Capítulo único
Os pergaminhos espalhados por todos os lados. As mãos na testa, observando todo aquele emaranhado de documentos e tinta com um olhar vago e cansado, de quem não agüenta mais estar próximos deles. O ministério estava com um sério caso de agressão aos trouxas que ainda não tinha culpados, só suspeitos. E, enquanto Harry trabalhava em busca de gente para os interrogatórios, Rony ficara encarregado de estudar e escrever relatórios com relação a cada suspeito que eles já entrevistaram. Embora se sentisse satisfeito por ter essa tarefa, que exigia extrema responsabilidade e confiança, além de crucial para as investigações, ele estava cansado de ler sobre aquele bando de sangue-puro esnobe e também, não podia negar, era chato ficar escrevendo tanto. Sentia-se de volta a Hogwarts, virando madrugadas para cumprir lições de tamanhos desnecessários.
Sorrindo perdidamente com a lembrança, não percebera uma presença à porta do escritório em sua casa. Estava de braços cruzados, apoiando-se nas laterais da abertura, analisando-o com uma expressão de ternura.
- Não vai dormir? Já está tarde!
Rony se assustou com a voz doce de Hermione. Virou-se para ela ainda sobressaltado, embora guardasse o olhar de fadiga, e logo se acalmou com a visão da esposa. Ainda estava com a roupa que fora para o Ministério. Pelo jeito, acabara de chegar. Divertindo-se com incoerência, ele respondeu:
- Olha quem está falando! Pelo menos estou em casa! Você chegou agora?
- Não, fazem uns quinze minutos. Mas estou indo para a cama, tenho muita coisa para fazer amanhã. Você devia também. Pela sua cara, não vai conseguir mais nada produtivo hoje. – ela disse, um tanto contrariada.
- Se eu não agilizar isso logo, vou ficar empacando as investigações. E não estou a fim de ouvir piadinhas sobre ser o melhor amigo do Eleito que está ali só por causa disso... – Rony comentou com amargura.
- Ah, isso de novo não, Rony! – Hermione andava até ele para abraçá-lo - Quim o aceitou por reconhecimento do que você fez, não porque era simplesmente o amigo do Harry! Quantas vezes terei de repetir?
- Eu sei! Eu sei! Mas nem todo mundo sabe... – Havia uma irritação contida – O que me faz ter de ouvir isso com freqüência...
- Se você sabe, o que importam os outros?! Você tem de parar de se importar com o que os outros falam, meu amor! – Ela segurava seu rosto entre as mãos, forçando-o a encará-la.
- Me incomoda, e você sabe disso. E não adianta, eu não consigo não ligar. Além do mais, há uma ponta de verdade nisso. Se eu não fosse amigo do Harry, não teria mostrado que posso ser um auror. – Ele baixara os olhos tristes e tocara suas mãos nas dela.
- Como você pode saber? Se vocês tivessem terminado Hogwarts, vocês teriam seus N.I.E.M.s, teriam feito os testes para auror, e aposto que passariam! – Ela terminou lhe dando um beijo.
- Pode ser. Mas quanto mais eu mostrar que não estou ali por sorte, melhor.
- Com certeza! Mas não precisa se matar, sabe? Tem uma mulher grávida vivendo com você!
Envolvendo-a em seus braços, Rony respondeu com um sorriso:
- Eu não me esqueço. Aliás, isso quase me atrapalha! Me pego pensando, e o tempo de trabalho vai embora.
- Seu bobo! Quer dizer que eu te atrapalho? – Hermione tentou parecer brava, mas não o enganou.
- Mais do que você imagina. – disse Rony com um sorriso maroto, carregando-a para o quarto.
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Dias depois, mais um costumeiro almoço de domingo na Toca. Victoire, Teddy, Fred e James faziam uma bagunça na sala, alimentada pelas brincadeiras de George e Rony e regada às mais novas invenções das Geminialidades Weasley, duas das quais Rony orgulhava-se de ter tido a idéia.
