Dois novos amigos
Rony se sentia perdido. Tinha aparatado para o que seria A Toca, mas como se alguém tivesse pegado-o pelo braço antes, ele agora se encontrava numa sala escura. Primeiro achou que Voldemort tivesse encurralado-o e matado-o, e sentiu um pavor em pensar que podia estar morto. Mas à medida que seus olhos foram se acostumando com a luz ambiente, teve a nítida certeza de estar em Hogwarts. Mais propriamente dito, na sala de poções de Snape.
Amarrado em uma cadeira, ele não teve muitas alternativas, a não ser ficar ali e esperar para ver o que ia acontecer. Por mais que se movesse, as tentativas eram em vão, ele não conseguia se libertar das cordas que o prendiam. Sua varinha estava em cima da mesa de Snape. Não havia nada que pudesse fazer.
Quando achou que estava pegando no sono por causa da pouca claridade, ouviu passos no corredor, e vozes que aumentavam gradativamente. Resolveu fingir que dormia.
-Quantas vezes vou ter que lhe dizer que basta apagar a memória de Krum. Não existe feitiço nenhum que reverta à perda de memória. Nunca vão saber o que aconteceu, se ele mesmo não se lembrar.
-Mas e ...
-Eu cuido disso.
-Mas eu não...
-Eu sei muito bem pelo o que você está passando. Mas acho bom você esquecer aquela garota! – berrou a voz de Snape entrando na sua sala. Rony teve vontade de guspir na cara dele.
-O que vamos fazer com o Weasley, se...
-Psiu! Weasley está acordado, e está achando interessante nossa conversa. Não é?
A outra voz, que Rony, apesar de estar de olhos fechados, tinha certeza que era de Draco, não voltou a falar, parecia apenas fazer muxoxo de desaprovação.
-Weasley precisa colaborar conosco, do contrário Você-Sabe-Quem virá e terminará com Você.
A voz de Snape era fria e impassível como sempre.
-Por que vocês ainda não me mataram? – perguntou Rony, abrindo os olhos e vendo Draco, sem as vestes de Hogwarts. Rony estranhou, pois era um dia de semana, e ainda não eram as férias de Natal.
-Simples Weasley. Nós queremos o Potter. Você é só uma isca.
-E Krum é só uma isca também?
A cara contorcida de desprezo de Draco, mudou no mesmo instante para uma cara de pavor, e sem nem pensar ele usou sua voz arrastada e trêmula para indagar Rony.
-Você ouviu nossa conversa?
Rony riu debochadamente.
-Sim Draco. E eu quero saber o que Krum fez para vocês quererem apagar a memória dele?
-Não te interessa Weasley. Isso não é da sua conta – falou Snape rigidamente.
-Para a informação de vocês dois, pegaram o cara errado. Harry e eu brigamos feio, nem ele, nem Hermione vão cair nessa armadilha, porque não se preocupam comigo.
-Não seja tolo Weasley – cortou-lhe Snape. – Você não entende nada, não é mesmo? Apesar de suas brigas juvenis com o Potter, o heroísmo dele vai subir a cabeça, e ele , sem dúvida virá te buscar.
Rony virou a cara, odiando a possibilidade de ser salvo pelo amigo traidor.
-Mas vocês ainda não me disseram o que Krum faz aqui. Como o pegaram? E como me pegaram?
-Garoto impertinente. Vamos Draco! Precisamos justificar suas faltas. Vamos deixar esse estorvo falar sozinho.
Os dois saíram deixando Rony ali, prostrado. Mas duas perguntas não saiam da cabeça dele. Quem era a garota que Snape disse para Draco esquecer? E justificar as faltas dele? Onde ele andava se metendo?
Apesar de tudo ser escuro ali, Rony deduziu que devia estar anoitecendo, e seu corpo estava cansado devido à provável pancada que tinham lhe dado antes de aparatar até Hogwarts, por esse motivo, ele finalmente caiu no sono.
Hermione não agüentava mais aquela angústia. Estava internamente desesperada, e externamente abatida. Olhava para Harry, sentado na grama, fora da barraca, enquanto ela estava de pé, andando para lá e para cá. Ele parecia esperar uma mágica acontecer, de vez em quando tocando na cicatriz da testa. Ela não agüentou mais.
-Harry! – exclamou. – Você não vê que Voldemort não vai te chamar?! Ele quer que você vá até ele! Que o procure!
Seu amigo pareceu pensar.
-Tem toda razão Hermione. Eu vou aparatar até a edição do Profeta Diário e dizer a Voldemort, através dos jornais que o espero para uma batalha, do contrário não conseguirei achar Rony...
