Capítulo único
Hoje está fazendo um lindo dia. Ensolarado e ventilado (-Amem! Já tinha até esquecido o que é vento). Nada melhor para um passeio em família. Rony Weasley, meu marido, sugeriu esse passeio há algumas semanas, mas somente hoje conseguimos tempo, o que foi difícil porque Rony e eu trabalhamos para o Ministério e estamos constantemente ocupados. Minha filha mais velha, July está estudando muito para os NOM’s (é, ela acabou de passar para o 5º ano). Phill, por ter apenas 7 anos, não anda tão ocupado não... Mas enfim, estou bem feliz de temos conseguido esse precioso tempo juntos.
Rony, July e Phill estão brincando com um balão cheio de água, que July enfeitiçou. A todo segundo Phill me olha e acena. É tão bom ver três pessoas que amo sorrindo. Mas hoje não posso negar que não me sinto inteiramente feliz. Pois hoje é dia 31 de julho. Depois de tantos anos, ainda lembro o aniversário dele. Ainda lembro do seu sorriso. Do seu abraço. Dos seus olhos. O seu toque. Da sua voz. Do seu cheiro...
FlashBack
Harry e eu estávamos agachados próximos a uma armadura no corredor do segundo andar em Hogwarts. O castelo estava tomado por gritos. Os Comensais haviam o invadido. Azarações voavam pelos corredores de pedra. Os alunos mais novos eram levados, pelos monitores, para fora do castelo (pelas passagens secretas). Os alunos do 6º e do 7º ano duelavam, assim como os professores. Rony havia se juntado a Gina e Luna (e juntos haviam saído do castelo), enquanto Harry e eu seguimos juntos até o segundo andar. Procurávamos por algum Comensal ou aluno, mas parecia que o segundo andar estava vazio.
Contudo, logo eu superei essa idéia, pois Lucio Malfoy apareceu no corredor, acompanhado por outros três comensais. Logo Harry e eu começamos a duelar com eles. Quando eu fui atingida por uma azaração, fui lançada para longe de Harry. Minha visão estava embaçada, mas vi aquele homem de vestes negras e olhos vermelhos se aproximar.
Antes que eu pudesse fazer ou dizer qualquer coisa, vi a escuridão tomar conta da minha visão. Um dos malditos comensais havia me acertado. Quando acordei, a primeira coisa que vi foi Voldemort atirado no chão a alguns metros de mim. Olhei para o meu lado e vi Harry. Ele estava pálido, mas sorriu para mim.
-Acabou... Ele se foi, finalmente! – sussurrou.
Eu sorrir e passei a minha mão pelo rosto estranhamente pálido de Harry. Ele estava gelado. Meu sorriso se desfez quando meus olhos se desviaram para o abdome dele. A blusa de Harry estava coberta de sangue.
-Oh meu Deus! – exclamei – Você está...
Mas ele me interrompeu pondo seu dedo, também gelado, sobre meus lábios.
-Shhhh – fez ele.
-Mas Harry, você está sangrando muito! – disse-lhe.
-Uhum, eu sei! – disse-me ele com dificuldade dessa vez.
-Você não está só sangrando, você está morrendo!
Eu senti lágrimas subirem por minha garganta e escorrerem por meus olhos.
-Não Mione, não chora! – pediu-me ele.
-Mas...
-Apenas... me beija! – completou Harry.
Eu então, ainda encostada na parede de pedra, selei meus lábios nos dele. Estão frios, mais ainda eram doces e familiares. Lágrimas escorreram pelos olhos dele, que brilhavam como nunca. Eu me afastei um pouco, segurando seu rosto entre minhas mãos.
-Eu te amo! – sussurrei.
-Eu também amo você mais do que qualquer coisa!
-Por favor, não me deixe! – implorei, como se isso fosse escolha dele.
Mas droga, eu o amava. Eu PRECISAVA dele. Eu o queria comigo. Eu não podia perdê-lo. Não podia.
-Eu nunca vou te deixar! Nunca...
Eu encostei minha testa da dele. E deixei mais lágrimas escorrerem dos meus olhos.
