Capítulo 8
A temperatura baixara de repente e o ar da noite pesava úmido. Pela janela da carruagem, o conde Potter contemplava a névoa cinzenta quase sem notá-la. Ainda que tornasse lento o tráfego pelas ruas londrinas e a vida em geral, desconfortável, o mau tempo estava de acordo com seu humor. Oito dias já se haviam passado desde o baile em Wilborn Place. Oito longos e exaustivos dias. A Câmara dos Lordes estivera constantemente em sessão, o que em outras circunstâncias o teria agradado, uma vez que comparecer ao Parlamento era o principal motivo daquelas temporadas em Londres. Só que a política e a legislatura já não lhe proporcionavam tanto prazer quanto antes. A exemplo dos demais prazeres, esse também se desvanecera. E lady Hermione Granger era a responsável. Deus sabia o quanto se esforçara para esquecê-la, mas fora inútil. Pensava nela o dia todo. Sonhava com ela ao dormir. Aquilo já se tornava uma obsessão.
Não falava com ela havia mais de uma semana, ainda que a avistasse de longe às vezes. Não lhe fora possível falar-lhe, mas não apenas devido aos trabalhos na Câmara.
Os dias posteriores ao baile tinham sido um pesadelo. A sociedade, um tanto restringida, fizera vista grossa ao espetáculo promovido por ele e Malfoy em Greenwich. rnas a cena de Rony e lady Luna no jardim do conde de Richard reavivara as brasas dos mexericos, que logo alcançavam proporções avassaladoras. Para piorar, o conde Granger ausentara-se da cidade por tempo indeterminado, abandonando-o com a tarefa de tentar aplacar os rumores venenosos. Sua única aliada vinha sendo lady Isabele, sempre impassível em meio aos urubus ao acompanhar a filha e a cunhada pela corte como se nada houvesse acontecido. Ele mesmo vinha desempenhando seu papel com perfeição. Sob a vigilância arguta de toda a sociedade, mostrava-se polido, cavalheiresco e formal, amaldiçoando em silêncio as regras que assim o exigiam.
A carruagem finalmente parou e Harry pegou o chapéu. Seria bom passar algumas horas no White's, jogando e tentando animar Rony. Depois, no baile de lorde e lady Denber, voltaria a ser o impecável conde Potter, mas agora queria algumas horas de relaxamento.
Saltando do veículo, perdeu alguns segundos ajeitando o chapéu e pegando os demais pertences. O nevoeiro estava tão denso que a visibilidade era de poucos metros.
- Meu senhor, espere um minuto - pediu alguém. - Preciso falar-lhe. É muito urgente. Por favor, meu senhor.
Harry reconheceu a voz.
- Aproxime-se, então - autorizou, contrariado. Esperava nunca mais rever o capanga que Richard contratara para segui-lo. - Avisei-o de que não deveria me incomodar mais.
- Não o estou seguindo, eu juro. - O homem magro acercou-se. - Passei em sua casa, mas o senhor já havia saído; por isso vim aqui, na esperança de encontrá-lo. Meu senhor, é um problema muito urgente!
- Desembuche logo! - ordenou Harry.
- É a irmã de lorde Granger, lady Hermione. Ela foi sequestrada por um dos inimigos do meu patrão, agora há pouco...
Harry agarrou o homem pelo colarinho e puxou-o para bem perto.
- Lady Hermione foi sequestrada? Isso é verdade? - O homem tremia de medo.
- Juro por Deus, meu senhor. Procurei-o porque meu patrão está viajando, longe demais para ser avisado a tempo. Imploro que me ajude!
Harry sacudiu-o.
- Como aconteceu? Como ficou sabendo?
- Depois que o senhor me deu aquele soco, meu patrão ordenou-me que vigiasse a irmã dele, lady Hermione. Ela, lady Isabele e lady Luna estavam a caminho da mansão de lady Wyscott quando a carruagem foi abordada pelos homens de John Saxby, o maior inimigo de meu patrão. Lady Hermione foi colocada em outra carruagem e ninguém sabe onde ela está agora! Também não se sabe o paradeiro da carruagem em que ficaram lady Isabele e lady Luna...