-Deixa de ser bobo! Você acha que se ele ainda não matou Rony, vai aceitar uma batalha assim?
-Pode apostar que vai.
-Harry por favor... – Hermione sentiu seus olhos arderem, e as lágrimas começarem a cair. – Por favor, não me deixe perder você também. Se Rony tiver... Oh meu Merlim! Como poderei conviver com a culpa de matar ele e você?
Harry a encarou, desconcertado. Por um momento Hermione estava como ele. Ela sabia das dificuldades do amigo para conviver com as responsabilidades das mortes, em maior, ou menor grau de culpa. E que seu comentário grotesco tinha feito ele reviver seus piores tormentos.
-Desculpe-me Harry. Eu não quis...
-Está tudo bem Mione.
Ela sentou-se na grama, não obstante pensava em um jeito de localizar Rony. Qualquer coisa, alguma coisa...
-Tchau Hermione, fique bem! Mas eu tenho que ir!
Hermione mal ouviu Harry falar, rapidamente olhou para o lado, e viu ele aparatar na sua frente, sem ela poder fazer nada. Agora sim era sua culpa, se ele fizesse uma besteira, ou se alguém o achasse e o matasse. Afinal de contas quem mandara ela falar da sua culpa, e lembrar a culpa dele? Agora ele ficara desesperado, porque não suportaria a perda de mais nenhum amigo. Hermione foi até a barraca e pegou o necessário, para ela e para Harry, e colocou em sua mochila. Ela morreria também, mas antes disso, ia tentar impedir o máximo de mortes que pudesse. Parecia que a guerra ia acontecer mais cedo do que o previsto.
Harry aparatou até o Ministério, ele precisava entrar pela cabine telefônica, mas não pensou em nenhum plano, e aparatar era arriscado. Desejou que Hermione já tivesse se mandado do acampamento, para que ninguém a achasse lá, só porque ele aparatou. Mas ele confiou na inteligência da amiga.
Quando tentava entrar na cabine, após ter colocado a capa da invisibilidade, que estava dentro de suas vestes o tempo todo e também era a única coisa que trouxera consigo além da varinha, alguém o agarrou pelo braço e aparatou com ele.
Minutos mais tarde, Harry se viu num lugar escuro. Piscou várias vezes, mas levou um tapa na cabeça, e passou a mão no local batido, e virou-se para o autor daquele tapa.
-Você?
-Potter maluco! Você é louco? Com Voldemort no Ministério!
A raiva tomou conta de Harry, que esqueceu que possuía uma varinha, e se atracou com seu atacante.
-Você matou Dumbledore! Você é um capacho, um baixo! Um nojento!
Harry tentou cuspir na cara dele, mas este desviou.
-Silencio – disse Snape apontando a varinha para Harry, que abria a boca, mas nenhum som era emitido.
-Melhor assim... Vou te prender, mas é só para você não sair fazendo besteira por ai.
Antes que Harry pudesse pegar sua varinha, Snape o amarrou a uma cadeira com um feitiço, quando Harry parou de se agitar, Snape o encarou. Agora Harry sabia que estava em Hogwarts, na sala de poções.
Foi quando ouviu um gemido.
Olhou para o lado, era Rony. Ele estava vivo! Harry gritou silenciosamente de alegria. A imagem do velório de Rony sumira, e Gina, o condenando para sempre por causa disso, também. E até mesmo o choro de Hermione parara de tocar na memória dele como um disco arranhado.
-Eu preciso trocar uma palavrinha com vocês dois, antes de libertá-los. Direi a Voldemort que os dois fugiram, e vou pagar um preço por isso...
Snape falava, com Rony e Harry, que não estavam entendendo nada.
-Mas não me importo – continuou. – Vocês precisam saber que Voldemort só tem Nangini e a Moeda de Três Faces agora. Não me perguntem como eu sei, que não vou lhes dizer. Weasley, em relação a sua pergunta sobre o Krum, à memória dele vai ser apenas parcialmente apagada, e ele achará que ainda está na temporada de jogo. Darei um jeito dele pensar que ficou perdido, vagando até perder a razão e que voltou a si e achou o caminho.
-Mas porque você o prendeu e me prendeu? – perguntou Rony com raiva.
-Eu te prendi porque precisava trazer Potter até aqui, só não achei que ele te procuraria no Ministério. Quase coloca tudo a perder... Mas a questão é que sei sobre as horcruxes e...
Harry e Rony olharam abismados para ele.