Molly Weasley estava louca tentando controlá-los e fazer a comida ao mesmo tempo, por mais que Harry, Gina, Fleur, Hermione e a esposa de George, Joanne, tivessem prontificado-se a ajudá-la. Arthur e Gui conversavam a reforma dos vagões de Gringotes sentados na cozinha. Carlinhos e Percy estavam ocupados em seus trabalhos, pedindo mil desculpas. Um clima familiar o qual todos lutaram tanto oito anos atrás para que fosse possível. E ninguém estava disposto a perder a oportunidade de cada minuto de tranqüilidade.
Sentaram-se a mesa posta. Com a família maior, o Sr. e Sra.Weasley tiveram que fazer algumas reformas na Toca. Mas nunca iriam se mudar daquele lugar, mesmo com o prestígio que a família de ruivos ganhara com a guerra. Era onde seus filhos haviam crescido, onde compartilharam seus momentos mais felizes. E agora que seus filhos já não moravam com eles, não haveria porque ir para algo maior. Quanto ao conforto... Nada poderia ser mais confortável do que o calor e o amor do qual a velha casa torta emanava em reflexo à família que protegeu por tantos anos.
Rony ajeitava sua cadeira ao lado de Hermione e Harry, ainda rindo do pequeno James ficando com a cara azul após mexer na Caneta Tempestiva e o sorridente Teddy deixando seu cabelo e pele da mesma cor em solidariedade debochada, quando Gina, que ia se sentando a frente do marido, comentou:
- Tenho uma novidade para vocês. Neville estava bobo quando me disse!
- O quê? Quando você falou com ele? Nem me contou! – Harry comentou, fingindo-se de ofendido.
- Queria falar com vocês três juntos. Desculpe, meu bem.
- Pare de fazer mistério, Gina! Está me deixando curiosa! – Hermione olhava-a interrogativa.
Ninguém na mesa prestava atenção na conversa que os quatros trocavam. Estavam entretidos em comer e falar de seus próprios assuntos. Embora o mesmo não pudesse ser dito de James, que, com seus dois aninhos, só os olhava, num misto de expectativa e vontade de se pronunciar. Rony mantinha-se calado e um pouco desinteressado, acreditando que era mais uma das milhões de notícias que sua irmã considerava digna de atenção, e ele não.
- Se eu fosse você, Rony, parava de olhar pro teto e ouvia direito o que tenho para falar, porque, com certeza, essa até você vai gostar – Gina chamou-o, rabugenta e obliqua.
- E o que poderia ser tão interessante? Neville se tornará o mais novo diretor que Hogwarts já viu? – disse Rony arqueando uma sobrancelha.
- Isso seria um máximo! – completou Harry divertido. – Mas não deve ser isso. A profª McGonagall ainda ficará alguns anos no cargo, assim espero.
- James, querido, pegue o que a mamãe te deu, sim? – Gina virou-se para o filho.
Recebendo o pedido como a coisa que mais esperava no mundo, a criança tirou eufórica e desajeitada de seu macacão um cartão de bordas brilhantes, com uma imagem identificável facilmente. A foto do bruxo que se movia era nada mais nada menos do que a de Harry, com seus óculos de lentes circulares, a cicatriz em forma de raio na testa e o cabelo terrivelmente bagunçado. Ele vestia um suéter vermelho feito pela Sra. Weasley e um jeans de trouxa, os olhos verde-esmeralda brilhando em determinação, a varinha apontada para frente e a outra mão segurando sua capa de invisibilidade. Ele sorria em alívio.
Gina mostrou para o trio como quem faz propaganda de um produto, um sorriso largo no rosto acompanhando os olhos cheios de orgulho. Harry estava claramente constrangido, as bochechas levemente coradas. Hermione não contivera uma exclamação de alegria e abafara a boca com as mãos. E Rony estava boquiaberto e contente. Definitivamente, aquela era uma notícia boa. E foi pensando assim que o ruivo comentou:
- Já estava na hora! Sinceramente, achei que não levaria nem um mês depois da guerra para eles colocarem você, Harry!
