O acidente do moreno
Capítulo 1:
O acidente do moreno
No cómodo calmo, apenas se escutava o leve tic tac dos ponteiros do despertador pousado em cima da pequena mesa de madeira. Enroscado nos cobertores, pouco antes do irritante trrim trrim soar, Harry acabou por acordar num pulo, empurrando o objecto para dentro da gaveta aberta, fechando-a em seguida.
- Raio de barulho irritante que não pára! – resmungou olhando para o lado.
Foi então que se deu conta que o objecto continuava em cima da mesa a tocar e o que tinha ido parar à gaveta eram os seus óculos.
- Maldita miopia! – bufou, antes de desligar o aparelho e dirigir-se à casa de banho.
O som dos passos apressados ecoava pelo espaço, quebrando aquela monotonia matinal. Deixando folhas cair, tropeçando nos próprios pés, Draco tentava dar o nó na gravata com uma mão, ao mesmo tempo que tentava pentear o cabelo com a outra. Baixou-se para apanhar as folhas de papel que alcançasse, conseguindo obter a proeza de bater com a testa no canto da mesa de jantar.
- AAAUUU! Maldito sejas, quem quer que seja o meu estúpido anjo da guarda! Serves-me de muito, tu aí em cima! – berrou, olhando para um tecto totalmente branco.
Massajando a parte dolorida, o loiro sentou-se numa das poltronas da enorme sala de estar, deixando-se perder em lembranças que as fotografias, dispostas na estante à sua frente, lhe traziam. Detendo o olhar na maior fotografia da estante, de facto exageradamente grande, bufou em sinal de protesto.
- Eu bem que tentei cortar a Luna do raio da fotografia, para ficarmos só eu e o meu moreno sexy! Mas não! Maldição de fotografias mágicas! Aquela perua está sempre a meter a mão para despentear o MEU Harry! Estávamos muito bem só nos os dois, mas ela, que estava ao lado dele, tinha que lhe por a mão na cabeça! – discursou convicto, reclamando com os seus botões.
De repente, um sorriso apoderou-se da sua face pálida, ao vislumbrar um pequeno cellphone.
- Será que o meu sweet já ouviu os bons-dias hoje? – questionou-se num tom sarcástico, pegando no pequeno objecto.
Trrim trrim
- OH NÃO! Raios partam esta coisa muggle que a Luna insiste que eu tenha! – resmungou, pegando no seu cellphone, enquanto tentava manter-se atento à estrada, segurando no volante com uma das mãos.
Sem ver quem era, atendeu, presumindo ser o seu adorado amor, Luna.
- Bom dia, meu amor! – exclamou para o pequeno objecto, disfarçando a raiva de ter ouvido aquele som irritante.
- Ora ora, mas que bem! Resolveste finalmente assumir que eu sou o teu amor?! Bom dia para ti também, minha flor!
- MALFOY?!? MAS QUE RAIO! Filho da mãe! Eu pensava que era a Luna!
- Desculpas, minha flor...eu sei que sim!
- Chamas-me mais uma vez flor e arrebento contigo!
- Na cama? A minha está disponível neste preciso momento!
- Vais parar à cama, vais! Mas é à cama do hospital, sua ratazana fedorenta!
- E eu que pensava que ninguém tinha fantasias mais originais que as minhas...cama do hospital, hein, Potter?! Pervertido!
- Malfoy, cala-te, sim?
- Pronto, não te irrites...era só para desejar um belo dia de sol à minha flor!
- MALFOY MANUEL! JÁ TE DISSE PARA TE CALARES!
- Ai credo! Manuel não... é muito gay!
- Claro, Malfoy... como se tu não fosses mesmo um! Uh... tenho uma chamada em espera, vou desligar. – Harry carregou num pequeno botão e atendeu a chamada.
- Harry, amor! – a voz de Luna soou do outro lado da linha.
O susto foi tanto, que o pobre Harry começou a suar das mãos e o volante começava a fugir-lhe. Ter uma chamada interrompida (por acaso com o seu suposto perseguidor fanático e apaixonado), pela sua própria namorada, não era agradável. Sobretudo quando a namorada era demasiado inteligente e perspicaz.
- Ah..uh...Luna...querida! – falou atrapalhado.
- Harry...estás bem?! Pareces uma criança nervosa, que acabou de ser apanhada a fazer asneira, sabes?
- Euuuuuuu?!?! Achas?! Nunca na vida! – ele tentou desviar o rumo da conversa, em vão.
- Sei...olha, se eu descubro que me andas a trair...
- Trair, Luna?! Mas que ideia é essa? Nem mentalmente eu seria capaz de tal absurdo! – respondeu depressa. De facto, tão depressa que ele próprio piscou os olhos umas quantas vezes para se aperceber do que tinha dito.
- Claro, Harry, vou fingir que acredito... Costumam ser os loiros a dizer burrices, mas tu és moreno e mentiste de forma parva...
