Capítulo Único



Travava-se a Grande Batalha e George Weasley tinha acabado de atordoar um Devorador da Morte particularmente insistente, quando verificou que estava sozinho no corredor e que só ouvia barulhos de calorosas batalhas alguns corredores adiante.

Foi ao olhar para os lados que sentiu um arrepio, e enquanto iniciou a sua caminhada em busca de companheiros, lançou um olhar fugidio ao pátio à sua esquerda. Não corria uma brisa. Mas George sentiu o arrepio intensificar-se e prolongar-se até ás pontas dos dedos, eriçando cada pêlo ruivo do seu corpo. E finalmente compreendeu. Precisava do seu irmão. Aliás, pensou, precisava de todos os seus irmãos… Mas naquele e na maior parte dos momentos, de Fred em especial. Ele, que era o seu casaco quando tinha arrepios, o seu conforto. Fred completava-o. Muitas vezes, quando reflectia sobre isso, chegava à conclusão que “irmandade”, por si só uma palavra forte e tão especial, parecia superficial para descrever o que partilhavam. Desde sempre que George se lembrava de ter o irmão do seu lado. Achava ridícula até a simples ideia de se separar dele, por qualquer motivo. Quando temos aquilo que precisamos, deixamos escapar? Para quê estar longe dele se era precisamente do seu lado que o riso se soltava com mais facilidade e gosto? Para quê, se as ideias fluíam muito mais rapidamente…? Ainda por cima, neste último ponto, com o seu “outro eu” - como gostava de, secretamente, chamar ao gémeo - a completá-las ainda melhor que si próprio. Para quê sequer pensar fazê-lo, se, com Fred, um olhar dizia tudo o que nenhuma palavra conseguiria expressar? Para quê, perguntava-se interiormente mais uma vez, deixando escapar um ligeiro movimento de cabeça que sugeria incompreensão, se com Fred tudo parecia mais fácil, e mais alegre…? Se se sentia mais feliz, se as ideias de ambos se fundiam e se tornavam brilhantes… Se cada um era o refúgio do outro?

Ao virar uma esquina, estacando, George perscrutou com o olhar o longo corredor na sua frente e com um misto de alívio e desapontamento, prosseguiu o seu caminho, vendo que não corria perigo.

Foi com um sorriso maroto, e com saudade, que se lembrou do dia que parecia ao mesmo tempo tão próximo e tão distante, o dia em que ele e o irmão tinham feito o seu primeiro pacto.

FLASHBACK

O Sol entrava sem pedir licença pela janela da cozinha d'A Toca, que se encontrava, como de costume, cheia e barulhenta. Mr Weasley, cujos cabelos brancos ainda se contavam pelos dedos - escondidos na cabeleira ruiva que deixava já evidenciar um pouco da cabeça – encontrava-se sentado no topo da mesa, a ler o Profeta Diário, enquanto que Molly, a sua esposa, terminava de pôr a mesa. O olhar de ambos encontrou-se e sorriram. Sabiam que um sorriso bastava para tranquilizar o outro, e dizer que estava tudo bem. Na outra ponta da mesa encontrava-se Percy, agora nas férias de Natal do seu 1º ano na Escola de Magia e Feitiçaria, mergulhado no seu exemplar de “Hogwarts: Uma História” e, de vez em quando, dando um pequeno piparote com o dedo indicador nos óculos, obrigando-os a subir no nariz.

- Charlie! Bill! – Gritou Mrs. Weasley enquanto que com um aceno de varinha a panela se dirigiu para o centro da mesa – Almoço!

Dois jovens com cabelo cor-de-cenoura, apareceram ao início das escadas. Eram Charlie e Bill, os filhos Weasley mais velhos, neste momento no 3º e 4º ano de Hogwarts, respectivamente. Sentaram-se em frente a Percy. Charlie empurrou abrupta e subitamente o livro, que foi chocar com o nariz do irmão, de tão próximo que estava. Este, bufando, murmurou algo incompreensível.

Da porta das traseiras entraram George e Ron, com Ginny correndo atabalhoadamente atrás deste último. Ron, que tinha o aspecto de quem tinha tomado um autêntico banho de lama, correu até à mãe e com um olhar de súplica, e fazendo beicinho, disse:

- Olha o que o George me fez, mamã!

Mrs. Weasley lançou um olhar mortífero ao gémeo e murmurou algo como “Ele só tem 7 anos, George!” e com um movimento elíptico, imediatamente qualquer vestígio de lama desapareceu.

Ginny correu para o pai e abraçou-o com força, ao que Arthur retribuiu, fazendo uma festinha nos frágeis cabelos cor-de-fogo na sua frente. Em seguida, a menina sentou-se ao lado de Percy e fez favor de tirar a cadeira a Ron quando este se ia sentar, caindo redondo no chão. Bateu na mão de Charlie, como sinal de aprovação e cumplicidade, e ignorou os resmungos de Ron, ao seu lado.

- Passas-me o pão, Perce? – Perguntou Bill.

Percy, endireitando-se e ganhando subitamente um ar superior disse, juntamente com um floreado de varinha:

- Wingardium Leviosa! – E o pão voou para junto do irmão.

A mãe, que ia a passar, dobrou-se e beijou o filho na bochecha, com um olhar que transbordava orgulho.

George, que tinha estado meio escondido de volta dos biscoitos acabados de fazer, sentiu mais uma vez o arrepio que o tinha acompanhado toda a manhã.

- O Fred ainda está lá em cima? – Questionou ansioso, mas fingindo indiferença.

- Sim – disse a mãe, o rosto ganhando alguma preocupação. – Diz que não se sente bem. Vai almoçar no quarto – acrescentou, dirigindo em seguida o olhar para o filho, e dando uma estaladinha na sua mão para que largasse os biscoitos, prosseguiu – Tens a certeza que não brigaram? – perguntou com perspicácia Molly que conhecia perfeitamente cada um dos filhos.