- Puxa! Isso é maravilhoso, Harry! Não que você realmente precise disso, mas fazer parte da coleção de Bruxos e Bruxas famosos dos sapos de chocolate é uma marca definitiva na história do mundo mágico! – disse Hermione, apoiada na mesa para ver a expressão do jovem herói.
- O que é isso, Harry? – chegara George, após perceber a euforia entre os quatro, no momento em que Gina passava o cartão para o marido ler, e puxara a figurinha antes que isso acontecesse. – Olha, mas vejam só! A honra das honras para o senhor cicatriz! Deve ser melhor do que a sua Ordem de Merlin, primeira classe, não? Ei, mamãe, veja o jovem Potter aqui!
George andara lentamente até a matriarca Weasley, ignorando os protestos de sua irmã, que dizia para deixar Harry ler antes de todo mundo. A Sra. Weasley, ainda meio distraída, não entendeu o que estava acontecendo e simplesmente pegou o papel que George lhe estendera.
Foi preciso menos de um segundo para seus olhos se encherem de lágrimas e ela correr até ele para lhe dar um forte abraço e congratulações. Agradecendo completamente ruborizado, ele pediu o cartão para poder analisá-lo.
- Leia em voz alta, Harry! Também queremos saber! – incitou Hermione.
Harry olhou para amiga suplicante de vergonha, mas depois se recompôs e, com um pigarro para tentar engolir o nervosismo, leu:
Harry James Potter, o-menino-que-sobreviveu. Antes conhecido no mundo bruxo pela sua inédita sobrevivência à Maldição da Morte quando bebê e, por isso, ser responsável pelo sumiço do Lorde das Trevas, 16 anos depois o jovem Potter confrontou novamente Lord Voldemort, após uma jornada para destruir suas horcruxes, dando um fim, para sempre, nos tempos de horror que este proporcionara. Após a guerra, o rapaz ajudou na reforma ministerial do Departamento de Aurores. Atualmente seguindo tal profissão, Harry Potter é casado, tem um filho e gosta de jogar quadribol com sua esposa, ex-jogadora profissional.
Desviando-se dos olhares de toda mesa, que agora já prestava atenção em tudo que saia daquele canto, ele entregou o cartão para Gina, sem antes deixar de acrescentar:
- Essas coisas mudam, não é? Tem mais um vindo! Eles vão ter que mudar esse texto! – ele piscou para a esposa.
- Devem mudar. Não é difícil, eu acho. Hermione?
- O quê? Sobre mudar o texto? Essas cartas são enfeitiçadas! Francamente, duvido que não mudem. Eles não são burros. – ela respondeu pensativa – Ah, Harry, isso é tão legal!
- Quem lê sobre essa jornada parece até que foi fácil... – comentou Rony contemplativo.
- Isso é verdade, mas não é tão importante escrever sobre,é? Será que é certo falar sobre as horcruxes? Não gosto de pensar que as pessoas podem se interessar em saber o que é... – disse Hermione, temerosa.
- Nem pensar! Primeiro, irão ter dificuldades de descobrir o que são horcruxes. Depois, esse alguém vai precisar ter um coração muito diabólico para querer fazer uma. – terminou Gina, obviamente, como todos ali na mesa, já ciente das aventuras que os três amigos passaram.
- Acho que Hermione tem razão. Não deviam ter posto sobre as horcruxes nesse cartão. É bom se prevenir – disse um Sr. Weasley no ponto mais distante deles à mesa.
- Eu posso falar com os fabricantes, Harry. Mas certamente eles vão querer por algo no lugar de “horcruxes” – disse George, sério.
- “Pedaços de alma” me parece razoável. É a mesma coisa e não esclarece o lado sombrio de tudo isso. Nem dá pistas de onde procurar. – sugeriu Rony.
