Capítulo Único
“Quanto tempo mais levará para curar isto?
Apenas pra curar isso, pois eu não consigo ignorar.
Isso se for amor
Faz com que eu me vire e me encare,
Mas eu não sei nada sobre amor”
_Eu não acredito que você vai com ele! – ele gritava, a voz saía falhada.
_É claro que eu vou, Ronald! – ela respondia, os olhos começando a se encher de água. – Por que eu não iria?
_Porque... Porque... – ele não sabia o que responder. O que dizer numa situação dessas? – Porque você nem o conhece direito!
_Ronald, eu conheço o Viktor desde que eu tinha catorze anos! Acho que é tempo mais que suficiente!
_Ele é só um jogador estúpido de quadribol, Hermione! Ele não pode te... Ele não pode te colocar em primeiro lugar!
_Ele já me colocou em primeiro lugar, Ronald! É fim de julho... Estamos no meio da temporada de quadribol e ele interrompeu os treinos só pra vir me ajudar na mudança de Londres para a Bulgária!
_Você... Você não entende, não é?
_Não, eu não entendo! O que é pra eu entender?
_Ele só quer se aproveitar de você! – ele disse com a voz rouca.
_Não, ele não quer se aproveitar de mim, Ronald! Ele quer um compromisso sério, e eu também! Nós nos damos bem, nos entendemos, nos respeitamos e ele me ama, o que mais eu preciso?
_Você precisa amá-lo também! Você por acaso o ama, Hermione? – ele perguntou, os olhos fixos nos da garota. Ela desviou o olhar, e ele aumentou o tom de voz, repetindo a pergunta – Você realmente o ama?
A garota se manteve em silêncio por alguns segundos, olhando para o chão. Quando ela levantou o rosto, sua expressão era dura e uma lágrima solitária caia por sua face.
_Uma coisa eu aprendi na minha vida sem precisar dos livros, Ronald. Por mais que você ame uma pessoa, você não pode esperá-la pra sempre... Você pode acabar ficando completamente sozinho. Eu não vou ficar sozinha, Ronald. Eu vou dar uma chance pra minha felicidade. Eu posso aprender a amar o Viktor... Com certeza o primeiro passo já está dado: somos amigos...
_ Eu também sou seu amigo! – ele disse sem pensar.
_É... – ela disse, abaixando a cabeça. – Mas não me ama como ele.
Agora, sentado em sua poltrona, em sua casa, enquanto ouvia a RRB*, ele pensava naquela briga. Olhou para a estante onde o rádio ficava, e viu um livro único que jazia ali. A garota lhe dera aquele livro no seu último aniversário e ele sequer tinha-o aberto. Neste momento, enquanto pensava nela, ele teve curiosidade de observar aquele presente. Abriu o livro e encontrou um bilhete dentro dele:
“Ron,
Espero que você goste deste conto. Sei que não é seu forte ler, mas quem sabe você não muda esse hábito, hein? Poderia mudar isso por mim - como presente de natal desse ano, eu quero dizer! O que acha?
Com amor,
Mione.”
“Com amor...” ele pensava. “Grande coisa todo esse amor se... Se ela vive na Bulgária com Viktor Krum.”
Dois meses após a partida da garota e ele ainda sentia o impacto daquela última frase que ela dissera: “Você não me ama como ele.” Claro que ele não a amava como Viktor Krum! Ele podia não saber nada sobre amor de verdade, pois nunca havia vivido uma história dessas que são descritas em livros, ou contadas pelas pessoas, mas ele sabia o que sentia por ela: ele a amava - foi muito relutante em aceitar isso, mas finalmente aceitara o fato de que a amava - e amava muito, muito mais do que aquele jogador de quadribol idiota. Ele nunca tivera coragem de lhe dizer nada, mas como chegaria nela? Como lhe diria tudo aquilo que sentia? Como poderia demonstrar pra ela que o que sentia era de verdade e não mais uma de suas gracinhas? Como fazê-la acreditar e sentir o mesmo que ele?