- Já te disse mil vezes que não, mãe! – mentiu pela enésima vez George. – Vou ver se aquele cabeça dura vem para baixo ou não…! – e, dito isto, subiu as escadas.

Atravessou o corredor e dirigiu-se à última porta à esquerda. Hesitou durante alguns segundos, mas finalmente abriu a porta. Em cima da cama da direita, encostado à janela e a olhar o jardim, estava ele mesmo, o seu reflexo. Fred não olhou a porta, não o precisava fazer para saber quem era. Sentia-o.

George aproximou-se da cama e sentou-se na beira contrária à do irmão. Depois de alguns minutos assim, onde olhares desencontrados sugeriam rancor, o seu outro eu finalmente o olhou.

Um turbilhão de pensamentos agitavam-se dentro da cabeça de Fred. Ali estava ele, à sua frente, como se nada tivesse acontecido. Mas não desviava o olhar. Porque é que não tinha ficado lá em baixo?

- Porque é que me vieste procurar? – perguntou finalmente Fred, deixando finalmente escapar pela boca as suas dúvidas.

O rosto de George contorceu-se.

- Porquê? – Sussurrou, praticamente inaudível. – Porquê?? – Disse, boquiaberto, elevando a voz – Porque és meu irmão. Porque me preocupo contigo. Porque está na hora do almoço e estás aqui fechado. Porque preciso de companhia para chatear o totó do Percy e o Ron, apesar de a Ginny estar a ficar uma perita no assunto, é verdade. Porque desde os 5 anos, em que estraguei a tua vassoura de brincar, que não fazes isto. E… acima de tudo…

George calou o raciocínio. Olhou fundo nos olhos do seu outro eu. Faltou-lhe a coragem. Tentou dizer-lho sem ter efectivamente de ouvir a sua própria voz.
A face do irmão gémeo iluminou-se. E, sem aviso prévio, aproximou-se e abraçou-o.

- Também senti a tua falta. – Sussurrou Fred ao ouvido de George, com a voz a falhar, roubando-lhe as palavras da boca.

Era incrível como não conseguia esconder nada dele, pensou George. E sentiu-se mais leve, muito mais leve ao sentir o bater do coração do irmão a bater de mãos dadas com o seu. Afastou-se ligeiramente de modo a ficarem frente-a-frente e, engolindo o orgulho, disse:

- Desculpa. Desculpa mesmo.

E naquele momento, tudo desapareceu. Todo o ressentimento, todo o desapontamento, toda a raiva, toda a tristeza. George sabia que tinha agido mal, sabia. Sabia que não merecia este perdão tão fácil e rápido, sim, sabia. E por isso admirou o irmão na sua frente.

Como era fácil. Nunca encontraria alguém que o compreendesse desta maneira. Nunca. Nem por sombras. E durante o tempo que estiveram chateados, durante a manhã, tudo tinha corrido mal. Já nem contava com os seus inúmeros arrepios, que o faziam estremecer da cabeça aos pés, e que o atacavam, nas raras vezes que os dois brigavam, ou até apenas discordavam nalguma coisa. Sabia que o irmão também os sentia. Era como se lhe arrancassem uma parte de si. Uma metade. O seu outro eu.

Mas além destes calafrios tão frequentes, as brincadeiras não pareciam tão divertidas assim. Incrivelmente, parecia até que perdia a vontade de fazer maroteiras. Estava constantemente a deixar cair coisas, e os cantos da boca pareciam pesados, quase que recusando-se a esboçar um sorriso.

E foi perdido nestes pensamentos que George compreendeu o que precisava ser feito.

- Fred… Eu acho que nós devíamos… - começou, mas foi interrompido

- Fazer um pacto. Concordo. – completou – Um pacto em que asseguramos um para com o outro, que nunca, seja qual for a situação…

- Nos vamos separar. – assentiu George. Sorriu. Pareceu-lhe o melhor plano do mundo.

- Por agora ainda não o sei fazer, mas quando acabarmos Hogwarts podemos reforçar este pacto com… - Fred foi novamente interrompido

- O Juramento Inquebrável, claro. Não que eu não confie na tua palavra, é só que… - disse, inseguro, George.

- Confias plenamente. Eu sei. Eu também – Concluiu Fred, num murmúrio.

Era tudo tão espontâneo com ele. Tudo encaixava perfeitamente. As vontades, as palavras, as ideias, os sonhos, as feições. E compreendia perfeitamente o irmão. Ou seria o gémeo que o compreendia a ele? O que ele pensava, o que ainda não tinha sido sequer correctamente arrumado no seu cérebro já ele estava a ver ser desenhado na boca à sua frente. Era por isso que confiava tanto nele. E era por confiar tanto nele que tinha sugerido - ou apenas completado a ideia, visto que o irmão se lhe antecipara – a realização do Juramento Inquebrável daí a uns anos. Ambos sabiam o que acontecia a quem quebra um Juramento Inquebrável. E ambos sabiam que não conseguiriam viver se o outro alguma vez quebrasse este Juramento, que a dor seria sufocante, que viveriam por metade e não por inteiro. Mas era por confiarem cegamente na outra metade, por saberem que o outro nunca na vida o iria desapontar, ou deixar sozinho, que concordarem na realização de algo tão complexo.

Abraçaram-se com uma força inigualável até então, selando assim um pacto que seria eterno.


FIM DO FLASHBACK

Passado tanto tempo desse momento em que a vida lhes parecia sorrir, George tinha a noção que o plano lhe parecia um pouco infantil. Eventualmente teriam que se separar um dia, quando se casassem, por exemplo. Ambos o sabiam, mas nunca tinham conversado sobre isso. Preferiam manter tudo como estava. Feliz.

