Doce Inimiga
Doce Inimiga
Pontualmente, para desagrado de Hermione, que estava mais do que abatida, Drácula bateu em seu quarto meia hora depois.
- Trouxe-lhe um bonito vestido, Srta. Granger – disse Drácula. Ela ficou espantada ao abrir a porta do seu quarto: uma porque o vestido era tão pomposo quanto o que Sophie usava quando as duas se encontraram pela primeira vez, e duas, porque Drácula nada mais tinha de decrépito. Incrivelmente, ele parecia ter quarenta anos, estava belo, com traços fortes e simpáticos.
- O que foi, Srta. Granger, o vestido a desagrada?
- Bem, confesso que não é o estilo de vestido que costumo usar. – disfarçou. Na verdade, era a aparência de Drácula que muito a agradava.
- Haverá um jantar no mistério, logo após a entrevista. Os outros candidatos estarão lá.
- E Harry...? – perguntou Hermione, mordendo os lábios inferiores.
- Sabe que terá de enfrentá-lo mais dia menos dia. Mas não acho que ele esteja em Londres. A última notícia que soube é a de que foi para Genebra. Não sei exatamente o que ele quis fazer lá, mas espero realmente que ele ainda esteja preso por lá e não volte a tempo. Seria muito desagradável, pois poderia comprometer a campanha dele, e a sua!
- Não se preocupe. Estou preparada para vê-lo. – disse Hermione, para tranqüilizar ninguém mais a não ser si mesma – Tenho mesmo que ir com esse vestido? Não sou acostumada a luxos.
- Você será a rainha! Deve se acostumar. – disse Drácula, impaciente. – Vista-se, Srta. Granger, partiremos daqui a meia hora.
Hermione rezou muito para que não visse Harry no Ministério aquele dia. Apesar de dizer que estava preparada, sabia que ainda não estava pronta para ver seu marido, de quem fugira um dia após sua noite de núpcias, fato ainda muito vívido em sua memória.
Quando ela entrou no Ministério, uma chuva de fotos a cobriu, e milhares de repórteres tentavam, em vão, fazer alguma pergunta.
- A Srta. Granger responderá às perguntas no salão de entrevista! – disse um dos seguranças que guiou Drácula, Hermione e Sophie, recém-chegada de Genebra, para o ante-salão, onde pode respirar e se preparar para a entrevista.
- Notícias de Potter? – Drácula perguntou a Sophie, enquanto Hermione tentava recobrar a tranqüilidade. Escutava a muvuca na sala ao lado, onde os repórteres se acumulavam.
- O desgraçado conseguiu sancionar uma lei de última hora! – disse Mademoiselle Sophie, mostrando os dentes protuberantes durante sua raiva.
- Que lei, como assim? Alguma coisa que nos prejudique? – perguntou Drácula, muito preocupado. Sophie olhava para Drácula com curiosidade e passou uma das mãos no rosto dele. – Fale, Sophie! – disse Drácula, arrancando a mão dela com impaciência.
- Bem... – falou ela, embaraçada, olhando na direção de Hermione – Potter sancionou aquela lei do segundo turno. Até uma semana atrás ele conseguiu mantê-la estagnada na assembléia, mas ontem, fez um escândalo danado. Você sabe que a Assembléia só faz o que ele quer.
- Bem, isso não é de todo mal. Se ele fez sancionar a lei do segundo turno é porque teme perder de Hermione e quer mais tempo. Devemos considerar isso uma vitória. Essa entrevista é tudo o que precisamos para vencer Harry de uma vez por todas.
Hermione ficou mais nervosa ao escutar aquilo. Não era dada a entrevistas. Não era muito eloqüente, bem, não quanto se tratava de política, embora sempre defendesse suas visões com unhas e dentes.
- Não há mais tempo a perder, vamos nos sentar no pódio, e que você consiga responder tudo com elegância. Lembre-se... você será a rainha.
Sophie, Drácula e Hermione se sentaram numa grande mesa que servia como um pódio para os entrevistados, que estavam muito ansiosos. Do lado de Hermione ficou um lugar vago, com o nome de Harry Potter, e na outra extremidade estavam os outros dois candidatos: Victor Braimovich, um homem que parecia bárbaro e mal-humorado e Rudolf Blues, que parecia simpático e cativante.