- Ei! Isso é realmente bom, Rony! – Harry sorria – Tem como mudar, George? Você poderia ver isso para mim? Também fiquei preocupado...
- Claro, meu herói quatro-olhos! Vou ver o que dá para fazer...
- De qualquer maneira, rapaz, parabéns! – disse o Sr. Weasley.
E todos aproveitaram o embalo para congratulá-lo também. Até Gina interromper:
- Opa! Esperem um pouco! Vocês ficaram falando de horcruxes e me fizeram esquecer o resto das boas-novas!
- Do que você está falando, Gina? – indagou Gui, estranhando a paciência da irmã para guardar notícias.
- Estou falando que tem mais. Neville me deu essa do Harry. Disse que ele já tinha tirado outras duas dele no mesmo dia. Parece que suas figurinhas vão ser tão fáceis de tirar quanto as de Dumbledore, querido – Gina apertara suavemente a mão de Harry, que retribuíra o carinho.
- E o que mais poderia ser, Gina? – tomou parte da conversa Fleur, com o sotaque dominado, que se animara com tudo aquilo, feliz de fazer parte daquela família.
- Neville me deu mais um cartão. E disse que tinham mais dois.
- Cartões novos, você quer dizer? – perguntou Hermione, que apertara os olhos, desconfiada.
- Isso – sorriu Gina, vendo que a cunhada entendera – Tome.
Gina retirou de um saquinho em seu bolso outro cartão. As mesmas bordas brilhantes. Para fazer um suspense, deu uma olhada de novo na figura, apenas ela e James, que ficara de pé na cadeira, e entregou para Hermione, que, ao pegar, quase deixou o cartão cair, em visível espanto. Rony esgueirou-se até a esposa, e gargalhou com gosto ao ver a imagem. Era a própria Hermione, com seus cabelos cheios e castanhos, vestes bruxas azuis com bordados vermelhos, dois livros no braço, a varinha firme na mão, um olhar de astúcia e um sorriso tímido, mas simpático.
- Livros! Claro que eles tinham que te por com livros! – gracejou Rony – Por que esta cara?
- Eu lembro dessa foto. Uma entre as milhões que nos fizeram tirar depois da guerra... – disse Hermione num tom de desagrado.
- E qual o problema? Está linda! – ele completou lhe dando um beijo – Não vai ler?
- Vou, vou... – ela respondeu, corando.
Hermione Jean Weasley (solteira: Granger), atual chefe do departamento de Execução das Leis da Magia. Além de notória aluna nascida-trouxa durante seus estudos em Hogwarts, a então Hermione Granger se destacou na luta contra o Lorde das Trevas, ajudando, como melhor amiga e fonte de conhecimento, Harry Potter em sua jornada, o que incluiu a destruição de uma de suas horcruxes, e participando da Batalha de Hogwarts. A Sra. Weasley é conhecida também por admirável luta pelo tratamento mais humanizado aos elfos-doméstico, o que lhe rendeu vários prêmios de reconhecimento na comunidade bruxa. Casada e esperando um filho, Hermione Weasley tem como maior hobby ler.
- Mas que coisa mais constrangedora! – exclamou Hermione, ao final da leitura.
- Ué? Por quê, Hermione? – perguntou Gina.
- Ham... Essa ultima linha. O mundo inteiro não precisa ficar sabendo que estou grávida!
- Está com vergonha, Hermione? – perguntou Rony, vermelho e chateado.
- Não! É claro que não! Que coisa mais besta! Não seja tolo, Rony! É só que... É pessoal, entende?
- Ficar sob exposição nunca foi algo que Hermione gostasse, Rony, sabe disso. – Gina defendeu-a.
- É tão estranho ver que agora existem várias Sras Weasleys! – comentou Molly, enxugando os olhos. – Meus bebês, crescidos...
- Meu Deus, mamãe! Mas que hora para pensar nisso! – retrucou George, divertido.
- Sabe que eu também acho? – disse uma até agora calada Joanne. – É é machismo essa coisa de sobrenome do marido!