Os seus pensamentos de felicidade foram interrompidos por um som aparatoso. Sentiu o chão a tremer e ouviu barulhos do que parecia ter sido uma enorme explosão do outro lado do castelo. Correu até à grande janela do lado esquerdo e viu, perto da Ala Hospitalar, que um grande pedaço de muro e chão faltavam para formar a harmonia arquitectónica do edifício. Conseguiu distinguir alguns vultos. Estavam ali pessoas. E, como um choque eléctrico, um arrepio arrebatador percorreu cada milímetro do seu corpo, detendo-se na nuca, e cada sentido seu ficou alerta. Foi uma forma de acordar da espécie de transe em que estava ao olhar os destroços da explosão. E começou a correr. Alguém precisava de ajuda. Ouviu gritos, e assustou-se. Os arrepios intensificaram-se, cada vez mais e mais. E agora, um silêncio perturbador. Desceu escadas, atravessou corredores, voltou a descer mais. Virar à esquerda, ir até ao fundo, descer dois lances de escadas, virar à esquerda, andar em frente, virar à direita. Repetiu a rotina e finalmente começou a chegar perto do sítio onde decorrera a explosão, conseguia perceber através do maior volume de vozes e gritos. Ouvia feitiços vindos de todos os lados, mas nenhum aprecia atingi-lo. Subitamente, tornou-se ágil. Pareceu-lhe estar a correr mais rápido que os próprios encantamentos, mais rápido que si próprio, deixando parte de si segui-lo alguns metros aquém. Os arrepios constantes e agora quase insuportáveis não agouravam boas notícias. George não os sentia tão fortes desde aquela manhã, há muitos anos atrás, em que dois ruivos idênticos, haviam selado um pacto não com um papel, não com um feitiço, mas com amor. Amor de irmão. Irmão gémeo. Algo que nunca ninguém lhe poderia comprar para oferecer. Dobrou uma esquina e percebeu, pela confusão, que havia sido neste corredor que tudo se tinha passado. Conseguiu distinguir alguns mantos esvoaçantes desaparecerem na outra ponta deste mesmo corredor e começou à procura de alguém que precisasse de ajuda. Haviam algumas esculturas e alguns quadros rachados, outros caídos, outros reduzidos a pó. Pedrinhas e pedregulhos rebolavam pelo chão. O corredor parecia ter ficado deserto.

Decidiu então seguir a mesma direcção dos misteriosos mantos que haviam desaparecido naquela esquina segundos atrás, quando, pelo canto do olho, viu algo familiar. E o seu coração saltou não um, não dois, mas três ou quatro batimentos ao se ver a si próprio, encolhido no chão, a um canto. As suas pupilas dilataram ao tentar ver na escuridão do canto onde o ruivo estava encolhido, imóvel. E correu para o irmão, deixando-se cair com força de joelhos ao seu lado. Posou as mãos em cada ombro do corpo indefeso na sua frente e, puxando pelas vestes, obrigou-o a ficar semi-sentado. Observou como a cabeça do irmão, aparentemente sem força alguma, pendia para trás. A respiração tornou-se pesada, difícil de concretizar. Voltou a deitá-lo no chão e abanou-o. Abanou-o.

Abanou-o.

Mas nada acontecia.

Sentiu os olhos quentes e a visão a ficar turva. Fez um esforço para não pestanejar, pois sabia que no momento em que o fizesse, grossas lágrimas lhe escorreriam sobre a face.

- Pára com isso! – Gritou. A sua voz ecoou no corredor, agora vazio. Ou, pelo menos, George não ouvia barulho algum além da sua própria voz, como se tudo o que existisse no mundo fossem eles os dois. – Não tem piada!

Estava a dar uma ordem. Queria que o irmão abrisse os olhos e lhe esfregasse na cara em como esta tinha, de facto, sido a sua melhor partida até à data. E que irrompesse em gargalhadas contagiantes. E que se levantassem os dois, melhores amigos, a rir histericamente de tão hilariante que tinha sido a situação. E que, com uma força renovada e um sorriso nos lábios, fossem terminar de vez esta batalha. Juntos.

Mas, teimoso como era, permaneceu calado e quieto.

E foi com um baque profundo no coração, que este lhe caiu aos pés, e George irrompeu num pranto profundo e arrepiante, erguendo a cabeça para cima enquanto ainda segurava nas roupas de Fred. Largou-as e levou-as à cabeça. Agarrou os cabelos. Puxou-os. Com força. Pareciam agora colados aos seus dedos. E a cada momento que passava, mais o choro se intensificava, mais poder ganhava o súbito vazio dentro de si.

- NÃO! NÃO! NÃÃÃOOOOO! – Gritava, como se, se o repetisse muitas vezes, pudesse anular o que estava a acontecer. Dobrando-se para a frente, ainda de joelhos, posou a cabeça, escondida entre as mãos, no chão. Deu por si a ordenar ao seu próprio cérebro que respirasse, pois este parecia ter perdido essa função automática. Sentiu uma veia latejar com força na sua testa. O sangue subia-lha lentamente à cabeça. Os olhos cerrados com força.

Começou a perder a voz para a rouquidão. Mas não se importou. Apesar de lhe arranhar a garganta, continuou a gritar, abafando o som com as mãos. Gritava palavras sem sentido, palavras de desespero. E chorava. Chorava a própria alma. Poderiam ter passado alguns minutos ou largos dias de chuva, ao fim dos quais levantou a cabeça.

Posou as mãos em cima da cabeça do seu eu que morrera e encostou a testa na dele. As lágrimas, que apenas um derramava, molhavam o rosto de ambos. E olhou nos olhos abertos do irmão, com as pupilas reduzidas a um ponto. A sua cor avelã tinha perdido intensidade, brilho. E foi então que se enfureceu.

- Mentiste! – bradou George, as emoções à flor da pele. Olhava directamente o irmão – Não passas de um MENTIROSO! – A voz falhou-lhe. Respirou fundo, ofegante, durante alguns segundos e continuou – O nosso pacto não significou nada para ti? Nada? – Deu especial entoação à última palavra, num sussurro apenas audível por si próprio. – Como é que foste capaz de me deixar assim, Fred? Como? Porquê? – Dizia baixinho enquanto abanava o irmão a cada investida – Responde-me!

