Capítulo X



Capítulo X




James Potter soltou um longo – muito longo – bocejo e encostou a testa no tampo da mesa de Gryffindor, no Salão Principal, completamente esquecido de seu café da manhã. Sua maior vontade era voltar para a sua cama confortável e quentinha. Não estava nem um pouco acostumado a se levantar antes das onze horas da manhã. Já tinha começado a ver que teria que mudar muito os seus hábitos em Hogwarts. Afinal, quem sonharia que James Patricius Potter estaria de pé – ou quase – às oito e meia?!

- Não pode ser tão ruim assim... – Sirius disse, derramando quase um pote inteiro de geléia sobre as suas torradas, fazendo eco ao que James sempre dizia quando Sirius citava a família.

- Só por eu não estar dormindo agora já é péssimo – gemeu, sem levantar a cabeça.

- Você é folgado, isso sim – riu, mordendo um grande pedaço de sua torrada.

- E ninguém pediu a sua opinião! – retrucou, jogando o seu guardanapo sobre o outro que ainda ria do desânimo de James.

Sirius, na verdade, estava bastante animado para começar a assistir as suas aulas. Não tinha certeza de como iriam ser. Só havia imaginado até então. Muitas mágicas, usando a varinha o tempo todo, fazendo a sala explodir em pedacinhos com feitiços mal feitos, uma zona de guerra total. Divertia-se apenas em imaginar alguém derrubando o professor balofo do dia anterior. Ele estava doido para testar os feitiços que lera nos livros do tio.

- E onde está nossa amiga estrangeira?

E lá se ia todo o bom humor de Sirius. Ele bufou, mastigando com mais força a sua torrada.

- Quem se importa? – deu de ombros, a boca cheia.

- Eu. – James disse e insistiu, percebendo que pelo menos alguma coisa incomodava Sirius naquela manhã. Levantou um pouco a cabeça, encarando o outro à sua frente. – Sabe, ela é uma menina realmente legal.

- Quantas meninas você já conheceu? – estreitou os olhos, com um sorriso sabe-tudo nos lábios.

Com uma expressão bastante concentrada, James pensou por alguns instantes, contando nos dedos, o olhar focado no teto, para só depois de quase um minuto soltar um suspiro animado e abrir um enorme sorriso.

- Além daquela ruiva esnobe, só ela!

- Há! Viu? Não tem como saber se ela é realmente legal. Não conhece outras –, e colocou um sorriso realmente vitorioso nos lábios. – E a ruiva não é esnobe. E, vai por mim – acrescentou, apontando um dedo para James, – em matéria de mulheres esnobes eu sou especialista... – suspirou, lembrando-se das primas Narcissa, Bellatrix e Andromeda.

- E a saga da família Black continua! – entoou, girando os olhos nas órbitas.

Enquanto Sirius ria fracamente, Peter chegou para se juntar a eles. James abriu espaço para ele e o gordinho sentou-se muito desajeitadamente, puxando para perto de si todas as guloseimas que conseguiu alcançar.

- Poxa, estou faminto... – falou, colocando uma enorme colherada de cereais dentro da boca.

Espichando o pescoço e ignorando completamente Peter, James olhou para o resto da mesa, procurando pelos outros alunos de seu ano. Não havia ninguém a vista. Apoiou o cotovelo na mesa e descansou a cabeça na mão, olhando de soslaio para Sirius.

- Onde acha que está aquele garoto, o Lupin?

- Não vi quando acordei – sacudiu os ombros, devorando outra torrada, sem se importar com o paradeiro de Remus Lupin.

- Uanuaí eeonava aia – Peter disse, com a boca abarrotada de comida, em uma língua que nem Sirius nem James conseguiram entender.

- Ãhn?! – os dois disseram ao mesmo tempo, arqueando sobrancelhas, olhando muito intrigados para o outro.

