Capitulo Único: When You're Go
I never thought I'd need you there when I cry
And the days feel like years when I'm alone
And the bed where you lie
Is made up on your side
Jorge estava agora sentado na janela de seu quarto na Toca. Lá fora o sol dava lugar lentamente à noite negra. E o vidro da janela agora refletia o rosto do rapaz. Os cabelos ruivos, longos, desalinhados e completamente despenteados; os olhos azuis, agora também meio avermelhados; a face molhada também era refletida. Jorge havia chorado por boa parte da tarde.
Isso era fato, ele ainda não conseguia assimilar que seu irmão gêmeo estava morto. Tudo aquilo parecia um pesadelo, do que qual ele queria acordar mais não conseguia. A visão do corpo sem vida de Fred ainda pairava na mente do gêmeo. Parecia algo até surreal, já que nunca havia se imaginado em tal situação. A falta da orelha esquerda lhe provava isso. Sempre imaginaram que Jorge iria primeiro. Mesmo que não costumassem conversar dessas coisas.
Jorge sentia como se um pedaço de seu ser tivesse sido arrancado bruscamente. Era como se faltasse alguma coisa dentro dele mesmo. Parecia tanto tempo desde que haviam aparatado em Hogsmead. Animados pensando na batalha que viria, pensando em defender Harry e todos aqueles que amavam. Agora Jorge se achava um tolo, ele havia deixado de proteger a única pessoa que devia proteger. Seu irmão gêmeo.
E agora a cama ao lado da sua estava vazia e arrumada. Como que esperando que seu dono voltasse, mesmo que ele nunca mais volte. No armário, as roupas dele continuavam lá, mesmo que ainda estivessem misturadas as de Jorge. Tudo naquele quarto fazia lembrar Fred, e fazia com que Jorge se desconectasse do mundo.
When you walk away I count the steps that you take
Do you see how much I need you right now?
When you're gone
The pieces of my heart are missing you
When you're gone
The face I came to know is missing too
When you're gone
The words I need to hear to always get me through the
day
And make it ok
I miss you
Fechando os olhos ainda conseguia se lembrar do momento em que vira o irmão vivo pela ultima vez. Na sala precisa em Hogwarts, todos haviam ouvido a voz de Voldemort e agora corriam para a batalha. Foi ali que se separaram. Jorge correu junto de Remo para o lado oeste, enquanto Percy havia arrastado Fred para o lado leste. Ainda trocaram um olhar significativo antes de empunharem suas varinhas para a batalha, e para a morte também.
Aquele dia havia sido o fim para Jorge. Sentia-se responsável, por não ter feito algo para proteger Fred, por não conseguir proteger Remo que havia morrido ao seu lado. Jorge se sentia responsável e de certa forma sentia um vazio dentro de si. E era por isso que chorava. Havia se isolado do resto das pessoas. Todos ali pareciam até certo modo aliviados embora não felizes. Sabia que todos ali sentiam muito todas as mortes, mas eles haviam se acostumado rápido a idéia. Jorge não, de fato ainda parecia que estavam no mesmo dia em que Voldemort havia sido vencido. Porém o Calendário pregado na parede não deixava Jorge mentir para si mesmo. Havia se passado três meses.
Mesmo que aquele tempo todo tivesse passado, Jorge ainda sentia a dor de perder parte de seu ser. Até se olhar no espelho havia se tornado uma tarefa dolorosa. O grande espelho que ficava na porta do armário era prova disso. Estava rachado de cima abaixo, e vários pedaços ainda pendiam soltos.
Para Jorge tudo havia perdido sentido. Até aquele baile idiota no ministério. O que iriam comemorar Jorge não entendia. E pouco se importava. Só queria ficar ali, quieto observando a noite que se agigantava e imaginando onde Fred estaria. Por alguns momentos até queria estar com ele, queria ter morrido em seu lugar, ou no mínimo junto com ele. Isso talvez diminuísse sua culpa, ou ao menos era o que ele pensava.
Everything that I do
Reminds me of you
And the clothes you left lye on the floor
And they smell just like you
I love the things that you do
Foi nesse momento, em que Jorge se lamentava por tudo o que havia acontecido que sua irmã entrou no quarto. Gina vestia um bonito vestido, de certo estava pronta para o baile. Jorge nem se importou muito com isso. A irmã se sentou ao seu lado e sem dizer nada apenas tocou seu rosto. Limpou as lágrimas que escorriam pelo rosto sardento e com um sorriso disse:
- Vamos Jorge, vem conosco. Vai se sentir melhor.
