Espelhos
Carl Johnson estava atormentado quando chegou em casa. Sua mente sediava uma agonizante batalha de princípios que duraria até que os remédios o fizessem dormir, finalmente, depois de horas de tormento. Assustou-se ao ver seu pai sentado com tanta firmeza na poltrona estofada: Ele não levantava da cama havia dias.
O olhar de Paul, seu pai, causava remorso incomparável em Carl, mostrando que não estava protegido pelos grossos óculos redondos que usava. Carl sentou-se e passou a observar o pai da mesma altura em que ele se situava.
Talvez fosse traição, talvez justiça, talvez injustiça, talvez covardia. Talvez um bem à humanidade, talvez ainda um bem apenas para si mesmo. Mas Carl não se situava em seus próprios pensamentos, todos aqueles pesos e medidas pesando apenas em sua consciência. Ele sentia-se mal por causa daquilo, isso era inegável e indiscutível.
Havia ainda o pequeno risco dele ser preso, mas aquilo era o que menos deveria importar para quem fora educado sob a lei da honestidade e da bondade. Seu pai grunhiu tão baixo que pareceu a Carl que havia sido seu próprio estômago que produzira o som. Porém, ao ver o pai, teve certeza de que fora ele quem gemera. Sua cabeça, que flutuava sobre uma densa barba branca entremeada por moedinhas douradas de café seco, estava reclinada para trás de forma curiosa. Sua língua estava um pouco enrolada, e seus, ao que parecia, tentavam enxergar sua testa, pois estavam virados de modo muito estranho.
Ele moveu a boca para gemer novamente, mas o gemido desta vez foi um pouco mais preciso.
—C-carl... — Ele pronunciou. Carl pegou o telefone e se levantou para ligar. O pai o imitou, deu-lhe a impressão, pois se levantou e levou a ao à cabeça, mas logo após ele percebeu que ele devia estar sentindo dores no ouvido.
—Ambulância, por favor... Meu pai está convulsionando... — Ele falava, gago, os olhos fixos na figura do pai, que se mantinha na posição, segurando a orelha de modo tolo e assustador, pois de seus olhos agora só se via o branco.
—Carl... Carl... Carl... — Paul repetia a intervalos regulares. O filho foi na direção dele e ele se desequilibrou, mas Carl se abaixou e o segurou bem a tempo de ele não se machucar.
—Fique comigo, pai...— Ele direcionou as primeiras palavras ao pai desde que chegara — Fique...
—Carl... — Repetia ele — Carl...
O Rapaz não sabia mais o que dizer, apenas repetia para o pai que ele podia agüentar mais um pouco, que não era para ele ir, e recebia sempre o seu nome como resposta. Agora o pai segurava seus punhos e ele segurava os dele, numa espécie de comunicação não-oral, os dois sentados no carpe, aguardando a ajuda.
Quando os médicos finalmente chegaram, Carl demorou um bom tempo para assimilar suas presenças.
—Carl... — Paul gemeu. Os médicos o puxaram, mas ele estava firme naquela posição, e não deixava que ninguém o movesse.— Quero ver o médico...quero ver Harry Potter... — Murmurou. O filho assustou-se com a nova frase que o pai proferira. Os enfermeiros ouviram aquilo e tomaram como ordem, puxando Paul novamente. Desta vez o velho homem cedeu, e foi deitado, inconsciente, numa maca que flutuava a centímetros do chão.
HARRY, MD
07. ESPELHOS
—Bom dia, minha boa chefe! — O Dr Harry exclamou em um fingimento de alegria, entrando de forma impactante na diretoria do hospital, ao executar três giros completos com a bengala no ar, agarrando-a com a mão esquerda no exato instante em que a porta batia.
—Andou treinando com a bengala na hora em que deveria estar na clínica, foi? — A Dra. Taylor questiono, arrumando a segunda gaveta de sua mesa. Harry arregalou os olhos ao ver o decote dela, que aquele dia usava um casaquinho de lã sobre a blusa branca.
—Você percebeu que fechei todas as horas de clínica que eu devia? — Desafiou ele, que finalmente cedera às exigências da chefe. Taylor olhou os dados no relatório que as enfermeiras do primeiro andar haviam lhe enviado.
—E o que você quer, uma estrelinha de bom-comportamento pra colar na testa? — Ela riu, e ele teve de admitir que as sátiras dela estavam começando a ficar engraçadas.
—Bem... O dia de receber está chegando, lembra? — Ele sorriu, presunçoso.
—O Natal está chegando, lembra? Ah é... Você não deve acreditar no Natal... Todo aquele seu papo de auto-suficiência, coisa e tal...
—Ah, eu acredito nos presentes... — Ele percebeu que ela não levara a sério a idéia de que alguém como ele ganhasse presente. Não quero mais clínica.
—Não quero mais que me dêem agendas... — Ela desconversou — Você viu o quanto delas já tenho aqui? Posso encher uma estante inteira com todas essas agendas... Sá para separar por cor, tamanho, tipo de papel... É uma loucura.
—Vou cortar o salário dos três. Logo eles virão reclamar com você...
—Ah, já me bastam os pacientes que vêm reclamar de você, agora virão médicos também... Vou endoidar... — Ela bufou.
