≈. A pedra.
Amanda sentou-se em um sofá de frente para a lareira, observando o fogo que já se tornava cinzas. Fechou os olhos. Ainda estava tentada a procurar a tal loja Borgin & Burkes, mas não sabia como conseguiria encontrá-la. Faria o possível para descobrir mais sobre o próprio passado e sentia que todas as resposatam estariam ali. Ela olhou para o relógio, disposta a dormir ali mesmo, se Harry não aparecesse.
Sentiu um movimento ao seu lado e se levantou, aliviada.
- Harry, por que demorou...?
Amanda parou de falar repentinamente e seu coração parou por um instante. Uma garota ruiva apontava a varinha para ela em silêncio, de um modo ameaçador.
- Gina?
- Amanda?
Gina demonstrou surpresa, mas não se abalou. Amanda não era a pessoa que imaginava encontrar ali, usando um vestido de festa e fitando-a atordoada.
- Então é você... - disse ela asperamente, estreitando os olhos. - Não entendo...
Amanda recuou um passo. Sentiu raiva de Harry; ele não tinha nem esperado eles conversarem e havia contado tudo para Gina. Subitamente percebeu que estava sem sua varinha, mas isso não seria um problema.
- Então acabou sabendo de tudo - falou Amanda encarando-a. - Pelo visto Harry não te contou que era eu quem estava com ele naquela noite.... só descobriu agora?
- Foi - disse Gina se irritando com o tom calmo e sarcástico dela. - E também não descobri só isso...
Amanda não se alterou. Olhava de gina para a varinha que ela segurava. Se ela atacasse, teria que agir.
- Descobriu o quê? Que eu coloquei poção do sono no seu suco de abóbora? - zombou ela.
- Também. Sei que você planejou tudo... mas tinha uma falha no seu plano - retrucou a outra com um olhar desafiador. - Tão inteligente, mas tão óbvio...
Amanda franziu a testa. Se encostou na parede e ficou observando Gina em silêncio.
- ...poção do amor, não é?
- Claro - respondeu Amanda com simplicidade. - Demorou quanto tempo pra perceber?
- Logo que ele me disse que achou que você era eu - explicou Gina com um misto de orgulho e raiva ao mesmo tempo. - E você deve se lembrar que as poções do amor tem um aroma diferente para cada pessoa, ou seja, o cheiro que mais nos atrai.
- É, ele perguntou se eu estava usando o seu perfume - retrucou ela olhando para longe. - Garota de sorte que você é, ele gosta mesmo de você - continuou Amanda, fingindo interesse pelas próprias unhas.
Gina achou estranho o comportamento calmo dela, mas não deixou transparecer nenhuma reação.
- Eu só queria brincar - disse Amanda num tom monótono. - Ganhei um frasco de poção, queria ver se funcionava e escolhi o Harry. Eu não quero seu namorado, ele é todo seu - concluiu ela.
- Foi um erro ter usado poção do amor, não funciona com ele. Eu mesma tentei, no terceiro ano. Mas não importa agora, não é?
- Não importa mesmo, estou morrendo de sono.
E ignorando a varinha que Gina apontava para ela, Amanda foi em sua direção. Gina a impediu de i embora, segurando-a com força pelo braço. Por longos segundos, olhos azuis e castanhos se encontraram com raiva.
- Onde você pensa que vai? - disse Gina ameaçadoramente, com a varinha apontada para ela. - Você realmente achou que depois de uma explicação idiota, eu perdoaria você? Depois de enfeitiçar o meu namorado só pra se divertir, você ficaria numa boa?
Amanda a avaliou rapidamente; conhecia o talento de Gina nos duelos e não considerava a diferença de idade entre as duas. desviou o olhar dela, tentando ganhar tempo.
- Primeiro, eu não pedi pra você me perdoar - respondeu Amanda com o jeito inocente que só ela sabia fazer. - E depois, não quero te machucar, então prefiro não brigar com você, já me meti em encrencas demais.
Gina soltou uma risada debochada e a fitou curiosamente.
- E o que é que você vai fazer? - Gina jogou os longos cabelos ruivos para trás, desafiando-a com o olhar. - Não tenho medo de você e sou muito diferente da Hermione, e veja só o que ela fez com você! - disse ela teatralmente, apontando com a varinha para o corte avermelhado que o vestido de Amanda não escondia.
- Eu me controlei demais com ela - Amanda passou a mão no corte e balançou a cabeça lentamente, se lembrando daquele dia. - Talvez o mesmo não aconteça com você, e eu ainda estou sem a minha varinha.
Ela tomou uma pequena distância de Gina para mostar que estava falando a verdade. Gina continuou do jeito que estava.
- Viu? Desarmada. E olha só, pirralha, é melhor você ir pra cama, já é tarde, minha mãe sempre falava isso quando eu era pequena... - Amanda zombou dela, coçando distraidamente a cabeça. - ...EI!
Ela se desviou por centímetros de um lanpejo azulado que saiu da varinha de Gina e passou de raspão no seu ombro, ricocheteando em um quadro atrás dela. Amanda a olhou, surpresa com a força de Gina.