O irmão tinha-o desiludido. Muito. Nunca esperara que fosse capaz de quebrar o pacto que, pelo menos para si, tinha significado tanto. Como era suposto continuar a viver sem metade de si próprio? Nas alturas em que estava desapontado, ou triste com alguma coisa, costumava recorrer a Fred. Mas o que fazer quando a única pessoa que nos pode confortar é a pessoa que nos faz chorar? E pior. O que fazer quando essa pessoa... já nem sequer existe? O choro, que finalmente abrandara há alguns minutos, voltou, forte.

Voltou a contemplar os olhos do irmão, ainda a soluçar levemente. E, tal como há muitos anos atrás o seu irmão tinha compreendido o que ele lhe queria dizer, mas não tinha coragem, assim George percebeu, ao observar Fred, que também ele tinha deixado algo pendente por dizer. Olhou-o fixamente.

- Também vou sentir a tua falta. – Disse, finalmente. – E estás desculpado, mano. – Acrescentou, esboçando o que parecia ser a amostra de um sorriso.

E, passados alguns minutos em que tentava decorar cada feição do irmão, esquecendo-se de que lhe bastaria olhar no espelho para avivar a memória, disse, num murmúrio imperceptível:

- Adoro-te, Fred.

Sabia que algures o gémeo estava a rir-se desta cena tão emotiva, e a gozar com a cara de George, lembrando-lhe que os gémeos Weasle não choram. Por isso acrescentou:

– E odeio-te por isso, pá.

E soltou uma tímida gargalhada. Fechou os olhos do irmão e fez uma delicada carícia no cabelo cor-de-laranja, despenteando-o levemente.

Sabia que o pacto ainda estava de pé. Ganhava agora um novo sentido, e, a seu ver, finalmente poderia pôr em prática a sua verdadeira essência. Permaneceriam sempre juntos, apesar da distância física que os separasse.

E pegou no irmão ao colo, com uma mão na parte de trás das pernas e outra apoiando a cabeça e o pescoço, deixando as partes não protegidas caírem, sem vida. Partiu, com a varinha escondida na mão que apoiava a cabeça, decidido a não permitir que ninguém interferisse na sua jornada até ao sítio onde estava o resto da família.

Como não via ninguém nos corredores, e se tinha lembrado que tinham feito o Salão Nobre o local base da batalha, decidiu dirigir-se para lá. Os músculos dos braços começaram a doer-lhe mas ignorou-os. Alguns habitantes dos quadros, ao vê-los passar, faziam uma ligeira vénia, ou tiravam os chapéus, e murmuravam “Os meus pêsames”, “Era um bom rapaz” ou “Morreu um herói”.

Chegou perto do Salão Nobre, onde por todo o lado se viam jactos de luz, caras enfurecidas, e corpos atordoados, desmaiados, ou mortos, nos cantos. Com alguma dificuldade, moveu a cabeça de Fred para o braço e libertou a mão. Movendo a varinha com ligeireza, gritava Protego! e Expelliarmus! por tudo quanto era sítio, tentando defender-se de jorros de luz verde.

E com um movimento seco de varinha, o grande portão à sua frente abriu-se, e novas mortes e batalhas se anunciavam. Olhou em volta e o seu olhar cruzou-se com o do pai. Caminhou calmamente para o pé de onde estava o resto da família, preparando-se para o que viria a seguir. O pai parecia petrificado, olhando o filho. A mãe, virava-se agora acabada de deitar ao chão um inimigo e George pôde ver o sorriso a desaparecer lentamente da sua face, os olhos ganharem um brilho diferente.

George parou, e agachou-se, pousando delicadamente e com cuidado o corpo do irmão no chão, num sítio que parecia ter espaço, e criou uma bolha de protecção gigante em volta do espaço onde se encontravam. E ali ficou, esperando a mãe que vinha a correr na sua direcção como se não houvesse amanhã, as lágrimas a escorrerem incessantemente pela face e molhando-lhe o cabelo ruivo. Vinha com uma expressão de horror, e gritando histericamente o nome do filho que ali permanecia, no chão. O filho gémeo criou momentaneamente uma entrada que a mãe invadiu, voltando a abri-la novamente alguns momentos depois, quando o pai que parecia ter acordado do choque em que estava, entrava também, as lágrimas começando a passar sobre as rugas bem marcadas.

Molly Weasley mandou-se para junto do filho, num carpido constante, esfregando a face no seu peito, e agarrando firmemente a sua camisola. Soltava gemidos de aflição. O marido ajoelhou-se junto da esposa, e pousou-lhe uma mão no ombro, enquanto levava a outra aos olhos, tapando-os, e se podiam ouvir soluços angustiantes. George, cujas emoções à flor da pele tinham despertado novamente ao assistir à cena, e que tinha estado agachado junto da cabeça do irmão, acariciando o seu cabelo, levantou-se, e saiu da bolha, deixando os pais em privacidade.

Atacou alguns Devoradores da Morte, e protegeu-se de outros, enquanto procurava o culpado pela perda de metade de si próprio. Continuou andando pelo Salão, à procura de alguém que nem sabia se ali estava, ou como era.

E foi então que viu um homem baixinho, de cabelos castanhos-escuros com o aspecto de palha, magro, e com uns olhos pequeninos de rato. Abriu muito os olhos ao vê-lo passar, com uma expressão de surpresa e incompreensão. Bingo!, pensou. Mudou rapidamente de direcção, apanhando de surpresa o homem, e, enquanto se dirigia ao desconhecido, gritava, de varinha em punho:

- SURPREENDIDO? PARA A PRÓXIMA PENSA DUAS VEZES, HOMENZINHO NOJENTO! – E antes que tivesse tempo de reagir, derrubou-o e desarmou-o, ficando por cima daquele homem encolhido, que o olhava horrorizado, e espetou-lhe a varinha no pescoço. O homem começou a arfar e preparava-se para implorar, quando George o interrompeu – Nem penses em dizer uma palavra, criatura. – Ao que o homem fechou a boca. George prosseguiu – Isto, é para aprenderes a não te meteres com a família Weasley, principalmente com os gémeos Fred e George. – Rematou. Viu o rosto do homem iluminar-se de compreensão. Ignorou. – AVADA KEDAVRA! – Berrou, apertando ainda mais a varinha. O homem perdeu a força na cabeça e nos braços e com um sonoro ‘ploc’ deixou-se cair completamente no chão. A luz abandonou os seus olhos.