Se sentir melhor? Isso seria impossível para Jorge. A culpa não o deixava em paz, e sabia que mesmo um baile não seria boa coisa para ele. Olhou novamente para o céu lá fora e novamente para Gina. Sabia que ela queria apenas ajudar, mas não era assim que deveria ser feito. Jorge não queria mesmo sair dali. Na verdade não sabia o que queria, só sabia que ir a um baile não seria o melhor.
-Não, está errada.
Aquela cena já se repetia várias vezes. Sempre tentavam animar Jorge, tira-lo do quarto. Queriam que ele se alimentasse como deveria, mas a cada nova refeição mais um prato se juntava em cima da escrivaninha. Gina passou um bom tempo apenas acariciando os cabelos do irmão, até desistir mais uma vez e partir. Jorge ficou ali, quieto como ficava todas as noites. Não podia dormir, pois Fred lhe perseguia nos sonhos. E era isso que mais o atormentava. No fundo de seu ser, sabia que Fred nunca diria coisas como as que dizia no sonho, sabia que o irmão não o culpava. Porém aquele tormento nunca cessava e Jorge acabava por se esquecer disso.
Do you see how much I need you right now?
[…]
We were made for each other
I'll keep forever
I know we were
Ohhhhh
All I ever wanted was for you to know
Everything I do I give my heart and soul
I can only breathe
I need to feel you here with me
yeah
Aos poucos a casa se silenciou. Todos haviam saído e mais uma vez Jorge estava sozinho. Sabia que era assim que deveria ser, porque era assim que era há muito tempo. E era assim que Jorge preferia que fosse, pois com a casa vazia era impossível alguém notar que ele havia aparatado.
Sim, sem que ninguém soubesse Jorge sempre saia de casa a noite. Aparatava diretamente em um cemitério que visitava a mais de três meses. Ali estavam enterrados Fred, Remo, Tonks, Voldermort e até alguns comensais mortos na batalha. Porém Jorge não se importava com os outros túmulos. Somente o de seu irmão lhe importava.
Todas as noites Jorge andava pelos túmulos de mármore e granito. Quem olhasse a certa distancia até podia imaginar que quer um fantasma rondando por ali. Mas ele tinha um caminho certo. Um tumulo de mármore com o nome gravado em metal: Frederick Weasley. Era ali que Jorge ficava boa parte da noite. Deitado sobre a lapide, chorando e conversando com o irmão. E era ali que Jorge estava mais uma vez. Conversava com o irmão numa esperança muda de que ele voltasse a vida e respondesse.
- Me perdoa por não cuidar de você. Eu sei que devia ter feito isso, mas não fiz. Minha vontade de ser herói foi mais alta, e no fim das contas eu não fui nada. Me perdoa Fred, por nunca dizer o que eu deveria ter dito muito antes de tudo isso acontecer. Eu nunca consegui dizer o que sentia, mesmo que isso estivesse tão claro. Eu não sou nada sem você. Somos um, como sempre dizíamos. E agora eu não sei realmente aonde ir, e como seguir...
E era somente assim que Jorge conseguia alguma paz. Libertando seus demônios ali na lapide fria e sem vida. Ali Jorge conseguia expor para si mesmo tudo o que assolava seu coração. Apesar de na manhã seguinte todos eles voltarem com força total. Ele tinha esperanças de um dia, com isso, poder redimir toda a culpa que sentia. Porém no fundo de seu coração sabia que devia fazer mais, que devia ir a luta e agir como se a vida valesse a pena.
Com pensamentos e mais pensamentos rondando sua cabeça e lapide dura a lhe marcar a pele Jorge via o amanhecer naquele cemitério frio e vazio. Era assim todas as noites e Jorge não se cansava daquilo. Sabia que deveria fazer alguma coisa a mais, mas sua dor não permitia. Seu coração estava partido, faltava um pedaço de sua alma. Justamente o pedaço que o fazia ativo. O único pedaço que lhe dava esperança, que lhe dava idéias e a vontade de viver, havia sido arrancado dele. E entre lágrimas e mais lágrimas a única coisa que ele pode fazer foi se despedir mais uma vez do gêmeo e antes de aparatar sussurrar para o vento:
-I miss you, Fred.
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