≈. Apenas um aviso.
Depois do treino de quadribol, debaixo da forte chuva que caía em Hogwarts, uma garota saltava alegremente as poças que se formava no campo. De capa amarelona e gorrinho de pingente engraçado, ela incentivava a equipe, levantando a vassoura como se fosse um troféu.
- Nós vamos ganhar a taça, nem que a vaca tussa! - gritou Mia para o time da Lufa-Lufa não tão entusiasmado.
- Acho que você esqueceu quem é o capitão aqui - disse o garoto alto e moreno que estava com Alexy no dia do baile e parecia bem afetado. - Será que você poderia deixar de ser tão pirralha?
- Oooh, o meu digníssimo irmão de idade avançada! O único e venerado rei capitão! - debochou ela com sarcasmo. - Muito bem, Lucas, se você me acha uma pirralha irritante, pode me expulsar da equipe.
Mia parou e o fitou com um olhar malicioso, desafiando o irmão a realmente expulsá-la. Sabia que ele não faria isso, porque ela era a melhor artilheira da equipe. Lucas murmurou um "deixa-pra-lá" quase inaudível. Ela sorriu triunfante e voltou a se reunir com os colegas do time.
Mia estava muito diferente depois que passara a conviver diariamente com Vallery e as outras, observou ele, enquanto ela fingia capturar um pomo no ar mais á frente.
Lucas foi contra quando a irmã decidiu ser uma Venom, isso poucos meses depois da misteriosa morte de Sabrina, que era sua namorada e também era uma delas.
Ele estremeceu ao pensar em Sabrina. Talvez fosse um erro gostar tanto de Vallery, pois elas tinham sido amigas durante muito tempo. O que ele sentia por Vallery era segredo, não por medo ou por ela ser a líder das Venom, mas sim ao pensar que talvez ela achasse que estava traindo a memória de Sabrina se eles ficassem juntos.
Mal sabia que naquele momento, Vallery estava pensando a mesma coisa que ele.
Por mais que Draco fingisse que estava tudo bem, não conseguia deixar de sentir falta de Amanda. Por mais que tentasse esquecê-la, seus pensamentos sempre se focavam naquela garota bonita e arrogante que ele tanto amava e tanto odiava.
Fazia uma tarde ensolarada quando Draco decidiu ir até o corujal despachar uma carta para os seus pais. Escolheu uma coruja gorda e cinzenta que se recusava terminantemente a deixá-lo amarrar a carta. Nem notou que havia mais alguém ali.
- Oi, Draco.
Aquela voz calma e suave fez os pêlos da nuca dele se arrepiarem. Sentada em uma das janelas sem vidros, de costas para ele, estava Amanda, o observando através de um espelho nas mãos.
Draco sentiu um repentino abalo no estômago. Parando de lutar com a coruja, deixando cair o pergaminho acidentalmente. Olhou para o espelho, mas ela o guardou depressa.
- A vista é bem bonita daqui - continuou ela, bloqueando a luz do sol com a mão. -, e tem uns cavalos bem estranhos na floresta. O lago também fica com um brilho incrível visto daqui de cima - comentou ela, como se nada de diferente estivese acontecendo.
Draco ficou sem fala; queria sair dali o mais rápido possível, mas também queria observando os cabelos loiros dela balançarem ao vento, o que estava deixando-o estranhamente embriagado.
De repente, se lembrou que estava em um corujal e que nem falava mais com Amanda depois do que ela fizera.
- Draco... - disse ela em tom de urgência, mudando completamente de assunto, ainda sem se virar para ele. - Por favor, me desculpe por ter tratado você daquele jeito... eu estava nervosa, de cabeça quente... - ela baixou a voz. - ...não posso mais fingir que eu não ligo por estar a duas semanas sem falar com você, nem sei se aguento mais um dia...
- Você mentiu pra mim.
As palavras saíram sem que ele pudesse se conter. Ela se virou e ele percebeu uma ponta de culpa nos olhos claros dela.
- Não diz isso... tem coisas que eu prefiro não contar pra você... bem, porque são problemas inteiramente meus, ninguém pode me ajudar, nem se tentassem... - Amanda parecia bem angustiada, uma angústia que atingia ele sem perceber. - Mia me disse uma vez que é melhor uma mentira sincera do que uma verdade que machuca...