Definitivamente, esse não era o tipo de coragem que o tornara um grifinório... Só de chegar perto dela, ver os olhos, o sorriso, ouvir a sua voz, ele ficava todo bobo, atrapalhado, desengonçado, esquecia até o próprio nome. Não sabia como se movimentar sem parecer um idiota e nem onde colocar as mãos... Aquilo era normal? Perto dela, ele parecia não saber nada... E mesmo depois de tentar esquecê-la por tanto tempo, ele estava ali no meio da sala, pensando nela mais uma vez.
“_Ah, Ron! – ela sorria um tanto quanto sem graça. – Essas tulipas são... São simplesmente lindas!
_Eu sei que não é muito para um aniversário de vinte e dois anos, mas... Eu achei que elas eram lindas e que deveriam ser suas...
_Obrigada!
_Erm... Parabéns! – ele disse, indo até a garota para abraçá-la.
Assim que tocou Hermione, Ron percebeu que todos seus sentidos haviam sido, automaticamente, acionados: enquanto a abraçava podia sentir o calor do corpo dela emanando, e aquilo o fazia querer segurá-la ali pra sempre; sentia o cheiro dos cabelos e do perfume dela se misturando numa fragrância que lhe causava entorpecência; ouvia o som da respiração dela, que estava em uma sintonia muito grande com a sua própria. Ao afastar-se dela encarou seus olhos e ela devolveu aquele olhar com a mesma profundidade. Os olhos da garota eram de um castanho-escuro tão escuro e tão maravilhoso que ele se entristeceu um pouco quando ela os fechou. Levantou a mão e tocou a face extremamente avermelhada da garota. Aproximou-se dela. As respirações estavam se misturando e os lábios estavam quase se tocando. Ele fechou os olhos: finalmente havia chegado o momento dos dois; ele beijaria a garota de seus sonhos... Ele quase podia sentir o gosto da garota, de tão próximos que estavam, quando...
_Parabéns pra você, nesta data querida... Muitas felicidades! Muitos anos de vida! – entraram Harry, Gina, Luna e Neville cantando em coro; eles se afastaram rapidamente.
_Ih, pessoal... – Gina começou em um tom extremamente irônico – Acho que estamos atrapalhando o casal...
_Ô idiota... – ele começou dizendo – Você sabe muito bem que somos só amigos... Não somos um casal! – ele viu Hermione lhe lançar um olhar extremamente chateado, mas... O que ele poderia dizer? Eles realmente eram só amigos!
_Desculpa! – disse Gina, o tom irônico ainda presente em cada palavra. – Não está mais aqui quem falou!
_Parece que você não consegue crescer. – ele disse baixo.
_O que é isso, Hermione? – perguntou Luna, apontando as tulipas na mão da garota.
_Foi o... O presente de Ron. – ela corou fortemente ao dizer isso.
_Ah... – Gina começou. – Eu não gostaria de ganhar flores, ainda mais se fossem presente de um namorado... – ela sorriu maliciosamente para Ron. – Mas ainda bem que Ron é só seu amigo...
_Por que não gostaria de ganhar flores, Gina? – Harry perguntou.
_Bem, não é que eu não goste de flores... Mas elas não servem como prova de amor...
_E por quê? – Neville perguntou, extremamente interessado.
_Eu tenho a impressão que relacionamentos regados a flores sempre acabam como elas mesmas... Lindas assim que nós ganhamos, mas sempre acabam murchas, feias e jogadas no lixo.
_Pelas barbas de Merlin, Gina! Você não é nada romântica. – disse Hermione. – Flores são um ótimo presente, Ron. – ela se aproximou dele e deu um beijo estalado na bochecha do amigo. – Obrigada. E vocês... – ela disse, virando-se para os outros amigos – Não vieram aqui para discutir flores, vieram?
Definitivamente aquele dia os amigos não tinham aparecido para discutir flores; tinham aparecido para atrapalhar o grande momento de Ron. Ele ia, finalmente, descobrir algo sobre o amor: ia descobrir como era um beijo carregado desse sentimento. E não descobriu, graças aos amigos que apareceram bem na hora, atrapalhando tudo. Olhou para o rádio de novo. Alguma conspiração deveria estar acontecendo, pois no momento em que ele prestou atenção na música que tocava, ele ouviu uma frase que mexeu mais ainda com o que ele estava pensado. “But in my heart you’ll always be everything and more to me”** Era exatamente aquilo que Hermione significava pra ele: tudo e mais um pouco… E ele a havia perdido para um jogador retardado búlgaro. Como preencher a falta que sentia dela? Como esquecer aquele sentimento que tomava conta de tudo o que ele pensava, de todas as atitudes que ele tomava? Ele simplesmente não conseguia. Levantou da poltrona, cansado de se manter na mesma posição e foi até o quarto do apartamento onde vivia. Um espelho jazia ali, e ele encarou o reflexo.
