Srta. Otimismo
Capítulo XII – Srta. Otimismo
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Sorria, embora seu coração esteja doendo
Sorria, mesmo que ele esteja partido
Quando há nuvens no céu
Você conseguirá
Se você sorrir
(Smile – Charles Chaplin)
Nicole Carrew
Quando acordou aquela manhã, Nicole Carrew se sentia inexplicavelmente bem. Era um daqueles dias em que se acorda sentindo que nada pode dar errado. Sorriu sentada em sua cama e então se levantou reparando, ao fazê-lo, que devia ainda ser muito cedo, pois todas as suas colegas de quarto ainda dormiam profundamente e, de fato, estava bastante escuro. Ela então andou até a janela para observar o céu, tinha uma visão privilegiada de seu dormitório que ficava em uma das mais altas torres do castelo. O céu estava fechado com pesadas nuvens cinza escuro até onde a vista alcançava, parecia que ia chover o dia todo, quem sabe até houvesse uma tempestade. O pensamento abriu ainda mais o sorriso no rosto da garota que adorava o barulho da chuva forte e observar os raios se estendendo por todo o céu a noite.
Ainda com um grande sorriso no rosto, foi para o banheiro onde, examinando a própria aparência enquanto fazia caretas e poses, achou que estava na hora de mudar a cor dos cabelos e, parando subitamente por um segundo, se perguntou porque estava narrando para si própria os acontecimentos de seu dia em terceira pessoa. Deu de ombros para o espelho, sorriu mais uma vez e entrou no banho.
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Jéssica Buttler
Continuava mantendo os olhos fechados enquanto Lily me chacoalhava para que eu levantasse. Eu sentia que estava frio, uma espiada discreta pelo quarto me disse que o dia seria de chuva, fala sério, devia ser proibido ter aulas em dias assim.
- Jéssica, se não levantar desta cama agora vou azarar você! – a voz de Lily me ameaçou e eu sabia que ela era bem capaz disto, mas eu era mais esperta.
- Ok, ok, estou de pé. – falei me sentando na cama e esfregando os olhos – Já estou indo.
- Melhor assim. – ela respondeu enquanto se afastava, ainda de pijamas, para o banheiro.
Missão cumprida. Pensei enquanto me jogava de volta embaixo das cobertas ao ouvi-la trancando a porta.
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- E não reclame agora, é culpa sua que estejamos tão sem tempo pro café da manhã. – disse Lily em seu tom mais autoritário. Adoro esta ruiva, mas as vezes dá vontade de enfiar-lhe tantas panquecas quanto for necessário pra não ouvir i quanto ela está certa.
- Ainda não entendo qual a graça de estudar tão longe dos pais se não podemos matar aula de vez em quando. – resmunguei. Lily apenas virou os olhos e terminou seu suco.
- Bom dias, amores! – disse uma massa de cabelos rosa choque sentando-se a nossa frente.
(N/A: Uma massa de cabelos mais ou menos desta cor: )
Lily olhava pasmada com as sobrancelhas erguidas e a boca levemente aberta e eu parei com a torrada a meio caminho da boca enquanto Nicole sorria abertamente para nós com mais, pude reparar, metade do salão encarando suas costas. A cena durou alguns segundos até que Nick perguntou:
- O quê?
- Nada. – respondi imediatamente antes de enfiar a torrada na boca.
- Sabe, - começou Lily apertando os olhos e depois os abrindo normalmente – a gente repara que ficou bem bonito depois que os olhos se acostumam.
- Obrigada! – disse Nick voltando a sorrir. Constatei que Lily estava certa outra vez, mas esse cabelo ainda vai causar acidentes.
- Droga! – xinguei quando o café da manhã desapareceu da mesa.
- Eu disse. – falou Lily – Vamos logo, a sala de Transfiguração é bem longe daqui.
- Aaah, vão vocês na frente, eu tenho que entregar meu trabalho ao Slughorn. – disse Nick balançando alguns pergaminhos a nossa frente – E, falando nisso, alguém viu o Lupin por aí?
- Humm... Não, não lembro de tê-lo visto hoje. – respondi.
- Também não. – disse Lily olhando em volta.
- Ok, não faz mal. Se o virem antes de mim, avisem a ele que fui entregar o trabalho, ok? A última coisa de que preciso é aquele serzinho arrogante me apurrinhando o juízo. – Nick respondeu antes de seguir para as masmorras.
- Não acho o Remus arrogante. – falei para Lily.
- Ele não é. – ela respondeu – Só tira conclusões precipitadas as vezes e, bem, ele e Nick começaram com o pé esquerdo.
- Hey! Você não me disse que estavam organizando o baile de Dia Das Bruxas! – reclamei quando passamos por um cartaz anunciando o mesmo.
- Jeh, você sabe que todos os anos há um baile no dia 31 de outubro. – Lily respondeu.
- É, mas eu gosto de saber dos pormenores. – repliquei.
- Ok, ok... O que exatamente você quer saber?
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Nicole Carrew
Cheguei um pouco atrasada na aula de Transfiguração, mas McGonagall estava apenas distribuindo pequenos porcos da índia pela classe, então não se importou muito (apesar de ter passado alguns segundos me olhando espantada). Sentei ao lado de Lily, como de costume, nas cadeiras mais pra o fundo da sala e ficamos aguardando instruções.
Antes que a aula realmente começasse, notei que Frank Longbottom estava sentado junto a nós hoje e que “trocavam bilhetinhos” entre si. Digo “trocavam bilhetinhos” entre aspas porque não havia nenhum papelzinho rolando pra lá e pra cá, eles utilizavam um feitiço simples em que se enfeitiça um par ou mais de pergaminhos e o que você escreve em um aparece no outro vice-versa. Muito útil, uma pena só funcionar a pequenas distâncias.