Peter Pettigrew deu uma engolida enorme e engasgou-se com um pedaço muito grande de pão, sendo obrigado a tomar longos goles de leite para limpar a garganta. Sirius e James esperavam pacientemente, olhando para o menino, incrédulos.

- Quando saí, ele não estava lá – o menino traduziu, um pouco ofegante, depois de quase sufocar com o seu café da manhã.

- Ahhhhh, tá. – os outros dois reviraram os olhos e voltaram-se para os seus pratos, se afastando um pouco do menino, já sem o menor apetite, mas quase rindo do pequeno gorducho.

– x –


- Vocês acham que a gente deveria acordar ela?

Alice estava parada bem ao lado da cama onde Natasha dormia a sono solto, o livro que lia na noite anterior caído sobre o seu peito. Não tinha muita certeza se deveria acordar a garota. Talvez Natasha tivesse programado algo para despertá-la ou algo do tipo. Mary e Jean se aproximaram, juntando-se à Alice na análise da menina.

- Eu não sei... – Jean disse, colocando a mochila nas costas, não muito interessada.

- Se ela não acordar vai perder a primeira aula – Mary opinou sabiamente, olhando para o horário em suas mãos. – Será daqui vinte minutos. História da Magia.

- É... – Alice ainda não estava convencida, mas, pouco confiante, se aproximou mais da cama de Natasha. – Acho melhor acordar ela então, não é?

Muito levemente, a loira cutucou Natasha, mas a menina nem se moveu. Alice lançou um olhar de dúvida para Mary e Jean. As duas sacudiram as mãos, excitando-a a tentar mais uma vez. Muito receosa, Alice deu um cutucão mais forte em Natasha. Desta vez conseguiu um gemido de protesto, mas ainda não conseguiu acordá-la. Ergueu os ombros, sem saber o que fazer. Jean exasperou-se.

- Ah, pelo amor de Deus! – exclamou e empurrou Alice para o lado, sacudindo violentamente o corpo de Natasha. – HEY! Acorda! HEY!!! ACORDA!

Os gritos de Jean finalmente surtiram algum efeito em Natasha, pois a garota se virou de bruços na cama e cobriu a cabeça com o travesseiro, apertando-o contra os ouvidos.

- DORMIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIR! – resmungou, com a voz abafada.

Jean revirou os olhos e arrancou o travesseiro de Natasha, jogando-o no chão. A outra se virou, os olhos estreitos, tentando se situar. Mas mal conseguia enxergar em meio a tanta claridade, quem dirá realmente despertar. Jean colocou as mãos na cintura e curvou-se um pouco para frente, assumindo um tom autoritário na voz, o dedo indicador apontado para um ponto entre os olhos de Natasha.

- Se você quer continuar dormindo, ÓTIMO! Não sou eu quem vai perder a primeira aula! – dito isso, girou nos calcanhares, as tranças rastafári batendo nas costas, e saiu batendo a porta.

As três outras garotas piscaram, espantadas com a intempestividade de Jean. Mary deu um sorriso meio incômodo, como se dissesse “É assim o tempo todo”, e seguiu a irmã gêmea o mais rápido que pôde. Alice, no entanto, ficou e cruzou os braços, olhando para a outra garota que ainda estava na cama.

- Quer que eu te espere?

Natasha se sentou na cama e esfregou os olhos, muito desorientada. Mal se lembrava de onde estava, muito menos quem é que estava se atrevendo a gritar com ela. Soltando um longo bocejo, ela coçou a cabeça e o quarto começou a entrar em foco. Ao seu lado havia uma menina loira. Mas quem diabos era ela e que inferno estava fazendo em seu quarto?!

Mas lembrou-se que não estava mais em sua casa, no Minnesota. Estava na Inglaterra, em algum lugar não mapeado, num castelo mágico. Se dissesse isso a um dos vaqueiros do seu pai, eles ririam de sua cara, achando que havia caído do alto de um cavalo e batido a cabeça. Mas era a mais pura verdade, pois Natasha Anna LeBeau era uma bruxa e estava na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts para aprender magia.

