Alice in Wonderland



Capítulo I


Alice in Wonderland


 


“Calma Alice. Já vai acabar”. Era o que a própria Alice dizia para si mesma. No auge de seus cinco anos, a menina foi obrigada a ir num jantar chato, com um vestido chato e com pessoas mais chatas ainda. Era o jantar do Ministério, que estava acontecendo em Hogwarts em homenagem a algo que não era importante, segundo seu pai. E ela estava sendo obrigada a agir como uma mocinha comportada, educada e “sorridente”. Mas não era isso que a incomodava. Ela não tinha companhia. Ao reclamar disso, seu pai disse que logo estaria chegando um colega de trabalho, que ficaria na mesma mesa e que tinha um filho da mesma idade.


“Mas eu não quero brincar com um menino. Eles não sabem brinca. Eu quero brincar com meninas, de casinha”.A garota resmungou, explicando com as mãozinhas gorduchas ao pai, que rebateu alertando que não podiam fazer bagunça ali, pois era um lugar sério, com pessoas sérias.


“Que logo não serão tão sérias assim”, pensou a pequenina, ao ver um homem loiro, aparentando seus quarenta e tantos anos, virar um copo com whisky e engolir tudo de uma vez só.


“Olha, Alice, eles chegaram!” O pai da menina falou, apontando para um homem alto e desengonçado que dava a mão, numa tentativa frustrada de cavalheirismo, para uma mulher baixinha, que segurava um menino muito bonitinho, moreninho com um corte de cabelo “peniquinho”. Alice notou que o garoto se contorcia e esperneava, querendo sair do colo da mulher.


[...]


“Oi, eu sou o Frank. Vamos lá fora passear?” O garotinho estendeu a mão para Alice, após o pai mandá-lo pela terceira vez ir para fora do Grande Salão, respirar ar puro. “Devem querer conversar sobre coisas de gente grande” sussurrou para a menina, puxando-a rapidamente em direção á porta. Ela lançou um olhar desesperado para a mãe, que sorriu.


Lá fora estava escuro e as poucas tochas bruxuleavam. Alice apertou mais forte a mão do menino.


“Não seja medrosa! É só vento.”


O garoto resmungou e apontou para uma parede, com uma porta de madeira.


“Vamos lá?...”.


“Fazer o quê?”.


“Ver o que tem lá, né!”.


“Mas... esquece, vamos!” A menina segurou na mão de Frank e saiu correndo, puxando-o até chegarem tal na porta. Ergueu a mão, tremendo um pouco, mas respirou fundo e empurrou a porta. O que viram causou reações diferentes em cada um. Os olhos de Frank brilharam e ele sentiu uma sensação de felicidade extrema. Já Alice tremeu e sentiu os olhos encherem de lágrimas. Repentinamente, abraçou Frank e sussurrou:


“Me protege, Frank, me protege!”


O garoto sentia as lágrimas dela no seu peito, forçava o olhar, mas via apenas o seu “pequeno paraíso”. E ali não havia nada para temer. Mesmo não sabendo o porquê do medo da garota, Frank devolveu o abraço, tentando passar um pouco de segurança para Alice. Quando sentiu que a menina se acalmou, Frank se afastou o suficiente para poder encará-la.


“O que houve?”.


“V-você não viu?” Indagou a garota, sentido os olhos marejarem novamente.


“Não. O que era?”.


“Na verdade.. er... eu tenho medo de escuro”


“Tá, e daí?”.


“TÁ TUDO ESCURO!” A garota gritou, erguendo as mãos gordinhas em sinal de desespero. Frank nada respondeu. Estava com os olhos fechados e Alice pensava se ele não estaria passando mal. De repente, ele deu um pulo e falou “já sei, já sei”. A moreninha ficou olhando para ele com uma sobrancelha erguida, como se dissesse “Tá, babaca. O que é?”.


“Meu pai já me contou. Tem lugares mágicos, que cada pessoa vê o que quer ver. O que você queria ver?”


“N-não sei”.


“Vamos, fala. Não precisa ter medo. Prometo que não vou rir.”


“Primeiro me fala como eu faço pra parar de ver esse lugar feio”


“Se for o lugar que meu pai me falou, é só fechar os olhos... e pensar em coisas que te fazem feliz.” A garota rapidamente fechou os olhos, mas foi interrompida por Frank.


“Mas nós podíamos pensar no mesmo lugar, né?! Faz o seguinte: tenta não pensar em nada, que eu te levo pra onde eu estou, tá?” Alice concordou rapidamente, tentando pensar em como não pensar em nada.