Uma vez que transformar porquinhos da índia em pequenos bichinhos de pelúcia era algo absurdamente simples, acabei logo a prática e comecei a observar o que acontecia ao redor da turma. James Potter e o garoto moreno ao lado dele cujo nome não consigo lembrar se divertiam fazendo seus porquinhos de pelúcia lutarem com espadas que haviam conjurado. Um garoto louro ria deles dois. Lily dava dicas a Frank, cuja pelúcia insistia em se mexer e saltar querendo fugir, Jéssica mudava o seu de cor tediosamente á que não tinha mais nada para fazer e uma parte da turma ainda tentava transfigurar seus exemplares.
Começou a chover forte como eu havia previsto hoje mais cedo e sorri me encostando na cadeira enquanto enrolava uma mexa de cabelo com o indicador. David estava do outro lado da sala conversando com seus amigos em vez de fazer o dever, tive tanto stress nestes últimos dias que quase não tive tempo para pensar sobre o que aconteceu. Mas, afinal, eu tinha sobre o que pensar? Quer dizer, eu tentei conversar com ele, não tentei? Lupin não moveria um dedo pra me ajudar e David não acredita em mim... Não consigo pensar em mais nada que eu possa fazer.
Mas o que é que eu estou pensando? Não posso desistir assim, certo? Foram dois anos de namoro, não dá pra jogar fora por causa de um ciúme bobo. Bem, pesarei no que posso fazer depois, não vou fiar triste hoje, eu me recuso.
- Hey, Nick, o baile de dia das bruxas é daqui a duas semanas, você já sabe o que vestir? – perguntou Jéssica cansada de brincar com seu porquinho de pelúcia.
- Depende da cor qu estiver meu cabelo daqui a duas semanas. – respondi simplesmente.
- Vai pintar de novo?
- Sem planos, mas quem sabe o que pode acontecer? – disse dando d ombros – Sabe, assim que cheguei aqui achei tão estranho não usar fantasia no dia das bruxas.
- Bom... É que já somos todos bruxos e não faria sentido se disfarçar de você mesmo. – falou Jéssica – Particularmente, gosto mais dos vestidos. Não é como se fosse um evento de gala, mas já é desculpa suficiente pra fazer compras.
- Sei que não faria sentido, só achei estranho depois de nove anos bolando fantasias. – respondi – Hey, como vão as coisas com aquele garoto?
- Defina “aquele garoto”. – pediu.
- Tem mais de um? – perguntei assustada.
- O quê? Não! Do que você está falando? Não há garoto nenhum. – respondeu depressa.
- Mas eu pensei...
- Sirius Black – disse em voz baixa – Não é um garoto, é um cavalo disfarçado de gente. – explicou – Você não soube o que ele fez noite passada?
Jéssica me contou a breve história da noite passada enquanto limpava seus óculos, a indignação era clara em sua voz embora ela insistisse em dizer que o fato não importava. Pouco depois que terminamos, McGonagall nos mandou transfigurar as pelúcias de volta em animais e podíamos sair.
Frank continuava conosco quando saímos da sala de aula. Adoro Frank, mas não entendia o que ele estava fazendo ali e não gosto de não entender as coisas. Estava curiosa sobre isso, mas sei que perguntar as vezes ofende, então resolvi me informar com Lily assim que tivesse uma brecha.
A brecha, porém, não veio, pois Frank continuou conosco na aula de Feitiços e a curiosidade estava me incomodando, por isso resolvi me intrometer na “troca de bilhetinhos” dele com Lily.
“Hey, gente, essa aula tá chata pra caramba, né? N.”
“Nicole, o que está fazendo nesta conversa? L.”
“É óbvio que estou entediada e resolvi me juntar ¬¬ N.”
“É, mas poderia estar interrompendo um assunto sério. L.”
“Hey! O assunto É sério! F.”
“Legal, sobre o que estão falando? N.”
“Frank, já disse que você se preocupa em excesso com isso, não tem nada demais. L.”
“Não e grande coisa pra você, aposto que se estivéssemos falando do Potter você veria “algo demais”. F.”
“1x0 pro Frank. N.”
“:D F.”
“¬¬ L.”
“Mas do que estávamos falando mesmo? N.”
“Oh, sim. Frank está nervoso porque vai dar aula de Herbologia para Alice Lafferty hoje depois do almoço. L.”
“Lily! F.”
“Lily 1x1 Frank. L.”
“Legal... Mas por que o nervosismo, Frank? N.”
“Ele provavelmente está afim da Lafferty, é lógico. J.”
“Oi, Jeh, quando você chegou? N.”
“Na discussão sobre ser ou não grande coisa. J.”
“Ótimo, agora metade do castelo já sabe u.u F.”
“Aaaah, acho lindo você nos considerar tanto quanto metade do castelo, F., mas não precisa se preocupar, teu segredo tá bem guardado. L.”
“Espera aí! Todo mundo pode entrar nessa conversa e ficar só olhando sem a gente saber como a Jeh fez!? F.”
“Não mais. Coloquei uma senha :D N.”
“Como você fez isso? L.”
“Feitiço simples, depois te ensino... Mas vamos ao que interessa, o que você vai ensinar a ela, Frank? N.”
“Ainda não sei bem, ela não especificou o tópico. F.”
“Ah, não acho que você tenha motivos pra ficar nervoso, é o melhor em Herbologia em toda Hogwarts. N.”
“Não é bem com isso que eu estou preocupado... F.”
“Ele tá com medo de bancar o pateta na frente da Lafferty. J.”
“Jeh! L.”
“Que foi?? Só to sendo direta! J.”
“O pior é que ela tá certa =/ F.”
“Aaaaaaah, Frank, se preocupa com isso não, você é uma gracinha! N.”
