Mudanças (Bellatrix)
Quando Bellatrix começou a falar estas coisas não imaginava que Sirius teria essa reação. Não se surpreenderia se ele lhe desse um tapa ou fizesse qual quer coisa para lhe ferir. Mas para sua dor e surpresa viu o homem que amava afundar as mãos no rosto, enquanto deixava o corpo derreter-se na poltrona do quarto. Era algo que nunca tinha visto.
- O que foi? – perguntou ainda desdenhosa – te magoei?
Mas novamente ele não reagiu como esperado, não colocou a raiva para fora. Seu silencio amargurado só foi cortado quando pode finalmente dizer:
- Você não sabe o quanto me dói, tanto pela morte de Marlene, quanto por você. Fico inconformado ao ver no que se tornou – a tristeza se fazia presente em sua voz. – como pôde mudar tanto Bella? Tornou-se uma mulher fria. Uma assassina, que tem prazer no que faz. Você realmente sente prazer em ver pessoas morrerem por causa de seu poder? Você realmente sente prazer em vê-las com medo?
- Você não me conhece por isso não me julgue. Eu não posso fazer nada se sua noivinha não era corajosa o suficiente para morrer de cabeça erguida.
- Nós dois sabemos que não foi assim que aconteceu. Conheço a Marlene muito bem, e ela nunca se abaixaria, nem teria medo de nada.
- Talvez não a conhecesse tão bem. Dizem que quando estamos diante da morte, fazemos de tudo... até pedir clemência.
Cada palavra que dizia doía dentro de si. Não pela mulher, mas por Sirius. Bellatrix tinha certeza que cada coisa que lhe falava era como uma faca que entrava um pouco mais em seu coração, afinal eles iriam se casar. Esse pensamento não foi bom, trouxe de volta toda a magoa que sentia. Por que ela? Era o que mais se perguntava.
A mulher tornou a olhar o homem ao seu lado. Por que queria feri-lo? Por que simplesmente não contava que Marlene não teve tempo para nada. Nem sequer pensar. Gostava tanto assim de vê-lo triste?
O que era isso que sentia toda vez que pensava no Maroto? Seria saudade ou um sentimento maior? Amor, talvez, mas desde quando Bellatrix Black ama? Ou a pergunta certa seria; quando começou a não amar?
Nunca fora essa mulher, fria. Seu coração tornou-se isso. Agora, olhando Sirius, vendo como suas palavras eram capazes de machucar, começava realmente a pensar se queria mesmo continuar no caminho que tomou.
Só agora ela podia ver como suas palavras tinham o poder machucar. Como doía em si própria vê-lo assim. Mesmo sabendo que era por causa de outra, mas essa dor também era por causa dela. Afinal por que tinha que abrir a boca? Falar coisas tão duras?
Sirius levantou a cabeça, os olhos turvos focaram nela. Ele nem sabia o que falar, a tristeza que tomava conta de si, a dor de perder a amiga que Marlene sempre foi. Ouvi de Bellatrix que ela própria havia matado era algo inesperado, ou talvez nem tanto. Não sabia nem o que dizer, mas seu cérebro trabalhava furiosamente para assimilar tudo aquilo e pensar em que mais viria para frente.
- Como se tornou isso? – ouviu-se perguntando.
- Não sou o que esperava?
- Claro que não. Por mais que achasse suas idéias ridículas, eu acreditava que com o tempo você se tornaria uma pessoa melhor. Aprenderia que você não é melhor só por que seu sangue é puro ou por que vem de uma família antiga. Sempre achei que um dia poderia rever aquela menina que conheci ate dez anos de idade. Sempre achei que seria uma fase e que com o tempo você veria que tudo não passou de uma coisa estúpida de criança.
- Coisa de criança? Você acha que isso que estamos vivendo é coisa de criança? Posso não ter me tornado o que você queria, mas me tornei o que sempre quis.
- Você sempre quis ser uma assassina? Sempre sonhou para si tornar-se uma pessoa ruim? Sempre quis que me afastasse de você?
- Nunca quis que você se afastasse, mas você o fez. O que queria? Que corresse atrás de você? Vamos combinar, Sirius, nunca fomos amigos, não esperava que a cada momento difícil que passasse, cada momento de tristeza, toda vez que me sentisse frágil, eu te procurasse...
- Por que não? Não era assim antes de irmos para Hogwarts? O que tinha que ser diferente? Eu te procurei no primeiro dia de aula que tivemos, e como você me tratou? Como um lixo, como se eu indo para a Grifinória nunca tivesse existido para você. Como se por causa de uma rivalidade não deveria olhar para você, se quer trocar uma palavra. Não sabe o quanto me doeu.