- Isto, Fred… Foi por ti. – Concluiu o gémeo, fechando os olhos e respirando fundo.


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- Lumos – Murmurou, quase sem força. A ponta da varinha iluminou-se. Conseguiu, finalmente, ver a fechadura. Enfiou a chave e rodou-a para a direita. Empurrou a porta com relutância. – Nox – Disse, num tom de voz cansado, e a luz desapareceu.

Pressionou o interruptor, e, arrastando os pés, dirigiu-se ao balcão, de onde deitou um olhar à montra. Na vitrina conseguia ver-se escrito de forma inversa “Magias Mirabolantes dos Weasley”. Era ainda muito cedo. O Sol ainda não espreitava.

Parecia que com a perda de Fred, a loja tinha perdido também o seu encanto.

George perguntou-se se valeria a pena continuar com este negócio, se faria sentido continuar algo que ambos começaram. Tinha a certeza que não inovaria, nunca mais, nada. As ideias para novas brincadeiras e produtos eram formadas em conjunto e nunca individualmente. Não sabia, também, se teria coragem para abrir esta porta todas as manhãs sozinho. Sem um sorriso no rosto, como era costume.

Foi até à porta ver a caixa de correio, e pegou na correspondência. Cabisbaixo, sentou-se na secretária principal e começou a folhear as várias cartas e os nomes no canto inferior direito. Fred e George Weasley… Magias Mirabolantes dos Weasley…Fred Weasley… Fred e George Weasley… George e Fred Weasley… George Weasley… Gémeos Weasley… Sentiu uma lágrima queimar-lhe a pele, e morrer nos lábios semicerrados.

Ia ser demasiado doloroso. Ter que dizer a todos que Fred tinha acabado de morrer, e que o negócio iria decorrer apenas com um deles, ou que iria terminar. Aguentar todas as palavras de solidariedade e as palmadinhas nas costas, de pessoas que nem sonhavam aquilo por que ele estava a passar, e que mal lhe virassem as costas, voltariam às suas vidas, felizes, conversando sobre cortes de cabelo ou viagens ao estrangeiro.

Perguntava-se, desde que acontecera, se Fred teria morrido em vão. Se teria sido mesmo necessário. Não sabia, não estava lá quando acontecera, nem tivera coragem para perguntar a ninguém que tivesse presenciado. Mas sabia que, provavelmente, se pudesse escolher, esta tinha sido a forma que o irmão teria escolhido para partir. A lutar. Bem, pensou, ao menos “o outro” não chateia mais ninguém. O Harry deu conta dele. De vez.

Olhou em volta. Um grande cartaz anunciava um novo produto:

Para quê preocuparmo-nos com o Quem-Nós-Sabemos?
Devíamos era preocupar-nos quando
CAGALHOTO-NÃO-FAZEMOS
A obstipação-sensação que inundou a nação!


Sorriu. Lembrou-se do dia em que o haviam afixado, logo no início do negócio, que coincidiu com o auge da guerra, e da expressão de horror da mãe. Como os seus lábios se moviam pronunciando silenciosamente o nome “Cagalhoto-Não-Fazemos” e como afirmava que eles os dois ainda iriam ter problemas por causa daquele cartaz. Nunca lhe dissera, mas não se enganara. Tiveram. Mas ultrapassaram e seguiram em frente. Não era uma multa e alguns interrogatórios no Ministério da Magia que os iam deitar abaixo. Não a eles. Não enquanto se tivessem um ao outro.

Um pouco abaixo desse cartaz, outro um pouco mais pequeno continha uma foto dos dois gémeos, com um braço por cima do ombro um do outro, a sorrirem, e uma legenda que dizia: “Gred e Feorge dão-vos as boas-vindas!”.

Por toda a loja, caixas empilhadas e vitrinas e estantes, continham os mais variados produtos, como “Pastilhas Isyvómito”, “Poções do Amor”, “Nogados Sanguechuva Nasal”, “Penas de Resposta Pronta e Correcção Automática”, “Encantamentos Sonhadores Patenteados” “Marcas Negras Comestíveis – Põem qualquer um doente!”, “Mantos Escudo Invisível”, “Produtos Super-Feiticeira”, “Extintor de Borbulhas 10 Segundos”, “Pigmeus Penugentos” ou ainda “Foguetes Exclusivos Weasley”.

Não sabia como iria conseguir entrar todos os dias naquela loja, lembrando-se, inevitavelmente, do irmão. Ia ser impossível, não seria capaz. Estava decidido. Ia fechar a loja, e tentar seguir outra carreira.

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- Já nem me lembrava dessa! E lembraste daquela vez, durante um jogo RavenclawxSlytherin, em que enquanto todos estavam a assistir à partida e eu estava a relatar… Tu e Fred foram até aos balneários e encheram as cuecas do Malfoy de Bombinhas de Mau-Cheiro? – Dizia, entre gargalhadas, Lee Jordan, deitado no sofá do escritório da loja “Magias Mirabolantes dos Weasley”.

- Nós sempre fomos tramados..! – Disse, com um ar maroto, George, que estava sentado no chão, com as costas apoiadas na poltrona e uma das pernas dobradas.

As paredes estavam cobertas de fotografias, recortes de jornal, emblemas e posters. Um poster enorme com o emblema de Hogwarts e das suas quatro casas ocupava quase uma parede inteira.