_É, cara... – ele disse para o que refletia – Você perdeu a sua garota... Você... – ele disse, apontando para si mesmo dentro do vidro – É o mais completo idiota da Terra.
_Ron? – ele ouviu uma voz chamando. Deu um pulo, tamanho foi o susto. Aquele espelho estava falando com ele? – Ron? – a voz chamou de novo, mas definitivamente, não era o espelho... Ele sabia muito bem de quem era aquela voz. Saiu do quarto e foi até a sala, ajoelhando-se próximo a lareira.
_O que você quer pra me perturbar a essa hora? – disse num tom monótono.
_Oi pra você também, Ron. – disse Gina, a cabeça flutuando na lareira. – Sabe, eu vim aqui com a maior das boas intenções e você me trata assim... Eu acho que a sua irmã mais nova não merece...
_Desembucha logo vai, Gina... To sem cabeça pra nada hoje e...
_Muito compreensível... Afinal hoje é...
_Não, não é nada compreensível... Eu acordei assim, nem ao menos sei porque e...
_ Ah, vai me dizer que você não tem nem idéia de que dia é hoje?
_Tenho, ué... – ele disse, olhando em um calendário pregado ao lado da lareira. - Hoje é dia dezenove de... OH NÃO! – ele gritou, levantando-se com um pulo – HOJE É...
_Você nem tinha reparado? – ela perguntou surpresa - Bem, eu vim te avisar que ela está vindo pra cá hoje por uma chave de portal e...
_Como eu pude me esquecer?
_Não me pergunte, mas depois você pode agradecer a sua irmãzinha aqui por ter te ajudado a ter tempo de escolher um presente, ok? Eles vão chegar as sete e vão embora as onze, mais ou menos... Foi o que o Harry me disse.
_Eles?
_Sim... Hermione e Viktor.
_Não acredito que aquele buldogue vai vir também...
_Ele não era o seu ídolo? – ela perguntou, contendo um riso.
_Gina, vai se ferrar... Estou saindo pra comprar o presente dela, obrigado por avisar.
_De nada, cabeção. – ela disse rindo, e desapareceu pela lareira.
Como ele tinha esquecido o aniversário dela? O aniversário de Hermione? Não acreditava... Não podia acreditar... Levantou-se e correu até o banheiro, tomou um banho rápido e se trocou da melhor maneira que conseguiu... Ainda teria que ir até o centro de Londres para comprar algum presente para a garota... Com certeza ele compraria algum livro interessante na Floreios e Borrões. Aparatou próximo a uma loja de cristais e observou a vitrine, interessado. Uma idéia lhe ocorreu, mas ele não teve certeza sobre o quanto ela era boa ou não... Sabia que aquela loja só aceitaria dinheiro de trouxas, então perguntou o preço do que queria e foi até o Beco Diagonal, trocar o dinheiro no Gringotes. Antes de voltar até a loja trouxa, ele comprou um livro que parecia extremamente entediante e que provavelmente a garota gostaria de ler - “A Modernização da Vida Bruxa E as Praticidades da Atualidade”. Saiu da Floreios com o livro bem empacotado e foi até a loja de cristais comprar o segundo presente, que seria substituído pelo livro ao menor sinal de que a garota não havia gostado dele.
_Muito obrigada, senhor... – dizia a vendedora sorridente. – Tenho certeza que a sua namorada vai ficar muito feliz com esse presente... Estes cristais estão em alta ultimamente e...
_Não, não é para uma namorada, é para uma amiga... – ele se pegou explicando coisas para a vendedora. Sacudiu a cabeça, sorriu, agradeceu e saiu com o pacote nas mãos.