George, que se apaixonara por essa mulher cheia de opiniões polêmicas, riu do comentário:
- Você queria que fosse com o nome da mulher, minha doce Joanne?
- Não! Podia não mudar nada! Ou os dois adicionarem os sobrenomes de cada um! É mais justo
- Eu concordo... – Hermione disse timidamente, com medo que Rony começasse uma briga. - ...Qual o problema em ter os dois nomes?
- Leis bobas. Quer lutar contra isso, meu amor? – respondeu Rony, irônico, mas achando graça. – Não me importaria em ter Granger no meio do meu nome. Até gosto – Ele piscou para ela.
- Acho que eu tenho coisas mais importantes para gastar minhas energias do que uma regra sobre nomes que predomina há milênios. – ela sorria, relaxando com a zombaria do marido – E eu confesso que é estranho quando me chamam de “Sra Weasley”. – Ela se virou para sogra com carinho - Sempre me vem a sua imagem, Molly. Para mim, você sempre será a verdadeira ‘Sra. Weasley’.
- Ah, obrigada, querida. – ria-se Molly – Mas não disse que me incomodava. Só acho estranho. É culpa nossa, afinal – Ela disse olhando para Arthur, que se remexeu na cadeira, acanhado. Todos riram.
- Gina, você disse que tem mais dois... Posso saber quem são? – retomou Harry, quase certo da resposta.
Rony também voltou sua atenção para a irmã. Do jeito que iam as coisas, poderia prever o óbvio. Só queria saber quem era o outro.
- Ah... Sim. E não. Mamãe, espero que não se importe em estragar um pouco o apetite para a sobremesa. Mas já que Neville não tirou as outras duas, eu fiz umas comprinhas para ver se nós conseguimos.
- EBA! SAPOS DE CHOCOLATE! – gritou Teddy, abrindo a sacola que Gina acabara de conjurar. Ela sorriu, observando o quase afilhado abrir uma das embalagens e devorar com gosto.
- Tenho escolhas, filha? – Molly também sorria para o pequeno Teddy, que agora tinha o cabelo da cor do doce.
- Tem pelo menos um para cada um. Alguém se habilita? – Ela pegou a sacola, e começou a distribuir com um gesto da varinha.
- Ora, vejam só! Eu tirei o Neville! – exclamou Gui.
- Puxa, isso foi rápido! – entusiasmou-se Gina – Pois é. Este é um dos “dois”. Leia para nós, Gui. Espero que depois não se importe se eu der a ele.
- Não faço coleção, minha irmã. E tenho certeza de que tirar essas quatro novas cartas não vai ser difícil por um longo período. Claro que pode dar a Longbottom depois. – Sorriu Gui em meio as suas cicatrizes.
Neville Frank Longbottom, atual professor de Herbologia da escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Filho dos honrados aurores Frank e Alice Longbottom, torturados até a loucura em 1981, o professor Longbottom é conhecido por liderar a resistência dos alunos de Hogwarts durante o seu sétimo ano, em que esta estava sob os domínios de homens do Lord Voldemort, além de destruir a cobra e horcrux do Lord das Trevas, durante a Batalha de Hogwarts, na qual foi destaque nas lutas travadas. Neville Longbottom gosta de passar o tempo cuidando de suas plantas enquanto ouve música clássica.
- Música clássica?! Que refinado, esse Neville... – disse George.
- Quem escreve nesses cartões? – perguntou Hermione, com um toque de irritação, ignorando o comentário de George.
- Por que você quer saber? – virou-se Gina, que estava limpando a boca suja de chocolate de James.
- Porque me parece ser alguém bem folgado. Escreve sobre nós e não avisa. Escreve o que quer e não nos mostra. Neville não gosta de falar da situação dos pais. Que direito essa pessoa tem de colocar isso nesse cartão?