Bellatrix não tinha o que falar. Realmente tratou-o como um lixo. Ofensas foram ditas e não podiam ser apagadas, mas sempre que pensava o por que de ter-las dito, não sabia responder. Sentia-se traída por não irem para a mesma casa, mas que culpa tinha Sirius? Afinal foi o Chapéu Seletor que escolheu onde melhor ele se encaixaria. Não, ela não concordava, o melhor lugar para ele era ao seu lado, sempre seria... mas não foi.
- Senti-me traída. – confessou, era estranho essas palavras saírem de sua boca. Pela primeira vez estava sendo sincera. – Sempre imaginei que ficaríamos juntos, parece coisa de criança, mas eu era na época apenas uma criança que se sentiu abandonada por seu amor.
- Só por isso? Só por isso que deixou de conversar comigo como antes e começou a me tratar mal? Deixou-se levar por aqueles que andava só por se sentir traída por mim, sendo que a decisão nem minha foi?
- Eu era apenas uma criança – falou passando as mãos pelo rosto, estava envergonhada por falar aquilo, mas sentia que era necessário. – Não entendia muitas coisas e quando finalmente percebi que tinha cometido um engano, já era tarde demais.
Sirius ficou mudo. Era inesperada aquela conversa, nunca imaginou que aconteceria e agora estava finalmente entendendo o motivo de tudo o que aconteceu há tempos atrás, mas ele ainda tinha uma duvida:
- E quando foi esse “tarde demais”?
- Não vem ao caso.
- Claro que vem. Agora que começou a falar quero saber toda a verdade.
- Quando soube de seu noivado. – falou de uma vez como se fosse doer.
- É. Dizem que só se sente mesmo a falta quando se perde algo.
- Não venha me dá lição moral, você coloca como se tudo que aconteceu fosse minha culpa. Você se tornou um perfeito idiota, agindo como uma eterna criança, se sentindo o maioral por poder andar pelo castelo sem ser pego...
- Como você já disse, - interrompeu- éramos crianças.
- Então não jogue a culpa encima de mim! – esbravejou
- Não estou jogando, mas posso falar que se não fosse por tudo que fez no inicio do nosso primeiro ano, talvez tudo fosse diferente. Não queria ter me afastado de você.
- O que quer dizer com isso? – perguntou e no fundo sentia uma pontada, seria esperança?
- Que não gostei do que aconteceu. Senti sua falta Bella, você não sabe o quanto.
- Sinto muito, por tudo.
Sirius a olhou surpreso. Bellatrix, aquela garota que nunca abaixava a cabeça estava agora lhe pedindo desculpas?
- Por tudo?
- Sim. Sinto muito por ter dito todas aquelas coisas, por te sido arrogante com você e tão dura. Por ter parado de conversar como antes, me doeu muito também.
Somente uma lágrima riscou o rosto da mulher, mas ela foi suficiente para mostrar a sinceridade em cada palavra.
Se olharam por algum tempo, em silencio. O que mais poderia ser dito? Tantas coisas que ela queria desabafar, sentimentos que queria ter certeza, mas não sabia como fazê-lo. Sirius por sua vez queria vê ate aonde a mudança ia.
- Agora quem quer saber de algo sou eu. Por que me trousse para esse quarto? – perguntou Bella, já temendo a resposta.
- Não poderia te deixar lá. Não agüentaria perder mais uma pessoa que gosto...
Ela sentiu-se fraquejar, como ele poderia falar aquilo para ela depois de tudo que tinha dito. Como podia perdoar uma pessoa como ela?
- Então realmente me perdoou?
- Sei que o que fez não foi por que quis...
- Não me tome por uma boa pessoa, sabe que não sou.
- Você não deixa transparecer, é diferente. Sei que você é uma boa pessoa, te conheço muito bem Bella. Pode ter cometido alguns erros, mas todos erramos.
- Não me arrependo dos, que você diz ser, meus erros. A não ser os que cometi com você, no resto, nenhum.
- Talvez não, mas sei que ainda é a Bella de sempre. – falou passando a mão pelo rosto dela.
Bellatrix fechou os olhos ao sentir o toque de Sirius. Era tão bom ser tocada assim, por alguém que mostrava que só queria o seu bem, que mesmo sendo como era, a aceitava. Não pôde deixar de sorrir, ele sempre soube ser carinhoso. Dessa vez deixou que mais lágrimas lhe escapassem dos olhos.
Estava cansada de tudo, queria poder pensar no que sempre tentou esquecer. Queria colocar os pensamentos em ordem. Nesses poucos momentos que ficou junto a Sirius, se abriu demais. Coisa que nunca fez. Até chorar, coisa que não fazia há tanto tempo, estava fazendo agora.
- Descansa – falou Sirius, como se lesse sua mente – já está de madrugada. Amanhã você vai esta melhor.
- Madrugada? Há quanto tempo estou aqui?
- Amanhã conversamos mais.
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