Le Sourire
Le Sourire
O Sorriso.
Já de longe podia se vê que aquele era o único quarto da grande Mansão dos McKinnon que mantinha a luz acesa, já se passavam das onze horas e todos já haviam ido dormir, inclusive os empregados.
Chegando mais perto já era possível notar a silhueta de uma garotinha de 10 anos, esta era Marlene McKinnon.
Sentada no banquinho em frente à penteadeira, Marlene penteava os longos cabelos castanhos enquanto o vento fresco do verão, que há essa hora já tinha sido tomado por uma corrente fria de ar, desfazia seu árduo trabalho.
- Ah! - ela exclamou saltando do banquinho, assustada. - Sirius Black, o que você está fazendo aqui? Mamãe disse que quarto de garotas não é lugar para meninos.
- E não é mesmo. - ele respondeu enganchando o pé na trepadeira para conseguir pular a janela. - Dá pra me ajudar?
- Não. - ela respondeu cruzando os braços e balançando a cabeça negativamente. - Você é um menino.
- Bem observado. - ele murmurou fazendo esforço para entrar. - Agora, deixa de ser besta, eu sou o seu melhor amigo, não tem problema.
- O que você está fazendo aqui? – indagou Marlene puxando-o para cima.
- Estou assustado. – disse Sirius sentando no chão ao lado da cama. – Minha tia brigou de novo com Andie, acho que desta vez não tem volta.
- C-como assim? – gaguejou Marlene sentando-se em frente a ele um tanto assustada.
- Mandaram-na embora, disseram para nunca mais voltar.. – disse Sirius atordoado. – Expulsaram Andrômeda de casa.
- Si-si-rius.. – disse a garota. – Não fique assim, ela já é grande e já sabe alguma coisa sobre magia, vai ficar tudo bem. Talvez, não seja definitivo.
Marlene passou a mão pelas maçãs do rosto de Sirius tentando enxugar as lágrimas que desciam pela face do garoto.
- Vai dar tudo certo. – disse abraçando-o - Ela sabe se cuidar.
Marlene parou de olhar os jardins de Hogwarts através da janela, sentiu o sangue ferver ao ter a terrível lembrança de ter consolado o rapaz que estava neste exato momento no meio do seu tão popular grupinho, chamado Marotos, rindo de alguma piadinha desbocada feita por ele próprio.
Sorriu pelo canto esquerdo de sua boca, naquele gesto tão conhecido por muitos como ‘O Sorriso Marlene’ e ao fazer aquilo pensou um instante consigo mesma tentando confabular uma idéia.
Um desejo de vingança sucumbiu sua mente por alguns instantes. Marlene respirou fundo, fazendo com que aquela idéia absurda e aquele desejo idiota fossem embora.
Ela tinha prometido a si mesma que não ia se rebaixar ao nível dele, que iria levar sua vida normalmente, apesar de agora – e mesmo ela não entendendo o porque – ser uma das garotas mais cobiçadas de Hogwarts.
Passou pelo retrato da mulher-gorda e perdeu-se nos pensamentos que novamente pregavam-lhe peças e a faziam ter novamente o desejo de vingança. Só que dessa vez ela não se esforçou para mandá-los embora, passou pela porta do Saguão de Entrada e deu de cara com um jardim de Outono seco e encantador.
- Oi, Marlene. – falavam os garotos que na maioria das vezes passavam despercebidos pela garota.
Ela continuava com os pensamentos estavam longe, voando por aquele dia fresco de Outono, onde as folhas caiam sem dificuldade na grama pálida, assim como grande parte do que ela sentia escorregava pelo seu coração e permanecia adormecido e esquecido ali mesmo onde apenas um garoto podia acordá-los.
Seus pés seguiam sozinhos a caminho do campo de quadribol, pareciam saber aonde ela queria chegar apesar de não terem recebido nenhuma ordem para isso.
Uma garotinha de doze anos caminhava em direção ao campo de quadribol de sua escola, segurava sua vassoura com a mão direita, e sorria animadamente com a idéia de entrar para o time.
Aquela era a tarde de testes para a entrada de novos jogadores no time da grifinória, e ela estava tomada por esperanças, soubera que seu melhor amigo tinha sido aceito, e já aos dez anos todos a julgavam melhor que o mesmo.
