça. Se, para tanto, fosse preciso seqüestrar uma mulher inocente, ele o faria. Aliás, era o que já estava fazendo!
O silêncio do entardecer foi quebrado peio canto abafado dos pássaros, que voltavam, em revoada, para os ninhos. Um vento brando soprou, levando para longe o calor suave do dia. De repente, o ar ficou frio. As noites continuavam geladas naquele princípio de primavera. Os passageiros precisariam contar com os últimos raios de sol para poder chegar até Whitehorn. Não podiam perder mais tempo.
Decidido, Harry pulou por cima da esposa de Harold e agarrou o braço de Hermione. Puxou-a, com força, mas ela resistiu, agarrando-se aos bancos da diligência.
_Não quero! - ela gritou. - Não! Não vou sair com você. Deixe-me ir embora. Você não sabe o que está fazendo. Meu noivo vai ficar sabendo disso, juro que vai.
_Estou contando com isso - resmungou Harry.
Em uma atitude inesperada, a vovózinha girou o corpo e chutou, com toda a força que lhe foi possível, o joelho de Harry. Um chute sem muita eficiência. A ricaça, porém, decidiu também atacá-lo, agarrando-o pela cintura.
_Harold, atire nele! Agora!
_Não tenho mais a arma, Lídia - lamentou-se o marido, gemendo e segurando o pulso. - .Juro que ele quebrou meu braço. Nunca voltarei a ser o mesmo homem...
_Não foi uma grande perda - retrucou Harry, livrando-se dos braços de Lídia e centrando a atenção em Hermione. Ela esperneava e se debatia, mas ele continuava a segurá-la. - Não quero machucar você - afirmou.
_Claro que não - ela rebateu com ironia. - Rapto é uma maneira surpreendente de dar as boas-vindas aos forasteiros que vêm à cidade. Desculpe-me por não querer participar de sua festa de entretenimento, embora tão bem preparada. E que eu não viajei o suficiente para apreciar tal experiência.
As coisas estavam ficando difíceis. Harry procurava puxá-la, sem, no entanto, causar-lhe nenhum embaraço. O sarcasmo contido nas palavras da jovem o irritara, mas tinha que reconhecer que ela estava certa. Não era possível seqüestrar uma mulher e manter a ilusão de estar se comportando como um cavalheiro.
Apertou-lhe o braço com força e deu-lhe um safanão, fazendo-a levantar-se. Antes que ela pudesse readquirir o equilíbrio, arrancou-a para fora da cabina, trazendo-a para a estrada. Com um movimento rápido, agarrou-a pela cintura, abaixou-se, apoiando-a contra o ombro, e ergueu-a como se fosse um saco de batatas. Desesperada, ela começou a chutar-lhe o peito e a socar-lhe as costas com os punhos fechados.
_Você não pode fazer isso comigo! - gritou, enquanto ele lhe prendia os tornozelos com as mãos. - Eu me recuso a permitir uma coisas dessas!
_Ninguém pediu sua permissão - Harry retrucou, ignorando os murros que ela lhe aplicava. - Charlie, qual é a bagagem dela?
_Não diga nada! - exclamou Hermione.
_Harry, você sabe quem é ela? - perguntou o cocheiro, completamente boquiaberto com a cena.
_Sei, muito bem. - Apontou para a montanha de malas que haviam se espalhado ao lado da diligência. _Qual é a dela?
A vovózinha apontou para uma mala marrom, bastante usada. As alças originais estavam arrebentadas e tinham sido substituídas por pedaços de corda. Um grande rasgo, bem no centro, havia sido costurado com pequenos pontos, feitos com uma linha preta. Pelo jeito, ou Stoner havia mandado apenas o dinheiro suficiente para a passagem e nada mais, ou aquela noiva por correspondência não gostava de desperdícios.
Com a mão livre, Harry apanhou a mala. Soltou um assobio. Seu cavalo, que ficara pastando calmamente no bosque que ladeava a estrada, aproximou-se, ao chamado. Um segundo animal o acompanhava.
_Não quero ir com você - reclamou Hermione a voz amortecida pela posição em que se encontrava. Respirava com dificuldade.
_Você não tem escolha - disse ele, olhando na direção da diligência.
Harold permanecia sentado no chão, segurando o pulso e choramingando. Lídia fora colocar-se ao lado do marido, talvez para confortá-lo ou talvez buscando proteção. A vovó observava a tudo, concentrada em cada movimento. Não parecia, contudo, disposta a tentar um ataque de surpresa.
Harry colocou o rifle no coldre que havia ao lado da sela e dirigiu-se para o outro animal. Prendeu as rédeas no selim de seu cavalo, firmemente. Então, com cuidado, colocou Hermione atravessada sobre a sela, passando rapidamente uma corda entre seus pés, impedindo-a de escorregar para o outro lado. Ela se debateu, tentando libertar-se, mas Harry deu a volta e amarrou-lhe os pulsos.
_Temos um longo caminho a percorrer - disse, com ironia.