Assim que saiu da loja, desembrulhou o presente cautelosamente e lançou um feitiço silencioso nele... Se tudo desse certo, aquele presente iria calar Gina pelo que tinha dito sobre o último presente que Ron dera para Hermione e ele poderia se redimir com a garota pela briga que tinham tido antes de ela partir; perdida para ele a garota já estava, lhe restava agora manter sua amizade e deixar o tempo apagar o sentimento. “Manter a amizade e deixar o tempo apagar o meu sentimento...” - ele pensava enquanto encontrava um lugar para aparatar.
_Manter a amizade e deixar o tempo apagar o meu sentimento. – ele disse em voz alta, tentando se convencer do que deveria ser feito. - Isso vai ser praticamente impossível... – completou, aparatando logo em seguida.
_Oi, Harry. – ele dizia, abraçando o amigo, já dentro do hall do Largo Grimmauld. – Eles já chegaram?
_Eles não, Ron... Hermione chegou. Ela está lá em cima com Gina. Ela chegou chorando, acho que brigou com Krum... Fiquei aqui porque sabia que você ia chegar e...
_O que aquele filhote de explosivim fez com ela? – ele perguntou, aumentando o tom da voz. – Eu vou lá em cima, Harry... Ela... Como ela está?
_Chorando, mas nada demais... Já a vi pior antes... A Gina disse que não era pra você subir de jeito nenhum.
_Mas Harry... É a Hermione e... Ela não... Eu não posso deixá-la sozinha!
_Por enquanto, Ron... Daqui a pouco você fala com ela.
_Eu não vou deixar a Hermione chorando sozinha lá em cima! Eu preciso falar com ela agora, Harry!
_Ron é melhor deixar ela conversar com a Gina... Eu acho que se a Gina disse pra você ficar aqui é porque realmente você devia...
_Harry, eu não vou ficar aqui sem saber o que está acontecendo. – e dizendo isso ele rumou em direção ao quarto que ele sabia ser de Harry e Gina, encostando o ouvido na porta. Alguns segundos depois Harry se juntou a ele, e ambos escutaram em silêncio o que as garotas conversavam.
_Gin... Eu não consegui... Eu tentei, eu juro... Eu não... Ele falou coisas... Eu me senti... Sou... A pior pessoa... Por que eu tentei me enganar? – Hermione dizia palavras desconexas, um tom choroso em sua voz.
_Se enganar sobre o que, Mione?
_Tentei me enganar sobre mim... Sobre o Viktor... Sobre Ron! Eu sou... Sou um desastre.
_Você sabe que não é um desastre, Mione... Só não consegue encarar esse sentimento...
_Eu não consigo, Gina... Eu não entendo como isso pode machucar tanto, como isso pode... Como pode me afetar tanto? Eu simplesmente... Não soube o que dizer quando ele me perguntou sobre o choro e as flores.
_Mas eu não entendi, Mione... Por que você estava chorando?
_Você lembra do que o Ron me deu ano passado? Aquelas flores?
_Sim, claro... Eu até fiz piada sobre flores e sentimentos e...
_Exatamente... São as mesmas.
_Você... Você guardou? – ele ouviu a irmã perguntar num tom assustado.
_Guardei, Gina. Esse ano inteiro eu mantive aquelas flores comigo. Elas murcharam, ficaram feias, morreram, mas continuaram comigo. O buquê todo.
_Você guardou um buquê de flores murchas?
_Guardei, Gina... E quando as encontrei entre as minhas coisas hoje... Eu simplesmente... Meus olhos se encheram de lágrimas... E Viktor viu que eu estava chorando... Eu não soube mentir... Foi tão horrível.
_Ele fez alguma coisa pra você?
_Não, Gina! Claro que não! Fui eu quem fez, você não vê? Eu o magoei de uma forma que... Ele me ama, Gina! Eu brinquei com os sentimentos dele, e ele me fez ver isso hoje. Ele jogou tantas coisas na minha cara... Eu pedi um tempo pra poder esquecer o... O seu irmão... E ele disse que isso não pode ser esquecido com o tempo... Disse que eu... Que ele não queria nada com alguém que está tão ligada à outra pessoa... Ele... Gina, eu não sei o que fazer... Eu perdi alguém tão maravilhoso quanto o Viktor por... Por uma obsessão tola, uma paixãozinha de escola, um amor infantil, que nem ao menos teve... Eu nunca tive nada com o seu irmão, Gina... Como ele pode dominar meus pensamentos dessa maneira? Como eu posso... Sentir tanto assim por ele? Como eu posso ter alimentado isso por tanto tempo?