“Pode abrir os olhos”


“Acho que sim”


A garota abriu os olhinhos vagarosamente, se espantando com a claridade que havia no local. Havia um extenso gramado, com poucas árvores, mas muitos animaizinhos e flores.


Era encantador ver aquelas duas crianças. Eram donos de uma inocência admirável. Não apenas por serem crianças e sim por apesar de mal se conhecerem, confiarem plenamente um no outro. Ficaram um tempo brincando, correndo. Alice se sentiu cansada e se jogou na grama verde, erguendo a cabeça para observar o céu, adormecendo em seguida.


 


-x-x-x-


 


 


Acordou de soco, sentindo alguém se encostar nela. Era um homem baixo, com um nariz meio estranho. Alice riu ao ver o chapéu, verde limão. Ele estava acompanhado de uma lebre. Puxaram-na, um por cada braço, e a levaram até uma linda casinha num buraco de árvore. Lá dentro, havia uma grande mesa arrumada, como se estivessem esperando uma visita muito importante ou querida.


Repentinamente, o homenzinho (que depois, ela descobriu se chamar Chapeleiro Louco) pulou com uma xícara na mão e, erguendo-a, e a lebre começou a cantar, sendo acompanhada pelo estranho homem:


 



A very merry unbirthday to me


Um feliz desaniversário

To who?
Para quem?

To me
Para mim!

Oh you!
Oh, você!



A very merry unbirthday to you
Um feliz desaniversário para você!

Who me?
Para mim?

Yes, you!
Sim, você!

Oh, me!
Oh, eu!

Let's all congratulate us with another cup of tea
A very merry unbirthday to you!
Vamos nos parabenizar com outra xícara de chá


Um feliz desaniversário para você!

Now, statistics prove, prove that you've one birthday
Imagine, just one birthday every year
Estatísticas provam que você só tem um aniversário, imagine, um aniversário a cada ano!



Ah, but there are three hundred and sixty four unbirthdays!
Ah, mas tem trezentos e sessenta e quarto desaniversários!

Precisely why we're gathered here to cheer
E é por isso que estamos aqui comemorando



E, virando-se para Alice, recomeçaram a canção.


 


A very merry unbirthday to you, to you
Um feliz desaniversário para você, você!



To me?
Para mim?

To you!
Para você!

A very merry unbirthday
Um feliz desaniversário

For me?
Para mim?


 


For you!
Para você!

Now blow the candle out my dear
And make your wish come true

Agora apague a vela, querida


E seu desejo se realizará!



A merry merry unbirthday to you!


Um feliz, feliz desaniversário para você!


 


 


Alice estava tonta de tantos movimentos, e achava que a música não fazia nenhum sentido, mas acabou sentando-se e tomou uma xícara de chá com eles. Quando acabou arrumou uma desculpa e rapidamente saiu dali, olhando para os lados, tentando localizar Frank.


Frank vinha correndo em direção à Alice, com cara de assustado e segurando uma flor branca na mão. Quando parou, ainda de olhos arregalados, abriu a mão e mostrou a flor, uma rosa, toda branca, com alguns respingos vermelho-vivo.


Eu acho que é sangue!” O garoto disse, respirando afobado, erguendo a rosa até a altura dos olhos dos dois.


Precisamos sair daqui!”


Não! E se alguém precisa de ajuda?”


Frank, nós somos crianças, não podemos ajudar em muita coisa!”


Frank olhou em desavença para Alice e, revirando os olhos, começou a puxar a menina pela mão, na mesma direção de que tinha vindo.


Alguns metros adiante, avistaram um grande campo cheio de rosas vermelhas, que se estendia até onde conseguiam enxergar.


Elas... elas eram brancas!” Frank murmurou, e então Alice apontou para esquerda, onde um grande homem, com um bigode generoso, pincelava sem nenhum cuidado algumas poucas rosas brancas com tinta vermelha – que Frank pensara ser sangue. Ao se sentir observado, o homem se virou, deixando mostrar um corpo estranho – uma carta de baralho. Alice reconheceu ser um Três de Copas, mas antes que pudesse falar algo, o homem olhou acusador para Frank.


Você roubou uma rosa.”


Nós...nós pensamos que fosse sangue!” Alice falou, com uma voz estridente, erguendo o braço de Frank para mostrar a rosa branca salpicada de vermelho. Três de Copas revirou os olhos e disse, em sussurro, que se a Rainha visse as rosas brancas, ele seria decapitado. Por isso, estava pintando todas as rosas de vermelho.


