EPÍLOGO
Minerva MacGonagall observou o rapaz moreno atravessar o gramado em direção à escola, vassoura escorada no ombro e andar ligeiro, com um leve aperto no coração. Ele logo entraria pela porta, chamado pela diretora, e o encontro não seria agradável. Sentou-se na bela cadeira dourada, cercada pelos sonolentos retratos, e aguardou, pensando no que tinha a dizer.
Com efeito, logo três batidas ritmadas soaram e, mesmo sem permissão, o jovem entrou em despreocupada animação no aposento.
- Com licença, Senhora! Dobby disse que a senhora estava me chamando...
- Entre e sente-se, Potter.
O sorriso charmoso desapareceu diante do tom sério. Decidindo que uma reservada modéstia seria melhor que seu famoso charme, sentou-se quieto e aguardou o que a diretora tinha a dizer, já prevendo confusão.
- Você pode adivinhar por que o chamei aqui?
O silêncio estudado tornou-se um leve rubor. Ajeitando-se melhor na cadeira, o aluno respondeu baixinho.
- Por causa do meu pequeno passeio a Hogsmead?
- Por causa de sua saída não autorizada desta escola por várias horas, durante a noite. Pelo fato de que para conseguir tal façanha, enganou a dois grandes amigos seus! Bull e Hagrid poderiam estar muito encrencados, se algo realmente grave tivesse lhe acontecido. E principalmente, Potter, por ter-se colocado premeditadamente em perigo, apenas para fugir da rotina.
- Mas senhora, eu pedi desculpas a eles. E me saí bem com o agressor...
As narinas da diretora inflaram-se em fúria e o rapaz tratou de voltar a encarar o chão, rapidamente.
- Pedidos de desculpas sem mudanças de atitudes são só palavras vazias, Potter! E não mudam o fato de que, se não fosse o treinamento que teve em defesas desde muito cedo, você poderia estar morto. E o pior... Levado com você dois alunos mais novos... Um deles seu próprio sangue!
O jovem bagunçou os cabelos espetados, frustrado.
- Eu não convidei a ratinha sonserina para me seguir! – Resmungou.
MacGonagall encostou-se no espaldar da cadeira, buscando controlar-se.
- Ser um ídolo entre os colegas não é só assinar o livro do ano das mocinhas risonhas, Potter. Eles o seguem e o imitam em tudo. Antes de ser privilégio, é uma responsabilidade! E responsabilidade ainda maior para você é a segurança de Helene. Sei que não gosta de comparações e também não gosto de fazê-las, mas com o exemplo que tem em casa achei que daria mais valor a sua segurança, a de sua irmã, primo e seus amigos.
Decididamente envergonhado, Caled James Potter encarou firmemente a ponta dos pés, antes de murmurar.
- Isto quer dizer que vou receber uma detenção? A senhora não vai me tirar do time, vai?
- Eu gosto demais de quadribol para me negar, e à torcida também, de vê-lo em campo, CJ. Na verdade, seu castigo não será ditado por mim...
- Não?...
- Seu pai está vindo para conversar com você. Chegará hoje, pela hora do jantar. Sugiro que se retire para a torre da Grifinória para esperá-lo...
- Meu pai!!!! Mas... Mas, diretora! Veja bem... Ele vai passar pelo véu daqui a alguns dias! Está muito ocupado!
- Mais um motivo para você pesar bem as conseqüências de seus atos, antes de praticá-los. Agora seu pai terá que deixar seu trabalho para vir colocá-lo nos eixos. E eu aviso, Sr. Potter. Será sua última chance! Se voltar a aprontar algo do gênero, terá que se contentar em terminar seus estudos na França, como sua tia tanto gostaria.
- De jeito nenhum! Lá todos falam fazendo bico...
- Estou ciente de sua aversão a esta alternativa, Sr. Potter. Aconselho, ou melhor, ordeno que entre na linha. E isto inclui sua turma toda.
- A senhora não poderia me dar outra opção? Eu posso tratar dos Explosivins de Hagrid por... Sei lá! Meses! Ou limpar os vestiários do campo! Ou descascar batatas para Bull pelo resto da vida!...
- Sua outra opção seria eu chamar seu pai, sua mãe e sua avó, Potter. Você escolhe.
O rapaz engoliu em seco, relembrando os berradores inflamados que as duas ruivas da sua vida costumavam mandar para ele, sempre que armava alguma na escola. Rapidamente, aquiesceu.
- Vou subir e esperar por meu pai, então...
- Faça isso!
A curta caminhada até a porta foi o suficiente para que o espírito aventureiro do neto de James Potter ressurgisse com força total. Girando a maçaneta, preparou o beijo soprado que sempre mandava para a diretora e professoras sorrateiramente, e que elas fingiam não perceber, lisonjeadas.
- Se completar este gesto, CJ, eu mesma o coloco em um trem para Paris.
Disparando um de seus sorrisos mais dissimulados, o filho de Harry Potter deixou a sala. Mal a porta se fechara, uma risada rouca muito conhecida soou atrás da diretora e ela voltou-se para o retrato de Alvo Dumbledore.
- Você não devia incentivá-lo, achando graça, Alvo.
- Ora, minha cara Minerva! Você não pode negar que o rapaz tem estilo!
- O garoto é uma explosiva mistura do poder e talento do pai com a personalidade... Marota do avô! Muito perigoso para seu próprio bem!
- Com efeito! E fisicamente é ainda mais parecido com James do que Harry o foi. Mas se não estou enganado, Minerva, você está mais preocupada do que o habitual, no caso de uma visita secreta a Hogsmead. Isto não é uma novidade, ainda mais em se tratando da família Potter! O que está acontecendo?
MacGonagall deixou os ombros caírem, em uma atitude nada comum a ela.
- Oficialmente? Nada. Mas houve recentemente dois bruxos misteriosamente desaparecidos, não se sabendo se apenas viajaram sem avisar ou... A Travessa do Tranco voltou a movimentar-se, depois de anos vazia e o filho de Harry Potter é atacado praticamente nos portões da Hogwarts! Não consegui achar nada que ligue os acontecimentos definitivamente, mas... Está tudo muito parecido com outras épocas.
- Voldemort está morto há muitos anos, Minerva.
- Não é ele a minha preocupação. Você sabe de quem estou falando...
Dumbledore arrumou os óculos sobre o nariz torto, os olhos azuis mais preocupados.
- O que Harry diz de tudo isso?
- Ele achou melhor conversarmos pessoalmente, hoje à noite.
- E Rufus?
- Acha que estou exagerando. – Afirmou, fria.
- Entendo... Bem, meu conselho é que, por hora, as únicas coisas que pode fazer são manter o menino e a irmã sob discreta vigilância e confiar em Harry Potter. Ele saberá o como agir.
- Podemos rezar também... – Afirmou surdamente Minerva MacGonagall, olhando absorta para os jardins do castelo e mais ao longe para a silhueta da Floresta Proibida. – Desejar com todas as nossas forças que este menino não tenha que lutar pela sobrevivência como o pai o fez. Que passe pela vida sem ter de olhar por sobre o ombro, todo o tempo, preocupado com sua segurança e a dos seus. Que os dois não tenham que conhecer tão cedo toda a maldade que Harry conheceu. Desejar com toda a nossa fé, que os filhos de Harry Potter possam passar pela vida sem carregar o peso, físico e emocional, de uma marca como aquela cicatriz...
Mas essa... Essa é uma outra história!
FIM.
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