- Deus do céu - murmurou Harry.
- Todas estão desaparecidas, mas é por lady Hermione que temo, meu senhor! Sendo irmã de meu patrão, ela corre grande perigo nas mãos de Saxby. Creio que ele não teria a menor dó dela.
- Viu para que lado fugiram com lady Hermione?
- Vi, meu senhor! Eu os segui enquanto foi possível, até perdê-los, a caminho das docas!
- E lady Isabele e a filha? Para que lado foram levadas?
- Para o norte, meu senhor. Quando a elas, é tudo o que sei.
- Sabe para onde Richard viajou?
- Sim, e já despachei um mensageiro para avisá-lo. Todos os homens disponíveis estão à procura das damas.
- Ótimo. - Harry interrompeu-o. - Entre em minha carruagem e me aguarde. Infelizmente, vou precisar de você para resolver esse problema.
A porta do White's, pediu um favor ao porteiro. Dois minutos depois, Rony aparecia, com a barba por fazer e sem sua capa.
- Harry, o que está havendo? - Harry pegou o amigo pelo braço.
- Vamos para a minha carruagem. Você logo vai saber.
- Tem certeza de que foi aqui que os perdeu, Arthur?
- Absoluta, meu senhor.
De pé junto à carruagem, Harry olhava desconfiado em meio à cerração. Estavam próximos às docas. Ouvia as águas do rio batendo no molhe e sentia um cheiro forte de peixe e óleo. Um sino soava a distância e luzes brilhavam fracamente ao longo da via fluvial, providências quase vãs no sentido de orientar os navios naquela invisibilidade.
- Temos de ir a pé - opinou Arthur, checando a pistola que sacara de debaixo de sua capa. - O barulho da carruagem chamaria a atenção. Os demais homens de lorde Granger estão a nossa espera nas proximidades. Talvez já tenham descoberto onde Saxby prendeu lady Hermione.
Harry escondeu melhor sua própria arma dentro da capa.
- Acha que esse Saxby vai pedir resgate? Não quero que lady Hermione corra o menor risco.
- Não sei se ele vai aceitar algo menos do que deseja de lorde Granger. Mas uma coisa é certa: se houvéssemos avisado a polícia, conforme sugeriu, lady Hermione estaria morta antes que conseguisse gritar por socorro. Nossa única chance é perguntar a Saxby o que ele quer em troca da vida dela.
Harry ordenou aos lacaios que aguardassem ali e seguiu Arthur nevoeiro adentro. Guiados pelas luzes embaçadas que iluminavam os poucos prédios ocupados, seguiram para a taverna de onde, segundo Arthur, Saxby comandava suas operações.
A entrada do estabelecimento, toparam com dois bêbados que saíam cambaleantes, cantando daquele jeito horrível característico.
- Céus! - desolou-se Harry. Se Hermione estivesse ali, mantida cativa por capangas, faria com que John Saxby fosse enforcado na muralha mais alta de Newgate.
- Vou entrar primeiro e ver se Saxby ou algum de seus homens está aí - sussurrou Arthur. - Bem-vestido assim, o senhor só chamará a atenção. Fique aqui de olho. Não se afaste, pois eu jamais o encontraria nesse nevoeiro. Volto assim que descobrir algo.
Harry o deteve.
- Onde estão os outros homens de Richard? - Arthur esquivou-se.
- Estão por toda parte, meu senhor, escondidos e à espera. Não percebeu as trocas de sinais ao passarmos? Acho que não está acostumado a esse tipo de coisa.
- Não, não estou. - Sem alternativa, Harry liberou o homem. - Vá, então.
Sozinho na penumbra, Harry apurou os ouvidos, mas não detectou nenhum dos sinais que os homens de Richard estariam trocando entre si. Continuava ouvindo apenas as águas do rio contra os barcos e atraca-douros e o sino dobrando em seu ritmo monótono. Era péssimo ter de confiar num tipo suspeito como Arthur.
