Um verão Weasley



Capítulo 2 – Um verão Weasley

Harry estava sentado na cozinha da Toca sentindo uma satisfação que não experimentava em anos. Essa não era a sensação que ele geralmente tinha depois de deixar a mesa após as refeições na casa dos Dursley. Ele sentia que tinha compensado por todas as refeições reduzidas e insuficientes que havia tido naquele verão.

“Acho que vou subir e começar a desfazer as malas”, ele disse para Rony, que estava terminando o último prato que tinha enchido de comida. Mesmo Harry tendo comido muito, Rony parecia determinado a vencê-lo muito facilmente.

“Está bem. Quer jogar xadrez depois?”

“Claro”, Harry respondeu. Ele se levantou e subiu as escadas, se sentindo em paz e saciado. Mas esses sentimentos só duraram até que ele chegasse ao corredor do andar de cima. Uma sensação de desconforto o invadiu, crescendo à medida que ele caminhava até a porta de seu quarto. Parou na porta, considerando. Encheu-se de medo e temor quando finalmente caiu na real e percebeu onde iria dormir. No quarto antigo de Fred e Jorge.

Lembrou-se dos estranhos sons e das explosões que freqüentemente vinham do quarto em sua última visita. E eles não seriam eles mesmos se não tivessem deixado um pequeno lembrete dos últimos ocupantes.

Harry se encostou à parede ao lado da porta e vagarosamente a abriu. Esta deu um estalo enquanto abria. Ele esperou alguns segundos, depois apoiou uma mão no solado da porta e deu um empurrão.

Bem, Rony colocou meu malão aí dentro, então devo estar seguro por enquanto, pensou. Deu uma espiada pelo quarto. Era notavelmente maior do que o quarto de Rony, o que fazia sentido já que ali dormiam duas pessoas. No quarto havia duas camas, dois armários e uma mesa grande construída para dois. A maioria dos itens pessoais tinham sido retirados, mas ele notou alguns cartazes da Zonko’s ainda pregados nas paredes.

O quarto parecia bastante inocente. Inocente demais, ele pensou à medida que a paranóia o invadia. Ele andou pelo quarto com a ponta dos pés, procurando qualquer sinal de armadilha. Pegou sua varinha e fez um movimento ao mesmo tempo em que dizia “Finite Incantatem!” Um pouco mais confiante, ele caminhou pelo quarto jogando o feitiço de cancelamento de magia em todos os objetos que via.

Harry começou a se sentar em uma das camas, mas centímetros antes que o tivesse feito se levantou de repente, olhando pelo quarto enquanto girava. Olhando para a cama com suspeita, ele a apertou com sua varinha. Nada aconteceu. Fez pressão mais firmemente com sua mão e mesmo assim tudo estava quieto. Suspirou. Talvez eles tenham realmente deixado o quarto em paz, ele pensou, ainda não convencido. Harry se sentou na cama e notou o armário.

Ele poderia jurar que o armário estava fechado quando entrou no quarto, mas ele estava aberto apenas por uma fenda. Considerou brevemente descer para pedir a ajuda de Rony para lidar com qualquer travessura dos gêmeos, mas ele não estava absolutamente certo de que o armário estava fechado antes. Rony provavelmente vai pensar que eu estou me assustando com qualquer coisa por causa da batalha do mês passado, ele pensou.

Começando a se irritar com tudo isso, Harry andou firmemente até o armário e estendeu a mão com o objetivo de abri-lo, mas depois parou, suas mãos a centímetros de distância, com uma sensação de temor. Ele tinha uma leve impressão de que isso não ia acabar bem.

Recuando, ele pegou um travesseiro da cama. Encostou-o na porta do armário e rapidamente a abriu, mergulhando ao chão ao mesmo tempo. A porta bateu na parede e voltou ao seu lugar original, parcialmente aberta.

Harry esperou ainda no chão. Nada. Levantou-se devagar e andou na ponta dos pés até a porta. Abriu-a novamente e espiou lá dentro. O armário estava totalmente vazio, exceto por duas camisas bastante coloridas que os gêmeos aparentemente acharam muito berrantes, mesmo para eles. E depois ele viu.

Havia alguma coisa nas sombras do armário – um bilhete pregado na parede de trás. Com cautela, Harry retirou o bilhete e o trouxe até a luz para que pudesse lê-lo.