—É Natal! Não seja tão pessimista!
—Você está conseguindo remédio para dor...— Ela deu a última cartada. — Foi procurar um médico de verdade?
—Sim...
Ele fitou-a por breves instantes.
—Duvido disso
—É a mais pura verdade...
—Todo mundo mente... Não foi o que me disse há alguns meses? Quero provas.
—O que eu ganho com isso? Você não é minha mãe ou um policial... Não tenho por que te provar.
Taylor pensou por um tempo. Seus olhos desviaram para o crucifixo de cristal que removera da sala adjacente ao escritório de Harry graças a um bobo pedido dele.
—Eu diagnostiquei Mal Sombrio! Você não fica impressionada?
—Logo antes da mulher da Pseudo-Pedra Filosofal, que acabou morrendo de algo que não existe?
—Antes da mulher da Pedra Filosofal, que acabou morrendo sem dor mesmo estando intoxicada até o pescoço por algo que você sabe que existe.
—Você a matou? —Taylor perguntou, agora não com raiva, mas sim com um pouco de respeito pela sua inédita piedade.
—Acredite no que quiser. Meus três lacaios podem confirmar que viram o piolho que transmitiu o Mal Sombrio para o Japa dentro daquele vidro.
—Um; Apenas a “Jessy” viu o bicho... Ele deve estar comprovando tudo o que você diz, ultimamente, também...
—É por isso que odeio fofoca de hospital... Aqueles médicos comendo no centro cirúrgico, falando com as instrumentadoras sobre a vida dos outros... É uma tristeza...
—Ela é sua funcionária!
—Você está com ciúmes?
—Não, Harry. Não vai confessar como consegue o Oxycontin?
—Como sabe o nome do remédio? — Perguntou, como uma criança ao mágico. — Em que cor estou pensando agora?
— Você me pediu para te receitar Oxycontin... Acha que não te conheço?
—Ainda não me disse o que ganho em troca das provas...
—Não vai ter mais tempo extra na clínica. Vai poder fazer nada no tempo livre, como sempre quis... Só duas horas por dia, para fechar a cota mínima semanal.
—E o salário dos lacaios...
—Sai do hospital.
Harry ouviu a oferta e sentiu-se tentado momentaneamente a entregar o esquema, mas algo naquele segundo o lembrou que o seu fornecimento de remédio já estava desfalcado.
A raiva do homem que lhe passara a perna só passou quando chegou em seu escritório e percebeu que este estava novamente habitado.
—Até que enfim, um paciente. — Harry exclamou, atirando a bengala no ar, ao meso tempo em que já tirava o casaco e sacava a caneta preta. Os Três membros de sua equipe se surpreenderam ao ver que a bengala girou e engatou-se pelo cabo exatamente no gancho do meio do porta-casaco.
—Belo arremesso. — Jéssica Elogiou, com um sorriso admirado.
—Obrigado.
Curts a olhou com frustração e logo mudou de assunto.
—Paciente de cinqüenta e oito anos, teve uma espécie de convulsão estática, mexendo somente os olhos e a boca.
—Ele quis dizer que o cara teve um orgasmo? — Perguntou Harry a Jéssica. Ela riu.
—Não, foi convulsão mesmo. — Park corrigiu, não tão mal-humorado quanto o colega. — A atividade cerebral foi absolutamente convulsiva.
—Se bem que as reações do cérebro a um êxtase e a uma convulsão são semelhantes... Basicamente a convulsão só difere do orgasmo por que os homens não dormem depois de ter uma, e as mulheres nunca procuram discutir a relação depois de convulsionar. — Harry fez piada novamente, e Jéssica riu de novo, agora ajudada por Park.
—Vamos ficar fazendo gracinhas ou vamos tratar do paciente? – Curts perguntou, o ciúme da colega agora se tornava evidente aos outros dois homens.
—Convulsão e Paralisia. — Harry dividiu a lousa em duas partes. — Vamos começar pela convulsão...
—Câncer? — Jéssica falou — Ou adoma...
—OK. — Harry concordou, escrevendo Meningite Bacteriana logo abaixo.
—Heinns também dá convulsões... — Park lembrou da doença bruxa.
—Quatro, está bom... Paralisia, agora.
Eles demoraram certo tempo até começar a dizer as doenças que paralisavam a pessoa.
—Doença de Prince? — Curts lembrou-se — É um protista mágico que ataca os velhos, então...
Harry sentiu-se um pouco menos jovem depois desta afirmação. Estava há poucos anos do paciente, apenas.
—Van-Dalls —Jéssica afirmou.— Reação da Polial bruxa a determinadas substâncias mágicas presentes no ar... Causa pequenos momentos de desespero antes de curtos ataques de paralisia.
—Ataque cardíaco pode levar a pessoa a esses pequenos “congelamentos”. — Curts comentou.
—Mas não é suficiente para impedir os movimentos da convulsão... Quem sabe foi um feitiço corpo-preso? Ou uma poção coração-de-pedra?
—Pouco provável, vamos ver se reincide, então podemos provar se é ou não isso... Jéssica e Curts, façam uma tomografia para o tumor e o adoma, e os testes do sangue para Heinns, Meningite, Prince...