Então, um som de passos anunciou a saída de mais um frequentador da taverna. Era um rapazola assobiando feliz.
- Um minuto, garoto - chamou Harry.
O jovem estacou e olhou em sua direção, mal distinguindo sua silhueta na penumbra. Discretamente, levou a mão ao bolso, onde devia ter um canivete.
- Quem é? - Harry expôs-se à luz.
- Nada tema. Não vou machucá-lo. Só quero uma informação, pela qual pagarei muito bem.
Trajando andrajos, o garoto exibia um rosto sujo e cabelos compridos sebosos sob o boné. O corpo magro exalava um cheiro forte de mar.
- Puxa vida! - exclamou, admirando Harry dos pés à cabeça. - Vem gente bacana aqui de vez em quando, mas nunca tinha visto alguém assim. Não está perdido, está? Que informação está querendo? - Mostrou o canivete para intimidar. - Que seja só isso, meu senhor, pois não irei a parte alguma e se tentar qualquer coisa vai se arrepender.
Harry tirou uma moeda do bolso e a fez brilhar à luz.
- É só uma informação. E pagarei pelo transtorno. - O garoto arregalou os olhos.
- Estou ouvindo.
- Uma moça foi sequestrada agora há pouco... minha mulher, na verdade, por um homem chamado John Saxby. Sabe onde posso encontrá-lo?
O garoto riu.
- John Saxby? Está louco, meu senhor, se acha que foi ele que roubou sua mulher. Ele não poderia ter feito isso, a menos que voasse e, mesmo assim, os homens do conde Negro o matariam se tentasse.
Harry enrijeceu-se.
- O que quer dizer?
- Que o senhor não sabe o que está dizendo - declarou o garoto, impaciente. - Ouça, teria de ir até a Jamaica para encontrar John Saxby. Ele está lá há mais de dois anos, em trabalhos forçados para o conde Negro. Nunca mais porá os pés na Inglaterra de novo. Nem nesta vida, nem na próxima, se depender do meu patrão.
- Céus! - Harry sentiu um arrepio. - O conde Negro... É Richard? O conde Granger?
O garoto guardou o canivete.
- Quem mais poderia ser? Será que não sabe de nada?
- Como sabe a respeito de Saxby?
- Você faz perguntas demais - replicou o garoto, desconfiado. - É da polícia?
- Não, eu só quero a minha mulher de volta. - Harry depositou a moeda na palma suja da mão magra. - Prossiga.
O garoto guardou o dinheiro junto do canivete, parecendo orgulhoso.
- Ninguém sabe mais do que Jonah Wood - gabou-se, referindo-se a si mesmo. - Eu viajo com meu patrão desde que era deste tamanhinho. - Baixou a mão esticada até a altura dos joelhos de Harry. - Eu estava no navio que levou Saxby para a Jamaica e vi quando o arrastaram para a plantação do meu senhor, em ferros, nada menos que isso. - Balançou a cabeça. - Esse não volta mais para a Inglaterra, nunca mais. A não ser num caixão. Quando o conde Negro pega alguém, é o fim da linha, meu chapa.
- Sei - murmurou Harry, contemplando a escuridão. - Disso eu sei muito bem. - Sacou outra moeda reluzente. - Responda só a mais uma pergunta, e terá também esta.
- Pode falar.
- Ainda há homens de Saxby por aqui que poderiam...
- Ei! - gritou o garoto, saltando para trás, os olhos arregalados.
Esse foi o breve alerta que Harryrecebeu antes de sentir uma dor aguda na parte de trás da cabeça. Desabando no chão, agarrou os tornozelos do garoto, pedindo-lhe:
- Corra... à carruagem... conte-lhes... Outra pancada, e a escuridão se fechou.