Espalhados por todo o escritório, podiam observar-se variadíssimos emblemas e crachás, como um da “B.A.B.E”, a associação que Hermione tinha criado em favor dos Elfos Domésticos. O crachá “Weasley é o nosso rei!”, em forma de coroa, também ali estava, como lembrança dos feitos do irmão Ron como keeper na equipa de Quidditch. “O Potter fede! O Cedric é o maior!” também poderia ser encontrado, mais para ocupar espaço e para recordar o Torneio dos Três Feiticeiros que outra coisa. E, como não podia deixar de faltar, também lá estava, num lugar especial, o emblema do Exército de Dumbledore, uma parte tão importante da sua vida.

À altura das cabeças, podiam ler-se alguns artigos de jornal, do Profeta Diário, entre eles um cujo título era “Gémeos fornecem ‘Presente da Gargalhada’ em tempos de trevas”; e outro, que tinha uma fotografia de Harry Potter, onde o título era “O Rapaz Que Sobreviveu” mas onde a última palavra tinha sido riscada e substituída, sendo o resultado final “O Rapaz Que Engatou A Minha Irmã”.

Havia algures uma foto assinada de Oliver Wood, com o equipamento de Puddlemere United; outra da sua irmã, Ginny, mas com o equipamento dos Chudley Cannons; e ainda uma última de Viktor Krum, com as cores nacionais da Bulgária, assinada pelo próprio.

Haviam bilhetinhos provavelmente escritos e trocados durante aulas, em que raparigas declaravam o seu amor por Fred ou George, ou o seu ódio por alunos de Slytherin.

Haviam também fotos variadas, do trio Ron Weasley, Hermione Granger e Harry Potter; fotos do casamento de Harry e Ginny, ou do de Ron e Hermione. Haviam fotos familiares, com quase todos os Weasley juntos, em várias idades; fotos da antiga equipa de Quidditch de Gryffindor; dos gémeos com Lee Jordan; de Fred e Angelina; de George e Alicia e de Lupin e Tonks, com uma foto acrescentada entre eles do filho Teddy Lupin.

Bill, a esposa Fleur, e a filha Victoire também ali estavam a marcar o seu lugar, e fotos de antigos elementos da Ordem de Fénix, como Dumbledore, Snape, Sirius Black ou Moody Olho-Louco, acompanhavam-nos.

E, destacando-se de todas as outras coisas, com uma moldura dourada, encontrava-se uma foto gigante de Fred, onde este, com a varinha na mão e movimentando a cabeça para trás e para a frente, ria com vontade de uma anedota interminável. Por baixo, podia-se ler a inscrição:

Em memória de Fred Weasley
Filho e Irmão Dedicado
Aluno Indisciplinado
Trabalhador Honesto
Amigo Presente
Eternamente Herói


George sentia-se em casa, ali, repleto de recordações. Sentia-se contente que a família e os amigos, nomeadamente Lee Jordan, o tivessem demovido da ideia de desistir do negócio. Teria feito um grande erro.

- Ouve, Lee… Amanhã já não precisas de vir cá ajudar-me. O Ron já está a recuperar da constipação e já pode voltar ao trabalho. Cá p’ra mim, acho que ele roubou umas quantas Pastilhas Isyvómitol cá da loja e as tomou de propósito só para ficar meio adoentado e ter uma desculpa para faltar ao trabalho uma semanita e ficar em casa a namorar. Afinal, a Rose e o Hugo, os miúdos dele, estão em Hogwarts, e a Hermione tinha uma semana de férias do Hospital de São Mungus. Nunca me enganou, aquele totó. – Disse, divertido. Tinha-se tornado muito mais difícil sorrir desde aquele dia. – E obrigado por esta ajuda, sozinho não conseguia dar conta de tanta coisa.

- Oh… Está bem. Mas não me custou nada! Sabes bem que é muito mais divertido trabalhar aqui do que gerir o Três Vassouras. Os clientes estão cada vez mais exigentes – lamentou-se, com um ligeiro suspiro. – Ah, mas a Angelina vai ficar contente. Diz que quando venho para aqui me distraio sempre com as horas e estou sempre ausente. Diz que és uma má influência – Acrescentou, ao que os dois deram uma gargalhada com gosto.

- Diz à Angelina que a Alicia diz o mesmo de ti. – Respondeu George, sorrindo.

- Por falar em Alicia… Isso está sério, não está? Poderemos contar brevemente com uma nova aquisição na família Weasley? Alicia Spinnet Weasley… Soa bem, não soa? – Perguntou, maroto, Lee.

- Oh, deixa de dizer parvoíces, Jordan! – Ordenou George, corando até à raiz dos cabelos – Mas agora por falar em mulheres – e Merlin sabe como elas são complicadas – Quem diria aqui há uns anos que o Lee Jordan e a Angelina Johnson iriam acabar por dar o nó, ahm? Sempre pensei que ela e… bem… o Fred, acabariam por ficar juntos. Mas acabou por não acontecer. – E, ao terminar a frase, um silêncio perturbador formou-se entre eles. Por isso George resolveu quebrar o gelo – E rebentos para o vosso lado, ahm?

- Estamos a trabalhar nisso. – Assentiu Lee, ao que George soltou uma gargalhada. O amigo do ruivo deu uma olhadela ao relógio. – Por Merlin!! Já são estas horas? Não admira que a patroa se queixe tanto!

Os dois levantaram-se e o ruivo acompanhou o amigo até à porta.

- Despacha-te, Jordan! Olha que, hoje em dia, são as mulheres que mandam! – Disse, dando-lhe uma palmadinha nas costas. – Até amanhã, pá!

- Até amanhã, George! – Disse, com um sorriso amarelo nos lábios, obviamente preocupado com o que o esperava em casa. E, saindo da loja, Desapareceu na escuridão.

George fechou a porta e virou-se para dentro da loja. Voltou para a salinha onde havia estado a conversar durante horas. Pegou na moldura em que dois ruivos gémeos, com 11 anos, no 1º ano de Hogwarts, sorriam, abraçados. Esse dia parecia tão distante. Invejou os dois garotos da fotografia, cujas máximas preocupações eram escaparem a Mr. Filch e à sua horrorosa gata e fazerem a vida negra às raparigas. Deu um longo suspiro.