Querido Harry,

Nós imaginamos que mamãe iria dar a você nosso quarto antigo, já que é o maior. Nada é bom o bastante para o menino-que-sobreviveu, que fala com serpentes e que derrotou o Lorde das Trevas!

Não se preocupe, o armário é seguro. E você não estava imaginando coisas, nós o encantamos para abrir quando você entrasse. Só uma brincadeirinha inocente.

Apesar disso, nós não iremos garantir nada sobre as outras partes do quarto.

Seus,

Fred e Jorge


Harry suspirou e se perguntou se poderia dormir no armário, já que eles garantiram que era seguro. Andou até a cama e se sentou devagar. Ela parecia ser segura antes, mas nada era certo quando se tratava dos gêmeos. Exatamente o que eu queria, um bom e relaxante verão, ele pensou sarcasticamente.

Vagarosamente ele começou a se deitar na cama, seus músculos tensos e seus reflexos de quadribol atentos. Sua cabeça finalmente encontrou o travesseiro, seu corpo ainda duro como uma tábua. Devagar, ele relaxou os músculos e percebeu que tinha parado de respirar. Soltou o ar e olhou para o teto.

Só naquele momento, ele percebeu que um balde tinha aparecido exatamente em cima da cama.

Ele pulou para fora desta instantaneamente, rolando até o canto mais distante do quarto no momento exato que uma substância brilhante e gosmenta foi derramada bem em cima de onde estava e uma música de gozação enchia o quarto. Ele notou que a substância gosmenta parecia aderir à cama, e estava aliviado de que não estivesse grudada nele. Sentiu seu coração disparado.

“Essa foi por pouco.” Gina estava parada à porta com a mão em cima da boca, gargalhando.

“Ah se foi. Seus irmãos são uma ameaça à sociedade.” Harry disse enquanto tentava fazer com que sua pulsação voltasse ao normal.

“Eles não são tão horríveis assim. Eles me disseram que a brincadeira da cama foi a única que eles tinham deixado. Como foi você que os financiou, eles sentiram que era justo que você não tivesse que andar na ponta dos pés pelo quarto durante as férias inteiras. Eles vão ficar desapontados quando descobrirem que você escapou, apesar disso. Eu iria tomar cuidado se fosse você. Eles estarão aqui para a sua festa de aniversário no domingo.”

“Você quer dizer que sabia o que eles tinham feito?” Harry disse. Tentou colocar um olhar de escândalo no rosto, mas não conseguia deixar de rir.

Gina deu um sorriso. “Bem, eles me fizeram jurar segredo. Disseram que se eu te contasse, iriam pregar o dobro de peças em você e em mim. Você devia ter visto você mesmo andando sorrateiramente pelo quarto, desconfiando de tudo. Estava hilário.”

Harry levantou as sobrancelhas e cruzou os braços. “Você estava me espionando?” ele perguntou fingindo estar bravo.

Gina também cruzou os braços para ele e disse arrogantemente, “Eu não estava te espionando. Eu estava apenas... observando. Tendo certeza de que você não precisava de ajuda. Além do mais, meu quarto fica ao lado do seu. Você estava no caminho.”

De repente eles não conseguiram mais continuar e fingir e começaram a rir. Harry não conseguia se lembrar da última vez que tinha rido tanto e sinceramente.

Rony entrou no quarto e parou abruptamente. Ficou de boca aberta quando viu a cena com Harry no chão, ele e Gina rindo de se acabar e uma grande bagunça na cama de Harry. “O que aconteceu aqui?”

“Ah, só um presente de aniversário adiantado dos seus irmãos atenciosos”, disse Harry.

“Pelo menos nós sabemos que seus reflexos de quadribol estão prontos para a próxima temporada”, Rony respondeu. “E falando em quadribol, você nunca vai adivinhar quem foi contratado pelos Cannons! Vamos pro meu quarto, eu quero te mostrar a reportagem do Profeta Diário”, ele disse animado.

Harry seguiu Rony para fora do quarto, mas não antes de ter sorrido para Gina.

***

Gina foi para seu quarto, ainda rindo do que tinha acontecido no quarto de Harry. Tinha sido tão bom poder conversar com ele como uma pessoa normal. Ela sentia que tinha feito um ótimo trabalho no ano anterior, talvez ele até a considerasse uma amiga. Sabia que não era e provavelmente nunca seria tão intima dele como Rony e Hermione eram, mas o que ela tinha era muito melhor do que ser a irritante irmãzinha de seu melhor amigo, que tinha uma paixonite por ele e corava como doida toda vez que ele estava por perto.