As perguntas se dirigiram primeiro a Rudolf e Braimovich, como que deixando a atração principal para o final. Depois de mais ou menos meia hora, o show começou:
- Sra. Potter, ou devo dizer, srta. Granger? O que a fez anunciar sua candidatura para Rainha do Mundo contra Harry Potter, depois do seu casamento? Vocês não deveriam estar em lua de mel agora? O que aconteceu com seu marido? O casamento foi desfeito? Sra. Potter, Sra. Potter...?
- Uma pergunta de cada vez, por favor! – disse uma das organizadoras, passando a Hermione a chance de falar.
- Bem, ah... primeiro quero dizer que minha candidatura não é contra Harry Potter. Minha candidatura é para ser rainha do mundo bruxo, onde sinto que posso fazer algumas coisas em prol da harmonia de todas as raças. Quanto a Harry Potter, nosso casamento ainda não foi desfeito, embora eu deva dizer que não estamos juntos no momento...
- O que causou a sua separação? – gritou um repórter histérico, no meio daquela multidão.
- Bem, como disse, não estamos exatamente separados, não judicialmente, ainda não sei o que acontecerá quanto a isso. O que posso dizer é que Harry Potter e eu discordamos em alguns pontos, e por esse motivo resolvei lançar minha própria candidatura. Mas nossa discordância refere-se somente a questões políticas, e não pessoais. – mentiu. Hermione não queria levar a entrevista para o lado pessoal, aproveitando a oportunidade para exprimir suas opiniões e não seu julgamento, principalmente, sobre Harry.
- A senhora não ama seu marido? Não se casou com ele sabendo de suas opiniões políticas, Senhora Potter? – perguntou o mesmo repórter.
- Eu er... acho... bem... acho que é melhor discutirmos outros pontos. Não quero ser injusta para uma pessoa que não está presente para se defender. – disse Hermione, tentando a todo custo evitar falar sobre seu rompimento com Harry.
- QUANTO A ISSO NÃO PRECISA SE PREOCUPAR, SENHORA POTTER, EU JÁ ESTOU PRESENTE!
Hermione ficou pálida, depois vermelha, e por fim voltou a ficar pálida novamente, quando viu Harry Potter surgindo da multidão de repórteres, para se sentar justamente ao seu lado. Ela crispou as mãos e tomou um gole de água, imaginando que estaria estatelada no chão àquela hora se não estivesse sentada.
- Continue, Sra. POTTER, estou curioso para ouvir o que tem a dizer – disse Harry a seu lado, e teve a certeza de que ele não tirava os olhos de cima dela.
Hermione não ousava levantar os olhos para ele e, trêmula, começou:
- A-acho q-que n-não é p-primeira vez que falo minha opinião. Sua brutalidade no tratamento dispensado em certas situações....
- Bem, quanto a isso, sempre me defendi. Sou um auror. Um auror que já viu e já passou por muita coisa para pensar burocraticamente quando está em ação. Infelizmente, nossa sociedade é composta de alguns maus elementos, para não falar de certas raças que insistem em querer se sobressair sobre outras. Se não estou enganado, Sra. Potter, para alguém que tem sentimentos tão nobres com relação à violência, a senhora não deveria se aliar a Centauros, que ultimamente têm se envolvido em diversas rebeliões e com Vampiros, que são uma raça comprovadamente depredatória, matando até trouxas para tomar o seu sangue.
- Bem, senhor Potter – Hermione disse com firmeza. Se não fosse forte agora, ela não teria chances. Não estava preparada, mas precisaria tentar. – Sou uma pessoa que preza pela liberdade e pela harmonia de todas as raças. Acontece que em nossa presente sociedade, umas são subjugadas por outras. Se os elfos tivessem a metade do orgulho que os centauros têm, com certeza seriam considerados “rebeldes”. Em minha opinião, numa sociedade precisa haver liberdade de expressão, justamente, o que os centauros não encontram na nossa. São comumente vítimas de assédios, humilhações e preconceitos. Creio até que essa “rebelião”, como o senhor mesmo coloca, já começou tarde. O senhor, por acaso, se esqueceu de que há mais de dez anos, o próprio líder dos centauros, agora desaparecido por uma questão muito misteriosa e suspeita, foi tratado com uma aspereza injusta da parte de Dolores Umbridge, que na época fazia parte do quadro de funcionários políticos do Ministério?