“Ook, agora me sinto gay. F.”
“Homens... u.u L.”
“Hey, vamos falar de coisas importantes aqui, ok? Vamos lá: como fazer a Lafferty notar o Frank? N.”
“Que tal se ele andasse perto de você? :x J.”
“Na verdade, seria uma boa idéia. L.”
“Oláá! Eu ainda estou aqui, sabia? E meu cabelo não ficou tão chamativo assim. N.”
“Bom, isso depende de que distância você olha, por exemplo, se for a uns 2km... Não, nem assim. J.”
“Haha ¬¬ N.”
“Mas se ele andasse com todas nós ajudaria. L.”
“É, todo mundo olha pra o garoto no meia das lindas meninas. J.”
“Com certeza, todos querem saber quem é o novo amigo gay delas ¬¬ F.”
“Acho que ele tem algum problema com homossexuais. N.”
“Eu estava pensando a mesma coisa. J.”
“¬¬² F.”
“Achei que fôssemos falar de coisas sérias... L.”
“E é sério. Só não significa que não possamos tirar piadinhas ao longo disto. J.”
“Voltando ao assunto, Frank, use seu melhor perfume. N.”
“Aaah, homem cheiroso ganha 5 pontos de vantagem :D J.”
“Mas cuidado com a quantidade, se ela for alérgica e o cheiro for muito forte... L.”
“Hey, eu ando cheiroso! F.”
“Desculpe, querido, mas não temos o costume de te cheirar por aí. N.”
“+1 na Nick. J.”
“Bem, de qualquer maneira, tente ao máximo ficar calmo. L.”
“Esse é o problema u.u F.”
“Discutiremos isso mais tarde, a aula já vai acabar. L”
Como previsto, assim que limpamos os pergaminhos com outro feitiço, o sinal tocou anunciando o fim do segundo tempo.
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Lily Evans
A idéia não era atenção de Alice Lafferty pondo Frank ao lado de Nicole, mas isso estava dando muito certo. Todas as cabeças se viravam na direção da mancha rosa que conversava distraidamente com Frank sem sequer reparar no que estava acontecendo ao redor. Frank parecia meio desconcertado com tanta atenção e apenas respondia monossilabicamente às perguntas de Nick enquanto olhava para os lados muito vermelho.
Nos separamos no terceiro tempo para aulas diferentes e voltamos a nos juntar para o almoço, que ocorreu tranquilamente com as conversas girando em torno de bobagens. Estávamos tentando tirar a cabeça de Frank da aula depois do almoço para que ele talvez pudesse estar mais calmo. Não funcionou muito bem, mas é sempre bom tentar.
É claro e óbvio que fomos todas para a biblioteca depois de um tempo. Primeiro porque precisávamos saber o que ia rolar entre Frank e Alice (não que esperássemos algo grande hoje) e segundo porque quem sabe poderíamos adiantar os deveres...
Por nossa sorte, Frank estava de costas para a entrada da biblioteca, então pudemos passar despercebidas (ao menos por ele) e nos esconder entre as estantes que haviam as suas costas.
Alice chegou exatamente na hora combinada, quis jogar algo em Frank pra que ele fechasse a boca, mas não foi necessário, pois ele logo teve que começar a falar. Não podíamos ouvi-lo, mas ele estava visivelmente gaguejando.
- Talvez a Lafferty seja uma daquelas garotas que acha fofo o cara gaguejar... – comentou Jéssica sem muito humor. Eu fiz uma careta.
- Certamente ela não parece ser este tipo de garota. – respondi – Mas não sabemos muito sobre ela, afinal.
- A esperança é a última que morre. – Jéssica disse dando de ombros.
- Não há um jeito de consertarmos isso? – Nick perguntou e, de repente, uma luz acendeu em minha mente.
- Sim, há um jeito! – falei empolgada – Escutem só...
Contei a elas tudo do dia em que comecei minha amizade com Frank enquanto observávamos o casal de longe. Podia ser considerado uma belo começo que Frank parecia bem mais desenrolado quando começaram a falar de Herbologia e que Lafferty parecia realmente interessada no que ele dizia.
- Então nós poderíamos marcar isso para sexta. – falou Nick quando eu acabei – Se ela puder, é claro.
- A garota popular não ter algo para fazer na sexta a noite? Eu acho bem difícil... Mas não custa tentar. – disse Jéssica.
- Eu falo com ela hoje. – falei – E... Acho que não precisamos mais vigiá-los.
As garotas concordaram, então pegamos nossos deveres e nos ocupamos por algum tempo. Claro que as vezes dávamos umas olhadas para o nosso casal favorito, mas nada de excitante aconteceu.
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Na manhã de sexta nós estávamos reunidos na mesa da Grifinória para o café. Entenda “nós” como: eu, Jéssica, Nicole e Frank, que agora andava constantemente conosco e, como era de se esperar, tal fato gerou boatos pelo castelo sobre com qual de nós três ele estaria saindo. Ele não gostou disso, mas lhe dissemos que um pouco de publicidade é sempre bom quanto se está afim de uma garota popular e ele ficou um pouco mais calmo.
Distraídos com a conversa, todos saímos da mesa um pouco atrasados para as aulas e, para meu infortúnio, tinha deixado a mochila na torre para não sair carregando peso a toa. Logo, enquanto todos se dirigiam às suas aulas eu corria contra enorme fluxo de alunos para o dormitório.
Cheguei ofegante da correria, agarrei a alça da mochila e desci novamente correndo enquanto a jogava por cima do ombro. A preocupação com a hora era tanta que quase me fez colidir com outro atrasado que saía do dormitório dos garotos.
- Opa! – disse ele parando de repente para evitar que nos batêssemos. Eu ri um pouco sem fôlego.