Hermione já tentara alcançar a janela pelo menos cem vezes e batera na porta o dobro disso, em vão. A janela era muito alta e a porta estava muito bem trancada. Havia um guarda do lado de fora, mas quando ela chamava ele só lhe dizia para ficar quieta e poupar as energias.
Agora, sentada na cama, pensava no que fazer. Mas era difícil; não estava apenas amedrontada, mas também exausta e faminta. Já lhe haviam trazido comida, junto com uma garrafa de vinho, mas não conseguira se alimentar. E era bem possível que houvessem colocado alguma droga na bebida. Não sabia o que aqueles homens queriam dela, embora pudesse imaginar, mas, ao menos que estivesse inconsciente, teriam enorme dificuldade em atingir seu objetivo.
0 quarto era úmido e frio, mas não totalmente repulsivo. Estava bem limpo e a mobília, composta de uma cama, cadeira e mesa, estava em bom estado. Que tipo de lugar era aquele, rústico e aconchegante ao mesmo tempo?
Oh, mas estava frio! Tremendo, tentou aquecer os braços com as mãos. Uma dor familiar já se manifestava no fundo de seu peito, mas ignorou-a. Não ficaria doente agora. Seria desastroso, precisando de todas as forças e do raciocínio. Seus algozes lhe haviam dito que acenderiam o fogãozinho a carvão se ela prometesse não incendiar o aposento, mas se negara. Em vista disso, levaram-lhe cobertores e um lampião, confiantes em que ela não o usaria de modo insensato. Considerava seriamente aquecer-se com os cobertores; caso contrário, adoeceria.
Seu irmão logo iria salvá-la. Ou Harry. Deviam já estar a sua procura. Se bem que Richard estava fora de Londres e lorde Potter passara quase todo o tempo na Câmara dos Lordes naquela semana. Tampouco sabia se Isabele e Luna haviam voltado para casa em segurança; podiam estar aprisionadas também, bem como o cocheiro e os lacaios. Nesse caso, os criados em Wilborn Place só constatariam o desaparecimento de todos pela manhã. Então, um mensageiro partiria para avisar Richard e as pessoas mais chegadas ã família ficariam a par, entre as quais Harry. Ele saberia o que fazer. Logo seria encontrada e resgatada. Tinha plena confiança.
Seguiu-se uma agitação do lado de fora, com vários homens discutindo. Por fim, bateram na porta e Hermione pulou da cama.
- Minha senhora, está ouvindo?
Ela ergueu o lampião da mesa, surpresa com o peso considerável.
- Vou abrir a porta, minha senhora, e não quero ter problemas com a senhora. Mantenha-se a distância, está ouvindo? Ninguém aqui quer machucá-la. - O homem fez uma pausa e falou com um comparsa - Georgie, vá na frente e garanta que ela não faça nada que possa machucar a si mesma.
Ouviu-se um barulho de chaves e a porta foi destrancada. As dobradiças rangeram e o tal Georgie enfiou a cabeça.
- Minha senhora?
Hermione ergueu o lampião bem alto, pronta para se defender.
- Não é preciso nada disso, minha senhora - garantiu o rapaz. - Não viemos machucá-la, mas só trazer-lhe companhia.
A porta se escancarou e Hermione, estarrecida, viu Harry ser arrastado por dois homens mal-encarados. Estava totalmente inconsciente... ou talvez pior que isso.
- Har-ry! - gritou, quase deixando cair o lampião. Georgie tomou-lhe a peça, colocando-a sobre a mesa. Harry foi estendido na cama e Hermione ajoelhou-se a seu lado. Ao pressionar a mão em seu pescoço, constatou que estava vivo e se aliviou. Em sua testa, um feio hematoma inchava.
- Har-ry... - murmurou, deixando rolarem as lágrimas que não vertera por si mesma. - Har-ry...
Os algozes riram então e Hermione se voltou para eles furiosa.
- A-a-ni-mais! - xingou, sufocando um soluço. - Biltres! No-jen-tos! A-ni-mais!
Tanto Georgie quanto os outros mostraram-se constrangidos e, sem dizer nada, deixaram o quarto, fechando e trancando a porta.