-E não foi o idiota do Draco que me disse, ele nunca conseguiu arrancar nada de vocês enquanto esteve em suas companhias, a não ser aquela história tosca que vocês inventaram sobre o chifre de unicórnio.
-Dá para me soltar! – gritou Harry, agora que o feitiço do silêncio parara de funcionar.
Rony arregalou os olhos, e olhou para o lado, odiando a visão de Harry ali.
-Você merece ficar preso nessas cordas, seu traidor! – disse Rony enfurecido para Harry.
-Rony não fui eu que beijei Mione, foi o...
-Fui eu.
Rony olhou para a porta da sala de poções de onde vinha à voz arrastada, e viu quem menos esperava ver dizendo aquelas palavras. Era Draco Malfoy, ali mesmo, parado, de braços cruzados, com o cabelo tapando parcialmente um dos olhos.
-Como assim? – perguntou Rony atônito.
-Fui eu que beijei sua namoradinha Weasleyzinhu! Não gostou? Foi?
-Seu Malfoy de merda! Como se atreveu?
-Olha o palavreado Weasley! – cortou Snape.
-Viu Rony! – falou Harry. – Ele usou a poção polissuco esse tempo todo. Primeiro ele era o Krum, e depois pegou meus cabelo e se transformou em mim, para que você brigasse comigo e com Mione.
-Isso não pode ser verdade! – Rony disse a Harry.
-Mas é sim – confirmou Snape com seriedade. – O Draco beijou Granger apenas para sua captura, Weasley, para ser mais fácil seu afastamento da dupla.
-Na verdade... – Draco olhou bem nos olhos de Rony. – Enquanto eu era o Krum, mudei minha opinião ruim sobre Hermione. Agora entendo Weasley, porque você gosta dela...
-Você não ouse mais tocar em um fio de cabelo dela! – Rugiu Rony.
-Nossa, que invocadinho... – Draco, levantou os braços para o alto, fingindo estar com medo, e voltou a cruzá-los, rindo com desdenho.
-Malfoy e Weasley, se eu não tivesse que ser rápido, fazia vocês dois limparei todos meus frascos de poção em penitência dessa brigas tolas pela garota metida à sabe-tudo, aquela senhorita Granger.
-Não fale assim dela! – foi automático, Rony e Malfoy tinham falado na mesma hora, Harry chegou a rir da situação, apesar de estar detestando estar preso sob o mesmo teto do cara que tinha matado Dumbledore. Ah! Se ele pudesse pegar sua varinha para matá-lo.
-Você não seria capaz Potter, de me matar.
-Pare de entrar na minha mente, seu...
-Potter! Silêncio! Agora é minha vez de falar.
Ele olhou para Harry, em seus olhos.
-Eu sempre fui fiel a Dumbledore.
-Poupe-me Snape! Eu vi você matá-lo! – Cortou Harry.
-Draco, fale! – Ordenou Snape calmamente. Draco saiu da porta, onde estava escorado, e sentou numa cadeira na frente de Rony, que bufou para ele, ao lado de Snape, que estava na frente de Harry.
-Snape fez um pacto com minha mãe. Eu virei um protegido do Severo, e como Você-Sabe-Quem queria que eu matasse o diretor, ou ele me matava. Snape precisava matar Dumbledore no meu lugar, do contrário ele morreria...
-Snape devia ter morrido no lugar de Dumbledore! – rosnou Harry.
-Mas Dumbledore soube, por Snape do pacto, e dos planos de Você-Sabe-Quem. E me chamou para conversar. Pediu para que fosse ensaiado na frente dos comensais, quando estes tentassem invadir a escola, que eu estivesse prestes a matá-lo, quando Snape se anteciparia e faria isso no meu lugar, como se tivesse raiva. Ele me explicou que lhe restava pouco tempo de vida, devido ao ferimento de sua mão, que tinha haver com uma das tais horcruxes. E que morrer lutando seria uma morte mais digna. Lembro-me dele falando disso com bom humor e simplicidade, como se falasse das notas boas de algum aluno.
Draco parou de falar, e olhou para um frasco de poção e fixou o olhar ali, perdido em pensamentos.
-Como posso acreditar em vocês? – perguntou Harry.
-Eu vou te soltar, e deixar você ver na penseira, alguns pensamentos de Draco, e outros meus, então você entenderá tudo.
Harry concordou com Snape e teve que se controlar para não fazer nenhuma besteira. Foi solto, e dirigiu-se até a penseira que era de Dumbledore, a tristeza bateu muito forte. Snape e Draco, com suas varinhas, arrancaram uma fumaça, que eram seus pensamentos, e colocaram na penseira. E Harry adentrou então seus pensamentos.