- Vou te mostrar que não sou nenhuma criança - falou Gina enfurecida. - Da próxima vez quando eu te acertar...
Amanda parou por alguns instantes, depois avançou devagar, contornando-a, enquanto Gina a seguia com os olhos semicerrados.
- Falsa, vadia... - continuou Gina, sem tirar os olhos dela. - Sua mãe deve ser uma vaca igual a você.
Um lampejo prateado perspassou nos olhos de Amanda. Num acesso de raiva, ela imobilizou Gina, prendendo os braços dela para trás e jogando a varinha dela no chão.
- Não fala da minha mãe! - esbravejou Amanda com um tom de voz que não combinava com ela. - Ela me ensinou muita coisa, inclusive...
Com um gesto rápido, Amanda tirou a lâmina de barbear que usava como brinco e aproximou perigosamente do pescoço de Gina, que lutava para se soltar.
- ...matar alguém sem deixar pistas.
Ela segurou Gina com mais força, um sorriso cruel se descatava em seu rosto. Gina soltou um grito de dor quando a lâmina a cortou. Sentiu as gotas de sangue escorrerem até sua garganta. Amanda teve um sobressalto ao ver aquilo.
Largou as mãos dela repentinamente, uma onda de terror a invadiu. Gina se afastou dela, esfregando o pescoço e olhando-a horrorizada.
Por um longo tempo reinou o silêncio na sala mal iluminada, interrompido pela respiração ofegante de Gina e o tilintar da lâmina ao cair no chão.
- Gina, me desculpe, eu...
- Você ia me matar? Garota, o que que você é?
Amanda se sentiu enjoada e caiu de joelhos no chão. Gina recuou ainda mais, não acreditando no que acabara de acontecer. Amanda tremia mais do que ela. Ergueu os olhos para Gina e percebeu que ela havia recuperado a varinha mas não a ameaçava, fitando-a paralisada pelo choque.
Ela fechou os olhos. Desde quando era assim tão fria a ponto de quase matar uma pessoa por vingança? Vasculhou a própria mente à procura de lembranças, mas não encontrou nada a respeito de aprender uma coisa dessas com sua mãe.
Quem sou eu? O que sou eu? Ela sempre fazia essas perguntas para si mesma, apesar de ter todas as respostas. Rony também sabe. Ele vai contar...
Mas dessa vez era diferente. Era como se já tivesse feito aquilo antes... não fora sua mãe que lhe ensinara a matar, e sim seu pai. Sentia isso. Mas que é ele? Por que ele foi apagado da minha memória como se não existisse?
Uma lágrima tão salgada quanto o arrependimento que ela sentia escorreu e caiu entre o corte em seu peito. Amanda não se importou com a dor.
Doía muito mais saber que estava sozinha. Que não havia ninguém ali que se importava com ela.
Assassina, assim como a sua mãe lhe dizia todas as noites em seus sonhos. E talvez ela fosse mesmo.
Quando abriu os olhos, Gina não estava mais lá.
- Gina, pensei que...
- Psiu!
Ela entrou no quarto de Harry e olhou para os lados. Passou por ele e sentou-se de pernas cruzadas na cama, o fitando em silêncio.
- ...não vinha mais - terminou ele.
- Lumus - murmurou Gina em voz baixa.
O quarto escuro foi iluminado por uma luz fraca e então Harry percebeu um pequeno corte no pescoço dela.
- O que foi isso? - perguntou ele impaciente.
Gina respirou fundo e contou o que acontecera com todos os detalhes. Depois de uma longa explicação, interrompida por Harry várias vezes, eles ficaram em um quase silêncio, cortado pelos roncos de Rony na cama ao lado.
- Poção do amor? E depois ela tentou matar você? - mente dele parecia um caos aéreo.
- É - respondeu ela nervosamente, quando Rony se virou e deu um ronco particularmente alto. - Ou ela tentou me matar ou estava fazendo uma brincadeira de gosto muito duvidoso.
Harry parou por alguns instantes, pensativo. Gina tinha um talento incrível para adivinhar o que ele estava pensando.
- Não vou contar isso a mais ninguém, quero resolver isso sozinha - disse ela seriamente. - Quero saber de que lugar ela veio, por que chegou aqui na metade do ano e por que está agindo desse jeito.
Harry concordou. Ajudaria no que fosse preciso. De repente a expressão séria de Gina se transformou em um sorriso constrangido.
- E me desculpa por ter desconfiado de você?
Ele não conseguiu pensar em nenhuma resposta, mas era óbvio. Gina estava ligeiramente corada, o que a fazia parecer ainda mais bonita. Num impulso, ele se proximou dela e a beijou, sentindo o seu perfume inconfundível. Harry não pôde imaginar como tinha passado tanto tempo sem a realidade dos lábios dela nos seus. E sabia que quando voltasse a olhar para ela, seria a mesma Gina que ele conhecia como ninguém, e isso nenhum feitiço poderia mudar.