- O direito que ela ganhou ao conquistar o cargo de editora da coleção mais popular do mundo bruxo. – respondeu Gui, claramente não concordando com a sentença. – Estou de acordo com você, Hermione, mas eles não estão ligando muito para isso. A história do bruxo tem que parecer atraente...
- Ser líder da resistência em Hogwarts me parece suficientemente atraente! – disse Rony em apoio a discussão.
- Não vai adiantar brigar com esses caras. O máximo que dá é pedir para ocultar alguma coisa – acrescentou George, entrando na conversa. Ele se virou para Hermione – E, mesmo assim, educadamente e sem explosões, minha cara cunhada.
- E quem disse que eu não faria assim? – Hermione fitou-o contrariada.
- Hum... Vejamos... Por onde começar... Oh, sim. Seu tom, sua cara, seu passado, o fato de ser algo que você não vai conseguir fazer muita coisa... – George enumerava cada item nos dedos da mão, olhando para o teto como se estivesse procurando na mente. – Talvez você continue sendo educada até aqui... Mas não vai resistir quando lhe tratarem com irritante indiferença.
George, Harry, Rony e Gina riram da veracidade da cena. Era de conhecimento geral, pelo menos do grupo ali, que seria exatamente assim que Hermione agiria. Ela ficou vermelha, olhando-os com reprovação:
- Ok, George, se você se acha tão esperto, convença essa gente de mudar isso! O pobre Neville não precisa de uma figurinha para eternizar a sua dor!
- Que parte do “não adianta brigar” você não entendeu? Eu sou tão esperto, Hermione, que eu sei quando uma luta está perdida.
- Me disseram que minha luta pelos elfos estava perdida várias vezes, mas eu não fui esperta e continuei. Gostei de não ser esperta!
George encarou-a desgostoso, mas sem palavras. Olhou para Rony, que apenas ergueu os ombros, em tentativa de querer se manter neutro.
- Já está bom, Hermione, chega. – interrompeu Harry. – Se quiser tentar fazer algo, tente. Ninguém vai te impedir.
- É, eu posso fazer sozinha, Harry. Só esperava que os contatos de George me ajudassem.
- Se quer contatos, Hermione, eu ajudo. Acho justo o que você quer, só acho que não vai conseguir. Mas eu também não preciso ser uma barreira. Posso ajudar com esse tipo de coisa.
- Obrigada, George. – Hermione sorriu, satisfeita.
- Hermione Granger, a justiceira. – descontraiu Rony, aliviado que o conflito entre seu irmão e sua mulher terminara bem – Deviam ter colado isso no seu cartão. Como você é implicante! Tira tudo o que você quer!
- Algum problema, Ronald? – Ela olhou para ele, cruzando os braços.
- Nem vem! Joga seus resquícios de raiva para outra pessoa. – ele levantou as mãos em sinal paz - Você poderia considerar um elogio, se não estivesse de cabeça quente.
Ela suspirou, vencida.
- Desculpe. Fiquei aborrecida.
- Se você não nos dissesse, nunca saberíamos – comentou Gina. Eles riram, inclusive Hermione, que começou a abrir seu próprio sapo de chocolate.
- MEU DEUS! RONY! EU TIREI VOCÊ! – ela quase berrou, abraçando o marido.
Ela não sabia, mas acabara de tirar um peso de Rony. Embora achasse que o quarto era ele, ainda lhe restavam dúvidas. Não queria parecer presunçoso, nem interessado demais em saber se era mesmo ele. Mas aquele não saber o deixava angustiado. E ele tinha medo também do que poderia estar escrito. Se fosse para parecer o bom e velho escudeiro de Harry Potter, talvez preferisse que não estivesse na coleção. Aquela maldita insegurança que o arrastava às antigas frustrações. Tinha méritos em ser reconhecido em qualquer lugar do mundo bruxo? Ou era mesmo só uma sombra de seu amigo?
- Olha só, cara, que bom! – Harry batia em seu ombro – Vamos, Hermione, leia logo!