_Mione, eu não sei... O Ron nunca... Nunca fez nada?
_Não, Gina! Ele sempre foi meu amigo... Meu melhor amigo. E eu sempre com esse sentimento entalado no peito, sem ter coragem de dizer nada, de fazer nada... Eu nunca tive coragem de olhar pro seu irmão de outra forma, pois eu sei que ele também não me olha, entende? Mas quando ele me deu essas flores... Ah, Gina... Eu me senti tão... Tão... Realizada... Elas foram tão importantes e... Naquele dia, antes de vocês entrarem eu... Tive a impressão... Ah... Sei lá.
_Mione, por que você não fala com ele?
_Eu? Você é doida? Falar com o Ron? Nunca! Eu preferia ser atacada por diabretes a ir falar com o seu irmão! Eu não posso perder um sentimento tão forte, ainda que seja só o sentimento de amizade, por causa de uma idiotice, dessa coisa ridícula que eu sinto.
_Não é ridículo, Mione! Isso dura... Dez anos? Onze?
_Quase isso... Mas Gina... E se eu estiver confundindo os sentimentos?
_Aposto que teria tido tempo o suficiente perceber isso em dez anos.
_Eu não sei...
_Eu vou descer e falar com o Harry... Se o Ron chegar e te ver assim Mione... Ele vai fazer perguntas... E se você não quiser respondê-las...
Ron não ouviu mais nada do que Gina disse. Puxou Harry pelo braço e desceu as escadas, o coração batendo acelerado. Ela o amava! Ele sorriu por dentro e por fora, extremamente feliz; Sabia o que faria a seguir. Não trocou nenhuma palavra com Harry, apenas sentou-se na cozinha, fingindo que acabara de chegar quando Gina desceu.
_Ron, você já está aqui? – Gina perguntou, o olhar nervoso.
_Sim... A Mione e o Krum já chegaram? – ele fingiu.
_A Mione está lá em cima... Mas não fale sobre o Krum... Eles brigaram e ela está muito sensível. Ela já vai descer.
_Eu vou falar com ela lá... Por favor, não entrem cantando parabéns dessa vez. – e ele sorriu de canto, percebendo que tanto a irmã quanto o amigo haviam entendido o recado.
Quando chegou no meio da escada, Hermione estava descendo-a, os olhos extremamente vermelhos, e ainda sim, completamente linda.
_Ron? – ela disse com a voz falhada. Ao ouvir aquela voz, Ron sentiu as mãos começaram a suar, o coração acelerar, e os olhos buscando contato imediato com os dela. Correu até ela sem dizer uma palavra sequer. A envolveu carinhosamente em seus braços, encostando a cabeça dela afetuosamente em seu peito. Parecia que ele não via Hermione há séculos, tamanho foi tempo que eles levaram para sair do abraço. Ele afagou os cabelos dela por alguns segundos e então a puxou pela mão, murmurando um “Venha cá”.
_O que...? – ela tentou perguntar, mas ele não a deixou falar.
_Mione... Eu... Oi. – ele disse, o coração batendo apertado no peito, as mãos suando.
_Oi, Ron. Tudo bem?
_Tudo. Mione eu... Trouxe você aqui porque... Eu tenho... Seu presente. – ele disse, estendendo o pacote do livro, a mão tremendo ligeiramente.
_Ah, Ron! Obrigada! – ela disse, a voz ainda triste, enquanto abria o pacote. – Puxa vida! Eu estava querendo comprar esse livro há séculos, mas na Bulgária eles estavam em falta... Muito obrigada Ron! – ela foi até ele e deu-lhe um beijo na face; ele segurou o pulso da garota.