Posou a moldura e pegou na que estava ao seu lado, uma sua com Alicia. Observou o contraste de cores. O seu cabelo era ruivo, enquanto que o dela era loiro, quase branco. Os seus olhos eram castanhos-avelã, enquanto que os de Alicia eram cinzentos. A pele da namorada era suave e lisa, enquanto que a sua estava coberta de manchas castanhas. Na foto, ela puxava-o com as duas mãos para um forte beijo na bochecha, enquanto que ele dava um sorriso malandro de lado, e coçava a cabeça, nitidamente corado.

Alicia era a primeira pessoa com quem tinha tido uma relação séria. E era a única que o fazia lembrar Fred. Por vezes dava por si a completar as frases da namorada, e o contrário também acontecia. Também era comum comunicarem apenas com o olhar. Não sabiam como o faziam, mas era isso que acontecia.

Uma das coisas que ele realmente admirava em Alicia era a sua capacidade de ouvir, e de compreensão. É que, ao contrário de tantas outras pessoas, ela não chegava ao pé dele e dava os seus sentimentos, nem dizia que ele tinha que ser forte, ou que a vida continuava. Não. Das muitas vezes que Alicia e George falavam sobre Fred, da sua morte, e dos sentimentos que isso despertava nele, ela mostrava-se atenta, e só falava quando o namorado lhe pedia. Colocava delicadamente o cabelo atrás das orelhas, numa atitude com que George sempre se deleitara, pois indicava que estava interessada e ouvia atentamente.

Alicia dizia que não conseguia entender exactamente como ele se sentia, pois não tinha uma irmã gémea nem nunca tivera um familiar próximo que tivesse morrido. Não dava palpites. Limitava-se a dizer o que sabia, e sentia. E dizia-lhe que ele era um herói e que tinha imenso orgulho nele. E de seguida abraçava-o forte e oferecia-lhe um daqueles olhares cheios de sentimento que só ela sabia dar. E quando era preciso, consolava George no seu colo, enxugava-lhe as lágrimas, sem nunca o repreender ou fazer troça.

George passou um dedo sobre a Alicia que lhe dava um beijo divertido na foto. Ela era linda.


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Um descampado deserto, numa noite de Verão. O céu estava estrelado e ouviam-se sons de grilos e breves luzinhas de pirilampos. Corria uma brisa agradável, trazendo o cheiro da relva. Tudo parecia calmo.

Blip!

Um som veio incomodar a paz que se instalava naquele lugar, e dois vultos apareceram no meio do nada. Um homem alto, ruivo, apareceu, do nada, de mãos dadas com uma mulher loira uns vinte centímetros mais baixa. Ambos eram elegantes e bonitos.

- Bem, aqui estamos. – Disse o homem, olhando em volta. – Lumos! – Murmurou, e, imediatamente, a ponta da sua varinha iluminou-se e mostrou um descampado abandonado.

- Se, por “aqui”, te referes ao meio de absolutamente lugar nenhum, então estás certo, George. – Alfinetou a mulher loira - Onde estamos nós, exactamente? – Perguntou

- Primeiro que tudo: relaxa Alicia. – Começou George, agarrando as mãos da namorada que se moviam nervosamente. – Na Escócia, acho eu.

- Escócia? Achas tu??? – Questionou, numa voz esganiçada, Alicia.

- Bem… Eu tive que me certificar que ninguém estaria por perto – Desculpou-se o ruivo.

- Porquê?

- Já vais ver – Respondeu ele vagamente.

George pegou na mão de Alicia e conduziu-a por entre as ervas, de varinha em punho, iluminando o caminho. Alicia obrigou-o a parar e forçou-o igualmente a virar-se para ela.

- Espera lá – Começou, uma mão na cintura, as sobrancelhas levantadas e os olhos muito abertos – Não estás a pensar em… digamos… assassinar-me, estás?

- Nããoooo… - Respondeu, divertido, George, que se soltou da namorada e começou a olhar atentamente o céu.

- Porque, se estás… – Continuou ela na mesma entoação, ignorando o ruivo – Devo avisar-te que o meu tio é o Chefe do Departamento Criminal de Desaparecimentos Misteriosos e…

- Aqui estamos. – Interrompeu George, olhando para um amontoado que estava no chão.

- Isso são foguetes da tua loja? – Perguntou, de olhos semicerrados, não escondendo alguma irritação na voz.

- Sim, são. Afasta-te. – Pediu o namorado.

Enquanto George se aproximou dos foguetes, e se agachou para os poder acender murmurou, de maneira a que apenas ele próprio ouvisse “Merlin… Espero que isto resulte…” Deu um profundo suspiro, enquanto acendia com a varinha os foguetes, fechou por um momento os olhos e acrescentou “Fred… dá-me força…”. Abriu os olhos novamente e afastou-se para junto da namorada.

Em vez de olhar para os foguetes, que rasgavam agora velozmente o céu, olhava para o rosto da mulher que estava ao seu lado. Ela sim, olhava o céu, e mostrava-se extremamente desconfiada e ligeiramente irritada, de braços cruzados e a bater o pé. E George viu o rosto dela ser iluminado pelo clarão azulado criado pelo fogo-de-artifício. E viu também como a expressão dela se alterava. Descruzou os braços e parou de bater o pé. Levantou uma sobrancelha e, como uma injecção de compreensão abriu a boca e tapou-a com ambas as mãos, completamente surpresa.

No céu, letras brilhantes iam-se completando lentamente com novas estrondosas explosões e formavam as palavras “Casas comigo?”

George, com o coração aos pulos, ajoelhou-se e olhou o rosto da sua amada, que ainda tapava a boca com as mãos. Retirou finalmente as mãos para afastar o cabelo da cara e prendê-lo atrás das orelhas. Ele sorriu, perante o movimento tão próprio da loirinha, e que ele tanto gostava.