—Park, você vai à casa dele, procura por vestígios de magia no ar...
—Certo.
—Ah, e lembrem-se de ver se as calças do paciente não estão molhadas... — Jéssica riu para ele.
—Você vai para a clínica?— Curts indagou
—Talvez... Quem se importa? Além, é claro, da chata da Taylor?
Os dois médicos que iriam continuar no hospital saíram pela porta de vidro do escritório. Park desaparatou da sacada, até então o único local do hospital onde sabia-se que isso era possível; Era possível que isso se desse por alguma falha no sistema anti-aparatagem.
Harry caminhou mancando até o ambulatório do Saint Mungus, onde devia cumprir ainda algumas horas de clínica; Mas ao invés de apanhar uma ficha da mesa da recepção, entrou atrás do balcão e se agachou — O joelho formigou levemente, agora sedado pelos remédios de Wilson.
—Essas férias vão ser uma loucura!— A enfermeira oriental comentou com ele. — Não sei o que as pessoas vêem de tão comum entre o natal e a cerveja... Acidentes com vassouras, ossos quebrados, esfaqueamentos, feitiços pouco escrupulosos... E nosso quadro clínico está completamente furado... Se o senhor quiser pegar a pilha menor, tem os acidentes mais graves... Separei esses especialmente para você...
—Ah, infelizmente não agora... Estou tratando de um paciente específico... — Ele fuçou todas as fichas sob o balcão para encontrar a fotografia horrenda do homem que já tivera de encarar algumas vezes pessoalmente. — Preciso de um favor da senhora... — decidiu perguntar diretamente a ela, ao ver que não encontrava a ficha em lugar algum. — A ficha que procuro está em outro lugar, pelo jeito... Onde as fichas ficam guardadas?
—Nessa sala aqui, mas não é permitido o acesso de ninguém, nem mesmo médicos.
—Mas e meu paciente? É uma emergência, preciso da ficha dele, para procurar o telefone de contato...
—Desculpe doutor Harry, são ordens da doutora Taylor; Nenhum médico pode acessar nossos arquivos. Se o paciente é seu, a ficha dele já deveria estar com você...
—Pois é, mas acabei devolvendo sem querer... Você deve até se lembrar do cara... Cabelo lambido para o lado, tipo nerd aspirante a metrossexual, lembra?
Ela se concentrou por um momento, os olhos apertando-se de modo que se fechassem mais do que já estavam quando abertos. A japonesa pareceu então iluminar-se ao lembrar de algo.
—Ah, sim, sei... O senhor quer procurar a ficha daquele rapaz, certo? Me diga o nome dele que eu entro e procuro para o senhor...
—Harry forçou o cérebro, mas não lembrou do nome do paciente que “consultou”, algo que considerou uma tolice imensa de sua parte, pondo-se na posição em que estava.
—Não me lembro...— A enfermeira o olhou com cara feia.
—Olha, eu sei que isso é proibido, mas acontece que diagnosticamos um problema de Adoma tipo Alfa nele, e ele precisa de uma biópsia urgente... Se for maligno e não tratarmos a tempo...
—Ok, mas só por que o senhor este sempre aqui na clínica, ta bom? Vamos, entre comigo.
Harry agradeceu mentalmente quando entrou na sala cheia de fichas, logo depôs começando a vasculhar, com a enfermeira ao seu lado, todas as prateleiras do recinto.
Precisaram de cerca de dez minutos até que Harry encontrasse a ficha e abrisse na primeira página, a dos dados principais, sintomas, etc.
—Preciso de mais um favor seu. Quero que ligue e peça para ele vir ao hospital o mais urgente possível, por que o Dr. Harry quer falar com ele... Diga que é para receitar mais remédio, assim ele não se apavora... Mas deixe claro que é urgente. — Ele mentiu, apenas pensando em se vingar do homem que lhe fizera de bobo.
A enfermeira telefonou para o paciente assim que Harry terminou de falar, folheando a ficha enquanto isso. Harry vibrou por dentro ao ver a imensa lista de sintomas que o paciente forjara para receber atendimento privilegiado, que assustou a enfermeira mais do que todos os outros pontos forjados por Harry.
—Ninguém atente, ah meu Deus! — Ela falou, pensando no pior; Harry concluiu sabiamente que este desespero na iminência da morte alheia fora o motivo dela ser enfermeira, ao invés de médica.
—Vou até lá. — Disse do modo impactante, lendo o endereço três vezes para memorizar, e montando a vassoura logo ao sair pela porta de vidro.
—Negativo para Heinns — Jason Curts falou para Jéssica Spencer, enquanto terminava de analisar a amostra do sangue que coletara. —Você saiu com ele, não foi? Aquela noite, lá, depois da velhinha da Pedra Filosofal... Foi só aquela vez? — Ele perguntou, olhando para ela e reparando novamente na beleza da Polióloga. Ela ergueu a cabeça para ele, e seus cabelos negros e alisados esvoaçaram de leve, como se a jogada fosse ensaiada.
—Não é da sua conta, é? — Ela sorria levemente.
—Se analisarmos pelo fato de que você é minha amiga e ele é um cretino, talvez seja da minha conta sim...