- Atrasado também, Potter? – perguntei.
- É... Fiquei acordado até tarde ontem... Aula de DCAT?
- Exato.
- Bem... – ele disse consultando o relógio – É melhor sermos rápidos.
- Com certeza. – respondi.
Nos apressamos pelo buraco de retrato, ele me deixando passar primeiro como um perfeito cavalheiro. Apesar da correria, conversamos um pouco no caminho, fazia algum tempo que não nos encontrávamos.
Ok, foram só dois dias, mas parece muito tempo.
- Não tenho te visto por aí. – ele comentou.
- A monitoria está me deixando um pouco maluca esses dias... Sabe como é, época de baile de Dia das Bruxas, nós tomamos conta da decoração, então...
- É, Aluado também anda um pouco atolado por isso.
- E como anda sua memória? – perguntei interessada. Logo chegaríamos à sala de DCAT e não haveria mais tempo para conversa.
- Muito bem. Quase tudo voltou, só ainda estou confuso com... – ele ficou sem jeito e um pouco vermelho – Bem, com você.
- Ahh... – eu realmente não sabia o que dizer, mas não queria demonstrar tristeza.
Um silêncio um tanto constrangedor desceu sobre nós. Agora faltava apenas mais um corredor, que foi percorrido igualmente em silêncio. Eu havia colocado a mão sobre a maçaneta e estava abrindo a porta quando James a segurou fechada e me olhou um pouco sério.
- Olha, Lily, me desculpe por isso. Eu queria muito me lembrar, mas... – ele começou com tristeza.
- Eu entendo, não é culpa sua. – respondi quase me perdendo naqueles olhos, ele estava perto demais.
- Não, eu quero mesmo me lembrar, porque eu gosto de você, sabe?
- Vo... Você gosta de mim? – perguntei nervosa.
- Oh, não se assuste! – pediu se afastando um pouco, coisa que fez uma parte de mim protestar – Não estou falando daquele jeito... Quer dizer, não que isso não seja possível! É só que... Eu quis dizer... – eu ri fracamente do embaraçamento dele.
- Eu entendi, James, prossiga.
- Ahh, sim! É que eu acho que se nós passássemos mais tempo juntos, conversando, sabe? Eu acho que poderia me ajudar muito. Sem falar que eu adoro a sua companhia. – terminou sorrindo.
- Claro! Podemos resolver isto no fim de semana. – respondi imediatamente.
- É... Eu tenho algumas coisas pra fazer com os caras... Mas te aviso, ok? – eu confirmei com a cabeça – Você é dez, Lily. – disse e me deu um beijo no rosto – Agora vamos entrar logo. – encerrou a conversa abrindo a porta para a aula que já havia começado.
É claro que todas as cabeças se viraram em nossa direção e os cochichos encheram a sala, mas o professor pediu ordem e logo a aula seguiu. Jéssica, Nicole e Frank me lançaram olhares maliciosos que eu respondi com uma careta, mas eles apenas começaram a fazer imitações toscas de casais conversando enquanto eu revirava os olhos com um sorriso nos lábios.
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Discutíamos as possibilidades do fim de semana durante o almoço daquele dia. Ninguém tinha grandes planos, Nicole irritou-se ao lembrar da detenção que a esperava na manhã seguinte e também falávamos do quanto antes poderíamos realizar a “Operação Festa do Pijama”, já que a Lafferty realmente já tinha compromissos para a sexta à noite como Jéssica esperava.
- Tudo culpa do maldito Lupin! – Nicole disse outra vez irritada.
- Ah, Nick, nenhum de vocês teve culpa. – falei – Aliás, até hoje não entendo aquele escândalo, vocês dois são tão calmos...
- Calmo? O Lupin? Você deve estar falando de algum parente dele, porque sinceramente...
- Com licença? – todos olhamos para Alice que atrapalhara a reclamação de Nicole.
Ela estava de pé parada atrás de Frank e Nick e trazia os livros nas mãos. Sorria de maneira simpática para todos, mas se deteve em Frank antes de começar a falar.
- Então, podemos mesmo ter outra aula hoje depois do almoço? – perguntou a ele.
- Sim, claro!
- Ótimo. – disse sorrindo mais – Você tem mais de um tempo livre? Eu estava pensando que podíamos esticar um pouco. Se você puder, é cla...
- Eu posso! – Frank respondeu imediatamente.
- Bom, então até mais tarde. – disse e ia se retirar, mas se voltou para mim antes de se afastar – Lily, será que o convite que me fez quarta ainda está de pé? Eu sei que eu disse que tinha compromisso, mas aparentemente Nani me trocou por um encontro misterioso... – ela disse com humor – Então eu pensei que podíamos nos reunir hoje, se vocês já não tiverem arrumado mais nada o que fazer.
- Oh, sim! Ainda podemos fazer hoje. – respondi animada, ela sorriu docemente.
- Isso vai ser divertido. Até a noite para as garotas, então. Às...
- Dez. – Jéssica respondeu – As melhores conversas sempre surgem nas madrugadas.
- É verdade. – aprovou Nicole.
- Bem, às dez, então. Tchau.
- Tchau. – respondemos juntas e ficamos observando-a se afastar.
- Ela é tão educada! – disse Nicole quando Lafferty estava longe o suficiente.
- Não é à toa que faça tantos amigos. – concordou Jéssica.
- Vou gostar de tê-la por perto quando estiver com Frank. – afirmei. Frank me olhou surpreso – Ora, você não está apenas nos usando para conquistá-la e vai nos abandonar depois? – perguntei fingindo indignação.
- Não! Claro que não! – ele se apressou a responder – Por que acha isso?
- Bom, você tem aula no segundo tempo depois do almoço e vai matar pra ficar com a Lafferty. – respondi, ele ficou muito vermelho.