Hermione cobriu Harry com um cobertor. A seguir, pegou o guardanapo limpo que lhe haviam levado com a refeição e umedeceu-o na água do jarro sobre a bacia deixada ao lado da cama. Com todo o cuidado, limpou-lhe o rosto, sem tocar no ferimento. Ele gemeu quando passou o pano em seus lábios, mas então mergulhou de novo no silêncio.
Pensando em seu conforto, desatou a capa de noite e puxou-a por seus ombros largos, afrouxou a gravata e soltou os três botões superiores da camisa. Descalçar-lhe as luvas foi mais que um desafio, pois eram justíssimas, mas perseverou até ver suas grandes mãos à vontade. Sem nada mais a fazer, puxou a cadeira para junto da cama e lá ficou, mantendo a mão sobre a dele para ter certeza de que se mantinha aquecido.
Ele fora até ela, conforme previra. Queria salvá-la, mas fora pego em alguma armadilha. E ferido. O sentimento de culpa assolou-a, bem como um medo renovado. Já fora ruim imaginar o que pretendiam fazer com ela, mas quais seriam os planos para lorde Potter?
Com certeza, não matariam um par do reino, ainda mais um conde.
Fechando os olhos, tentou pensar, convencer-se de que não aconteceria nada grave, de que o soltariam sem mais prejuízos. Mas pensar era impossível. Estava gelada, faminta e exausta ao extremo. Inclinando-se para a frente, cruzou os braços sobre a colcha e pousou a cabeça. Adormeceu segurando a mão dele.
- Hermione?
Ela abriu os olhos, grogue de sono, e fechou-os de novo. Afagaram-lhe o cabelo e as costas.
- Hermione?
Harry puxou-a para a cama, estendendo-a a seu lado, e então ajeitou o corpo sobre o dela. Ela sentiu o calor e o peso do corpo grande e musculoso.
- Hermione... - murmurou ele, beijando-lhe a orelha. - Você não acordava nunca. Eu estava preocupado. - Deslizou a língua por seu rosto, até os lábios, e introduziu-a em sua boca.
Hermione arregalou os olhos e empurrou-o, em pânico, mas ele nem se abalou. Beijou-a profunda e possessivamente, enchendo-a com seu sabor e prazer. Ela o empurrou de novo, ao que ele se apertou ainda mais contra seu corpo, até que ela sentisse a prova irrefutável de sua excitação. Ele tomou-lhe um dos seios na mão, então, e ela engoliu em seco.
- M-meu se-nhor!
- Hum... - respondeu ele, abrindo uma trilha de beijos em seu pescoço. Começou a desatar-lhe o corpete. Com um riso profundo, puxou-lhe as mangas pelos braços, expondo-a totalmente a sua boca errante. - Você está vestida - murmurou. - Que bobagem... - Começou a esfregar os quadris contra os dela, num lento movimento ritmado. - A saia, que estorvo... - Erguendo-lhe a peça até a cintura, colocou a mão entre suas pernas.
- N-não, Har-ry! - suplicou.
Ele voltou a capturar-lhe a boca, beijando-a ternamente.
- Adoro ouvir você falar meu nome - murmurou ele. - É tão lindo. Você toda é linda, Hermione. - Aos poucos, introduzia os dedos entre suas coxas, querendo separá-las. - Deixe, quero sentir você - sussurrou. - Sentir seu gosto. Toda a sua doçura. Deixe... - Beijou-a novamente, sempre murmurando e encorajando, acariciando-a com vagar, até que ela perdeu toda a força de vontade e se abriu.
- Oh, Hermione. - Ele beijou seus lábios entreabertos. - Tão doce.
Deslizando os dedos pelas pernas bem torneadas de Hermione, tocou o centro de sua feminilidade, lenta e delicadamente, fazendo-a estremecer.
Uma onda de prazer a atravessou, diferente de tudo o que ela já experimentara antes. Afogueada e agitada, não sabia bem o que estava acontecendo.
