Capítulo Único
Savin' Me.
Centenas de milhas, estou eu, longe de tudo e de todos. Mergulhado nos meus piores pesadelos, incrustado nos meus mais temíveis medos, e soterrado por culpa até meu último fio de cabelo.
E agora, confinado dentro de quatro paredes, enjaulado como um animal feroz, confinado a passar os últimos dias de minha vida barrado por ferros que insistem em me prender contra a parede. Destinado à loucura.
Azkaban, o último nome que eu vi antes de ser posto na escuridão, uma ilha, uma prisão, no meio do oceano, no fim do mundo, um lugar onde ninguém pode escapar.
Enclausurado pela dor eu vou morrendo, porque vida eu não tenho mais, meu melhor amigo morto, assassinado pelo homem em quem o fiz confiar. Eu mereço estar aqui, eu sou o culpado.
Culpado por tudo. E estas são as únicas lembranças que tenho, estes são os únicos pensamentos que vêm atormentando meu sono, os pesadelos que insistem em me acordar quando nem ainda estou dormindo.
Os fantasmas do passado invadem meu espírito, e recentemente até a minha cela. E mais uma vez, eu sei: estou destinado à loucura.
A loucura bateu na minha cela, sem nem pedir licença para entrar, chegou e está se apossando do meu corpo.
Ela roubou minha sanidade e eu sei que nunca mais vai devolver.
Eu escuto vozes o tempo inteiro, mas não sei se é noite ou dia, há vozes em toda a parte, há gritos em todos os cantos.
O mundo parece perder o chão, eu estou preso por correntes, preso por barras de ferro que me torturam a cada segundo, confinado entre quatro paredes de concreto que nem um canhão seria capaz de quebrar.
O odor de necrotério sendo exalado pelo chão e sendo difundido pelo meu corpo tomando para si a minha alma.
Mas eles não podem, não podem prender minha alma aqui dentro.
Eu não vou deixar os dementadores se apossarem do que nem eu posso enxergar, a minha alma foi a única coisa que me restou como lembrança dela. Ela possuía a minha alma.
Eu era dela de corpo e alma, e ela veio me salvar.
- Marlene... – esse é o seu nome, aquele que alivia os meus pulsos presos por essas correntes, transmite paz a minha alma e aquece o meu coração gélido como o pólo norte e vazio como uma bola cheia de ar. – Marlene McKinnon.
Estou indo rumo à insanidade, ela também foi uma das que morreu por minha causa, e eu continuo a chamá-la desejando que ela ouça meu apelo e venha de uma vez por todas me levar para junto de si.
A esperança se esvairando do meu corpo, indo embora, sumindo, se despedindo e dizendo adeus a minha alma.
Eu nunca estarei ao lado dela novamente, eu sou culpado pela morte de James e Lily Potter, de Marlene McKinnon e família, e até mesmo dos 13 trouxas que Pettigrew matou.
Eu sou verdadeiramente um ‘Black’, a perversidade em pessoa.
Eu tenho um passe só de ida para o Inferno.
E a loucura continua me pregando peças, me fazendo vê-la por todos as arestas dizendo que tudo vai ficar bem, e selando os meus lábios com ectoplasma.
Ela ainda está presa a mim, e eu preciso libertá-la.
Eu preciso esquecê-la, mas eu não posso, eu a amo, e não posso esquecer a única coisa feliz que já possuí.
Mas ela não existe, ela é minha imaginação. Ela é o efeito de mais uma ilusão.
A loucura mais uma vez, eu ainda acredito que Marlene McKinnon esteve aqui, que a alma dela entrou aqui, passando por todos os muros, por todas as correntes, vindo me visitar, atravessando a Terra, o céu, e o mar.
Eu estou destinado à loucura, porque sei que ela nunca esteve aqui.
Ela é mais um fantasma do meu passado que vêm me visitar no meu exílio.
- Eu estou implorando, por favor, venha me salvar.
Ela não pode.
- Marlene..
Mas mesmo assim eu imploro.
- Por favor...
A sua imagem é a única coisa que ainda me mantêm sã.
- Venha me salvar.
Mas isso não durará por muito tempo.
- Eu estou chamando.
Porque eu estou destinado à loucura.
anúncio
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!