—Não somos amigos, ainda... Nos conhecemos pouco, apenas do ambiente de trabalho... Por enquanto somos apenas colegas; Negativo para Meningite Bacteriana.
—Quer mudar isso?— Propôs. — Passa o corante 326?
—Aqui... Vai procurar Prince?
—Vou; E a outra pergunta?
—Pode ser... Gosta de cinema?
—Prefiro Teatro, mas cinema é bom.
—Ai, ai... Segundas intenções?
—Não, eu acho... Vamos interrogar o filho? Deu negativo para Prince...
—OK. E já aproveitamos a viagem para falar com o paciente, também...
Os dois saíram do laboratório um tanto calados. Jéssica percebia que algo estranho se passava dentro dela. Algo que esfregava na cara dela que seria tachada de mil nomes pouco respeitosos se começasse a sair com Curts e Harry, Mês também não via como, com este contato absolutamente superficial com ambos, decidiria qual dos dois era melhor.
Ao passar por um corredor, no qual Taylor caminhava, percebeu que talvez já tivesse uma pendência a um partido, quando Curts sequer fez menção de espichar o olhar para ver o traseiro da diretora, como Harry não só faria como também conseguiria fazer de forma humilhante e pouco educada.
—Sr. Johnson? Tudo bem? Como se sente?
Ela falava com o paciente do lado de fora o quarto, em uma galeria fechada por vidro, dois metros acima do nível do piso do quarto. Dali, podia-se ver e ouvir tudo o que se passava no quarto, e o local era isolado em termos de acústica,de modo que o paciente só ouvisse o médico quando este falava diretamente no microfone.
—Quero ver Carl... Quero ver Carl! — O senhor de idade repetia quase como se suplicasse.
—Nós o traremos logo, não vai demorar... – Curts respondeu.
—Obrigado.
—Será que é mesmo necessária essa isolação do paciente? Não precisamos de tanta segurança. — Jéssica questionou.
—Depende do resultado de Park; Se for Van-Dalls, contamina o ar e se espalha por todo o hospital, quem for susceptível já era... Ah, lá está o garoto.
Realmente, a expressão utilizada por Curts foi aplicável. O rapaz, de pelo menos trinta anos, estava vestido quase como um colegial “nerd”, com a camisa xadrez abotoada e o cabelo arrumado como se fosse um garoto. Seus óculos transformavam seus olhos em dois besouros negros e brilhantes.
—Carl, precisamos de algumas respostas.
—Certa-ta-mente que eu darei, mas digam, o caso do meu pai é g-grave?
—Não temos certeza. Nosso colega está fazendo alguns... Exames de ambiente que acreditamos resultarem em respostas com relação a toxinas que possam ter afetado seu pai. Me diga, você sentiu-se estranho ultimamente? Precisamos saber se você tem sintomas... — Jéssica sondou.
—Não, não... Foi tudo normal...
—Teve algum tipo de paralisia?
—Não
—Pânico momentâneo ou descargas de magia acidental?
—Não... Por quê, pode ter sido eu quem...
—De jeito nenhum, você não está fazendo mal a ele. Costuma dar alimentos preparados por mágica?
—Não, por que?
—Só checando... Vamos descer?
Os três desceram as escadas da galeria até o corredor principal da área das salas isoladas, vestiram roupas especiais na sala de equipamentos, e então voltaram para perto da escada para a galeria, porém entraram pela porta próxima dela.
Ali havia uma saleta de segurança onde alguns feitiços isolavam todo o tipo de meio em que as doenças pudessem se propagar e “esterilizava” todos que fossem entrar. Adentraram então o quarto fechado onde Paul estava deitado.
—Ah, Carl... Filho. – O rapaz chegou perto do pai, que o abraçou — Filho...
—Logo, logo o Dr. Harry estará aqui e virá falar com você sobre o seu pai...
Carl assentiu com a cabeça, levantou-se de perto do pai, despedindo-se antes dele, e caminhou para a saída.
—Filho, Filho... — O homem se levantou e seguiu o rapaz. Carl parou e virou-se para o pai, que também já estava parado.
—O senhor deve se deitar, Sr. Johnson.
Carl confirmou a palavra dos médicos e deu as costas para o pai, que se virou para a cama em que estivera deitado. Quando o filho saiu da sala Curts e Jéssica já seguraram Paul pelos braços para colocá-lo na cama.
—Carl! Carl! — Gritou ele, e então caiu no chão, todos os membros do corpo se mexendo no ritmo do tronco.
—Limpo aqui também...—Park murmurou. O serviço lhe era particularmente monótono, sendo que a parte mais interessante era bancar o detetive, bisbilhotando os objetos da família e mexendo nos guarda-roupas da casa.
Aquele homem morava apenas com o filho, numa casa enorme. Já fora casado, mas pelo que parecia, enviuvara cedo. O filho era realmente exemplar, formado em direito bruxo, concorrente a membro do Wizengamot, a suprema corte bruxa.
Passou um outro paninho úmido pelas paredes e pelo ar da cozinha, agitou por uns instantes o frasco que continha a essência mágica corante e pingou algumas gotas no pano. Deixou em repouso por alguns segundos.