Pegou na sua mão. Não tinha anel algum para lhe oferecer. Mas olhou-a atentamente nos olhos e, inspirando profundamente, disse:

- Alicia Spinnet… Queres ser minha mulher?

Alicia mandou-se para o pescoço de George, que caiu para trás, com a força do impacto. Ela ficou por cima dele e dava-lhe agora inúmeros beijos por toda a cara entre os quais dizia “Claro… que… sim… meu… totó!”

George abriu-se num só sorriso e soltou uma gargalhada. Estava pela primeira vez em muitos anos, realmente feliz.

“Obrigadinho, mano. Estou a dever-te uma” sussurrou nessa noite, quando deitou a cabeça na almofada.

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George estava sentado na poltrona do seu quarto a pôr em dia a correspondência, enquanto de vez em quando deitava um olho à esposa que dormia na cama e ao filho que descansava calmamente no berço ao seu lado. Estava a terminar uma das cartas, quando o filho acordou e começou a soluçar e a ameaçar uma birra. Levantou-se de um pulo e dirigiu-se rápida mas silenciosamente ao filho.

- Shh… Shh… Fred, o papá está aqui, o papá está aqui… Shh… - Dizia, enquanto pegava ao colo o filho de seis meses.

Fred tinha herdado tudo do pai. Tinha cabelo ruivo, sardas, e olhos castanhos-avelã. Ainda não podia dizer com certeza, mas adivinhava que tinha saído à mãe no temperamento, a julgar pelas súbitas mudanças de humor e pelos decibéis que conseguia atingir quando chorava ou gritava, pensou, enquanto os seus lábios esboçavam um sorriso malandro. Sentou-se novamente na poltrona, com o bebé no colo, e pegou no biberão que tinha preparado para uma ocasião como esta. O bebé agarrou, com as mãos minúsculas e frágeis, no objecto, e mamou com vontade. O pai, enquanto fazia movimentos com a intenção de o embalar, olhou com carinho a sua esposa. Continuava a ser linda, assim como no dia em que a tinha conhecido. Não a queria perder.

Voltou a olhar o filho. Vais ser pouco fresco, vais… pensou, enquanto o bebé lhe puxava a camisola e se ria marotamente.

- És igualzinho ao teu tio, sabias? – Disse, baixinho, ao bebé.

Sentiu um aperto no coração ao lembrar-se do irmão, mas era a verdade. Fred era igual ao seu tio Fred, tanto fisicamente, como na ainda pouco desenvolvida personalidade.

Após longos minutos em que o bebé comia avidamente, e depois de ter arrotado, o ruivo levantou-se e levou o filho até ao berço, onde este foi vencido pelo sono.

Ao voltar para o cadeirão, viu-se de frente a um espelho. Estacou, e observou o seu reflexo criticamente. George Weasley… Casado… Com um filho… Olha como estás velho! pensou para si mesmo. Não conseguiu evitar um sonoro risinho. Confirmando que todos continuavam a dormir, voltou a olhar para o espelho. Porque seria que sempre que se olhava ao espelho, não se via a si mesmo, mas ao irmão? Ainda se lembrava das suas manias, do som da sua gargalhada, da sua letra, dos seus medos, dos seus sonhos… Muitos sonhos esses que ficaram por realizar… Deixou escapar uma lágrima. Porque é que tinha que ser assim? Porquê o Fred? Fechou os olhos e outra lágrima conseguiu fugir. Chegou-se perto do espelho e tocou-o. Não sentiu, como esperava, a textura da pele do irmão, nem os seus cabelos espetados. Sentiu algo frio. Sentiu vidro. E apercebeu-se do que estava a fazer. Como se tivesse recebido um choque eléctrico, retirou a mão. O irmão imitou-o. Deu um sorriso de lado e mais uma vez, viu esse sorriso ser repetido na cara do gémeo. E sentiu um arrepio. Um arrepio intenso. Um arrepio que se tornava já familiar.

- Nunca me esquecerei de ti. – Disse para a sua outra metade. – Mas é altura de avançar.

E, sem olhar para trás, foi-se deitar ao lado de Alicia. Aninhou-se ao seu lado e pegou na sua mão, não pretendendo deixá-la escapar. Apertou com força. Não valia a pena viver agarrado ao passado. Alicia e o filho, eram o seu presente e futuro. E era neles que devia concentrar todos os seus planos, pensamentos e sonhos.

A loira moveu-se, aconchegando-se nos seus braços.

- Amo-te George… - Murmurou baixinho, pronunciando com dificuldade as palavras, e sem abrir muito a boca. Continuava de olhos fechados. Devia estar a sonhar.

George respondeu-lhe mentalmente, sem falar. Ele sabia que ela ia ouvir. Ele sabia que ela o sabia. Afastou-lhe o cabelo da cara e colocou-o atrás das orelhas. Deu um sorriso tímido e ficou a olhá-la.

E, a partir daquele dia, todos os arrepios que sentiu foram causados exclusivamente pelo frio.

Tudo estava bem.


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N/A: Olaaaaa!!!! Primeiro que tudo, queria agradecer a quem quer que tenha lido esta fic até ao fim, porque admitamos que é preciso paciência! xD Eu sei que está um pouco chata, e mal-escrita, mas é a minha primeira fic, e ainda tenho MUITO que aprender!!

:D

Bem, devo dizer que algumas destas cenas, como o pedido de casamento, ou algumas das coisas que estavam afixadas nas paredes do escritório, foram tiradas de umas fanarts que eu vi, por isso aqui estou eu a dar crédito à autora! (Se bem que ela não consiga ler isto, porque está em português e ela é inglesa xD)

Está em Português de Portugal, como, obviamente, já repararam, mas espero que isso não seja impedimento para me deixarem aqui a vossa opinião e críticas...

Por favor, quer gostem quer não gostem, deixem comentários!! Para eu poder melhorar, e corrigir os erros!! :D Obrigadaaa!

Beijinhos... a autora,

My_Piano

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