- Não, não! Leia você, meu amor. – Hermione passara a figurinha para ele.
Rony encarou sua imagem. Estava numa pose orgulhosa, em uma veste verde-escura com bordas laranjas, um sorriso largo, os cabelos ruivos arrepiados como se tivesse acabado de passar a mão, os olhos safira brilhando em satisfação, a varinha junto ao peito e a mão esquerda no bolso, que às vezes ele tirava para mostrar o apagueiro.
- Vamos, Rony! O que está esperando? – apressou-o Gina, sorrindo.
Ronald Abilius Weasley, o auror Weasley. Talvez o membro de maior destaque da família bruxa tradicional mais valorosa da época de terror do Lorde das Trevas, Ronald Weasley seguiu jornada com seu melhor amigo Harry Potter, sendo responsável pela destruição de uma e, dizem, a mais cruel das horcruxes . Durante a Batalha de Hogwarts, o Sr. Weasley foi o primeiro a negar a vitória de Voldemort quando todos achavam que Harry Potter havia morrido.Ronald Weasley também foi um dos responsáveis pela reforma no Departamento de Aurores, sendo autor da ata de proteção aos Nascidos-trouxas enquanto os Comensais da Morte ainda eram caçados, o que garantiu a vida de muitos bruxos. Torcedor do Chudley Cannons, o auror é casado e terá um filho em breve.
Ao terminar de ler, Rony sentiu uma euforia no peito. A alegria de um reconhecimento. Já tivera muito disso, mas estar naquela coleção dava um ar diferente. Ele colecionava as figurinhas de Bruxos e Bruxas famosas desde que se entendia por gente. Nunca imaginaria que um dia estaria ali, nem em seus sonhos. Antes ele era só mais um Weasley. Mas, ali, ele estava sendo tratado como O Weasley. E não era um escudeiro de Harry. Era um amigo de Harry tão grifinório quanto ele. Sorriu em satisfação.
- E, aí, maninho, o que achou? – Perguntou Gina em tom travesso, escondendo o orgulho.
- Eu... – Antes que pudesse dizer algo, sua mãe chorosa lhe afogara em seus braços.
- Que lindo! Meu filhinho! Que orgulho!
- Filhinho, mamãe? Olha só para essa foto! Esse pavão vaidoso estufou tanto o peito que parece ter mais uns 15 centímetros! Como se precisasse ficar mais alto... – retrucou Gina, fingindo indignação.
- Realmente, Rony, tomou poção embelezadora para esse dia? Nem parece você – brincou George, pegando o cartão.
- Talvez seja ego inflado mesmo – disse Harry, rindo do amigo – E quem disse para eles que essa era a horcrux mais cruel?
- Você, Harry! – Gina riu.
- Eu só falei que poderia ser... E o anel de Servolo? Quem vai saber?
- Acho que o “dizem” no texto acaba com essa questão – disse Hermione, ainda querendo dar um beijo em Rony, impedida pela Sra. Weasley.
- Fique quieta, Hermione, agora você é carta inválida para se pronunciar! Que mulher não se derrete ao lembrar que uma horcrux foi cruel porque mexeu maldosamente com os sentimentos de um homem por ela? – cortou Gina, atrevida.
- Dá um tempo, Gina! Não é por causa disso! – retrucou Hermione, escarlate.
- Hum... Talvez seja porque todo mundo aqui sabe que a grande inspiração para essa tal ata também vem da mesma origem... – comentou George, malicioso.
- Oh, sim! Não que o Roniquinho não tivesse bom coração o suficiente para isso, mas a idéia vir tão ligeiro em sua cabeça só tem uma explicação... – continuou Gina.
- Explicação nem um pouco original...
- Uma explicação em forma humana...
- Em forma de mulher...
- De cabelos cheios e olhos cor de mel...
- Que está sentada na minha frente – disse George, finalizando o jogral insinuante, para vergonha de Hermione. Harry e os dois riam descontroladamente.