Não que Harry tenha alguma vez ficado nervoso ou agido mal com ela, ele não fazia nada, apenas era tolerante. Bem, distraído seria provavelmente um termo mais exato, ela pensou. Mesmo assim, toda aquela atenção deveria ser embaraçante para ele, e ela estava grata de que ele nunca tivesse sido mau, por pior que ela tivesse sido.

A Gina antiga ficaria flutuando por semanas por causa da conversa que eles tinham acabado de ter, convencida de que ele estava finalmente prestando atenção nela e de que o casamento deles estava bem perto de se tornar realidade. A nova Gina sabia que Harry só estava sendo ele mesmo, e isso não significava nada.

Ela se sentou em sua cama, refletindo em quão longe havia chegado. Sair com Miguel tinha ajudado-a a crescer. Com sua atenção em outra coisa que não fosse Harry, ela finalmente começou a vê-lo como uma pessoa real, não mais aquela imagem idealizada que ela tinha dele. Ele não era perfeito, tinha falhas que ela não tinha reparado antes. O que eram alguns pequenos defeitos comparados ao tamanho da paixonite que tinha por ele, paixonite que ela tinha descoberto ser irritante.

Ele costumava pensar e remoer demais as coisas. Com certeza ele tinha muito que pensar, mas sua tendência de se fechar e se distanciar das pessoas era um defeito que ela suspeitava que não iria deixá-lo ser feliz de verdade um dia. Ela esperava que ele pudesse achar alguém que conseguisse ajudá-lo com o gênio que tinha.

Mas mesmo que ela tivesse percebido que ele era imperfeito, continuava a vê-lo como um herói. Não se podia negar toda a sua bravura, lealdade e força de caráter. Lembrou-se de sua experiência com Tom Riddle. Como Harry fez aquilo? Como um garoto de doze anos de idade conseguiu derrotar magia das trevas e matar um basilisco? E salvar a donzela indefesa, riu para si mesma.

Aquele tinha sido um tempo horrível para ela, e ela sentiu uma terrível vergonha. O diário tinha sido traiçoeiramente sedutor, ouvindo seus mais secretos pensamentos e dizendo a ela o que ela queria ouvir. Nunca tinha nem mesmo agradecido a ele por ter salvado-a, não que tivesse que agradecer. Os pesadelos tinham sido horríveis, e tinha sido meses atrás que eles tinham finalmente parado de atormentá-la. Gina estremeceu quando alguns de seus pesadelos vieram à sua cabeça.

Ela se levantou de sua cama e sentou-se em sua escrivaninha. Por que eu estou pensando nisso? Não tenho pensado esse tanto em Riddle há um bom tempo. Ela olhou para seu quadro de fotos, o qual tinha muitas fotografias de seus amigos. Contemplou uma fotografia tirada de Harry e Rony em Hogwarts.

Ela sempre se sentiu atada ao destino de Harry. Não sabia que destino era esse, mas sabia que Harry teria uma grande participação no declínio de Você-sabe-quem. E ela sabia que quando esse destino chegasse, ela seria um daqueles que ficariam ao lado dele, como tinha feito na batalha no Ministério. Ele sempre teria um lugar especial no coração dela. E estava tudo bem que ela nunca tivesse um lugar especial no dele.

Bem, isso é mentira, ela pensou. Era inevitável que ela nunca tivesse um lugar especial no coração dele, mas não estava tudo bem. Bem no fundo de seu coração, ela sabia que ainda tinha um fio de esperança. Esse fio provavelmente ficaria ali para sempre, ficando cada vez mais adormecido à medida que eles se casassem com outras pessoas, mas ela esperava que eles sempre permanecessem amigos.

***

Harry estava sentado na sala de estar da Toca, folheando algumas revistas sobre quadribol de Rony. Rony e Gina estavam jogando xadrez, sentados no chão. Havia um artigo interessante sobre novas vassouras que estavam sendo criadas, mas ele estava achando difícil de se concentrar.