- Pensei que você confiasse em mim, então não teria que mentir - retrucou ele, tentando colocar o máximo possível de indiferença na voz.
- Confio... mais do que em qualquer outra pessoa.
- Eu queria saber o que uma bruxa como você foi fazer na Borgin & Burkes.
Ela corou e se virou de costas para ele novamente, fitando as copas das árvores da floresta proibida.
- Não posso contar, Draco... - Amanda não conseguia encará-lo, era mais que uma tortura. - ...porque... porque aí você saberia de tudo...
Ela fechou os olhos. O que Draco diria se soubese de toda a verdade? Continuaria a gostar dela ou daria as costas, a considerando a assassina de seus pais, fria e calculista, como todo mundo?
- Por favor, não me pergunte mais nada... - acrescentou, se encostando na lateral da janela e escorregando um pouco pra baixo, olhando para o chão naquela altura toda da torre. - Só me perdoa, senão não vale a pena viver...
Draco sentiu um arrepio, um mau pressentimento. Ela não estava brincando. Mas seu ciúme foi mais forte.
- Você ficou com o Potter.
De novo, ele falou antes de pensar. Dessa vez foi a vez dele de se sentir culpado.
- Isso é passado, Draco! - Amanda gritou nervosamente, sentindo que escorregava lentamente do peitoril da janela. - Eu sei que vocês se odeiam, mas eu não gosto do Harry! Isso é passado!
Ela o encarou visivelmente magoada. Draco não falou mais nada.
- Vamos acabar com isso então. De uma vez por todas, você vai me perdoar?
Ele continuou em silêncio. Queria dizer que sim, que perdoava ela por tudo. Se Amanda tinha deixado seu orgulho de lado, por que ele não poderia fazer o mesmo?
Quando chegou mais perto dela, percebeu um pouco de nervosismo e expectativa que ele respondesse o que ela não queria ouvir.
- Bem, se essa é a sua decisão, Draco...
O coração dele parou subitamente e ele se sentiu como se aquilo fosse o fim. Amanda olhou para baixo com determinação, como se estivesse vendo algo além da imensa altura em que ela se encontrava e pulou da janela da torre em uma fração de segundo.
- Amanda!
Draco se atirou atrás dela, em vão. A claridade ofuscante o cegava e ele teve dificuldade para ver que ela ainda se equilibrava precariamente em uma das pequenas janelas enferrujadas abaixo do corujal, não demonstrando que precisava de ajuda ou sequer se importando que estava a um fio de cair da torre.
- Essa é a sua última chance! - gritou ela, estendendo a mão para que ele segurasse. - Se você me ajudar a subir de volta é porque você me perdoa, e se não quiser me ajudar eu pulo daqui mesmo! Não, você não tem outra alternativa! - acrescentou ela o ver o olhar de espanto dele, que não era por causa das escolhas, e sim porque Amanda não demonstrava medo algum de estar quase caindo de uma altura de mais de vinte metros.
Com muito esforço Draco segurou a mão dela e a ajudou a subir. Amanda desceu da janela para o chão sujo e empoeirado do corujal e o fitou demoradamente.
- Você é... louca??? - ofegou ele, que estava pálido e tinha no rosto uma expressão intensamente chocada.
- Você ainda pergunta? - retrucou Amanda em resposta, se apoiando na janela e olhando para baixo. - Nossa, é bem alto, temos que fazer isso mais vezes!
Draco parou, boquiaberto. Nunca conhecera uma garota como ela. Podia estar triste e deprimida e um minuto depois estava rindo, como se nada tivesse acontecido. Agora ela sorria um pouco corada, talvez se dando conta do que acabara de fazer.
- Você... você... - gaguejou ele, quase a ponto de gritar "será que não está vendo que você acabou de tentar se matar?"
- Não achou realmente que eu ia pular, né? Bem, eu poderia até pular porque eu já sobrevivi a coisas bem piores - ela sorriu calmamente, como se estivesse contando a ele como foi o fim-de-semana. - Ei, esquece isso, agora está tudo bem, não está?