- Vim fazer o teste. – disse Marlene dentro de uma voz animada.
- Jura? – perguntou o capitão do time por entre uma risada esganiçada.
- Sim. – disse a garota mostrando a vassoura.
- Bom, as vagas foram preenchidas. – disse o capitão.
- Mas vocês têm um artilheiro faltando. – Marlene apontou pro banco vazio. – E eu vim fazer teste para isso.
- Você disse o correto, temos um artilheiro faltando. – disse o capitão e todos ao seu redor riram. – Não aceitamos garotas, principalmente sendo do segundo ano.
- Mas ano passado a capitã era uma garota! – contrapôs Marlene deixando a vassoura cair no chão.
- Ano passado. – disse o capitão. – Esse ano, eu sou o capitão.
- Isso é ridículo. – protestou Marlene esticando o braço direito fazendo a vassoura subir.
- Não. – disse o capitão. – É tática de jogo.
- Isso é preconceito! - ela protestou batendo o pé na grama. - Deixem-me jogar quadribol, eu sou tão boa quanto qualquer um que está sentado aqui.
- Não. - disse o capitão do time cruzando os braços, rindo. - Você é uma garota, e nós não aceitamos garotas.
- Sirius, fala para eles.. - implorou Marlene e Sirius arregalou os olhos.
- Você não vai ter tempo de treinar.. - disse Sirius dentro de sua tão conhecida risada. - Vai estar ocupada penteando as madeixas.
- Você não presta, Sirius Black. – disse Marlene enquanto o ódio invadia seus olhos. – E eu te odeio.
Marlene enxugou a única lágrima que teimou em invadir seus olhos e escorregar pela sua bochecha. Sabia que não podia lutar contra aquele ódio, por mais que soubesse que aquilo o fazia tanto mal.
Respirou fundo tentando inutilmente mandar embora a dor que acabara de invadir seu coração.
Entrou no campo, pelo jeito tinha um time treinando, por um instante seu coração desejou que Sirius Black estivesse lá, mas foi só por um instante, pois ela sabia que jurara nunca mais dirigir-lhe a palavra, e por isso renegava todo e qualquer sentimento que ainda jazia em seu peito.
Caminhou até a arquibancada, onde centrou seu olhar no céu azul coberto com algumas nuvens que estavam em meio termo, nem brancas, nem escuras, algumas poucas acinzentadas.
- Ora, ora, ora, se não é Marlene McKinnon. – uma voz surgiu no meio do silêncio, tirando Marlene daquele transe que durava todo o caminho da sala comunal até ali. – Veio me dar uma resposta a respeito de entrar no time?
- Na verdade, não. – respondeu Marlene encarando o capitão do time de quadribol da Grifinória. – Não sabia que vocês estavam aqui, mas de qualquer modo, eu aproveito a oportunidade e digo o que você tanto quer saber.
Isso significava que Sirius estaria lá, uma pontada insistiu em invadir o coração de Marlene, ela não sabia o significado daquilo tudo, se era uma pontada de amor, ou de ódio.
- E então? – perguntou o capitão. – Estamos esperando.
- A resposta é não. – respondeu Marlene.
Apesar dela querer muito entrar para o time, ela lembrava perfeitamente o episódio em que ainda era criança e o mesmo havia ferido o seu orgulho.
- Como assim, não? – ele perguntou um tanto frustrado.
- Não vou entrar para o seu time, acredito que já deixei isso bem claro. – pontuou ela, enfiando uma mecha castanha de seu cabelo atrás da orelha.
- Por que? – ele indagou antes de todos os jogadores invadirem a arquibancada para saber a tal resposta.
- Porque pelo que eu bem me lembro.. – começou Marlene, agora prendendo o olhar em Sirius. – Seu time não aceita garotas, e eu ando ocupada penteando as minhas ‘madeixas’.
Dizendo isso ela caminhou para fora dali, atraindo os olhares da grande maioria dos garotos para a sua bunda que tinha um rebolado superior ao de qualquer garota e mesmo elas tentando imitar, ele jamais seria igualado.
Sirius estava sentado na grama do quintal da casa do McKinnon, encarando o céu de outono e brincando de semelhança com os formatos das nuvens.