Ainda assim, isso não explicava o motivo porque tinha que levantar da cama tão cedo! Não devia nem ter amanhecido! Esfregou os olhos, colocando as pernas para fora da cama, reprimindo um novo bocejo.

- Que horas são? – gemeu.

- Quinze para as nove – Alice respondeu, prontamente.

- Fala sério! – Natasha voltou a se deitar, escondendo o rosto no seu lençol. Mas novamente ela teve de se lembrar: Você não está mais no Minnesota! – Maldito fuso-horário! – gemeu, saindo muito a contragosto da cama, pisando duro até o banheiro.

– x –


- Me deixa ver o seu horário.

Lily nem esperou. Arrancou o horário de Severus de suas mãos e passou os olhos por ele. Enquanto ela analisava, Severus a olhou bem. Não parecia nem um pouco incomodada com a distribuição de lugares. Nem sequer havia comentado isso com ele quando foi sentar-se ao seu lado na mesa de Slytherin, afastados dos outros alunos da casa. Na verdade, ela parecia estar bem feliz. Ele notou que ela havia entrado no Salão com um garoto de Gryffindor, conversando muito animada.

Ele não sabia bem o que aquela visão havia causado nele. Mas foi um sentimento muito estranho. Algo que não era raiva. Era algo que ele não sabia definir. Durante dois anos alimentara a sua imaginação, vendo Lily com as vestes negras, verdes e prata de Slytherin, sentada ao seu lado em uma grande sala, conversando sobre o que haviam acabado de aprender em suas aulas. E agora, toda essa sua imaginação... Não, imaginação não. Esperança. Toda essa sua esperança havia sido rudemente destruída.

- Hum... Que pena. Só temos aula juntos na próxima semana, segunda-feira. Poções, com aquele professor irritante. Slughorn, não é? – ela devolveu o horário a Severus e tomou um gole de suco, os olhos fixos no seu próprio horário.

Concordando com a cabeça, Severus guardou o pedaço de papel em sua bolsa, brincando com os ovos intocados que havia posto em seu prato. Ele não sabia o que dizer. Um dia atrás tinha todas as conversas que teria com Lily já treinadas em sua cabeça. Mas a Seleção havia estragado todo o seu plano perfeitamente arquitetado. “O que achou da Nossa Sala Comunal?” seria a sua primeira pergunta. Mas não havia “nossa Sala”. Havia a Sala Comunal de Gryffindor e a Sala Comunal de Slytherin.

Largou o seu garfo e afastou uma mecha de cabelos negros que havia caído sobre os seus olhos, deixando pela primeira vez o que estava pensando sair.

- Está errado, Lily! Você deveria estar na minha casa! – disse, em voz baixa, exasperado.

A menina tirou os olhos do horário das aulas e suspirou dando um tapinha amigável na mão de Severus, com um sorriso triste no rosto. Ela também não esperava se separar de Severus quando chegassem a Hogwarts. Mas era algo imutável.

- Não há nada que possamos fazer a esse respeito, Severus. Mas, mesmo em casas diferentes, não vamos nos separar, não é?

Lily lançou um olhar doce, olhar este que sempre deixava Severus mais aliviado. Mas que, naquele momento, não surtiu efeito algum, tamanha era a sua angústia por estar longe dela. Baixou os olhos e enfiou à força um bocado de ovos em sua boca. Talvez ela não estivesse realmente feliz por ter entrado em Gryffindor. Pelo menos o sorriso no rosto dela era triste. E esse foi o único bálsamo que conseguiu aliviar um pouco o que se passava em seu coração.