Tinha passado o dia com Rony e Gina, jogando xadrez e snap explosivo, falando sobre quadribol, em geral, sendo preguiçosos. Mas todo o excitamento de ter deixado a casa dos Dursley estava acabando e todo o sofrimento que tinha experimentado durante todo o verão continuava lá.

Depois do jantar, Rony percebeu que Harry estava se distanciando cada vez mais, e mandava olhares preocupados para ele de tempos em tempos. Isso deixava Harry irritado, mas ele não disse nada. Pelo menos Gina parecia não ter percebido o comportamento dele, já que o tratava como se nada estivesse errado. Ou isso, ou ela era mais perceptiva que Rony. Mas isso não é muito difícil, ele pensou.

Apesar dele não estar sentindo tanto sono, decidiu que não agüentava mais aqueles olhares. “Bem, eu acho que vou pra cama. Estou me sentindo um pouco cansado.”

Rony tirou os olhos do jogo e concordou com a cabeça. “Boa noite, amigo.”

“Durma bem, Harry.” Gina disse, sorrindo.

Harry subiu as escadas. Ainda se sentia um pouco nervoso com o fato de dormir no quarto dos gêmeos. Tinha pensado na possibilidade deles terem dito a Gina que só tinham deixado uma armadilha para distraí-lo, mas finalmente decidiu que não poderia se preocupar com o quarto para sempre. Qualquer coisa que pudesse acontecer provavelmente não seria letal.

Sentou-se na enorme escrivaninha e olhou para o quintal da Toca iluminado pela lua. Começou a pensar em Sirius, mais uma vez. Como pude ter sido tão estúpido? ele pensou pelo que parecia a milionésima vez. Ele sabia que precisava ser menos impulsivo, mas de algum jeito nunca conseguia seguir o método exato pelo qual deveria tomar suas decisões.

Suspirou. Simplesmente não estava cansado. Talvez estudar um pouco ajude, ele pensou. Pegou sua cópia de Os Segredos das Artes das Trevas e Como Vencê-las e começou a ler.

Algumas horas depois Harry pensou ter ouvido seu nome sendo chamado. A Toca estava em silêncio, já que todos já tinham ido dormir. Prestou mais atenção e tentou ouvir algo, mas não escutou nada. Então voltou a ler.

“Não, por favor, não o Harry...” uma voz baixinha chamou.

Ele definitivamente ouviu alguma coisa. Andou pelo quarto, tentando ouvir de novo.

“Não! Tom, eu não vou fazer isso!”

O som estava vindo do outro lado da parede, atrás da cama. Ele encostou o ouvido na parede e ouviu atentamente.

“Tom! Por que você... NÃO! Eu pensei... Por favor não machuque o Harry.” Era Gina, e ela parecia estar tendo um pesadelo.

Harry congelou, se perguntando o que deveria fazer. Finalmente ele entrou no corredor, chegou perto da porta e colocou o ouvido encostado nela.

“Não, não, Tom, O QUÊ VOCÊ ESTÁ FAZENDO!” Ela gritou apavorada.

Sem pensar por mais tempo, ele abriu a porta e correu até a cama. Colocou as mãos nos ombros dela e a sacudiu gentilmente. “Gina, Gina, acorde. Sou eu, o Harry.”

Os olhos dela se abriram e focaram-se nele. Ela imediatamente o abraçou, agarrando-o com força e desespero. Estava encharcada com suor frio. Harry a abraçou de volta, meio sem jeito, e passou a mão por suas costas.

“Gina, está tudo bem. Foi só um pesadelo”, ele disse de modo tranqüilizante.

Abruptamente, Gina o soltou. “Grande Merlin, o que eu estou fazendo? Desculpe-me, Harry. Eu pensei que ainda estava sonhando.” Ela parecia embaraçada. “Er, eu não quis dizer isso do jeito que soou.”

Harry sorriu para ela de modo tranqüilizador, mas parecia preocupado. “Você está bem? Me desculpe por ter entrado no seu quarto, mas eu ouvi você gritando. Hum, você estava gritando meu nome”, ele terminou indevidamente.

“Eu estava de volta à Câmara”, ela disse baixinho. “Com o Tom.”

“Você ainda tem esses pesadelos freqüentemente?”

“Não! Na verdade, essa foi a primeira vez em provavelmente um ano”, ela disse, começando a conseguir fazer com que sua voz voltasse ao normal.

Harry fechou a cara e não disse nada.