Quem é a Rainha?”


Eu sou a Rainha.” Disse uma mulher muito alta, que estava parada a alguns metros de onde os três conversavam. “Senhor Três de Copas, por que as rosas estão sendo pintadas? Por que elas já não são vermelhas? Por que tem uma flor faltando logo ali?” Indagou a Rainha, indicando o lugar de onde Frank tinha tirado a rosa e olhando inquisitivamente para os três súditos.


Ora, qual é o problema com rosas brancas?” Alice perguntou, inocentemente.


Quem faz as perguntas aqui sou eu.” Disse-lhe a Rainha, tão logo Alice acabou de falar. “Quem são vocês? Aliás, o que querem aqui?”


Frank murmurou algo como “Gostaria de saber”, enquanto Alice disse muito claramente que não isso não era da conta de ninguém. A Rainha se aproximou ameaçadoramente dos dois, se inclinou, olhando-os nos olhos, e murmurou entre os dentes que iria decapitá-los. Três de Copas falou que não havia motivo para tal ação. A Rainha se endireitou vagarosamente e, se virando na direção de Três de Copas, apertando os olhos de raiva, disse-lhe, agitando as mãos:


Então talvez eu deva fazer saltar a SUA cabeça, senhor. Pela sua incompetência!”


Três de Copas olhou raivosamente para a Rainha e, com um tapa, tirou a coroa desta.


Você não a merece.” Gritou acusadoramente. As bochechas da Rainha, antes brancas, começaram a se avermelhar, e uma veia em sua testa pulsava estranhamente. Ao olharem para os lados, Frank e Alice notaram que Três de Copas havia sumido, assim como a coroa.


ISTO É TUDO SUA CULPA!” Berrou a Rainha, apontando para Frank, os olhos saltando das órbitas, enquanto tentava erguer a saia de seu vestido. Alice sabiamente previu que este gesto era para conseguir correr atrás deles, e fazer sabe-se lá o quê quando os alcançasse.


Enquanto a Rainha corria assustadoramente atrás deles, um arbusto logo a frente se moveu. Alice começou a se desesperar, quando reconheceu Três de Copas, que tinha uma informação importante: uma porta estava no fim desta grande reta, na qual estavam, cercada por rosas vermelhas. Frank respirava pesadamente, e enquanto se recuperava, viu a coroa reluzir nas mãos de seu aliado.


Três de Copas, olhando atentamente o garoto, disse em uma voz solene, que Frank merecia a coroa mais que qualquer um naquele lugar. Quando concluiu a frase, ajeitou a coroa na cabeça do menino que, estupefato, não sabia como reagir. Alice ensaiou uma mesura desajeitada. Frank queria perguntar o que exatamente aquilo significava, mas os grunhidos da Rainha ficavam mais e mais próximos, então agradeceu Três de Copas, pegou Alice pela mão, e saiu correndo, derrubando a coroa pelo caminho.


 


 


-x-x-x-


 


 


Ao saírem da sala, ambos ofegando, se escoraram na parede mais próxima.


Isso foi meio que divertido.” Alice disse, respirando fortemente, com as mão apoiadas nos joelhos. Frank concordou com a cabeça, tentando normalizar sua respiração.


Alguns momentos depois, o garoto abraçou Alice totalmente de supetão, bem apertado (e esta é uma das memórias mais antigas que Alice tem, quase podendo sentir as mãozinhas de Frank nas suas costas quando se concentra), e pegou-lhe pela mão.


Acho que o jantar já está sendo servido.”


Quando estavam chegando ao Grande Salão, Frank pôs as mãos nos bolsos do pequeno paletó que vestia e, se virando para Alice, disse:


Foi divertido mesmo. Acho que a gente podia brincar juntos mais vezes. Eu gostei.” Encerrou, encolhendo os ombros, surpreso consigo mesmo por ter conseguido se divertir com uma menina.


Quando Alice sentou junto aos seus pais, para jantar, ficou pensando na aventura que teve e em seu novo amigo. Ao esticar o olhar para o outro lado da mesa, onde Frank estava, deu um leve sorriso, e torceu para, quando estudassem em Hogwarts, voltassem para aquele lugar. Frank ficava terrivelmente bonito com uma coroa em sua cabeça.


 


N/A: Well, milagres acontecem! Depois de séculos, um capítulo! Pretendo atualizar em uma semana, e tirar a poeira de todas as minhas fanfics até o fim das férias. Próximo capítulo: II – Snow White!

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