- Tão quente e macia... - Ele a beijou e emitiu um gemido profundo. - Toda para mim...
Instintivamente, Hermione arqueou o corpo contra o dele e ouviu seu próprio gemido desarticulado.
- Hermione... - Febril, ele se deitou sobre ela novamente, afastando-lhe as pernas para se encaixar, a mão explorando-a em desespero.
Ela se movia ofegante, beijando-o, alisando-lhe o peito por sobre o tecido da camisa.
Apoiando-se num cotovelo, ele se debateu para desabotoar a calça, rindo de si mesmo.
- Por que estou vestido, afinal? Que idiotice!
Ela também riu, pois era mesmo idiotice, e também por estar nervosa, além de quase não poder acreditar que ele a tornaria sua amante em circunstâncias tão estranhas. O ardor em seu peito recomeçou então, ao que tossiu duas vezes.
De repente, ele parou e olhou-a parecendo confuso. Piscou uma vez antes de arregalar e focalizar os olhos. Era como se despertasse de um sono longo e profundo.
Não, aquilo não podia estar acontecendo. Era só um sonho. Um sonho dele. O mesmo que se repetia toda noite. Com a diferença de que estavam ambos vestidos, ao passo que nos sonhos estavam sempre nus. Ela estava mesmo, quente e real, sob ele. O aroma dela o impregnava. E a tudo o mais, aparentemente.
- Minha nossa... Hermione?
O sorriso no rosto dela se apagou, dando lugar a uma expressão de embaraço e perplexidade.
- S-sim?
- Ora, ora. - Ele ficou de joelhos na cama. - Você não é um sonho?
Ela balançou a cabeça.
- N-não.
- Oh, não! - Afastando-se sobre a colcha, ele olhou chocado para ela, meio despida.
- Hermione, eu... eu peço perdão. - Rápido, ajeitou-lhe a saia e se pôs de pé, de costas para ela. - Lamento terrivelmente. Peço mil desculpas, mesmo sabendo que não tenho esse direito. Por favor, acredite quando digo que gostaria que nada disso houvesse acontecido.
- E-eu en-ten-do, m-meu se-nhor - murmurou Hermione, levantando-se também.
- Não, não entendeu - contrariou ele, desolado. - Não pode entender. Trata-se de sonhos... se eu lhe falar deles, vai ficar ainda mais ofendida do que já está.
A cada instante, seu comportamento parecia mais e mais deplorável. Não obstante, seu corpo ainda latejava de desejo por ela. O aroma feminino impregnava suas mãos, prova cabal de que a tocara intimamente. Sem ousar encará-la, sentou-se na cadeira e passou a mão pelo cabelo.
- Que belo herói estou me saindo! - ironizou. - Ao tentar salvá-la, não só caí prisioneiro também, como a ataquei da maneira mais baixa possível. Nem sei como me redimir. Entendo que me condene à perdição extrema.
Ela tossiu, sem responder. Segundos depois, ele sentiu um pano úmido e frio sobre a testa dolorida.
- Hermione... - Pegou-lhe a mão.
Ela se afastou, deixando-o só com a compressa.
- N-não se des-cul-pe de n-no-vo - pediu ela, tossindo. - N-não é pre-ci-so. E-eu en-ten-do. - Após uma pausa, indagou - S-sua ca-be-ça d-dói?
- Dói - murmurou ele. - Já vimos que não tenho vocação para herói. Tem idéia de quem nos sequestrou?
Ela se sentou na cama e balançou a cabeça negativamente.
- Não lhe disseram nada do que pretendem?
- A-a-pe-nas q-que n-não vão me ma-chu-car. - Ela cruzou as mãos no colo.
- Rony foi atrás de lady Isabele e lady Luna. - Hermione o encarou.
- E-e-las fo-ram le-va-das t-tam-bém? - Tossiu várias vezes, cobrindo a boca com a mão.
- Parece que sim.