_Você é um demônio, um ser desprezível e vai ser punido por isso! - ela esbravejou, sacudindo o corpo para livrar-se das amarras e encarando-o, desafiadoramente. Os olhos castanhos pareciam lançar flechas de fogo.
_Claro, madame. Você tem toda a razão. Primeiro, porém, eles terão de me pegar, e vou tomar todas as precauções para que isso não aconteça. - Agachou-se e encarou-a.- Se você continuar a se debater, vai cair da sela. Bater a cabeça no chão vai lhe causar um ferimento muito dolorido. Você pode até quebrar algum osso. E o cavalo também é perigoso. Se você chutá-lo, ele vai escoicear ou empinar. As ferraduras poderão atingi-la e machucá-la seriamente. E, se ele cair sobre você... Bem, cavalos já mataram muita gente...
_Se está assim tão preocupado com a minha segurança, não deveria estar me coagindo a acompanhá-lo.
Harry puxou a aba do chapéu, levantou-se e inspecionou a diligência quebrada. Dirigiu-se, então, aos passageiros.
_Vocês têm algumas horas ainda, antes que anoiteça. Sugiro que comecem a andar para Whitehorn. - Apontou para o oeste. - Charlie, é esta a direção. - Encarou o velho cocheiro. - Quando for contar a Stoner que eu seqüestrei a noiva dele, quero que lhe dê um recado meu. Diga-lhe que tudo o que quero é conversar. Ele pode dizer a hora e o local, que estarei lá. Mandarei alguém para fazer contato e trazer a informação.
_Ele vai matá-lo - disse Charlie.
_Tenho certeza de que tentará - concordou desse. Afinal, Stoner era o responsável pela morte de seu pai, além de vários outros fazendeiros da região. O que representaria um assassinato a mais? - Porém, para que possa ter essa oportunidade, terá que se encontrar comigo.
_Harry, você está cometendo um grande erro - ponderou Charlie. - É tarde demais para reparar isso. Deixe a garota comigo. Ninguém precisa saber o que aconteceu hoje.
Hermione soltou um grito abafado, tremendo de indignação.
_Claro que todos precisam saber. Este homem é perigoso e precisa ser preso. Meu noivo vai tomar as providências. Virá me resgatar e o fará pagar por tudo o que está fazendo.
_Espero que você tenha razão - murmurou Harry, tomando um impulso e montando. - Está ficando tarde, Charlie. É melhor você levar os forasteiros para a cidade. Eles não acharão agradável passar a noite na beira da estrada.
Dizendo aquilo, afastou-se, puxando o outro animal pelas rédeas e colocando seu cavalo em passo de marcha. Seguiu direto para uma fileira de árvores e, em poucos minutos, a diligência e os passageiros desapareceram de vista. O som das vozes humanas foi ficando mais fraco, encoberto pelo trinado dos passarinhos, piados de corujas e sussurros do vento, cantando entre a vegetação da floresta.
Lançou um olhar preocupado sobre a prisioneira, que desistira de se debater.
_Srta. Granger?
_O que é? - As palavras foram murmuradas com dificuldade, quase sufocadas.
Harry sentiu-se um perfeito idiota, ao ouvir a resposta. O que, afinal, pretendia perguntar a ela? Se estava bem? Claro que não estava. Os braços e o ombro deviam estar doloridos, em virtude da posição extremamente desconfortável. O ventre e as costelas eram pressionados pela sela, de tal forma que parecia que Hermione estava prestes a desmaiar.
_Se prometer não tentar escapar, posso deixar que se sente.
_Ótimo. Não tentarei fugir.
Ela havia concordado muito facilmente. Harry sentiu uma ponta de dúvida.
_Não sei se devo confiar em você.
_Pois deveria, sr. Harry. Quando empenho minha palavra, eu a honro. Se estou dizendo que não tentarei escapar, não o farei. Em uma outra ocasião, com certeza eu vou tentar e conseguirei. E então, vou procurar meu noivo e trazê-lo até você. Ele vai matá-lo como a um cachorro, pois é isso que você e.
A voz de Hermione estava cheia de veneno. Pela primeira vez, Harry olhou-a com respeito. Puxou as rédeas, obrigando o cavalo a parar, e pulou para o chão.
_Você e Stoner não devem ter trocado muitas cartas, antes de ele ter pedido que viesse para cá para casar-se com ele.
Ele fizera uma afirmação, não uma pergunta. Porém, Hermione respondeu com firmeza.
_Realmente, é verdade. Ele mandou-me uma carta, declarando que estava à procura de uma esposa, e eu resolvi responder, aceitando o pedido. Então, ele me enviou uma passagem.
_Não seria mais sensato procurar conhecê-lo melhor, antes de concordar em se casar com ele? - desse ponderou, aproximando-se.
_Sei tudo o que preciso saber.
Ele soltou-lhe os tornozelos, afastando-se cautelosamente para o caso de ela pretender atingi-lo com um chute. Hermione, porém, nem sequer tentou. Talvez fosse, mesmo, uma mulher de palavra.