– x –


Remus ouviu cada palavra da descrição que Gwen dera de seu dormitório, completamente fascinado. Jamais imaginara que poderia existir um lugar como o que ela descrevera. Devia ser maravilhoso dormir como se estivesse em meio às estrelas, voando em uma cama para o mundo dos sonhos. Entretanto, ele nunca saberia como é. Não estava em Ravenclaw como a sua colega. Tinha ido parar em Gryffindor. Mas não estava triste por isso. Na verdade havia apreciado bastante Gryffindor, com a sua Sala Comunal acolhedora, os seus divertidos colegas de quarto e a sua doce colega, Lily.

- ...Mas, infelizmente –, Gwen concluía o seu relato com um suspiro fascinado, – quando acordei era apenas um quarto de pedra normal. Vai ver o teto só é invisível à noite, não é?

- Com certeza deve ser. Não iria me admirar. Você é uma felizarda, Gwen. – Remus disse, terminando de tomar o seu copo de leite. Gwen sorriu para ele e se curvou um pouco para frente.

- Você não me disse nada sobre a sua Casa.

- Ah, porque não tem nada demais. – Remus disse com descaso. – Quartos normais, tudo muito vermelho. Mas é bem aconchegante!

- Uma pena você não poder ver o dormitório de Ravenclaw. Eu tenho certeza que você iria se encantar.

- Uma pena mesmo – suspirou, criando em sua mente a imagem que Gwen havia descrito. – Já estou encantado só de ouvir. Parece fantástico ter uma visão total das estrelas, da lua... – A voz de Remus sumiu ao lembrar-se da lua. Ele suspirou e concentrou o seu olhar no horário das aulas, para não se entregar.

Gwen não respondeu ao comentário feito por ele. Num primeiro momento, pouco depois de ser selecionada para Ravenclaw, ela lamentou por não ter se juntando a Remus em Gryffindor. Mas agora não se entristecia nem um pouco de ter sido selecionada para a Casa de Rowena. Na verdade se entristecia por Remus não ter se juntando a ela em Ravenclaw. Ele gostaria muito de lá. E ela gostaria da companhia dele.

- Parece que temos uma aula juntos amanhã – ela falou, apontando o horário que Remus examinava, curvando-se para frente, sobre a mesa.

- Feitiços. Com o professor Filius Flitwick. Será que ele é legal?

A menina deu de ombros e sorriu, afável, voltando a sentar-se. Para ela se era magia, certamente era muito legal.

– x –


- E aí, o que estão achando?

Sigmund Macdonald se sentou entre as duas irmãs e passou um braço pelos ombros de cada uma delas. Jean se afastou no mesmo momento, mas Mary deitou a cabeça no ombro do irmão, carinhosa, recebendo um chamego nas tranças em troca.

- É tudo tão legal, Sig! Mal posso esperar para começar a aprender as coisas!

- E você, Jean? – ele virou-se para a outra irmã, que não parecia tão excitada quanto Mary. – Não gostou de Hogwarts?

- Ah... É bem incrível, não é? – declarou, sem muito entusiasmo. Era verdade que tudo ali era magnífico e encantado e impressionante. Mas ela ainda achava tudo muito estranho. Achava que não conseguiria se adaptar tão facilmente quanto Mary, que já parecia que havia vivido toda a vida ali.

- Ô, se é! – Sigmund se levantou e passou a mão na cabeça das irmãs. – Tenho que ir. Nos vemos na nossa Sala Comunal.

Ele acenou e se afastou em direção a um grupo de colegas, para depois ir para fora do Salão. Quando o último amigo risonho Sigmund passou pela porta, as gêmeas viram Alice entrar acompanhada de Natasha, que se arrastava com a cara de poucos amigos. As duas abafaram risinhos e Jean exibiu um ar de superioridade quando as duas meninas se sentaram de frente para elas. Natasha soltou um bocejo extremamente exagerado e encheu uma caneca com café puro e sem colocar nem uma pitada de açúcar, dizendo:

- Eu odeio fusos-horário. - e virou o líquido fumegante pela garganta. Ela começou a tossir incontrolavelmente. Não só o café era muito mais forte do que ela estava acostumada, como havia queimado a garganta, sussurrando num fio de voz quase inaudível. – Que porcaria é essa?!