_Esse não... Não é o único. – ele estendeu o pacote que havia comprado na loja trouxa, os olhos fixos nos dela. Ela pegou o pacote e começou a desembrulhá-lo cuidadosamente, analisando o pacote com curiosidade.
_Ron! É lindo! - ela disse, os olhos brilhando na direção da tulipa de cristal. - É trouxa?
_Sim... Eu vi na loja e me lembrei do que Gina disse ano passado... Eu não queria repetir a falha...
_Que falha, Ron? As flores? Mas eu amei as flores do ano passado!
_Sim, mas eram flores normais, que acabam com o tempo, que morrem... Completamente diferentes desta.
_Não estou entendendo. – ela parecia ligeiramente confusa.
_Não sei se você lembra do que Gina disse ano passado, Mione.
_Sim, eu lembro, mas...
_Ela disse que relacionamentos regados a flores eram como as próprias: lindos no começo e mortos no final. Eu não quero que nossa relação comece com essa idéia de final, Mione.
_Como... Como assim?
_Esta tulipa está enfeitiçada, Hermione. Ela não quebra. Feitiço de reparo constante, sem marcas. Sei que cristais são irreparáveis quando danificados no mundo trouxa, mas este é diferente, e é diferente porque é de mim pra você.
_Ron, você tomou Uísque de Fogo? Eu não estou vendo conexão em nada do que...
A garota não conseguiu terminar de dizer onde não via conexão, pois Ron puxou-a pela cintura e a encostou na parede. Ele sentiu que os joelhos dela haviam cedido um pouco. Ela apenas conseguiu dizer fracamente “Ron, o que...?” antes do garoto aproximar os lábios dos dela e beijá-la.
_Hermione... – ele começou a dizer após o beijo, ainda com o corpo junto do da garota. – Eu queria te dar esse presente pra que você compreendesse que meu sentimento não é superficial, não é simples amizade... Eu... Acho que te amo; não, eu tenho certeza absoluta que te amo! Eu só queria que você... Queria que você soubesse que não é nada frágil isso que eu sinto, não é nada fácil de destruir... Eu tentei destruir isso por anos, Hermione... Tentei controlar, tentei esquecer... Eu não consegui, eu falhei. Eu perdi tempo tentando um monte de coisas pra te esquecer, perdi tempo tentando tirar você da minha cabeça, perdi tempo tentando entender porque não podíamos ficar juntos... Eu não vou perder mais tempo e nem vou te perder de novo, Mione... Eu não posso te perder de novo. Me desculpe por ter deixado tanto tempo passar sem te dizer isso, me desculpe ter deixado de ser sincero, me desculpe não ter dito o que...
Hermione levantou um dedo e tocou os lábios de Ron, fazendo com que ele parasse de falar abruptamente. Ele a encarou com carinho, os olhos marejados. Ela tinha os olhos completamente cheios de água e duas lágrimas grossas caíram deles quando ela os fechou. Apesar do choro fraco, ela sorria. Ele levantou a mão e secou as lágrimas da garota, sorrindo também. Ela abriu os olhos e disse baixo:
_Você tem certeza que isso não é um sonho?
Ele não respondeu. Passou a mão que estava no rosto dela para os cabelos e puxou a garota para mais um beijo. Desta vez o beijo foi lento, cheio de carinho, com uma resposta menos assustada da parte dela. Ron acariciava os cabelos da garota com uma mão, e a segurava firmemente pela cintura com a outra. Ela tinha as duas mãos nos cabelos dele, e acariciava-os com calma, com doçura. Quando se separaram ela não abriu os olhos, mas sorriu. Ele tocou levemente os lábios dela com os seus mais uma vez e então eles se abraçaram. Aquele abraço era grande, era aconchegante, era carinhoso, era leal. A partir daquele momento, ele teve certeza que além de tudo isso, aquele abraço – e muitos outros que viriam - seria eterno e indestrutível, assim como a flor que dera para Hermione, ou a força daquele sentimento que nutria por ela; sentimento que nem o tempo, nem a mágoa e nem a distância tiveram força o suficiente pra apagar.
Obs:
* - Rádio Rádiofônica dos Bruxos
** - Porque no meu coração você vai sempre ser tudo e um pouco mais pra mim.
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Comentários (1)
Linda!
2013-03-24