_Lucas Stoner é um homem honrado e gentil - continuou ela, levantando a cabeça e encarando Harry, que dera a volta e lhe soltava as mãos. - Uma pessoa decente. Ele seria incapaz de uma atitude como esta.
_Tem razão - concordou desse, lembrando-se de que Stoner nunca havia se envolvido com seqüestro de mulheres. Era mais provável que atirasse para matar, se julgasse necessário.
Desenrolou a corda que lhe prendia os pulsos. Hermione remexeu-se sobre a sela, procurando levantar o corpo.
_Não faça isso - ele advertiu - você vai cair!
Agarrou-a pela cintura, quando ela escorregou, puxando-a para fora da sela. Ao procurar colocá-la no chão, tocou-a, de raspão, no seio direito. Ao contato, Hermione estremeceu, enrijecendo os músculos. Procurou equilibrar-se, ao mesmo tempo que se afastava para trás, cruzando os braços contra o peito, como para proteger-se. Sem saber se pedia desculpas ou fingia que nada acontecera, Harry vacilou. Perturbado pelo contato macio com as curvas generosas daquele corpo feminino, preferiu ignorar o incidente.
_Você sabe montar? - perguntou, evitando encará-la.
Ela fez que não com um gesto de cabeça.
_Nunca montei um cavalo, antes. Porém, não deve ser muito difícil - respondeu, desafiadoramente, insinuando que, se ele montava, ela também conseguiria se sair bem.
Um sorriso veio aos lábios de Harry, pela primeira vez em muitos meses.
_Você está certa. Não é um bicho-de-sete-cabeças. - Entrelaçou os dedos, formando um ponto de apoio, e abaixou-se. - Agarre a sela com firmeza - ensinou. - Coloque o pé esquerdo nas minhas mãos, que vou levantá-la. Você só tem de passar a perna direita sobre o dorso do cavalo e sentar-se. Não podia ser mais fácil, não é mesmo?
A expressão do rosto de Hermione endureceu-se.
_Por que será que não consigo confiar em você ?
_Porque você é esperta - refutou ele, encolhendo os ombros, em um gesto de impaciência. - Não é necessário que confie em mim. Basta fazer o que estou dizendo. Precisamos ir embora logo e, se não cooperar, vou jogá-la de novo na sela e amarrá-la. Você escolhe.
Ela franziu os lábios, com escárnio, deixando bem claro que pouco se importava com o fato de ter tão poucas opções. Contudo, fez o que ele dizia. Apoiou o pé nas mãos dele e procurou segurar a sela.
_Está pronta? - Harry perguntou.
Ela assentiu, com a cabeça.
Ele procurou levantá-la com cuidado. De nada adiantou. Hermione deslizou pelo lombo do animal e, com um grito abafado, foi estatelar-se no solo, do outro lado. Harry precipitou-se a socorrê-la, passando por baixo da cabeça do cavalo. Ela, porém, sentou-se no chão, procurando abaixar a saia, que lhe subira até os joelhos. Os lábios contorcidos indicavam sua dor e a raiva contida.
_Você fez de propósito - resmungou, acusadoramente.
_Não, não fiz - respondeu desse, levantando os braços, em um gesto de desalento. - Talvez seja mais complicado do que parece.
A raiva deu lugar a um desapontamento no semblante de Hermione. Por um segundo, um sorriso despontou nos lábios de Harry.
_Não se atreva a caçoar de mim - ela exclamou, furiosa.
Incapaz de controlar-se, Harry soltou uma gargalhada.
_Não tem graça alguma! - Com relutância, ela ajoelhou-se, esfregando as costas doloridas. - Talvez eu tenha subestimado as dificuldades para se montar um cavalo. Vou tentar, de novo. Prefiro cair uma dúzia de vezes do que ser amarrada novamente. De acordo?
Os olhares de ambos se encontraram. Harry havia decidido pôr em prática o plano de seqüestrar a noiva de Stoner, porque não havia outra forma de ver a justiça ser feita. Uma vez tomada a decisão, não se permitira pensar na mulher e nem no significado que o seqüestro poderia ter para ela. Muito menos na hipótese de vir a admirar sua coragem e tenacidade.
Estendeu as mãos, oferecendo-se para ajudá-la a levantar-se. Ela aceitou a ajuda, pondo-se em pé. Com um estremecimento, procurou equilibrar-se, tentando minimizar a dor que a queda lhe infringira. Harry nada sabia a respeito de Hermione Granger. Tampouco queria saber. Uma única coisa era perfeitamente clara: mulher alguma merecia terminar ao lado de um homem como Lucas Stoner. Mas tão logo conseguisse a informação que desejava, devolveria a garota ao noivo, sem um segundo de hesitação.



Obs2:Primeiro capitulo postado!!!Espero que tenham curtido!!!Obrigada a todos que votarm na escolha da capa da fic. A escolhida pela maioria foi "Seqüestro de amor 1"!!!Até quarta eu atualizo todas as fics!!!Bjux!!!Adoro vocês!!!!

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