- Eu... Eu...
- Falando nisso, Frank, seus antigos amigos não ficam irritados que você ande tanto com a gente agora? – Nick perguntou curiosa.
- Ah, não mesmo. Eles me acham o máximo por andar com tantas garotas bonitas. – ele respondeu convencido – Ficam o tempo todo perguntando com qual de vocês estou saindo afinal. Principalmente o Ewan Cornenbegg, Nick, ele tem uma quedinha por você desde o sexto ano. – Nicole o olhou confusa.
- Ela não conhece por nome as pessoas com as quais não convive. – disse Jéssica.
- Levou duas semanas só pra lembrar o meu. – falei como se encerrasse a questão.
Mal fechei a boca e o sinal tocou anunciando as aulas da tarde. Decidimos que não era necessário seguir Frank desta vez, até porque estávamos com preguiça e nos separamos de Nick para voltar aos dormitórios para descansar já que tínhamos um tempo livre agora.
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Jéssica Buttler
Um fato: aulas de sexta-feira à tarde são sempre aborrecidas.
Não, não importa se é sua matéria favorita ou se o professor é muito bom, a verdade que elas estão te separando você de um glorioso fim de semana, um encontro, uma boa soneca, uma ida à Hogsmead ou até mesmo de maravilhosas horas fazendo nada. E é claro que se até aulas legais ficam chatas na sexta, eu tinha que estar na pior de todas no último tempo da tarde.
Eu esperava ansiosamente pelo término da última aula da semana, faltavam seis minutos de falação do Binns. É, eu faço História da Magia, sou um dos quatro alunos que aturam essa matéria até o fim. Acho História da Magia é bem legal em certos pontos, em outros é um completo pé no saco, porém, até as coisas mais interessantes se tornam maçantes quando este professor fantasma está envolvido.
Quatro minutos e eu lutava para manter os olhos abertos. Eu podia muito bem estudar esta matéria sem comparecer a estas malditas aulas, mas eu pretendo ser jornalista, então é bom ter um pouco de tudo no meu currículo.
Dois minutos, contagem regressiva e todos (que permanecem acordados) começam a guardar o material não usado e se ajeitar para sair.
Cinco. Quatro. Três. Dois. Um... E finalmente o sinal tocou! É fim de semana! Disparei da minha cadeira (estrategicamente a mais próxima da porta) para o exterior da sala, dei um longo suspiro de felicidade e comecei a caminhada para o dormitório, eu precisava de um banho antes do jantar.
Ao chegar ao quarto, reparei numa bonita coruja branca e dourada em cima da minha cama que, por acaso, eu sabia se chamar Lores, a coruja do meu irmão curandeiro, Charles, o orgulho da família.
Não que meus pais me achem uma decepção, é só que... Charles é realmente uma pessoa incrível em todos os aspectos, então nada que eu faça de genial é novidade... Isso é um saco, mas sempre nos demos muito bem, ele é o único da família que sabe da minha ambição de ser escritora e jornalista.
É que toda a minha família tem essa estranha obsessão pela medicina, tanto que minha mãe quase teve um infarto quando soube que Charles e eu éramos bruxos (isso significava que não iríamos mais para Oxford estudar medicina), mas então ela descobriu que também existem médicos bruxos e tudo voltou ao lugar. Bem, vou abrir a carta de uma vez.
O envelope continha uma carta de tamanho médio e uma foto e um pedaço de jornal. Fui direto à carta.
E aí, caçulinha?
Desculpe não ter escrevido antes, o trabalho no hospital anda me matando. Quero muito saber como você e Hogwarts estão se virando sem mim, mas ao principal motivo é o recorte de jornal que te mandei. Não sei se você olha os classificados do profeta, então fiz o favor. Para adiantar, se trata de duas ofertas de estágio de verão: uma no St. Mungus, outra no Profeta Diário. Eles estão procurando alunos recém saídos de Hogwarts, Jeh, estão procurando por você!
Só tem um problema: os dois são exatamente no mesmo período, o que significa que seu plano de fazer residência para agradar mamãe enquanto escrevia para os jornais para tentar ser contratada foi pro buraco. Chegou a hora de decidir, vai fazer algo que odeia para agradar os pais ou o que ama? Você já sabe o que penso sobre isso e não vou repetir, está por sua conta. Só saiba que vou te apoiar seja qual for a sua decisão, é pra isso que servem os irmãos mais velhos, não?
Ahhh, e tenho grandes notícias. Achei este anúncio quando olhava os classificados em busca de um novo apartamento, pois... Eu e Jane vamos nos casar! Não é ótimo? Nem acredito que ela aceitou... Bem, depois te conto detalhes, mas fique sabendo que você será nossa madrinha (não, isto não é um pedido). Quando é seu próximo passeio a Hogsmead? Talvez Você, Jane e eu possamos passar uma tarde juntos.
Abraços do seu irmão favorito,
Charles Buttler.
P.S.: Jane mandou um enorme beijo, ela quase me azarou quando soube que eu ia te mandar uma carta sem avisá-la.
Um sorriso tomou conta do meu rosto. Não acredito que Charles vai se casar! Quer dizer, eu já esperava isso, ele e Jane Bonham namoram desde Hogwarts... Mas é fantástico que finalmente vá acontecer. E a visita a Hogsmead é na próxima semana, é perfeito!
Peguei a foto no envelope, Charles e Jane sorriam para mim. Guardei-a dentro de uma caixa que uso para este tipo de coisa e resolvi encarar o anúncio do Profeta, este com certeza me daria um pouco de dor de cabeça.