Gina olhou com suspeita para ele. Falou gentilmente, “Harry, não é culpa sua.”

Harry hesitou, surpreso. Debateu com ele mesmo sobre quanto deveria dizer. Finalmente disse, “Então por que agora? Por que você teria esse pesadelo na primeira noite que eu passo na Toca?”

“Bem, não é porque você está conduzindo Você-sabe-quem para mim”, ela disse um pouco mais severa do que pretendia ser.

“Como você sabe, Gina? Nós sabemos que eu tenho uma conexão com ele. Talvez eu devesse ficar em outro lugar. Talvez eu devesse voltar para a casa dos Dursley, ou talvez para o Largo Grimmauld, ou... qualquer lugar.”

“Não se atreva a pensar nisso Harry! Vou te dizer por que eu sonhei com Tom esta noite, e não foi por nenhuma dessas razões que você parece sentir necessidade de centrar em você.” Sua voz estava começando a aumentar.

Harry olhou ao redor nervosamente, se perguntando se ela tinha acordado alguém.

Gina percebeu e abaixou o tom de voz. “Olha Harry, eu suponho que eu poderia dizer que foi sua culpa, de certo ponto de vista. Depois que nós conversamos mais cedo, eu apenas me encontrei pensando no que aconteceu na Câmara Secreta e nos pesadelos que eu costumava ter. Eu pensei nisso porque percebi que nunca tinha te agradecido por ter salvado minha vida. Só ter pensado nisso me fez ter esse pesadelo.”

Harry deixou que as palavras penetrassem em sua cabeça e começou a relaxar. Isso fazia sentido. “Desculpe, Gina. Eu sei que não deveria tirar conclusões precipitadas, especialmente depois do mês passado...” De repente ele parou, percebendo que sem querer tinha falado para ela de seus medos.

Gina pareceu notar que ele tinha dito algo que não pretendia. “Está tudo bem, Harry”, ela disse tranqüilizando-o. “Eu sei como você se sente. Eu meio que adivinhei tudo o que fiz depois do diário de Riddle. Me senti como uma idiota.”

Harry olhou para ela, chocado. “Você não é idiota! Estava sendo manipulada por uma incrível e poderosa magia negra. E você lutou! Você até tentou se livrar do diário. Não são muitas as pessoas que poderiam fazer isso, Gina.”

Gina ficou embaraçada com toda essa defesa. “Bem, talvez. E talvez você pudesse tentar se lembrar da mesma coisa sobre o ano passado. Você estava sendo manipulado por uma ‘incrível e poderosa magia negra’. Mas você sobreviveu, de novo.”

Harry baixou os olhos e murmurrou, “Nem todo mundo sobreviveu.”

Gina colocou sua mão no ombro dele, e ele levantou os olhos. Ela olhou-o nos olhos. “Harry, isso não foi culpa sua. Nós fomos ao Departamento de Mistérios para salvar Sirius. Suas razões eram nobres. Você não pode esperar sempre tomar decisões certas. Você tomou a melhor decisão que podia com as informações que tinha. Por Merlin, você salvou meu pai usando uma visão. Como poderia saber que o mesmo processo não funcionaria com Sirius? Você tentou saber se era verdade.”

“Mas foi Hermione quem...”

“Sim, Hermione teve a idéia de confirmar a informação. E daí? Mesmo se você não tivesse tentado checar, mesmo assim agiu de coração puro. Harry, eu não gosto de pensar nisso, ninguém gosta. Mas você sabe que mais pessoas vão morrer antes que tudo isso acabe, não sabe?”

Harry pareceu ter sido golpeado. Ela tinha posto em palavras seu pior medo.

“Harry,” ela disse gentilmente, “como você acha que eu me sinto tendo oito membros da família tão perto da ação? As chances da minha família sair ilesa não são muito boas.” Sua voz tremeu um pouco ao falar a parte final.

Harry olhou-a em choque. A mãe dela tinha feito uma observação similar no ano anterior. Nunca havia ocorrido a ele que Gina pensava a mesma coisa. Mas é claro que sim, e provavelmente Rony também, ele pensou. “Gina, eu sinto muito. Deve ser difícil pra você.”

Gina falou com voz amarga, “E Harry, se alguém da minha família morrer, não será culpa sua, nem de Dumbledore, nem de ninguém, exceto de Você-sabe-quem. É ele quem está matando as pessoas.” Sua voz tomou um tom de imploração. “Por favor tente se lembrar disso, Harry. A culpa é de...” ela respirou fundo e sussurrou, “Voldemort.”