Primeiro viu os pensamentos de Draco, e eram como ele tinha lhe dito. A conversa com Dumbledore, que apontava para sua mão e dizia que não tinha muito tempo de vida. Depois ele entrou nos pensamentos de Snape, e viu algo que jamais imaginou ver.
Snape adolescente, sentado num banco do pátio interno de Hogwarts, sozinho. Mas de repente, vinha à mãe de Harry, jovem, sorridente e radiante. Harry desejou tocá-la, mas não podia. Sua mãe então se sentou ao lado de Snape.
-Por que não quis ir para Hogsmeade com os outros? – perguntou ela, num sorriso.
-Não quero aturar o Tiago.
-Eu já disse pra você não dar bola para ele.
-Você acha que é fácil? Claro, não é com você que ele se diverte com brincadeiras de extremo mau gosto.
Líliam abaixou a cabeça.
-Mas e você, porque não está em Hogsmeade com o resto? – perguntou Snape com raiva.
-Por sua causa Sev – respondeu ela, levantando a cabeça, e o olhando diretamente nos olhos dele.
Snape pareceu levar um choque, e abriu a boca para falar, mas foi interrompido por Liliam, que o beijou.
Harry não pode acreditar na cena em que via, mas mal teve tempo de digeri-la, e já estava no pátio aberto de Hogwarts, onde seu pai, Tiago, virava Snape de cabeça para baixo, e sua mãe o mandava parar. Em segundos, já estava no Salão de Hogwarts. Era festa de Halloween, e Snape estava atrás de uma das três abóboras gigantes, colocadas somente para a festa. De lá, Harry teve a mesma visão de Snape, que olhava para sua mãe amargurado. Ela estava sozinha, sentada numa cadeira. Parecia esperar alguém, e Harry soube, intuitivamente, que ela esperava por Snape.
Mas foi seu pai, Tiago, que chegou em sua mãe e a convidou para dançarem, que aceitou de imediato, apesar da face triste. Snape chorou ali mesmo, e falou sozinho.
-Eu sabia que ele gostava dela.
Novamente outra lembrança. Agora Harry estava perto da floresta proibida, e Snape e sua mãe discutiam.
-Confessa Snape, que você está envolvido com magia negra! Confessa!
-E se eu estiver? O problema é meu!
-Pensei que nós fossemos amigos.
-Sim nós sempre fomos amigos, e quando o Tiago chegou, ele estragou tudo. Eu sei que você gosta dele!
Liliam abaixou a cabeça, e em lágrimas, disse:
-Eu sinto muito, mas você não apareceu na festa, e ele mostrou um lado dele mais maduro. O Tiago mudou Snape...
-Ele e seus amigos me pregaram uma peça horrível, e você me diz que ele mudou? Pois eu não acredito nisso.
Snape saiu decidido, deixando Liliam desolada.
A última lembrança foi de um Snape já adulto conversando com Dumbledore.
- Eu quero que você conte ao Harry tudo que ele precisa saber sobre as horcruxes se eu não tiver tempo para procurar, e achar as respostas, quero que você obtenha informações do próprio Voldemort, e ganhe sua total confiança, assim que me matar.
-Você sabe que sou totalmente contra, deve haver um jeito de você se curar...
-Snape, você como um bom conhecedor de poções, sabe que nada vai adiantar, eu deixei o veneno do anel penetrar em todo sangue do meu corpo. É tarde demais.
Os dois se olharam.
-Cuide de Harry e faça-o entender tudo.
-Cuidarei sim, você sabe que eu prometi para mim mesmo cuidar do filho de Liliam.
-Você ainda a ama?
-Nunca deixei de amá-la.
-Foi por causa dela que você passou para o nosso lado?
-Quando fiquei sabendo que Voldemort queria matar o filho dela, pensei em seu sofrimento, e descobri que não podia ser responsável, em parte, por isso. Mas foi quando fiquei sabendo da tragédia, que te procurei, se você bem lembra.
-Você chegou aqui chorando... Eu lembro muito bem Severo. Disse que queria ser fiel a mim no que fosse preciso dizendo que não suportaria mais nenhuma morte, e ficou ao meu lado até hoje.
Novamente os dois se olharam. E, então, as lembranças acabaram.
Harry voltou para a sala escura de poções, e viu Rony sendo solto por Snape, que parou e o olhou no fundo dos olhos. Agora Rony, Hermione, e ele, tinham dois novos aliados na busca das horcruxes.
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