Draco sorriu, contrariado. Estava de frente a uma louca suicida bipolar e isso parecia normal demais. Ele bateu a mão na testa, aceitando que mais uma vez ela vencera.
- Fiquei sabendo que você explodiu os vidros de poção na cara de todo mundo na aula do Slughorn - disse ele descontraído. - Tenho orgulho de você.
- Tenho certeza que você faria melhor - rebateu ela, animada, pulando nas costas dele e bagunçando seu cabelo. - Agora, que tal levar a sua namorada pra tomar cerveja amanteigada com você?
A porta do quarto de Vallery se abriu repentinamente e Amanda entrou, se jogando na cama, despreocupada, e com uma expressão bem alegre. Vallery estava sentada no chão, rodeada por vários pergaminhos, vidros de tinta e penas.
- Parece que você e o Draco voltaram a se falar - disse Vallery com um sorriso, olhando seu pergaminho contra a luz e voltando a escrever. - Pensei que você tinha se esquecido da gente, faz um tempão que eu não te vejo.
- Arranjei detenções pro resto da vida, e estava meio sem tempo pra nada - Amanda se aproximou da beirada da cama. Teve que arrumar todo o armário de poções de Slughorn em ordem alfabética como detenção e agora estava cansada demais pra se levantar.
- Eu tenho tempo pra tudo, na verdade não tenho nada pra fazer - retrucou a outra, agora tingindo de vermelho os coraçõezinhos do caderno.
- Você, Val? - Amanda sorriu, apoiando as mãos no queixo. - Pensei que ser Vallery Stevens já era um tipo de tarefa.
- É chato, isso sim. Eu bem que queria ter uma detenção pra acabar com o tédio - disse ela sonhadoramente. - Bem vinda ao inferno de ser igual a todo mundo.
Amanda riu voltou sua atenção para a garota de cabelos laranja-vivo que lia perto da janela.
- Oi, Nat!
A garota ergueu o polegar em resposta e em seguida desapareceu por trás do livro. Amanda se virou para Vallery, aparentemente confusa.
- Ela não fala mais nada? - perguntou, apontando para a ruiva. Vallery lançou-lhe um olhar que poderia ser triste ou entediado.
- Nadinha, já faz um mês. Fez voto de silêncio, ou coisa assim, e só vai voltar a falar quando uma das suas visões se mostrar verdadeira. - Vallery enrolou a pena nos cabelos coloridos distraidamente. - É bem estranho, normalmente ela falava até demais. A avó dela não foi uma vidente famosa, eu acho que ela tem medo de ser assim desde aquela visão que teve da floresta proibida, lembra? Não sei não... - acrescentou, corrigindo uma palavra do pergaminho com a varinha. - Talvez ela fique assim pra sempre.
Amanda olhou demoradamente para Natalie. Mesmo ela estando ali, era como se não estivesse.
- Ah, e... Alexy? Er, que dizer... tá tudo bem entre vocês...? - perguntou Amanda, lembrando que as duas não se falavam desde o dia do baile, em que Vallery dera um tapa memorável em Alexy por ela ter dado uísque de fogo para Mia.
A porta se escancarou e uma garota de longos cabelos loiros e ondulados entrou, sem fazer barulho ou objeção de que tinha alguém no quarto. Alexy colocou a mochila em cima da cama coberta por lençóis cor-de-rosa e saiu sem ao menos dizer "oi".
- Isso responde a sua pergunta? - retrucou Vallery, fitando inexpressivamente a porta. - Acho que agora é definitivo. O difícil é pensar que nós fomos amigas de infância, mas se ela não mudar... sabe, ninguém muda de uma hora pra outra. Ela vai sempre ser a mesma criança mimada de sempre.
Ela guardou o material desordenadamente na mochila, e duas vezes Amanda a viu olhar sorrateiramente para a foto em sima da mesinha, em que ela e Sabrina estavam juntas.
- Isso serve de aviso pra você também, Mandy - murmurou ela com uma expressão indecifrável, encarando Amanda com seus olhos cor de violeta. - Draco não mudou o que é e nem mudará por causa de você. Espero que você seja puro-sangue, pro seu próprio bem.