Alice revirou os olhos e serviu-se com uma jarra de suco de abóbora.

- Quer parar de repetir isso?! – suspirou e virou-se para as gêmeas, os olhos inocentes arregalados. – Ela veio repetindo que “odeia fusos-horário” desde o dormitório até aqui, está ficando bem previsível. E chato! – Acrescentou ao ver Natasha abrir a boca.

- Não posso evitar! – defendeu-se, tomando à força outro gole da bebida amarga. – Eu realmente odeio fusos-horário! Sabe que horas são na minha fazenda?! Não são nem...

- Duas da manhã, eu sei, Natasha, você já falou isso umas dez vezes! – Alice balançou a cabeça e agitou as mãos, resistindo à tentação de rir.

- Você logo se acostuma – Mary tentou animá-la.

- E, se não se acostumar, você pode sempre voltar pra sua terra! – disse uma voz intrometida, perto dali. – Eu apoio cem por cento!

Natasha se virou muito lentamente e viu o que esperava que tivesse sido apenas um pesadelo. Mas Sirius Black era bem real e estava bem ao seu lado, se intrometendo em sua conversa para variar, um sorriso desdenhoso estampado no rosto. Por que não vai procurar sarna pra se coçar?!, reclamou em pensamento.

- Não se meta nas conversas dos outros, Babaca. – respondeu, o desânimo provocado pelo sono parecendo desaparecer ante as palavras do garoto.

- Eu só estou sendo compreensivo com sua dificuldade, Mimada. – retrucou, muito inocentemente, com a expressão mais preocupada do mundo.

- Ah! E lá vamos nós de novo! – James disse para o teto, já esperando pelas farpas que viriam a seguir, rindo por antecipação.

Mas, para a sua infelicidade, a sineta tocou naquele mesmo instante, anunciando o fim do café da manhã e a primeira aula do dia e do ano letivo. Natasha nem esperou as outras garotas se levantarem. Já estava de pé, marchando para o mais longe possível de Sirius. Babaca... BABACA! Ela sentia vontade de gritar com ele, sentia vontade de bater nele. Era o que sempre fazia na sua casa pelo menos. Ainda se lembrava do quanto gritara quando pai lhe dissera não da primeira vez que ela lhe falou que queria ir para Hogwarts. Bem, agora ela estava ali e os ouvidos do pai estavam salvos. Mas Sirius Black estava bem em seu caminho e os seus punhos estava pedindo algo para socar!

– x –


A coisa que mais impressionou Lily em sua primeira aula no mundo bruxo foi que o seu professor era um fantasma. O Professor: Cutchbert Binns. E a matéria: História da Magia. Ela nunca esperou que fosse ter aulas com um fantasma. Ainda mais aulas de Magia. Mas História da Magia, pelo que ela logo percebeu, não tinha nada de mágico. Era apenas uma longa falação sobre os fatos mais marcantes da história do mundo bruxo.

A ruiva ouviu atentamente cada palavra que a voz asmática e cansada do professor dizia, e anotava tudo o que achava de mais importante. Mas parecia ser uma das poucas a prestar qualquer atenção na aula. Ao seu lado, por exemplo, Natasha LeBeau havia se debruçado sobre o seu livro e agora dormia a sono solto. Algumas mesas atrás Sirius Black fazia o mesmo, mas com a cadeira empinada nos pés traseiros. Do outro lado de Lily, Alice estava com tal expressão no rosto, que a ruiva achou que logo ela iria começar a babar, tanto sua boca estava aberta. O professor Binns parecia não reparar que a sua aula não estava sendo nem um pouco atrativa para os seus alunos e que quase ninguém o ouvia. Ele simplesmente flutuava na frente das carteiras, em um longo monólogo sobre a Revolta dos Trasgos. Apenas outra pessoa além de Lily arranhava a pena em pergaminho, fazendo anotações: Remus Lupin.