Foi a primeira vez que Harry ouviu Gina falar o nome de Voldemort, e isso o comoveu. Ele falou sussurrando também. “Certo, Gina, eu vou tentar me lembrar.” Houve um longo silêncio, enquanto os dois deixavam que aqueles pensamentos obscuros penetrassem. Ele olhou para ela e disse sincero. “Obrigado.”

Ela sorriu, “Qualquer hora que precisa de mim, Harry.” Ela pausou e depois de repente soltou uma risada, quebrando um pouco da tensão que tinha se instalado no quarto. “Obrigada por ter me salvado de Tom novamente esta noite.”

“Quando precisar.” Ele sorriu de volta. Levantou-se e começou a andar para fora do quarto.

“Ah, e Harry?” Ele se virou e olhou-a. A voz dela ficou séria. “Obrigada por ter me salvado de Tom na primeira vez.”

Harry concordou, embaraçado. Ele passou silenciosamente pela porta e fechou-a gentilmente.

***

Harry olhou para o tabuleiro de xadrez e fez seu movimento. Estava certo de que este seria o jogo em que finalmente derrotaria Rony. Recostou-se de volta na cadeira, um sorriso satisfeito em seu rosto.

Rony considerou seu próximo movimento com uma expressão de intensa concentração. De repente sua expressão mudou, deu um olhar malévolo e fez seu movimento com um floreio. “Ha!” ele gritou. “Tome isto!”

Harry estava paralisado com a súbita mudança em sua sorte. Tentou achar uma maneira de sair daquela enrascada, mas o jogo já estava obviamente perdido. Suspirou.

“Não tinha previsto isso. Excelente movimento. Eu admito”, disse Harry.

“Pensou que ia ganhar desta vez não é? Outro jogo?”

“Nah. Acho que vou estudar um pouco.”

“Estudar?” Rony disse em tom de suspeita. “Desde de quando você estuda durante as férias? A Hermione está te chantageando ou algo assim?”

Harry se sentiu embaraçado. “Bem, Dumbledore me mandou alguns livros para que eu pudesse ler durante o verão. Eu não tenho muito que fazer nos Dursley, então... Eu tenho meio que estudado um pouco. Nada demais.”

Rony o olhou como se quisesse fazer mais perguntas, mas depois pareceu pensar melhor. “Er, está bem, amigo.”

Harry sentiu um fio de irritação. Será que Rony tinha que se comportar como se ele fosse um vulcão prestes a explodir ou algo assim?

“Olha, Rony, são só alguns livros de Defesa Contra as Artes das Trevas”, ele disse na defensiva, sua voz aumentando um pouco.

Rony pareceu ter se assustado um pouco com a reação dele. “Não estou dizendo nada, amigo! Ler é bom.” Se calou por alguns segundos. “Olha, Harry, eu acho que só não estou certo de onde você está com a cabeça. Nós não conversamos nada sobre o... mês passado.”

A irritação de Harry cresceu ainda mais. “Eu não quero falar sobre aquilo”, ele disse de modo grosseiro.

“Eu não estou tentando forçar você a falar nada! Nós só estamos preocupados.” Rony disse, tentando acalmar a situação.

Harry viu que Rony não estava tentando se meter em seus assuntos e se forçou a se acalmar. Colocou um sorriso no rosto e pensou que deveria fazer algo para compensar sua atitude. “Hum, Rony, eu aprecio a sua preocupação. Só acho difícil falar sobre isso agora. algumas coisas que nós precisamos discutir. Algumas... coisas que vocês não sabem. Quando Hermione chegar aqui nós podemos nos sentar e conversar. Pode ser?”

Rony soltou um suspiro de alívio quando viu que Harry não iria explodir com ele. “Certo, Harry. Quando você sentir que é o tempo certo para falar.”

Harry subiu as escadas, seu estômago virando. Parte dele sentia que tinha cometido um grande erro ao prometer contar a Rony e Hermione sobre a profecia. Mas a outra parte se sentia aliviada sabendo que tinha posto o processo em ação. Guardar tudo para si estava consumindo-o.