—Roxo... Nada, de novo. Caminhou até o banheiro, coletou algumas amostras de remédios do sr. Johnson e do filho dele. Fez o teste do pano novamente, e frustrou-se por não encontrar nada.
Agora via como aquilo podia ser perigoso: Entrar na casa do paciente sem permissão, mexer em suas coisas e arriscar ser pego. Poderia chegar algum parente dos Johnson... Talvez até um amigo... Vai que algum vizinho viu quando ele aparatou e entrou?
Como de praxe, assim que pensou no perigo, um estampido alto vindo dos fundos soou, anunciando: Fora encontrado. Correu como se sua vida dependesse de suas pernas e se escondeu atrás do armário da cozinha.
Seu coração acelerou de modo abrupto, nunca fora forte para quebra de regras, exceto nos momentos em que estava drogado. Percebeu Park ali uma breve ironia do destino, sendo ele um cardiologista ainda novo. Será que quem entrara sabia de sua presença? Não ouvira passos nem vozes... Resolveu esticar o pescoço apenas alguns centímetros para o lado e ver o que estava acontecendo, a varinha já mirada para a direção certa. Ninguém ali. Andou alguns passos quando seu pé bateu em algo mole e pesado, que gritou.
—Filho da... — Falou, vendo um gato cor-de-creme correndo para os fundos novamente. O susto fora tão grande que sua respiração era mais alta que os próprios passos. Tinha que sair logo dali, não levaria tanta sorte na próxima; Porém o que não podia era sair com as mãos vazias...
Neste momento ele congelou. Era o fim da linha. Viu nas cortinas a sombra exata projetada pelo sol de um homem caminhando na direção da porta de saída... Pensou em fugir, mas percebeu que o homem estava armado.
—Alohomora! — Ele ouviu a voz exclamar.— Agora eu pego este desgraçado...— E então a porta foi aberta com violência, o coração de Park ainda pulsando...
—Por favor, eu me rendo... — Ele fechou os olhos numa expressão de quem se preparava para a dor. —Não atire?! — Ele ergueu os braços.
—Park?! Deus! Por que não filmei isso? Sairia ótimo no YouTube!
—Harry?! Como... Você me seguiu?
—Você não tinha que estar na casa do paciente? — Harry estreitou os olhos. — Por um acaso você não está trabalhando para a Taylor, está? São comparsas?
Park esboçou um sorriso confuso.
—Eu estou na casa do paciente... E mal falo com Taylor, se quer saber.
—Ah... Eu não acredito que o paciente mora aqui...
—Ele e o filho. Pelo jeito os Johnson estão aqui há décadas.
—Johnson?
—Sim, é o sobrenome do paciente.
—Vamos. — Harry ergueu a vassoura. — Temos que voltar para o Saint Mungus, se quiser ir montado na minha espingarda...
Park riu duas vezes, uma para cada sentido que a frase podia assumir. Não discutiu quanto ao fato de nada ter encontrado.
—Aliás... — Park voltou a falar, assim que aterrissaram na varanda do escritório de Harrry. — O que você estava fazendo lá?
—Caça ao ganso... Recebi um alarme de que havia alguns gansinhos silvestres naquela região, e como a competição desse ano está acirrada, achei sensato matar algumas horinhas de clínica pelo bem da minha campanha de caça... Você me viu carregando “A Arma” — Ele riu de uma lembrança curta e um tanto quanto divertida, mas parou quando se lembrou de Gina.
—Não brinca! Sinceramente, essa não foi muito boa.—Riu ele
—Então, por que está rindo, seu puxa-saco?
Park fechou a cara, contrariado.
—Eles estão vindo; preciso ver Carl...
—Ver quem?
—Carl Johnson.
—Quem é esse? – Park questionou intrigado — É aquele cantor de Jazz que fez sucesso há uns trinta anos?
—Sim! Ele foi do Menudo, inclusive. — Harry lembrou-se vagamente da banda que fez pouco sucesso em seu tempo, e agora quase sem era lembrada, nem mesmo pelos seus contemporâneos.
Park permaneceu em silêncio por alguns instantes, o que forçou Harry a prosseguir.
—É o filho do paciente.
O outro médico chegou a ficar estático.
—Me belisca.
—Opa! Que papo é esse? O negócio do Menudo era só uma piada.
Park fechou a boca que estava mole, entreaberta, engoliu a saliva e tornou a falar.
—Harry Potter lembrando-se do nome de um paciente seria um fato histórico... Mas lembrar-se do nome do filho do paciente? Vai chover tartaruga.
Harry esboçou um sorriso cansado, e agradeceu ao ver os outros dois membros de sua equipe se aproximando pelo corredor de paredes de vidro, que pareciam aquários vazios cheios de peixes doentes que respiravam por tubos.
—Novidades?
—As piores. O paciente continua doente. — Jéssica Anunciou.
—Deu negativo para Heinns... — Curts completou.
—Para meningite...
—E Prince.
Harry franziu o cenho.
—Vocês estão completando as falas um do outro... Vão participar de algum daqueles programas de auditório babacas do Pay-Per-View? — Harry comentou.
—Treinamos por todo o tempo que sobrou... E foi tempo, viu? Onde estava? — Jéssica Questionou.