Quando a sineta tocou, quase uma hora depois, anunciando o fim da aula, Lily teve de chacoalhar Natasha para que ela acordasse. Bocejando muito, Natasha seguiu Lily até a sala de aula de Transfigurações, onde teriam aula com a Diretora da Casa de Gryffindor, Minerva McGonagall. Lily achou que Natasha dormiria novamente a qualquer minuto. Mas, quando a professora McGonagall transformou-se em um gato listrado e depois em humana novamente, ela conseguiu conquistar aplausos e total atenção de todos os seus alunos.

- O Binns nunca ia conseguir isso! – Peter comentou, ao fim da aula, quando o primeiro ano de Gryffindor se dirigia para o Salão Principal para o almoço.

- É claro que não, Pettigrew, ele é um fantasma! – James disse, muito sem educação.

- Mas é realmente incrível, não é? – Alice cortou James, alteando a voz. – Se tornar um animal! Puxa, como eu gostaria de saber fazer isso!

- Um dia você pode tentar – Remus disse, logo atrás das garotas, também animado com a aula que tiveram. – Mas meu pai disse que é bastante complicado.

- Seu pai é um Animago?! – Jean perguntou, admirada.

- Não, não é... Mas ele trabalhou durante muito tempo no Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas, do Ministério da Magia. E ele já fez parte da Comissão de Registro de Animagos. Me contou algumas coisas. – sorriu, sem jeito.

- Ah, não pode ser tão difícil assim – Natasha falou, agora completamente desperta, a testa um pouco franzida, imaginando como seria se tornar um Animago. – Eu conseguiria!

- Isso você não pode mandar ninguém buscar, Mimada! – Sirius rosnou, passando pelo grupo com James que ainda ria à babaquice de Peter.

- VAI CATAR COQUINHOS, BABACA! – gritou, fazendo um gesto ofensivo para as costas do garoto, que ria alto já longe do grupo.

- Qual o problema com vocês? – Mary perguntou, o grito de Natasha sobressaltando-a.

- O problema é que ele é um BABACA! – bufou, o rosto rosado de raiva.

E Lily, lembrando-se do ocorrido no trem a caminho do Hogwarts, não pôde deixar de concordar. Não só Sirius Black como também James Potter. Babacas...

- Apoiado! Apoiado!

– x –


Depois do almoço, tiveram mais uma aula de Transfigurações e Lily teve que admitir que achou a matéria muito difícil. E, para ajudar, a professora McGonagall era uma das pessoas mais severas que a garota já havia conhecido. Logo ao final da aula, já passou um longo trabalho para que eles fizessem, com entrega na semana seguinte, para o desespero de quase todos os alunos que não esperavam por deveres tão cedo.

Transfigurações terminou e eles foram direto para Herbologia, onde conheceram a Professora Pomona Sprout. Os alunos do primeiro ano de Hufflepuff estavam lá também e foi uma aula até bastante divertida, onde mexeram com terra e plantaram pequenas mudinhas de plantas mágicas que Professora Sprout disse que seriam uma surpresa para eles quando nascessem. Mas que deveriam pesquisar a semente que plantaram e quem descobrisse primeiro o que haviam plantado ganharia cinqüenta pontos para a sua casa.

À hora do jantar, os alunos do primeiro ano não discutiam outra coisa que não fosse as suas primeiras aulas. Lily, Remus e Natasha haviam acabado de formar um pequeno grupo entre eles e conversavam avidamente sobre a tarefa que a Professora Sprout havia dado, o livro de Remus aberto sobre a mesa em um capítulo apenas sobre sementes mágicas da Bretanha.

- Não! Não pode ser semente de bubotúberas! A semente era branca e não amarelo-limão! – Lily repetiu pela segunda vez à idéia de Natasha, que insistia que a semente era aquela.