- Já acabaram? Estão felizes? Que vocês ganham com isso?
- Sua cara de quero-me-esconder-do-mundo! – continuava rindo George – Para que ficar com vergonha? Vocês são dois adultos! Qual o problema em amar?
- Nenhum. Meu problema é ter minha intimidade virando alvo de risadas de vocês três. Isso é falta de respeito, sabiam?
- Sem lições de moral, Hermione. Estamos só brincando. – Gina fechara a cara.
Saindo dos braços de sua mãe, Rony conseguiu falar:
- Acho que esse é o momento mais... Agradável da minha vida.
- Está falando sério, Ronald? – Hermione franzira a testa para ele, decepcionada.
- Eu disse “agradável” no sentido de... – ele tentava se consertar, constrangido – Quero dizer, eu nunca imaginaria isso na minha infância, entende? E agradável quer dizer algo mais calmo... Gostosinho, sem emoções fortes... Ham... Não estou dizendo que foi a melhor coisa do mundo!
- Sei. – disse Hermione, fria, comendo um pedaço do seu sapo.
- Ah, Hermione, por favor! É claro que não é o melhor momento da minha vida! Pelo amor de Deus!
- Não disse que você disse isso, Rony. – Ela ainda estava endurecida, olhando para um ponto qualquer.
Harry e Gina encararam-se com caretas de cansaço e reviraram os olhos para a discussão dos amigos. George conversava com sua esposa, que tentava acalmar o pequeno Fred, que estava agitado querendo o quarto sapo de chocolate. O Sr. Weasley, após perder as esperanças de que conseguiria falar algo para o seu recém-homenageado filho em curto espaço de tempo, ouvia Gui, cuja história tinha a atenção de Fleur também. A Sra Weasley era entretida pelas transformações de Teddy.
Vendo todo mundo ocupado, Rony levantou-se de sua cadeira, pousou as mãos no ombro da esposa e sussurrou em seu ouvido:
- Pode me seguir?
- O que você quer? – ela disse emburrada.
- Hum... ser mais claro.
- Em relação...?
- Ao melhor momento da minha vida.
Ela tremeu em deleite. Se tinha uma coisa que gostava, era quando Rony era tão sincero que mal sabia ele que se tornava romântico. Hermione levantou-se devagar, e se deixou ser conduzida até o jardim.
Ele a fez parar frente a frente. Eles se encararam. Ele tinha um largo sorriso no rosto e ela o olhava desconfiada, sem conseguir segurar o canto da boca, que manifestava divertimento. Rony aproximou-se, pondo uma mão suavemente em seu rosto, e a outra passando por suas costas, deixando-os mais juntos, quase corpo a corpo.
- Rony, me desculpe. Seus irmãos me atazanaram e eu fiquei com estresse acumulado. Eu não tenho o porquê ficar brava com você... – Ela tentara falar, antes que ele a fizesse perder o fôlego.
- Não precisa disso. Com você brava ou não, me deu vontade de lembrar o melhor momento da minha vida. Que foi a primeira vez em que fizemos isso.
E ele a beijou. Um quente e carinhoso beijo apaixonado.
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N/A: Eu sei q, em entrevista, a J.K. disse q a Angelina havia se casado com o George, mas isso foi depois q eu escrevi a fic XD
Eu até poderia mudar o nome da esposa do George, já q a personalidade da Angelina não é o q nós poderíamos chamar de "trabalhada" nos livros, mas, enquanto eu não me convencer de q isso é melhor pq fica mais "verídico", mais "próximo do mundo de J.K. Rowling", ou coisas desse tipo das quais, pelo menos eu, realmente me importo q estejam, mas q nesse caso ainda me parece mto indiferente, vou deixar Joanne msm, q, talvez não seja necessário falar, é uma homenagem à nossa autora =)
Qm sabe qdo ela lançar a Enciclopédia eu mudo de idéia... hehehe XD *a mil anos-luz do lançamento*
Comentários (1)
Amei!!!
2012-11-17