Harry levantou mais cedo do que de costume e Gina foi embora antes que Rony acordasse. Sentia-se feliz por ter feito as pazes com ela e ansioso pela próxima vez que veria Amanda. Não tinha como ela convencê-lo que não havia feito nada por mal. No entanto, ele não a encontrou na aula de Herbologia nem na seguinte, de Transfiguração. Não conseguia se concentrar, o tempo todo se perguntando como deixara Amanda o enganar tão fácil.
Ele parou perto de uma sala onde uma menina recitava com voz esganiçada o trecho de algum livro. Lutando contra uma súbita dor de cabeça, ele levantou os olhos para a frente e viu uma mesa além da porta entreaberta á sua esquerda. Uma pequena caixa em cima da mesa exibia um estranho brilho esverdeado e ofuscante e Harry sentiu um repentino impulso de ver o que estava lá dentro. Seu cérebro se recusava a funcionar. Se aproximou lentamente e abriu a porta um pouco mais. A caixa de madeira tinha estranhos símbolos que brilhavam desenhados em sua superfície. Ele abriu o fecho que a predia.
Imediatamente o brilho cessou. Dentro da caixa havia uma deslumbrante esmeralda em formato oval que faiscava na luz do sol. Os mesmos símbolos da caixa estavam incrustados na pedra e uma fina rachadura a cortava horizontalmente. Ele se abaixou para pegá-la com uma onda crescente de euforia.
- NÃO TOQUE NISSO!
Harry deu um passo para trás ao ouvir o grito, alarmado. O professor Slughorn saiu do fundo da sala, carregando uma caixa de abacaxis cristalizados em uma mão e uma toalha na outra. Parecia tragicamente amedrontado.
- Harry o que deu em você? Por Merlin, logo hoje eu fui esquecer isso aqui! - disse ele nervosamente, fechando a caixinha de madeira, que imediatamente voltou a ser iluminada por aquele estranho brilho verde.
- Desculpe, professor, foi sem querer, eu... mas por que eu não posso tocar nessa esmeralda? Qual é o problema, é só uma pedra, não é? - perguntou Harry curiosamente. Poderia ser algo de magia das trevas, pois ele fora atraído até ali pela pedra, mas então o que estaria fazendo na mesa de Slughorn?
- Enquanto Snape não conseguir selar isso, não posso mantê-la aqui... - murmurou ele sem ouvir Harry.
- Professor, o que acontece quando alguém toca nessa pedra? - ele repetiu.
- Morre - respondeu Slughorn com simplicidade, sentando-se na cadeira e alisando os bigodes. - Pode ter matado dezenas de pessoas antes de chegar até aqui, por isso dizem que é amaldiçoada.
- Mas o que é essa esmeralda, afinal? - indagou ele com um repentino interesse, ignorando que a poucos minutos atrás talvez ele passasse a fazer parte daquela estatística.
- Pedra das Almas, ou o único método para se proteger das Maldições Imperdoáveis - respoendeu ele com um pouco de desconfiança. - Mas não protege por mais de três vezes, e também só pode ser usada pelo seu legítimo dono, ou seja, a única pessoa que pode usá-la sem sofrer as consequências.
Ele abriu a caixa e Harry vislumbrou a esmeralda faiscante. Mais uma vez, ele sentiu a súbita vontade de ter a pedra nas mãos.
- Essa já foi usada uma vez - continuou Slughorn indicando a rachadura horizontal na pedra. - Coisa rara, porque ela pode ter tido vários donos.
- E o que aconteceu com o dono dela? - a curiosidade de Harry aumentou ainda mais.
- Deve estar morto, provavelmente - respondeu ele sem emoção. - Essa esmeralda pode ter passado por várias gerações, pode ter sido roubada do seu dono por alguém que sabia do seu poder mas não conseguia usá-la, o caso é que essa veio para nas minhas mãos há um ano atrás.
- Como ela pode ter vários donos, - Harry imaginou que pessoas sortuda poderia possuir aquela pedra. - se ela mata quem toca nela?
- Porque depois de algum tempo a sua magia muda, como se ela se moldasse para o seu novo dono. Se o antigo reaparecer, ele pode ser vítima da sua nova magia. Mas nada realmente comprovado, pois só existem duas dela no mundo, e as duas estão comigo aqui.
Slughorn tirou da estante uma caixa idêntica a que estava na mesa, mas que não possuía o mesmo brilho verde. Ele abriu a caixa e ali havia outra esmeralda, muito mais opaca; três rachaduras cortavam sua superfície.
Harry se pegou pensando no que faria se tivesse o poder daquelas duas pedras.
- E o que ela faz além de proteger das Maldições Imperdoáveis? - perguntou ele mantendo o máximo controle na voz.
- Ela pode mudar tragicamente o seu comportamento e o seu caráter - disse Slughorn calmamente, se levantando e caminhando pela sala. Ele parou e fez um gesto largo em direção é porta. - Espero que essa conversa fique só entre nós - continuou ele, dando tapinhas amigáveis no ombro de Harry. - Além do mais, a maioria dos poderes da Pedra das Almas é pura lenda, não acho quem acredite que essa esmeralda possa realmente reviver uma pessoa.
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