-Me escuta agora, está bem? – disse-me ele – Dumbledore mandou que todos saíssem do castelo, pois ele vai ser explodido com os Comensais dentro. Rony e todos os outros já se foram... Só falta você!
-Não Harry, por favor, não!
-Vai minha linda, por favor vai!
-Não, eu não quero! Eu... eu vou tirar você daqui também!
-Não adianta... Eu... eu não vou conseguir Mione!
-Então... me deixe morrer com você, por favor!
-Não Mione... Eu não quero que você morra comigo... Quero que viva... por mim!
Eu não iria conseguir deixá-lo ali. Por mais que ele pedisse e eu tentasse, eu não conseguia.
-Mas Harry, eu não posso!
-Faz isso por mim!
-Mas eu não quero perder você!
-Se você viver, sempre haverá uma parte de mim viva!
Eu ouvi o barulho da explosão em algum andar superior.
-Por favor, saia daqui! – pediu Harry.
Eu encostei meus lábios novamente nos dele.
-Não há mais tempo! – disse-me.
Eu, até hoje não sei como, me levantei e corri em direção a janela. Mas parei. Olhei para ele. Sentado. Apoiado contra a parede. Com uma das mãos sobre o ferimento. Os olhos verdes brilhantes pelas lágrimas. Os cabelos negros molhados de suor.
Eu queria voltar e ficar com ele. Morrer com ele. Ir para onde quer que fosse com ele.
-Vai meu anjo! Salva tua vida! – disse-me ele.
Ainda chorando, eu corri e pulei pela janela mais próxima.
Quando acordei, ouvi a voz de Dumbledore e de Gina. Abri meus olhos e vi Rony segurando minha mão.
-Mione! – exclamou ele – Gina, ela acordou!
-Mione, como você se sente? – perguntou Gina sentando-se ao lado de Rony.
Eu não respondi. Fiquei apenas olhando para ela e lembrando o que havia acontecido. Quando lembrei de cada detalhe daqueles últimos instantes, meu coração se apertou.
-Eu não sei! – respondi a Gina, estranhando minha própria voz, por ser apenas um sussurro rouco.
-Hermione, – disse-me Rony acariciando minha mão – er... Bem, o Harry... – começou ele com os olhos azuis cheios de lágrimas.
Antes que Rony terminasse, eu meneei minha cabeça positivamente e consegui sussurrar – Eu sei!
Ergui meus olhos e achei os olhos azuis de Dumbledore cheios de lágrimas. Logo o diretor se aproximou de mim e bateu em meus ombros e saiu do quarto.
Rony e Gina me abraçaram e começaram a chorar. Choraram por horas. Mas eu não derramei nenhuma lágrima naqueles minutos.
Fim de FlashBack
Até hoje me lembro bem do velório simbólico de Harry (o corpo dele nunca foi encontrado). Todos de preto, choravam. Também lembro dos olhares que recebi das pessoas naquele dia. Todas sussurravam se perguntando por que eu não chorava... Bem, isso nem eu posso responder. Algumas até hoje comentam que eu fui muito fria, mas só Deus e eu (talvez alguns de vocês) sabemos o que eu senti, e ainda sinto ao lembrar do rosto pálido dele me dizendo: “Se você viver, sempre haverá uma parte de mim viva!”.
Outras comentam sobre como eu superei isso e como sou feliz e completa por ter uma linda família e há até aqueles que dizem que consegui substituir aquele amor adolescente (afinal, era apenas um amor adolescente). Mas o que elas não sabem, e nunca saberão, é que minha vida nunca mais foi totalmente feliz e completa desde aquela noite. De que eu nunca superei, e nunca vou superar aquela perda. Porque, por mais que eu ame meus filhos e ame meu marido, Harry sempre estará comigo.
“Eu não quero que você morra comigo... Quero que viva... por mim!”
E foi por ele que eu vivi e é por ele que eu ainda vivo. Porque eu ainda o posso sentir vivo dentro de mim.
E todas as noites, eu o escuto sussurrar no meu ouvido, como o vento que me guia e me trás vida:
-Vai meu anjo! Salva a tua vida!
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