—Qual resposta pouco-educada prefere? A que detona você ou a que ofende a sua mãe?
Park riu, e Jéssica ficou levemente encabulada com a aspereza do chefe. Harry, que já estava acostumado com respostas atravessadas, não percebeu como fora rude.
—O paciente teve um outro ataque convulsivo, mas desta vez foi sem a imobilidade...
—O que nos acrescenta a possibilidade de feitiços ou poções imobilizantes. — Park comentou com Curts. — Talvez até animais venenosos.
—Mas o ar estava limpo, então? — Curts questionou? Van-Dalls era aquilo com que mais contava.
—Sim, nada de doença.
Harry ,mancava com a bengala pelo corredor. Apenas parou no meio do caminho para dar as ordens.
—Park, examine-o para envenenamento, veneno comum ou animal. Jéssica, o Park coletou algumas amostras de remédio; Examine-as.
—E eu?— indagou Curts.
—Pegue o filho do cara, nem que seja na marra, e leve-o para qualquer consultório vazio. Me mande um SMS quando conseguir.
—E você vai... — Jéssica perseverou na própria insolência.
Harry apenas olhou sério para ela, virou as costas e saiu andando, imaginando se seria curiosidade ou ciúme que moviam a médica insistir nas perguntas que nem sua chefe poderia fazer sem receber de resposta uma alfinetada dolorida, ou para a consciência ou para o ego.
Entrou em seu escritório novamente — Depois daquele pequeno tour de busca pelos corredores do hospital. — Mas não objetivando lá ficar.
Não conseguiria se concentrar direito ali. Pulou da sacada para o parapeito, de meio metro de largura, sob o letreiro com o nome do hospital, e engatinhou até o escritório de Wilson. Não podia pensar em nada, apenas na raiva que fervilhava em sua cabeça.
—Fui enganado. — Ele falou alto, abrindo a porta e pela primeira vez na vida agradecendo pelo colega estar sozinho. — Por um idiota!
—...Ahn... — Wilson preferiu deixar no ar.
—Fiz uma negociata... Um imbecil queria minhas assinaturas... — Ele desabafava, deitado no pequeno sofá de chintz. O clima passava para um tom cinza de analista-revoltado em que Wilson já apanhava a prancheta e os óculos de grau. — Troquei autógrafos por oxicodona.
—Mas você já não tinha a minha oxicodona?
—Não... —Ele pensou mais um pouco. —Ou sim, não sei... Foi tudo no mesmo dia.
—Claro. — Wilson concordou, interessado.
—O cara adulterou meu remédio, eu poderia ter morrido. — Ele reclamou de si mesmo
Wilson ficou pasmo.
—Ah, o cara não era tão idiota assim, afinal, não é?
Harry permaneceu calado, preparando-se para a pior parte.
—Agora o pai dele é meu paciente...
—Não!— Wilson pensou no pior. — Você não iria... Você não pode! — Desesperou-se.
—Claro que não vou matar o pai dele, não seja burro.
O outro suspirou aliviado.
—É esse o problema, não faço idéia do que o cara tem...
—Aí a coisa complica. O filho já deu todas as informações necessárias?
—Não. Descobri sobre ele agora há pouco... Até então não sabia de que quem estava tratando... Mas preciso do que ele tem a dizer, pode ser fundamental...
Wilson assentiu.
—Se o paciente morre – Harry continuava — Viro antiético; Se procuro o idiota do filho dele, acho que parto a cara do rapaz... Será que seria honroso de minha parte perguntar a você o que fazer?
Ele assentiu novamente.
—Faça a coisa certa... Você sabe o que precisa fazer, sabe quando te que fazer, as conseqüências disso... Tem a resposta em suas aos... Só não quer enxergá-la... Seria honroso de minha parte mencionar o Juramento?
—Com certeza não... — Ele se levantou e caminhou até a porta. — A Taylor está fazendo jogo duro, quer as minhas receitas de Oxycontin.
—Eu sei, ela está me pressionando também.
Harry engoliu no seco três comprimidos do remédio e voltou a perguntar:
—O que devo fazer quanto a isso?
Wilson projetou um sorriso nos olhos.
—Tudo, menos a coisa certa. Não mostre as receitas.
Harry concordou. Aquela indisciplina conjunta pareceu-lhe algo muito semelhante à amizade.
—Tenha uma boa noite, Wilson... — Ele desejou, ao ver que eram três horas da tarde e ele não o veria mais naquele dia.
–Boa noite, Harry. — O outro respondeu. Harry fez uma mini-reverência amigável, mais parecida com um aceno de cabeça lento, e pegou o celular para checar. De fato, havia algo ali:
“Estou com ele, te vejo em 10 minutos na enfermaria D do segundo andar, J. Curts.”
Era o que dizia a única mensagem nova. Ele foi até a enfermaria e lá aguardou. Passaram-se mais de dez minutos até que ele ouvisse a porta se abrindo.
—Você está aí, ainda bem...— Mas quem chegou foi Park, sozinho. — Deu negativo para tudo o que você pediu... E o Curts ta ferrado lá embaixo...
—Por quê? — Ele se levantou com a bengala.
