Capítulo Dois



Eu estava correndo em direção a minha casa, quando vi que ela já estava sendo saqueada por piratas, que entravam e saíam com os objetos que tanto custaram para meu pai.Não que eu tenha me importado, mas é que ver minha escrivaninha de madeira Pau-Brasil é bem revoltante.

Eu olhei em volta.Havia um grupo de piratas subindo a estreita rua de pedra que eu estava e, olhando para frente e para trás, percebi que estava encurralada.

Por impulso, eu entrei dentro do jardim de minha casa, dentro das pequenas palmeiras e plantas baixas, em sua maioria arbustos com muitos espinhos que me deixou sangrando e com o vestido de espartilho vermelho rasgado.Enquanto os piratas não chegavam perto dos arbustos, eu me mexia para ajeitar o vestido vermelho-escarlate para eles não perceberem que eu estava ali.

Segundos depois de eu parar quieta, os piratas se reuníram de frente para os arbustos que eu estava escondida:

-Já acharam o Governador desta ilha?-Perguntou um homem fétido, com uma enorme barba negra.

-Não, mas a criadagem disse que ele foi passar alguns dias na Inglaterra-Começou um loiro, também fétido, com roupas esfarrapadas.Mas logo ele fora interrompido por outro homem, qual eu não conseguia ver, pois o arbusto o tampava.

-Então pra quê viemos a esta merda de ilha?-Perguntou ele, interrompendo o outro-Sem o Governador, não poderemos achar o tesouro do Rei inglês!

Ele parecia estar enjoado de tanta raiva.Uma brutalidade idiotamente estúpida.Mas um tesouro do Rei? Meu pai nunca me falara disso... Peraí! Acho que ele já mencionou!

-Posso continuar?-Perguntou o loiro de roupas esfarrapadas, os outros assentiram e então ele continuou-Mas uma criada disse que a filha desse Governador está aqui na ilha.A única filha.

Um sorriso passou pelos lábios de todos os piratas ali.Eles não poderiam pensar que a 'única filha do Governador' estava deitada ao lado deles, debaixo de alguns arbustos de espinhos.

-Como ela é?-Perguntou um outro homem que eu também não vi a face.

-'Uma linda moça ruiva, com laços nos seus cachos vermelhos e olhos espetacularmente esverdeados.Uma das garotas mais bonitas da ilha', segundo ela.E sim, garota.Ela tem quinze anos, ou seja, quase não tem corpo mas a gente sabe aproveitar do que não usufruíram,não é rapazes?-Respondeu o loiro fétido, logo depois todos ali deram gargalhadas um tanto maldosas.

E eu lá tenho medo de homens fétidos vestindo roupas esfarrapadas? Quem eles pensam que estão lidando? Eu sei que só tenho quinze anos, mas esse negócio de usufruir... não entendi o que eles falaram.

Logo, eles haviam se dispersado daquele lugar, então eu esperei alguns minutos para sair daquele amontoeiro de arbustos.Vi meu reflexo em uma loja de espadas, que ficava de frente para a mansão Evans: Eu via uma garota que tinha o vestido rasgado até o meio da coxa, com o cabelo liso desgrenhado e o espartilho apertado, porém, me deixando com os seios um tanto ressaltados no decote em U.Como dizia a criadagem quando estavam entre si, 'estou linda de morrer!'.

Eu olhei para dentro desta loja de espadas, não havia ninguém ali e... aproveitando que os piratas já estavam saqueando e matando o povo de minha ilha, eu entrei na loja de espadas com um chute na porta de madeira e peguei a melhor espada que vi e, modéstia a parte, muito linda.Com um cabo amarelo e azul cobalto, a lâmina era extremamente afiada, fazendo que até que o seu reflexo corte vigas de madeira.

Eu sei que isso foi um tanto exagerado, mas foi essa impressão.E saí correndo em direção minha mansão.E agora? O que eu faria?

Eu entrei na sala de jantar da luxuosa casa, não havia ninguém ali, exceto os cadáveres amontoados em alguns cômodos.Eu não tive nojo, nunca tive nojo de pessoas mortas.Não sou uma garotinha que se assusta com facilidade.Para mim, eu posso me ver sangrando que não importo.Não sou um coração de pedra, sou apenas uma garota sem frescuras inúteis.

Eu ouvi vozes grossas vindo em direção a sala de jantar.Em um impulso, novamente, eu me escondi atrás da porta para logo depois atacar.Dois homens entraram na sala de jantar e eu ataquei o mais alto por trás, com um golpe certeiro, arrancando sua cabeça.

O outro pegou a pistola e atirou em meu braço.Eu estremeci, mas mesmo assim o feri, com um corte profundo na barriga.Ele, sem mais balas em sua pistola, saiu daquele lugar, enquanto eu tirava a bala que entrou de leve no meu braço.

Eu arranquei essa bala com os dentes, não importando com o gosto do sangue e nem se ele jorrava em meu braço.Logo depois de arrancar a bala fora, eu rasguei a manga do vestido que eu fui acertada e enrolei no ferimento e amarrei forte, para o sangue não jorrar muito e eu morrer por falta de sangue circulando.

Quando a gente convive em ilhas com fortes e soldados, acostumamos a feridas ou sangue.Ou até mesmo a uma atitude de suícidio interpretado por heroísmo, o que, na minha opinião, é ridiculamente estúpido.

Quem iria se suícidar para salvar outros e ser visto como herói depois de morto? Quero dizer, você já está morto! Dããã!

Eu senti que alguém me observava, embora não sabia de onde, pois eu não levantaria meus olhos do ferimento.Eu peguei minha espada e vi o reflexo de um homem atrás de mim, porém, ele estava desarmado.

Ele pigarreou e eu levantei de frente para ele:

-Olá Srta. Evans-Cumprimentou este rapaz, que se vestia elegantemente.Seus olhos castanhos e seu cabelo liso arrepiado davam-no um charme peculiar.Podia-se ver que ele tinha na cintura duas espadas e uma pistola.Seus óculos com armação de prata davam-no outro charme peculiar.Um homem bastante charmoso, bastante bonito, bastante tentador.Deveria ter em torno de seus vinte e sete anos.

-Olá, Sr...?-Cumprimentei, no mesmo tom formal que ele.É lógico que ele é um pirata, quero dizer, eu nunca o vi na ilha e estamos sendo invadidos por piratas!

-Potter, James Potter-Respondeu ele-Eu sou capitão do navio pirata ali fora, sou capitão do Pontas.

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