‘Loiro...’, pensou Harry sonhador, aparecendo-lhe em mente tanto o Draco como a Luna. Ficou tão deslumbrado, mas tão, tão deslumbrado com este pensamento, que começou a babar-se inconscientemente. Não respondia aos frequentes chamamentos de Luna do outro lado da linha. E então, quando se deu conta, deu consigo a gritar desvairado e, de repente, tudo escureceu...
- HARRY!! HARRY! AMOR!! AI MEU MERLIN! AAAAAAAAAAAAAAH!!! O QUE ACONTECEU?!?! AAAAAAAH! AI AI AI AI! Pim, pim, pim, pim
Aparentemente a chamada tinha caído.
Perante os acontecimentos, os estranhos na rua davam origem ao rebuliço.
- Eu vi... o condutor parecia atrapalhado e, quando me dei conta, já o carro tinha capotado para o outro lado. Foi horrível, deveras horrível! – comentava uma mulherzinha histérica para quem quisesse ouvir.
E o pobre do rapaz permanecia dentro do carro capotado, a esvair-se em sangue, literalmente.
- O POTTER, O QUÊ?!?! – berrou um loiro desvairado, correndo para a esquerda e depois para a direita, abanando, pelos ombros, todos os empregados do seu escritório.
- Foi o que nos foi informado, senhor! – pronunciou uma mulher sentada à secretária, totalmente encolhida perante a reacção explosiva do seu chefe.
- INCOMPETENTES DESGRAÇADOS! NEM UMA SIMPLES INFORMAÇÃO SÃO CAPAZES DE ME DAR COMO DEVE SER!
- Mas, chefe... – Chamou, a medo, um rapazinho com inúmeras pastas nas mãos – Corrija-me se estiver errado. O Potter é seu inimigo, certo? Então, o acidente é uma boa notícia. Não percebo porque está tão furioso.
- Uh...sim, é meu inimigo, mas... – começou o loiro totalmente embaraçado, parando por meros segundos – Espera lá! O chefe aqui sou eu! Não devo explicações de nada a ninguém! QUERO O NOME DO HOSPITAL EM QUE O MORENO FOFO, DIGO, TOSCO ESTÁ! IMEDIATAMENTE! – gritou histericamente, numa voz aguda, o que deixou os funcionários especados, a olhar para si.
- JÁ!
Agitação total era a única coisa que se percepcionava dentro daquele hospital. Médicos para um lado, enfermeiros para outro, pessoas a gritar, bebés a chorar, pacientes para a esquerda, mortos para a direita, enfim... um rebuliço completo.
Uma loira, de aspecto desgrenhado, com os olhos inchadíssimos, gritava com a pobre da recepcionista.
- EU EXIJO, OUVIU BEM... EXIJO SABER COMO ESTÁ O MEU NAMORADO!
- Fique calma... eu já lhe informo do estado dele, tente apenas ficar calma. – a mulherzinha atarracada tentava empurrar Luna Lovegood, que estava quase em cima do balcão.
- MAS QUEM É VOCÊ PARA FALAR ASSIM COMIGO?! QUEM, DIGA-ME, VÁ! QUEM?!? POIS! EU SAB...
No entanto, a loira foi interrompida por um forte encontrão. Agora no seu lugar, e, de facto, também quase em cima do balcão, estava um homem, que tentava falar. Tentava, sim. De tanto que arfava, tornava-se difícil perceber o que quer que fosse.
- MAS QUE RAIO! – berrou a mulher da recepção – EU JÁ VOS DOU NOTICIAS DO SR. POTTER! VÃO SENTAR-SE NA SALA DE ESPERA OU NOUTRO SÍTIO QUALQUER, MAS DESAMPAREM-ME O LOCAL DE TRABALHO! – bufou raivosa, ao que Draco Malfoy, o homem que tinha empurrado a pobre loira, protestou.
- ENTÃO, MAS ESTÁ A FALAR COM QUEM?! FIQUE SABENDO QUE EU SOU DRACO MALFOY! E A MIM, NINGUÉM DÁ ORDENS, OUVIU? NINGUÉM!
Luna estava estendida no chão, a observar a cena lamentável.
- Oiça bem, meu senhor! – ordenou a mulherzinha, pondo-se em cima de uma cadeira, do outro lado do balcão, para ficar ao mesmo nível que o loiro – Aqui, o senhor não manda nada! Ou obedece às minhas ordens ou fica terminantemente proibido de entrar neste hospital, percebeu?! – terminou ela com o dedo indicador quase encostado à cara de Draco.
O rapaz apenas afirmou com a cabeça, lançando um olhar repugnante ao dedo, como se este estivesse infectado, e seguiu para um corredor com algumas cadeiras vagas, seguido de Luna.
- O que é que estás aqui a fazer?
- Pff... como se tivesses muito a ver com isso. – respondeu com desprezo evidente.
- Tendo em conta que o meu namorado está aqui internado e, segundo consta, queres saber dele, tenho. – afirmou convicta das suas palavras.
- Aish... está bem, Lovegood... só vim ver se é desta vez que ele bate as botas! – exclamou o loiro, batendo três vezes na madeira da cadeira.
- Malfoy, Malfoy... esqueces-te que eu lido com muggles e sei perfeitamente que bater três vezes na madeira é afastar o azar!