Entrou em seu quarto, pegou sua cópia de A Bíblia dos Aurores e desceu novamente. Estudar Defesa sempre o ajudava a se acalmar e sua conversa com Rony já estava esvaindo-se de sua mente. Foi para o quintal da Toca onde estava um lindo dia de sol. Estava contando em achar uma árvore que fizesse uma boa sombra, um lugar perfeito para relaxar.

Não tinha ido muito longe quanto viu Gina sentada com as pernas cruzadas embaixo de uma árvore com um livro no colo. Seu cabelo ruivo estava solto e havia uma mecha dele atrás de uma orelha. Uma memória de quando a abraçou na noite anterior cortejou sua mente. O cabelo dela era muito liso e macio. Ele continuou a olhá-la por alguns longos segundos.

De repente ela levantou a cabeça, sentindo que ele estava ali. Seus olhos se encontraram com os dele por um rápido segundo, e antes que pudesse impedir-se, Harry desviou os seus rapidamente. O que eu estou fazendo? ele pensou. É só a Gina. Sentia-se inexplicavelmente nervoso. Com dificuldade, adquiriu o controle sobre si mesmo novamente. Forçou um sorriso e olhou de volta para ela.

“Er, oi Gina”, finalmente disse.

Ela olhou-o um pouco confusa e disse, “Oi, Harry.” Ela viu o livro nas mãos dele e disse um pouco rápido demais, “Oh! Você quer ler? Isso parece um livro da escola. Suponho que você prefira estudar sozinho. Posso ir para outro lugar se você quiser.”

“Sim. Quero dizer, não!” Harry forçou-se a se acalmar. “Quero dizer, sim, eu tenho estudado sozinho enquanto estava na casa dos Dursley, mas não me importo se você ficar.”

Gina sorriu e bateu a mão no chão perto de si. “Sente-se, então.”

Harry sorriu em retorno e sentou-se ao lado dela na grama fresca. Abriu seu livro e começou a ler, e Gina voltou para seu próprio livro. Ficaram lá sentados e lendo em um silêncio confortável.

Algum tempo depois, Harry olhou para Gina com curiosidade. “A propósito, o que você está lendo?”

Gina olhou para ele, um pouco envergonhada. “Ah, é só um romance.”

“E sobre o que é?”

“Prometa que não vai rir.”

Harry piscou. Rir? “Eu prometo.”

Os olhos dela brilharam. “Se você contar aos meus irmãos eu vou pessoalmente apagar sua memória. Pergunte a Draco sobre meus feitiços.”

Harry riu. “Está bem, está bem, eu prometo. Agora eu tenho que saber depois disso tudo.”

“Certo.” Ela começou a corar um pouquinho. “Bem, é sobre uma bruxa que está viajando pelo mundo. Ela conhece um bruxo e começa a viajar com ele, mas ele na verdade estava secretamente procurando por um artefato mágico muito poderoso que estava na família dela há gerações. Enquanto isso, o homem que estava apaixonado por ela secretamente decide ir atrás dela e dizer a verdade depois de anos escondendo seus sentimentos.”

Harry se inclinou e olhou para o livro. Este mostrava um bruxo musculoso com vestes rasgadas abraçando uma bruxa muito bonita com cabelos longos e sedosos, que estava usando vestes verdes e bem feitas. Enquanto Harry olhava para a ilustração, o vento desarrumou os cabelos deles enquanto o bruxo da figura se inclinava devagar para beijar a bruxa. Harry desviou os olhos bem na hora que os lábios deles se tocaram.

“Isso é um daqueles romances para adolescentes?” ele disse incrédulo.

Gina riu nervosamente. “Sim. Minha colega de quarto me deu no final do ano passado. Para ser honesta, depois do que aconteceu no Ministério, um romance bobo até que me pareceu uma boa idéia.”

Harry se sentiu travesso. Aquela era uma chance muito boa para que ele pudesse deixar passar. “Você lê isso... freqüentemente?” ele perguntou parecendo estar sério, como se estivesse cumprindo a promessa.

Ela lhe mandou um olhar ofuscante. “Não, eu não costumo ler. Além do mais, eles não ruins assim.”

“Se eu olhasse de baixo da sua cama não iria achar um estoque secreto desses romances? E o que mais Senhorita Weasley? Encontros românticos na Madame Padfoot’s?” Harry não conseguiu mais manter a cara séria e começou a rir.