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Enquanto lavava o cabelo, me lembrava da conversa que tinha tido com Charles nas últimas férias. “Não pode viver sempre com medo de desapontá-los, Jéssica.”, ele disse, “Sei que parecem inflexíveis, mas vão ficar felizes quando virem isso”, balançou alguns papeis onde eu andara escrevendo aquela manhã, “vão saber que você tem talento, que isso te faz feliz e ficarão orgulhosos, tenho certeza!”.
Parecia fácil quando ele falava, mas ainda lembro da cara da minha mãe quando soube que estudaria em Hogwarts e pensou que eu não poderia ser médica... Na verdade, ela é um tanto antiquada.
“Você já é residente no St. Mungus, é fácil pra você falar.”, argumentei. “Sou residente no St. Mungus porque era e ainda é o que eu sempre quis fazer, sabe disso. Mas se eu quisesse ser treinador de dragões teria ido atrás deles, não pense que só porque não quer ser curandeira ninguém mais quer”, ele respondeu. “Odeio como você está sempre certo”, repliquei virando os olhos, “É, irrita muita gente”, disse sorrindo convencido, “Bom, meu plantão começa em meia hora, tenho mesmo que ir. Se cuida maninha! E pensa bem no que vai fazer.” Concluiu bagunçando meus cabelos antes de sair.
Charles as vezes me trata como se eu ainda tivesse 12 anos e fosse a irmãzinha que ele protegia em Hogwarts, mas eu gosto disso. Aliás, dois últimos anos dele aqui (quando eu fazia quarto e quinto ano) eu era quase tão popular quando Alice Lafferty. Isso porque todas as garotas queriam ficar com o meu irmão gato e sabiam como ele era apegado a mim. Mas então ele se apaixonou por Jane e agora vão se casar. Ah, as garotas não vão gostar disso... Elas adoram invadir minha casa nas férias e ficar olhando Charles. Até Nick, que namorava num amor enorme David, fazia isso alegando que “olhar não tira pedaço, eu não estou fazendo nada demais”.
Terminei o banho e fui, finalmente, responder a carta. Notei que o tempo havia mudado de repente, ventava muito e começara a chover, a lua quase cheia havia desaparecido do céu. Espero que ele possa vir a Hogsmead na próxima semana, estou louca para vê-lo. E Jane também.
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Nicole Carrew
Andava distraidamente para o dormitório após o jantar. Eu e Lily nos divertimos ouvindo Frank falar de Alice, estranhamos que Jéssica não tivesse aparecido, as Lily nos lembrou que era provável que ela estivesse dormindo e, de qualquer maneira, poderia comer mais tarde. Não dissemos a Frank a real intenção por trás da festa do pijama de hoje, concordamos que ele poderia se sentir ofendido por não deixarmos por conta dele.
O tempo havia mudado durante o jantar, a lua quase cheia foi coberta por pesadas nuvens de chuva e o vento começou a soprar forte deixando o castelo mais frio que o normal para a época.
Quase chegando à torre da Corvinal avistei uma pessoa desagradável: Lupin. Estava pronta para ignorá-lo fosse o que fosse que ele estava fazendo ali, mas reparei na cara de enterro dele e como sou uma tremenda coração mole, não pude ser má.
- Hey Lupin, você está bem? – perguntei me aproximando dele devagar.
Ele não ficou surpreso e, tampouco, esboçou alguma reação a minha presença. Quero dizer, eu sabia que ele percebeu que eu estava ali e havia falado com ele, mas não me olhou ou respondeu a pergunta.
- Eu não deveria estar aqui... – disse com a voz fraca. Que cara estranho.
- Cara, tem algo errado com você? – falei tentando ver seu rosto – Você parece... – me calei quando consegui vê-lo.
Ele escondeu mais o rosto se virando na direção da parece da escada em que estava sentado. Mas eu já tinha visto e aquilo eu não ia esquecer. Seu rosto estava abatido e sem cor, os cabelos emaranhados, os olhos amarelados com as pupilas dilatadas.
- Lupin... Me deixa ajudar você... O que está acontecendo? Alguma poção? Alergia? Azararam você? – comecei a ficar preocupada – O que está fazendo aqui? Deveria ir para a Ala Hospitalar...
- Cala a boca. – pediu pressionando os dedos nas têmporas. Não me ofendi porque percebi que ele não queria ser rude, ao menos não naquela hora. – Eu preciso sair daqui... Não conte a ninguém o que viu... Eu... Ala Hospitalar. – terminou e levantou-se, mas o segurei pelo braço para que me esperasse.
- Você não pode achar que eu deixaria alguém ir sozinho neste estado até o primeiro andar. – falei – Eu te levo até lá.
- Não posso ser visto. – explicou dando uma olhada rápida para o meu cabelo – Foi imprudência vir até aqui. Eu na deveria...
- Ok, ok. Já entendi. – falei revirando os olhos.
Tirei a varinha do bolso e, com um rápido floreio, meu cabelo voltou a cor natural mogno sem graça. Eu realmente não podia deixá-lo sozinho e poderia recolocar a cor assim que o deixasse na enfermaria.
- Agora ninguém vai me reconhecer. – falei guardando a varinha – Vamos, conheço algumas passagens e os caminhos mais vazios até lá. – disse antes de sair praticamente arrastando-o pelo corredor – Você realmente não deveria ter vindo até aqui. – murmurei mais pra mim que para ele.
Andamos silenciosamente escolhendo os caminhos menos usuais. Ele, às vezes, me apontava alguma passagem que eu não conhecia, então rapidamente descemos quatro andares. Ele parecia estar juntando toda a força que tinha para tirar seu peso de cima de mim (e COMO ele pesa para uma pessoa tão magra), eu tinha muita curiosidade de saber o que se passava com ele, mas não era íntima para perguntar e ele já tinha me dito que não queria que ninguém soubesse...