—Cruzamos com ele no meio do caminho. — Jéssica chegara logo depois de Park. — Acho até que foi meio que nossa culpa. Ele já estava com o filho do cara, mas fugiu quando fomos falar com ele.
Harry suspirou.
—Fugiu como? Ele chegou a ter que usar a força? — Questionou. — E sua lista de remédios, está pronta?
—A lista está. Ele não precisou usar a força, não... O cara tava vindo numa boa, achava que não ia precisar te ver... Mas o Curts deu bandeira quando quis nos avisar. O cara sacou e saiu corren...
—Para um pouco. — Ele sussurrou ao ouvir um som vindo do corredor. Parecia uma discussão, que envolvia a voz de Curts e a de outra pessoa...
—Para um pouco... —Ele sussurrou , ao ouvir um som vindo do corredor. Parecia uma discussão, que envolvia as vozes de Curts e a de outra pessoa..
O membro restante da equipe de Harry entrou, segurando com força o rapaz que seu chefe mais queria ver no momento... O ódio do médico aumentava com a aproximação deles... Os cabelos curtos e divididos por um pente com gel; Os olhos com o tamanho modificado de forma desigual pelos horríveis óculos fundo-de-garrafa, que sempre faziam Harry lembrar-se com alívio de suas lentes de contato; As calças sociais curtas, presas por um cinto de couro logo acima do umbigo; A camisa xadrez bem passada e abotoada até o nó da gravata bege; Os sapatos sociais bem-polidos... Tudo aquilo exalava um único aroma para Harry: O da vingança.
Carl Johnson o mirou com a exata expressão facial de um cãozinho que acabou de urinar no tapete da sala. Suas entranhas pareciam borbulhar de covardia. Curts o largou, trancou a porta e se juntou ao Dr. Park e à Dra. Spencer, que assistiam à cena pasmos.
Houve um momento de puro e cristalino silêncio, como se pendesse a espera pela última gota destilada de ódio. Nem a bengala que Harry soltara no chão transpassou a barreira que a troca de olhares impunha. Parecia que um estudava o outro, vasculhando a mente do adversário com o contato visual.
Evidentemente, Harry intimidava ao garoto muito mais do que este a ele. Era quase como se fosse um ato covarde. O ato de soltar a bengala consumou apenas a idéia de que Harry desejava um confronto de magia, no máximo. Sua varinha estava segura em sua mão, dentro do casaco de inverno.
—Vamos, Carl, Acabe logo com isso... — O rapaz permaneceu imóvel, a mão com a varinha pendendo, mole. — Você mesmo já me listou algumas coisas que provam que você está embarcando em uma batalha perdida.
—...—Ele abriu a boca, mas não disse palavra; Somente soltou a varinha. Harry armou-se de sua bengala novamente, deixando sua varinha onde estava.
—Seu miserável...Adulte... Ah-Ah-Ah! — Ele exclamou quando o rapaz tentou apanhar a varinha para fugir da sala.— Não adianta querer fugir... Acho que preciso colocar de uma forma mais clara para você... Eu preciso de respostas; Seu pai está apodrecendo naquela cama, não sabemos sequer o porquê, precisamos de respostas... Suas respostas.
Ele pareceu engolir a frase, que só poderia ser comparada neste aspecto à uma melancia, com a mesma velocidade que Harry levava para abocanhar algumas oxicodonas. Sentou-se no sofazinho que servia para os parentes do enfermo descansarem e olhou para algum local próximo ao peito do médico.
—Meu oxycontin tira a dor... Mas acabou causando vômitos, dor, febre, delírios... Sabe alguma coisa sobre isso?
Agora a batalha que Carl travava era interna. Fizera mal a ele,... E ele planejara aquilo... Não tinha corrido nada como ele planejara, no fim. Fora pego de surpresa pela doença de seu pai. O que era para ser um jogo inteligente se transformou em sua Via Crucis particular. Pensou em tudo o que havia feito, nas conseqüências e principalmente nas causas daquilo. Decidiu, como última tentativa, falar aquilo que até ali tentara explicar com seus planinhos infantis.
—Harry Potter... Você já se espelhou em alguém?
—Para você é Doutor Harry Potter, se quer saber. — Corrigiu Mas ele sabia exatamente que aquilo não fora um deslize.
Tudo naquela sala pareceu sair de foco, ofuscado pela lembrança pesada que voltava à cabeça de Harry.
“ 'Sr. Potter...' falou uma voz pesarosa que acabara de chegar na enfermaria fechada do Hospitalzinho da Vila Duende.
'Pode me chamar só de Harry... E então, quando vou poder ver as crianças e Gina?' Perguntara ele, sabendo, porém, que não ia receber uma nova resposta... Já estava perguntando aquilo havia uma semana. Esperava tolamente que algum dia a resposta dos médicos mudasse; Mas mesmo sem conhecimento médico algum, sabia que era impossível.
O doutor não respondeu imediatamente, o que deu a Harry tempo para desabafar.
'Desligue tudo. Cancele as cirurgias que agendou, prepare os papéis que eu assino... Não agüento mais...' Ele falava com tristeza incomensurável. 'Cada dia parece ser o último, a dor é insuportável, não posso me mexer, estou deformado de tantas queimaduras, estou exausto de tantas cirurgias... Quero morrer.'