Hermione não pode deixar de sorrir. Queria ver Harry defer Umbridge. Ela que o torturou por quase um ano inteiro e quase causou a morte de ambos. Harry estava com ela na ocasião. Os dois foram conduzidos até a floresta proibida junto por Umbridge. Não havia como ele negar o comportamento funesto da ex-funcionária do Ministério.
- Não nego que Umbridge foi desastrosa enquanto dirigia Hogwarts. Contudo, ela defendia os interesses do Ministério da Magia, que tinha razões para mantê-la em Hogwarts para a minha própria segurança, esua também, Sra. Potter. – “Hipócrita”, pensou Hermione, como ele pode dizer uma coisa dessas? Mas estupefata ficou mesmo quando escutou o restante – Mas esse capítulo em nossa história só serve para mostrar o quanto os Centauros são uma raça instável, devendo ser mantida longe do convívio dos bons cidadãos bruxos do mundo. Firenze foi gentilmente convidado a lecionar em Hogwarts e a raça centáurica o expulsou de seu meio para, anos mais tarde, condecorá-lo como seu líder. E não posso deixar de falar que Umbridge foi atacada por mais de cinqüenta centauros violentamente, bem na nossa frente, Sra. Potter, você estava lá!
Hermione estava fervendo. Tinha vontade de gritar, enquanto os repórteres pareciam agitados. A briga com Harry estava tão boa que eles nem faziam perguntas.
- Sim, Potter, eu estava lá, você também. E nós vimos como Umbridge tratou a todos os Centauros em seu próprio habitat. Além disso, ela estava tentando nos matar...
- Não posso afirmar uma coisa assim, querida... – disse ele, num tom meloso. – infelizmente, Umbridge não está aqui para se defender. De qualquer forma, você não deve negar que a idéia de guiar a pobre Dolores até os Centauros, onde ela foi brutalmente atacada e enlouquecida, partiu de você. Uma idéia que, na época, considerei VIOLENTA demais para alguém que sempre baniu atos brutais.
Hermione olhou para Harry, que exibia os dentes brilhantes num sorriso irônico. Totalmente passada e descontrolada, Hermione pegou o copo de água nas mãos e despejou seu conteúdo no rosto de Harry, que fechou a cara no mesmo instante.
Os repórteres estouraram em perguntas e flashes, mas ela não podia ouvir nada, poisolhava fixamente para Harry que deixava a água escorrer por seu rosto. Visivelmente irritado, arrancou do bolso um lenço e se secou.
- Como espera ser uma rainha assim? – disse ele. – De todas as pessoas que estão aqui, você é a única que se deixa levar passionalmente por suas emoções de forma tão desagradável e deselegante!
- Bem, Harry Potter, achei que havia se casado comigo por essa razão! – retorquiu Hermione, profundamente magoada. – Não vejo isso como um defeito meu. Não, não é. E não vou mudar, mesmo que seja eleita a rainha, ou me transforme numa diplomata política. Ao invés de fazer joguinhos e estratagemas políticos, eu penso no bem de todos, e não apenas de uma determinada raça. Mas, ao seu ver, isso é um defeito, não é mesmo? É um defeito que eu me deixe levar pela emoção, que eu não goste de brutalidade e violência, mas que tenha de exercer atos brutais quando se trata de defender alguém que amo. Pois bem, meu marido, se levei Umbridge a ser atacada pelos centauros há dez anos, foi porque eu temia pela sua segurança, e porque eu já o amava. Se lutei contra Voldemort na batalha profética, mesmo depois de você ter matado um de nossos fiéis amigos para obter vantagem, é porque eu o amava ainda mais. Se me casei por você, sem querer enxergar aquilo que você realmente é, Harry, é porque meu amor me cegou totalmente... Ainda o amo, mas saiba que agora, meus olhos estão bem abertos...
Hermione se levantou, derrubando sua cadeira, e correu para fora, deixando Harry completamente aturdido.
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