- Ah, uh... é que... não, sabes... uh – Draco tentava construir uma resposta convincente – Ah, sim! Na tradição dos Malfoy significa a realização de algo que queremos! E neste caso que quero que o Potter morra! – concluiu rapidamente, voltando a bater três vezes na madeira.
- Sei... – murmurou desconfiada a loira, olhando de esguelha para o coitado que se limitava a contemplar os seus próprios sapatos.
Uma pessoa, supostamente médica, passou apressada pelo corredor, sendo interceptada por Draco Malfoy – Como está ele? Vá, desembuche! Como é que ele está?!
- Oh homem, saia-me da frente! – reclamou o médico, apressando ainda mais o passo, desaparecendo pelo longo corredor.
- Oh pá... queria tanto saber se o meu sweet baby está bem... – suspirou o loiro. Não suficientemente baixo para que a outra não ouvisse.
- Ai, Malfoy... devias realmente seguir o meu conselho... – murmurou Luna, olhando para as unhas.
- Que conselho?
- Que mais vale estares calado e pareceres estúpido, do que abrires a boca e não deixares margem para dúvidas!!! AHAHAHAHAHAHAH – Luna ria-se da sua própria piada, a bandeiras despregadas.
- HEM HEM! – tossiu um médico, tentando chamar a atenção dos presentes – Acompanhantes do Sr. Potter?!
- EU! - berrou Draco, levantando-se rapidamente.
- NÃO ÉS NADA, SOU EU! – protestou a loira, empurrando Draco.
Draco voltou a empurrá-la. E a loira empurrou o loiro. Resumindo, empurrões de loiros. Com alguns estalados ao acaso, à mistura.
Assustado com o comportamento dos dois estranhos, o médico apenas disse com ar amedrontado – Quem quer que seja, é por este corredor, virando à direita depois da porta do fundo. – fugindo logo em seguida.
Draco e Luna desataram a correr pelo corredor fora, arfando descontroladamente. Chegados à porta do fundo, ficaram os dois presos, por tentarem passar ao mesmo tempo. Com um forte empurrão, Draco safou-se melhor, conseguindo passar e deixando a pobre coitada da Luna caída no chão.
- Pimbas, ganhei!! Eu vou primeiro! – exclamou ele com olhar vitorioso, deitando a língua para fora, enquanto se dirigia ao quarto do jovem cicatriz.
Draco caminhou pelo quarto, devagar, de modo a aproximar-se aos poucos da cama na qual Harry permanecia deitado, ainda de olhos fechados. Chegou perto do moreno e olhou para ele. Deixou escapar um leve suspiro ao perceber que ele se encontrava livre de perigo. Quase que como instinto, Draco segurou a mão do Potter e sentou-se ao seu lado. Foi então que reparou que ele estava a abrir os olhos.
- Oh, meu amor, acordaste!! - exclamou ele com um sorriso enorme - Nem sabes como me fazes feliz ao ver-te assim.
Harry sentia uma enorme dor de cabeça e via tudo desfocado. Percebeu que estava alguém ao seu lado, a voz era sua conhecida e ele sabia que conhecia aquela pele macia que segurava a sua mão. Com muito esforço, o Potter esticou o braço e pegou nos óculos reparados que estavam em cima da mesa de cabeceira, colocando-os sobre os olhos. Encarou Malfoy com um misto de dúvida e desespero no rosto. Sentia que o conhecia... mas não sabia quem ele era.
- Desculpa, mas... - murmurou com os olhos verdes fixos nos do loiro - Quem és tu??
- QUEM SOU EU?? Harry, mon cher, não te lembras de mim?? - indagou Draco com um olhar gato-das-botas-do-Shrek - Eu sou o teu loiro fofo, o Draco!!
- Loiro fofo...?! - repetiu o Potter enquanto na sua mente passavam várias imagens de momentos românticos com uma pessoa loira, a qual Harry não conseguia relembrar da face - Claro... eu lembro-me!! És o meu amor, não és??
- Sim, sim, sim!!! - vociferou Malfoy quase eufórico - Eu sou o teu amor!!! E não te preocupes que eu vou tirar-te daqui rapidamente e nós vamos poder ser felizes sem ter nenhuma doida de cabelos engrenhados a chatear-nos!!
- Doida de cabelos engrenhados? - perguntou Harry meio confuso.
- Nada, nada, honey!! - disse Draco, com um enorme sorriso maldoso - Eu estava só a delirar!!
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N.As:
Bem, apesar de ninguém ter comentado o prólogo, nós decidimos postar o cap. 1 por um motivo muito simples. Ficámos em 4º lugar no challenge de Harry/Luna com esta fic e - principalmente - ganhámos 3 prémios especiais fantásticos ^^
Nós vamos postá-lo por aqui, depois dos caps em que esses mesmo prémios aparecem. Ou seja:
No próximo cap. temos o segundo e o último só aparece no epílogo.
Esperamos comentários, a sério, gente, se leram até aqui, comentem, por favor. Não custa nada e deixam-nos bastante felizes.
Kiss's & *Peace*
Just & Kimi
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