- Você não gosta de mim. – ele disse em voz baixa. Não era uma pergunta.
- Não. – confirmei.
- Mas está fazendo questão de me arrastar por metade da escola. – apontou.
- É. – confirmei mais uma vez.
- Eu não entendo você, não tinha que fazer isso. – podia parecer meio rude, mas o tom não era acusativo, então encarei como mera curiosidade.
- Pessoas egoístas não ajudam aqueles que não gostam. Eu sou uma idiota de coração mole. – respondi rindo fracamente – Não podia te deixar lá. Você não deve ter conhecido muitas pessoas legais pra achar que todo mundo é assim.
- Não. – foi a vez dele confirmar.
- Onde estão seus amigos? – perguntei ao lembrar, de repente, que ele costumava estar rodeado por mais três garotos – Quero dizer, eles estão sempre com você... Não estou os acusando de nada, mas...
- Eu entendi. – ele disse fazendo uma careta – Eu não disse a eles aonde ia... Mas devem estar me procurando.
- Ah...
Então nos calamos e nada mais foi dito até que estávamos a apenas um corredor da enfermaria.
- Eu vou sozinho daqui. – falou já se soltando de mim.
- Mas...
- Não, é sério. Preciso ir sozinho. – ele me olhou bem nos olhos e um arrepio percorreu minha espinha, sabia que ele não me permitiria passar dali.
- Ok, então. – falei balançando a cabeça – Se cuida e... Tudo vai ficar bem. – sorri para ele.
- É, vai... – ele desviou o olhar – Olha, você poderia mesmo...
- Não vou contar a ninguém. – completei por ele – Agora ande logo.
Ele deu alguns passos para longe de mim e parou.
- Obrigado, Carrew. – falou com um sorriso amarelo.
Eu apenas acenei com a cabeça em resposta. Tirei a varinha do bolso e, antes que ele estivesse dentro da enfermaria, meus cabelos voltaram ao rosa choque.
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Jéssica Buttler
Meu irmão favorito,
Que ótimas notícias! Quero saber de tudo quando nos encontrarmos. Obrigada por avisar dos estágios, vou pensar com carinho. Meu próximo passeio a Hogsmead será no outro sábado (25/10), você poderá vir? Faça um esforço e, se puder, traga Jane com você, quero ver o anel!
Beijos
Jéssica.
Depois de enviar a carta a Charles, estava voltando lentamente para a torre. Lentamente, pois, apesar de estar bem frio nos corredores, a sala comunal deveria estar cheia e barulhenta, como sempre fica às noites de chuva, porque é mais quente que os quartos, provavelmente por causa a aglomeração. Não que eu seja algum tipo de anti-social, só prefiro lugares tranqüilos onde dá pra conversar sem ficar rouco ou simplesmente descansar. Dias de festa são exceção, é claro.
Então, lá estava eu, andando pelos corredores vazios de Hogwarts sem nada em mente e achando muito agradável o cheiro de chuva que entrava pelas janelas quando virei o corredor seguinte e tomei um enorme susto. A figura escura de Sirius Black estava encostada à parede com os cabelos e roupas levemente molhadas, varinha em mãos e a expressão sarcástica. Respirei fundo para me recuperar do susto e ia prosseguir ignorando-o, mas ele deu um passo para o lado e se colocou em minha frente. Esperei alguns segundos, mas ele não se pronunciou, então resolvi adiantar as coisas.
- Então... Você vai me dizer o que quer ou vamos apenas ficar aqui a noite inteira? – perguntei sem emoção.
Este corredor estava mais escuro que o anterior, talvez o vento tivesse apagados as tochas e velas que fazem a iluminação, e alguma coisa ali cheirava a... Cachorro molhado?
- Você tem uma dívida comigo. – finalmente falou.
- Desculpe, acho que está enganado. Não me lembro de jamais ter te pedido coisa alguma. – respondi.
- Você me deu um murro outra noite.
- Eu não fiz isso, não posso ter te socado na cara se você caiu de costas aos meus pés. – falei no tom mais cínico possível.
- Não se faça de idiota! – rebateu irritado.
- Cuidado com os nervos, Black, vão encher este seu rostinho de rugas logo cedo se continuar assim. – comentei – Mas então, me encontrou aqui só para falar asneiras? Já posso ir?
- Você não parecia estar com pressa.
- Não estou. Só não me interessa ficar aqui. – ele me estudou por dois segundos.
- Ok, como fez aquilo? – perguntou finalmente. Eu arqueei as sobrancelhas.
- Oh, vamos lá! Não me parou aqui para isso! – exclamei realmente sem acreditar. Ele apenas inclinou a cabeça para frente como se confirmasse – E o que no mundo te faria pensar que eu responderia!? – perguntei cada vez mais incrédula. Ele deu de ombros – Ah, que perda de tempo! Tchau, Black.
Ele não me impediu quando tentei passar por ele como achei que faria, entretanto, foi me seguindo bem de perto. Tentei ao máximo ignorar a sua presença, mas era impossível, então resolvi tentar de novo.
- Ok, Black, qual é a sua? – perguntei parando de repente e me virando para encará-lo.
O que quase resultou numa colisão, mas ele tinha bons reflexos, então apenas parou a poucos centímetros de mim. Distância pequena o suficiente para eu perceber que o cheiro de cachorro vinha das roupas dele. Argh!
- Perdão?
- Uma noite você me beija, na seguinte é super grosso e, agora, está me seguindo pelo castelo... Qual é o seu problema!? – perguntei quase gritando – Você não tem mais o que fazer? Deveres? Apurrinhar o Snape? Lavar suas roupas? – ele sorriu.
- Apurrinhar você é mais divertido que o Snape. – disse cinicamente – Você é meio stressadinha pra quem aconselha os outros a se acalmarem.