Harry olhou em torno para se orientar. Primeiro, tiraria Hermione dali, decidiu, e só depois amargaria a culpa pelo que lhe fizera. Se ela o perdoaria ou não, deixaria para se preocupar mais tarde. A perspectiva de perdê-la para sempre o enlouquecia.
- Mas não temos idéia de quem está por trás disso - concluiu, mentindo.
Como contar-lhe que um dos capangas de seu próprio irmão participara daquela farsa de sequestro?
- Rony com certeza saiu-se melhor do que eu - tranquilizou.
Ela não devolveu o sorriso.
- E Ri-cha-rd?
- Acho que não devemos contar com ele, Hermione - opinou, franco desta vez. - Vamos descansar mais uma hora ou duas e depois tentar fugir. Acho que consigo alcançar essa janela.
Ela aquiesceu, parecendo esperançosa.
- E-eu t-ten-tei, mas é al-ta... - Calou-se com uma crise de tosse, tão intensa que ela se dobrou ao meio.
Harry foi até a cama e massageou-lhe as costas, conforme sua mãe lhe ensinara, em vez de dar tapinhas, o que era um erro comum. A seguir, olhou em torno procurando a água e viu a bandeja com comida e vinho. Em segundos, levava um copo com a bebida aos lábios de Hermione.
- Tome, beba isto - aconselhou, vendo-a resistir. - Não importa o gosto, beba.
Ela começou a sorver o vinho aos golinhos, mas ele só afastou o copo quando já estava vazio. Sob o braço, sentia seu corpo magro tremer de frio e amaldiçoou-se por não ter pensando antes em seu conforto. O local que lhes servia de cativeiro era gelado e úmido como uma caverna. Era evidente que seus pulmões frágeis já se ressentiam.
- Ho-hor-rí-vel - resmungou Hermione, aliviada. - A-a-ze-do. D-de-ve es-tar en-ve-ne-na-do.
Harry sorriu.
- Não creio. Se você ao menos gritasse feito louca... Como não pode, por que eles a dopariam? - Impediu-a de responder. - Não fale. Sua voz está cada vez mais rouca, e a tosse está piorando. Quando foi que se alimentou peia última vez? Responda com as mãos, Hermione.
Ela ergueu seis dedos e ele foi buscar o prato de comida.
- Não parece tão ruim - opinou, analisando a gordurosa mistura de carne, peixe e legumes. - Coma um pouco.
Hermione não tirava os olhos do chão. Ele pôs o prato na mesa e obrigou-a a se levantar.
- Hermione, querida, não fique assim. Posso não ser bom em resgate, mas daria a vida para que você não sofresse. Vamos descansar até o sol raiar. Não adiantaria fugirmos agora, pois não dá para ver nada com esse nevoeiro. Mas em poucas horas, estaremos em segurança, longe deste lugar. Eu prometo. Confie em mim.
Ela aquiesceu e deixou-se conduzir até a mesa, rígida.
- Coma o máximo que conseguir - pediu ele, puxando-lhe a cadeira. - Depois, vamos dormir. A menos que nossos algozes redobrem a vigilância, logo estaremos livres deste pesadelo, de um jeito ou de outro.
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N/a: Ui, não pensei que ia demorar tanto assim para postar. Os motivos, algumas de vocês deve saber, duas semanas estudando pro vestibular, e mais uma doente. Então, peço desculpas pela demora, na próxima vez tentarei atualizar mais rápido.
Nhái, sem nada o que comentar sobre o capítulo. A única coisa a dizer do clima 'caliente' entre eles, que na verdade ele pensava que era um sonho, por pouco nesse estado sonifero ela não se tornou dele. De qualque forma, agora com o sequestro as coisas irão melhorar.
Bãããão, vou indo nessa. Agradeço todos os votos, comentários, e os que se dão paciência de ler. E espero que continuem.
Agradecendo também a Jessy_Potter pela espetacular capa. Fez um excelente trabalho, amei mesmo.
Até mais pessoas.
Beiiijões!
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