- Aquela ali parece um sorvete. – falou Sirius apontando para uma nuvem de formato indescritível.
- Eu não acho. – respondeu Marlene virando a cabeça para o lado. – Parece mais com uma guerreira montada num cavalo.
- Nã. – discordou Sirius virando a cabeça também. – Um guerreiro montado a cavalo.
- Você é tão machista. – disse Marlene, se levantando. – Nem sei por que sou sua amiga, não quero nem imaginar quando você crescer, sua mente vai ser tão fechada em si mesmo que nem se importará com o que os outros vão sentir. Na verdade, isso já acontece e você só tem 10 anos.
Marlene caminhou de volta para casa com os braços cruzados.
- Rebola mais, talvez você consiga soltar a bunda dessa maneira. – resmungou Sirius observando a silhueta de Marlene fechar a porta.
Marlene já estava um pouco afastada do campo, mas ainda assim conseguia ouvir vozes discutindo entre si, ela sabia que era fundamental para o time, mas nunca, nunca ia dar o gostinho de vitória a eles.
- Ei, Kinnon. – chamou uma voz que Marlene conhecia muito bem. – Normalmente eu não faria isso, mas nós precisamos de você.
- Normalmente você não faria o que? – indagou Marlene virando-se de frente para o Sirius. – Implorar algo a uma garota?
- É, na verdade, é isso mesmo. – concordou Sirius passando a mão nos cabelos. – Mas, vamos lá, você é a melhor artilheira que os caras já viram e nós precisamos daquele troféu para completar nossa coleção de 7 troféus seguidos.
- Primeiro: Eles nunca me viram jogar. – proferiu Marlene levantando a sobrancelha. – Segundo: Eu não estou nem aí para a seqüencia de sete troféus seguidos que a Grifinória já teve e/ou vai ter. E Terceiro: Eu vou estar ocupada penteando as madeixas.
- Cara, você é mais egoísta do que eu pensava. – disse Sirius, irritado. – E pelo jeito rancorosa também.
- Certo, talvez eu seja isso, mesmo. – falou Marlene. – Mas o fato é que eu não quero entrar para o time da Grifinória e ninguém, ninguém mesmo pode me obrigar. Então, vá lá e diga que seu poder de sedução não funcionou dessa vez, ou se preferir, que eu não jogo mais tão bem quanto antes.
- Kinnon.. – Sirius tentou dar início a mais uma utilização da sua melhor voz sedutora.
- Enfim, desista. – encerrou Marlene virando-se de costas para continuar o caminho de volta para o Castelo.
- Eu sei que você só está fazendo para me atingir. – confabulou Sirius, segurando o braço de Marlene.
- Pense o que quiser. – disse Marlene dando de ombros. – Mas me deixe em paz, eu já disse a minha resposta final.
Sirius puxou-a mais para perto, tentando prendê-la em seus braços enquanto suas mãos seguravam sua cintura.
- Quer sair comigo? – perguntou Sirius sorrindo pelo canto esquerdo da boca, numa cópia perfeita do ‘Sorriso Marlene’. – Talvez eu faça você mudar de idéia.
- Não, e não. – disse Marlene empurrando Sirius de modo que ele a soltou sem reclamar, não ia implorar nada a ela novamente. – Me deixa em paz, ok?
- Tudo bem, mas eu garanto que você vai mudar de idéia sobre entrar para o time.
- Duvido muito.
N/A: Isso aqui não respira a meses, afinal, com tanta poeira o máximo que se podia contrair inspirando isso é uma bela duma alergia. Mas ok, eu finalmente terminei esse capítulo, que na minha opinião foi tomado por lembranças, e o próximo também vai ser, mas são só os dois primeiros, porque serão a visão da Marlene (Capítulo Um) e do Sirius (Capítulo Dois) sobre tudo isso que eles passaram, e como cada coisa influência o modo deles agirem um com o outro e com os que estão ao seu redor. Acho que ficou bem claro que apesar da Marlene ser cobiçada pelos garotos, ela se protege muito deles. E com o Sirius acontece exatamente o contrário, ele também é cobiçado, mas diferente da Kinnonzinha ele se entrega a qualquer romance.
Meu Deus, daqui a pouco eu to contando o fim da história.
Me desculpem pela demora, espero que tenham gostado. :*
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