- AH! Desisto! – ela se jogou em sua cadeira, derrotada. – Eu tenho certeza que já vi aquela semente em algum lugar. Só não me lembro onde!

Remus coçou a cabeça com o garfo, olhando atentamente para os esboços de sementes desenhados em seu livro. Já havia passado os olhos várias vezes por cada página daquele capítulo, mas não encontraram absolutamente nada que disse algo a respeito da tal semente de Sprout.

- Acho que isso pede a nossa primeira visita à Biblioteca – ele disse, e Lily abriu um enorme sorriso ansioso.

– x –


- Qual é o problema com aquele Slughorn?!

Emmeline Vance bateu o seu cálice de suco sobre a mesa, esparramando quase todo o seu conteúdo. Os alunos de Ravenclaw haviam acabado de ter a sua primeira aula de Poções como Diretor da Casa de Slytherin. E Emmeline fora o centro de todas as atenções. Principalmente as do professor. Ela deu uma risada de desespero levando a mão ao peito.

- Quer dizer. Só porque a minha avó... Vejam bem, a minha avó! Só porque ela foi uma grande Curandeira e grande preparadora de Poções porque eu, eutenho que ser um ás das poções também?!

Ela bufou e bateu a mão sobre a mesa, fazendo os seus colegas se sobressaltarem. Gwen deu um sorriso suave de inevitabilidade e encheu novamente o cálice e Emmeline, com calma.

- Josephine me disse que ele é assim mesmo... – falou, lembrando-se de tudo o que a sua amiga havia lhe dito sobre o professor. – Se você não tiver talento para a matéria, logo ele vai esquecer você.

- Eu espero que ele esqueça logo! – esbravejou, fuzilando o professor balofo que ria ao lado da Diretora de Gryffindor, na mesa dos professores. Espetou com raiva o garfo em um bife e enfiou-o na boca, mastigando com violência.

- Ele vai encontrar outra pessoa pra importunar, Emmeline –, disse Morpheus Lycan, segurando o riso diante da reação da colega. – Algum famoso, talvez.

- Desde que não seja eu – Marlene McKinnon disse rapidamente, abanando as mãos na frente do rosto.

Morpheus serviu-se de ensopado e se curvou um pouco para Marlene, bastante tranqüilo.

- Vai ser alguém da casa dele, vai por mim. Ele é um grande bajulador dos Slytherins.

– x –


Severus não conseguia comer. Ele aperta o seu garfo com força, os olhos vidrados nas costas de Lily na mesa de Gryffindor. Ela parecia tão feliz com os seus amiguinhos, curvada sobre a mesa, completamente esquecida que era hora do jantar. Ele também havia esquecido o jantar, só tinha olhos para ver a pequena reunião de Lily com um casal que parecia bem animado. Não podia ver o rosto da amiga, mas tinha certeza que ela estava sorrindo, exibindo todos os dentes para o menino à sua frente.

Ele sentia raiva. Amargura. Lily nem havia ido até ele quando entrou no Salão Principal. Nem sequer havia olhado na direção da mesa de Slytherin. Só tinha olhos, ouvidos e palavras para os outros alunos de sua casa. Algo em seu peito começava a despertar. Pelo visto o que ela disseram naquela manhã era apenas da boca para fora, e os dois iriam realmente se separar.

- O que você tanto olha?

Largando o garfo sobre a mesa, Severus se virou e viu Rabastan Lestrange ao seu lado, agora olhando na direção dos alunos de Gryffindor, obviamente seguindo o olhar de Severus. Unindo as sobrancelhas, Rabastan se virou para Severus, com escárnio no rosto.

- A Sangue-Ruim, é? – Severus crispou as mãos e Rabastan enfiou um pedaço de pudim na boca. – Por que você estava com ela no trem?

Engolindo seco, Severus procurou pela voz para responder, sem olhar diretamente para Rabastan.

- Vivemos na mesma cidade.