“Cale a boca, Potter.” Ela estreitou os olhos. “Você prometeu não rir. Acha isso engraçado, não é?” De repente seu rosto mudou e ela soltou uma risada. Uma risada maléfica. “Certo. Então vamos falar sobre Madame Padfoot’s, já que você tocou no assunto.”

Harry parou de rir de repente. Ah, não, isso não, ele pensou com um pressentimento ruim.

“Michael tentou me levar lá uma vez, mas eu odeio aquele lugar. Mas eu ouvi que uma outra pessoa apareceu por lá.”

Harry ficou quieto, começando a ficar com medo. Ela não teria piedade.

“Num certo Dia dos Namorados. Com querubins dourados jogando confetes rosa. Agora, quem era mesmo que estava lá com o seu amorzinho?” O sorriso de Gina parecia ir de orelha a orelha.

Harry fechou os olhos, seu rosto queimando de vergonha. Ele sentia que seus cabelos poderiam ficar em chamas a qualquer momento.

“Ah, lembrei! Não foi um certo garoto de olhos verdes que derrotou um Lorde das Trevas? Ah sim, eu acho que foi. Na verdade, eu acho que era você”, Gina disse, obviamente se divertindo imensamente.

Harry se perguntava miseravelmente se ele não poderia cavar um buraco para enfiar a cabeça.

“Então me conte, Harry, o que você prefere? Declarações de amor escritas em guardanapos ou os pequenos cupidos? Os dois contribuem para uma atmosfera tão romântica.”

Harry sabia quando era derrotado. Por favor não fale sobre o que aconteceu entre Cho e eu, ele pensou desesperado. “Está bem, está bem, desculpe por ter rido, pare por favor.”

Gina deu um sorriso ainda mais satisfeito. “Talvez eu pare, mas eu preciso de desculpas mais sinceras do que essas.”

Harry suspirou. “Qual é a de vocês Weasleys? Certo, que tal isso.” Melhor que eu faça isso direito, ele pensou. Ele colocou seu corpo inteiro em frente ao dela e segurou cada uma de suas mãos com as dele. Depois se inclinou, olhando bem nos olhos dela, colocou um olhar sério no rosto e disse numa voz baixa e sincera, “Gina, eu estou muito, muito arrependido de ter rido de você. Me desculpe.”

O sorriso de Gina pareceu ter tremido um pouco e ela engoliu em seco.

Ele soltou as mãos dela e sorriu. “Essa foi boa o bastante, Senhorita Weasley?”

“Hum, sim. Essa foi muito melhor.” Ela parecia estar um pouco nervosa.

Provavelmente está se sentindo mal por ter me provocado, Harry pensou. Ele relaxou. “Me lembre de nunca te provocar de novo. Você é má. Será que não tem tido lições com os gêmeos?”

Ela deu um sorriso falso. “O que você acha que acontece quando se cresce com seis irmãos Weasleys? Suas defesas se tornam pelo menos... afiadas. Mas eu não quero que você pense que eu não agüento ser provocada. Você pode me provocar... até certo ponto. Eu vou fazer com que você saiba ate onde pode ir.”

Harry riu. “Bom saber.”

Sorrindo, eles voltaram a ler seus livros.






N/A: Ta aí o cap. 2!! E eu postei ele inteiro.. Não quis dividir como eu fiz com o primeiro se não ia ficar uma parte grande e outra pequena..

Queria agradecer a Gika Black, que está betando os caps pra mim!! Ela ta escrevendo uma fic boa demais, depois passem lá pra dar uma olhada...
http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=22644

Quanto aos emails... Estes são os nomes das pessoas que comentaram antes de eu colocar o aviso sobre eles ou que pediram para recebê-lo:

*Lari Forrester Black*, Alessandra Silva, Black Behmer Malfoy, Cleber Knies, Cristiane Erlacher, Danielle Cristina Pereira, Fl4vinh4, Gina_, Lola Potter, Prika Potter e waltinho.

Para as pessoas que querem receber o email de aviso é só deixar um comentário dizendo que querem recebê-los, e para os que têm seu nome na lista e não receberam, favor checar se seu email não está cheio ou se não está escrito errado no seu perfil aqui na floreios. E se você recebe os emails e não quer receber ou acha que não há necessidade, é só respondê-lo dizendo isso.

E obrigada a todos que comentaram!!! =]

Bjinhoss

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