Bufei e voltei a andar impacientemente. Ele continuou me seguindo de perto com aquele maldito cheiro.
- Vai me dizer como fez aquilo? – perguntou depois de pouco tempo.
- Você lucraria mais fazendo deveres... – respondi sem olhar para ele que agora andava ao meu lado.
- Mas você vai falar? – insistiu.
- Confessa, você foi abandonado pelos amigos e não tem nada melhor pra fazer na sexta a noite. – pedi só pra provocar, mas a expressão dele era de muita surpresa – Espera... É isso mesmo? – ele continuou sem responder, eu não conseguia acreditar que havia acertado.
Aproveitei seu silêncio para encerrar o assunto, mesmo que estivesse morrendo de vontade de rir da cara dele. Sirius Black sozinho na sexta a noite? Onde estavam seus amigos inseparáveis? Bom, por que eu deveria me importar? Deveria estar mais preocupada com meu jantar que... Ai caramba! O jantar já acabou há uma hora! Droga! Vou ter que ir até a cozinha.
Sem aviso nenhum, dei meia volta e tomei a direção da cozinha. Ele quase bateu em mim de novo com o cheiro insuportável.
- Aonde vamos? – perguntou ainda me seguindo.
- Não é da sua conta. – respondi.
- Claro que é, estou indo também.
- Está indo para onde quer, não estou te dizendo o que fazer.
- Você parecia mais legal e simpática na enfermaria... – comentou se espreguiçando.
- Você também parecia cheirar melhor na enfermaria. – rebati.
- O quê?
- Você. – falei apontado para o peito dele – Está com cheiro de cachorro molhado. O que estava fazendo lá fora, afinal?
- Se você não vai me dizer aonde estamos indo, não te digo o que eu estava fazendo.
- Estamos indo à cozinha.
- Curiosaaa. – cantarolou. Eu fechei a cara para ele – Ok, ok. Eu estava lá fora brincando com esse cachorro quando começou a chover. – completou enquanto tirava a varinha de dentro da capa e acabava como odor. Eu o olhei desconfiada.
- Você não parece o tipo que brinca com cachorros. – comentei.
- Você também não parece o tipo esquentadinha. – falou sorrindo maliciosamente. Eu revirei os olhos mesmo rindo do comentário – Indo à cozinha uma hora depois do jantar?
- É, eu esqueci de comer... Recebi uma carta do meu irmão e me distraí e... Por que eu estou te dizendo isso, afinal? – ele deu de ombros.
- Pelo mesmo motivo que estou te seguindo: nada melhor pra fazer. – disse sorrindo de lado. Um sorriso muito charmoso.
- Até que você sabe ser agradável. – falei arqueando as sobrancelhas.
- Você também não é a pior companhia do mundo...
- Fala sério, você me adora. – disse brincando.
- Garotas... Dê um “oi” a elas e já acham que você está morrendo de amores. – falou revirando os olhos irritado.
- Não acho que eu tenha tanto azar. – respondi. Ele me olhou em silêncio por alguns segundos.
- Eu me lembro do seu irmão. – disse mudando bruscamente de assunto – Cara divertido... Eram boas notícias?
- Ah, ótimas, ele vai se casar! – respondi entusiasmada.
- Jura!? – perguntou alarmado.
E foi assim que eu e Sirius Black nos tornamos colegas. Não ousaria dizer “amigos”, pois tenho a nítida impressão de que ele não confia em mim. Não tenho idéia do porquê, só sei que dá pra sentir, até mesmo porque ele foge de toda e qualquer pergunta pessoal que eu faça. Só quer saber de mim, passou o tempo todo me fazendo trocentas perguntas, mas não achei irritante.
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Remus Lupin
A Sra. Higgins passou alguns minutos reclamando que eu havia chegado tarde enquanto me ajeitava na cama e as coisas ao redor, mas eu não escutava o que dizia. Quando ela finalmente me deixou sozinho, comecei a tentar pensar na noite de hoje. Tentar porque a dor de cabeça infernal quase me arrancava lágrimas, junto com a náusea e febre que vinham todos os meses na noite antes da transformação atrapalham qualquer coisa que se tente fazer.
Sinceramente, desde que Sirius, Peter e James descobriram como me acompanhar nas noites luas cheias, elas passaram a ser brincadeira de criança perto da noite anterior a ela. A pior parte é saber que nada é capaz de fazer isto passar, não há poção ou feitiço que alivie ou até mesmo me deixe dormir estes dias, é parte da maldição permanecer consciente para sentir cada segundo de dor. Por isso tantos lobisomens enlouquecem e se tornam verdadeiros monstros mesmo na forma humana, eles não deram a minha sorte de ter um grupo de apoio.
É esta maldita lua cheia que me deixa com todas as sensações, vontades e sentimentos intensificados, inclusive meus sentimentos por Kathy, que foi o que me levou para perto da torre da Corvinal esta noite. Tenho que me controlar mais, foi muita irresponsabilidade... E me deixar ser visto, ainda mais por alguém tão inteligente... Inteligente mas completamente alheia ao mundo real... De qualquer forma, isto ainda pode me causar sérios problemas, será que a Carrew vai mesmo manter a boca fechada? Dumbledore confiou em mim, me aceitou em Hogwarts como nenhum outro diretor faria e eu fico correndo estes riscos por uma garota?
De fato, Kathy não é apenas uma garota, é A garota. Ela é incrível e cheira a...
Antes de concluir o pensamento percebi que já estava me levantando da cama. Me forcei a deitar outra vez. Definitivamente, tenho que pensar em outras coisas antes que arrume mais problemas.
Cocô de cachorro, vermes gigantes se alimentando, James cantando, trabalho de Runas, cabelos rosa choque...
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