- Hum... Sei, sei... – Rabastan não parecia muito convencido da explicação de Severus. Ele voltou a olhar para a mesa dos Gryffindor e apontou as garotas gêmeas. – Vê aquelas duas negras ali? – falou, a voz abafada pela comida. – Também têm Sangue-Ruim.

- Verdade? – Mas não foi Severus quem disse. Alecto Carrow, se sentava logo à frente dos dois, tratando de interessar-se imensamente no assunto. – Quem lhe disse?

Severus queria desaparecer dali. Já estava imaginando até onde essa conversa do casal iria parar e não queria estar presente para dar a sua opinião. Mas não podia simplesmente sair dali. Poderia arruiná-lo.

- O Slughorn comentou comigo hoje no almoço. E vê a menina com a Sangue-Ruim ruiva? – Alecto fez que sim com a cabeça, olhando por cima do ombro e depois voltando a olhar para Rabastan, o olhar faminto. – É uma mestiça americana.

- Uma estrangeira estudando aqui? – dessa vez Severus não conseguiu ficar calado. Jamais havia ouvido falar de algum estrangeiro estudando em Hogwarts e, para ele, a idéia era simplesmente revoltante.

- Odioso, não é? – Rabastan falou, com nojo no olhar. – Esses estrangeiros roubando lugares de bruxos melhores e mais dignos.

Alecto sorriu bem maliciosa e se levantou, curvando-se sobre a mesa, ficando bem próxima de Rabastan e Severus, os olhinhos minúsculos estreitados até quase uma fenda.

- Meu irmão, Amycus vai adorar saber disso tudo. Ele está louco para dar as boas-vindas aos Sangues-Ruins. – ela piscou, e se afastou, gingando.

Severus sentiu o coração apertar. Não se importava do que acontecesse com as outras Gryffindors. Só se preocupava com o bem-estar de Lily. E rezava que, para o bem dos seus novos colegas, eles não relassem uma varinha sequer nela. Ou ele não se responsabilizaria por seus atos.

– x –


Sirius olhou para o seu prato cheio de comida e soltou um suspiro. Não tinha fome e o dia tinha sido uma verdadeira droga. Estava completamente decepcionado. Principalmente com o fato de não eles não terem nem ao menos tocado na varinha naquele dia. Mas também com o fato de suas unhas estarem impregnadas de adubo de bosta de dragão.

- Eu esperava mais – confessou, olhando as unhas sujas.

- Sério? – James arqueou as sobrancelhas, baixando o seu garfo.

Sirius deu um sorriso de lado, começando a limpar as unhas com a ponta de uma faca.

- Não é querendo me gabar nem nada, mas eu já sei quase todas essas coisas que disseram hoje.

- Abe? – Peter Pettigrew questionou, com a boca cheia de comida, os olhinhos arregalados em admiração e interesse.

- Abo! – ele riu, desviando rapidamente o olhar dos dedos. – O que você acha que eu fiquei fazendo em casa os últimos onze? Lavando as ceroulas do meu pai? – ele deu uma risada seca. – Peguei todos os antigos livros de escola do meu tio Alphard e li e reli todos eles.

Peter comia de boca aberta, impressionado com o que Sirius dizia. Então o garoto devia saber realmente muita coisa de magia. Talvez ele pudesse ajudá-lo. Peter tinha certeza que não ia ser um bom aluno. Até aquele momento não tinha entendido uma palavra do que os professores haviam dito!

Ao contrário de Peter, James sorria abertamente. Ele havia feito praticamente a mesma coisa que Sirius durante os seus onze anos de vida. Mas com a diferença de que ele usava os livros de sua mãe e que ele parava vez ou outra para dar uma volta na vassoura do pai. Contou isso a Sirius e o garoto riu, colocando mais suco em seu cálice e erguendo-o, num brinde.

- Não foi à toa que a gente se encontrou, cara. Pode apostar.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.