Hermione e Gina andavam muito ocupadas desde que decidiram investigar sobre a vida de Amanda. Hermione era vista com frequência na biblioteca, dia e noite, carregando uma quantidade ainda maior de livros do que o normal.
Harry, Gina e Rony esperavam impacientes ela aparecer, sentados na mesa do salão principal.
- Tá atrasada! - reclamou Rony, puxando uma cadeira.
Hermione lançou-lhe um olhar de censura e sentou-se ao lado de Gina. Todos a encaravam, curiosos.
- E então, achou alguma coisa? - perguntou Harry baixinho, embora com todo o barulho das mesas fosse impossível ouvi-lo mesmo que gritasse.
- Descobri algo, sim, mas não tenho provas de que esteja ligado com a Amanda - ela fez uma pausa, um pouco nervosa. - É sobre uma mulher na França que ganhou a Ordem de Merlin, Primeira Classe, por ter descoberto o que estava causando algumas estranhas e misteriosas mortes em... Paris, acho. O nome dela é Kate Hartwell.
- Acha que possa ser da família da Amanda? - replicou Gina enfaticamente. - Acho que não.
- Hartwell não é um sobrenome muito comum - retrucou Rony com cara de quem sabe das coisas. - E se essa tal Kate é francesa, então...
- Então? - rebateu Gina.
- Vocês nunca perceberam que a Amanda tem um pouco de sotaque francês?
Todos sacudiram a cabeça negativamente ao mesmo tempo.
- Mas ainda sim eu concordo com o Rony - disse Hermione séria, procurando algo incessantemente na mochila. - Acho que elas têm alguma ligação, não só pelo sobrenome.
- Como você tem tanta certeza assim? - perguntou Harry erguendo a sobrancelha.
Hermione sorriu teatralmente; era a pergunta que estava esperando. Tirou da mochila um pedaço de papel amassado e desdobrou-o rapidamente. Era um recorte de jornal, datado de quatro anos atrás.
- Resolvi procurar nos jornais mais antigos primeiro - explicou ela.
A manchete estava na seção de notícias internacionais.
Havia uma pequena fotografia ao lado, que deixou Harry intrigado. Nela havia uma mulher jovem, cercada por flashes de fotógrafos, visivelmente incomodada. E era idêntica a Amanda.
- E aí? - quis saber Hermione.
Harry não respondeu imediatamente. Os cabelos loiros da mulher era tão longos que não dava para saber onde terminavam. As feições do rosto eram totalmente familiares. A fotografia era em preto e branco, mas Harry conseguiu imaginar exatamente qual seria a cor dos olhos dela: ofuscantemente azuis como os de Amanda.
Ele olhou para o lado e viu que Gina observava a reação dele, em silêncio. Ela corou ligeiramente quando seus olhos se encontraram e tirou o recorte das mãos de Hermione.
O jornal dizia o seguinte:
Desvendado o mistério das mortes em Paris.
Nesta noite, foi dada a Ordem de Merlin, Primeira Classe, a Kate (Katherinne) Hartwell, 30 anos, por ter descoberto a causa da morte de seis bruxos e trouxas em Paris.
As misteriosas mortes foram causadas por um bonito anel de diamantes amaldiçoado. As vítimas morriam instantaneamente, e não se sabe de onde o anel veio.
" Foi quase uma coincidência ", disse Kate ao correspondente do Profeta Diário na França. " Acabei comprando a jóia sem saber, e como sempre verifico se há alguma magia oculta antes de colocá-la em exposição em minha loja, descobri que algo estava errado e selei a magia antes que fosse tarde demais".
O Ministério da agia da França não quis comentar sobre o incidente.
- Só achei isso, por enquanto - murmurou Hermione, tornando a guardar o papel na mochila. - E já sei por onde começar.
De repente, houve um barulho e todos se viraram para trás. Luna vinha correnmdo rapidamente por entre as mesas e parou entre eles, ofegante.
- Ficaram sabendo?
- Do quê? - perguntaram todos em uníssono.
- Invadiram a sala do professor Slughorn ontem á noite - respondeu ela, radiante por ser a primeira a dar a notícia. - Acho que queriam roubar alguma coisa, mas a única coisa que conseguiram foi destruir a sala, e ninguém faz a mínima idéia de quem foi que fez isso.
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