O médico fixou seus olhos nos dele, tirando um raio-x de sua mente, desovando o resultado em linhas e redes de pensamentos que eram potencialmente complexas.
'Você sabe por que sou médico, colega? Provavelmente não, mal nos conhecemos.'
Harry não soube como aquilo poderia ajudar a mudar seus pensamentos ou sua infelicidade, mas deixou-o prosseguir.
'Tinha muitas idéias na cabeça quando era jovem. Você não imagina em quantas coisas eu era capais de pensar em um único momento, e isso me matava por dentro. Eu não tinha capacidade de pôr fora tudo aquilo... Sentia que precisava ocupar minha mente, mas muitos pensamentos exigiam muitas ocupações... Ou então uma única ocupação que acabasse tirando tudo de mim.'
Harry engoliu em seco. Sabia que aquele homem devia ter passado por coisas ruins. Talvez nem tanto quanto ele, talvez até mais... Mas ele ouviu tudo em silêncio.
'Nunca poderia pensar que salvar vidas me traria tanta satisfação, e ao mesmo tempo ocuparia meu cérebro de forma tal que tudo o que fosse pensamento inconclusivo e degradante fosse eclipsado e substituído por coisas boas... Você também pode tentar transformar a tristeza dessa vida em algo que tome seu tempo,que acalme sua mente, alimente seu espírito, satisfaça seu corpo...'
Harry não respondeu de imediato, porém naquele instante soube que passara por um dos momentos mais importantes da vida que teria pela frente.”
—Sei a que se refere.— Harry comentou.
—Tantas histórias que ouvi sobre você... O coração puro que tirou a pedra do espelho; A bravura que enfrentou Lord Voldemort; A humildade que entrou na floresta para morrer... Aquele que virou lenda, em quem me espelhei por toda a adolescência... Um cretino, que usa os outros, não se importa com eles, só olha o próprio umbigo... Não sei em quem você se espelhou, mas tinha um pensamento completamente oposto ao do Harry Potter das histórias.
Harry discordou mentalmente. Tudo o que lera nos seis meses depois da saída do hospital fora o que realmente o fizera passar a pensar do único modo que se devia pensar: Olhando tudo pelo ângulo do racionalismo, da auto-suficiência e da verdadeira concepção da capacidade humana.
—Eu tento salvar vidas. Você tenta impedi-las de serem salvas me dando um remédio adulterado que poderia me matar. Se tem alguém aqui que se espelhou... — ele ficou em silêncio, aparentemente enguiçado em algum pensamento, e apenas deu-se ao trabalho de de completar a frase automaticamente. — Se tem alguém aqui que se espelhou em uma pessoa ruim, tem de ser você.
“Espelho...”
Foi o que gemeu logo em seguida; Algo que para Carl não fez sentido algum, mas fez os três lacaios pularem das cadeiras.
— Ele se virou! — Curts exclamou, lembrando-se da cena na enfermaria de segurança no andar de baixo. — Quando Carl caminhou para a porta, Paul o seguiu, quando ele virou-se, o pai virou de costas também...
Harry pensou um pouco.
—Quando seu pai teve a primeira convulsão, o que você estava fazendo? Estava parado, certo?
—Sim... Por quê? Foi culpa minha?
—Não, infelizmente. Não foi uma convulsão estática... É Amy-Ann.
—Amy-Ann... — Park murmurou — Faz sentido. Ambos são bruxos, parentes, do mesmo sexo e possuem varinhas; As células mágicas de um passam para o outro em algum momento em que estivessem próximos.
—Pode ser! Eu tinha que dar os remédios da pressão dele, e a tampa só abria com magia, para que ele não pudesse tomar sem a minha supervisão...
—O remédio! — Park exclamou. — A losartana ataca as C.S.M. Alheias e as transforma em micro-bombinhas de eletricidade que se acumulam no cérebro, soltando impulsos que geram convulsões...
—Por isso! O convencional seria uma cópia constante, mas o remédio tirava as C.S.M de Carl e fazia a doença Amy-Ann não conseguir agir na íntegra, tendo apenas alguns picos de imitação, que ainda por cima eram confusos.
—Então...—Carl Perguntou depois de um breve silêncio. — Ele vai ficar bem?
—O remédio vai ser trocado por um que não cause este problema das descargas elétricas, faremos a injeção de algumas substâncias que ajudarão a Polial dele a transformar os seus hafnócitos para o padrão de hafnócitos dele. Acho que em dois dias ele estará em casa novamente. Não devem haver seqüelas. Como o seu corpo é bem mais forte, sua magia barrou as C.S.Ms dele antes que a doença de Amy-Ann pudesse o afetar, o que foi uma grande sorte. Harry falou, ainda antipático.
—Obrigado, Dr. Harry. — O rapaz falou com sinceridade.
Harry não respondeu, não sorriu, não fez nada alem de caminhar até a porta da enfermaria.
—E... —Ele parou — Me perdoe.
Harry agora enviesou um meio-sorriso.
—Quem perdoa é Jesus. Eu julgo. — E ele foi embora para casa, a bengala fazendo o som habitual.
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