Ah... Qual é mesmo o nome?
Capítulo X – Ah... Qual é mesmo o nome?
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"A vida não é feita só de lembranças.
Ela continua emocionante nas promessas diárias,
nos pequenos gestos que fazem a alegria dos que
caminham sempre juntos."
(Autor Desconhecido)
Remus Lupin
Ser pego naquela posição pelo namorado da Carrew foi algo extremamente constrangedor e, a julgar pela expressão do garoto, isso renderia uma briga feia entre os dois. Fiquei com pena dela e até me senti um pouco culpado, porém, apenas por tempo suficiente para lembrar como ela havia me atacado.
Tirei Carrew e seus problemas da cabeça no momento seguinte, a lua cheia se aproximava e eu tinha um bocado de deveres. Além disso, pôr seu nome no trabalho era tudo que eu podia fazer por ela no momento...
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Já estava escuro quando finalmente acabei, consultei o relógio, eram quase oito da noite. Me espreguicei na cadeira e estralei o pescoço já dolorido de ficar na mesma posição por tanto tempo. Estava juntando o material para deixar a sala quando notei o objeto fino de madeira clara no chão próximo à mesa.
Merlin, ela esqueceu a varinha! Como alguém pode esquecer a varinha jogada por aí? Balancei a cabeça em desaprovação. Bem, eu mando por correio coruja direto para o dormitório dela. Ou melhor, eu poderia ir até lá e pedir a alguém para entregá-la, quem sabe encontro a Kathy... Mas como explicaria a ela porque estou com a varinha de outra garota? Eu não sou namorado nem nada dela, mas ainda assim... Bem, de qualquer jeito, acho que não vai dar pra usar essa desculpa pra ir até lá.
Acabei decidindo mandar a varinha por uma coruja da escola e deixar para procurar Kathy amanhã, precisava de um banho e descansar um pouco não seria mau.
Após escrever um pequeno bilhete para mandar junto com a varinha, deixei o corujal e já estava no caminho da Torre quando meu estômago roncou me lembrando que não havia jantado. Mudei imediatamente de rumo.
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Não prestava muita atenção no caminho, meus pés já o conheciam o suficiente para encontrarem sozinhos. Pensava na lua cheia na semana seguinte com uma pequena dúvida pairando em minha mente. Ultimamente, o sentimento de culpa por trair a confiança de Dumbledore se uniu há um novo senso de responsabilidade. Os tempos estavam se tornando perigosos e eu começava a me perguntar se não era egoísmo da minha parte permitir que meus amigos se arriscassem saindo do castelo. Não que alguma vez eu os tenha pedido para fazer isso, mas também nunca disse para não fazerem...
Fui arrancado de minhas divagações pelo som alto de risadas vindo de uma sala próxima. Não sou o tipo de pessoa que fica bisbilhotando por aí, entretanto, como monitor, sou obrigado a verificar.
- Então você vai atrás dela amanhã? – disse a primeira voz.
- Sim. Acho que logo ao término das aulas. – respondeu a segunda. Eram dois garotos, cheguei mais perto para saber quem eram – E só não fui hoje ainda porque não a encontrei.
- Acha que ela vai aceitá-lo? – perguntou Charlie Stark (Lufa-Lufa, sétimo ano) interessado.
- Não sei, acho que fui meio grosso com ela... Mas espero que sim. – David Tremllet disse em resposta. – E também tem o tal do Lupin na jogada agora. – seu tom era irritado.
- Ah, eu não acho que ele tenha chance contra você. – Stark se apressou a defender o amigo – Ela está na sua há um tempão, ele apareceu agora.
- É, talvez você tenha razão... Bem, saberemos amanhã, certo? – Tremllet pareceu mais animado.
Parei por aí, não havia necessidade de ouvir mais, não estavam fazendo nada de errado. Aliás, se o Tremllet ia atrás da Carrew, eu tinha um peso a menos na consciência. Sabe, por mais que ela tenha me atacado, não posso negar que dei motivos para que fizesse isso.
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Nicole Carrew
O dormitório ainda estava vazio quando saí do banho. Bom, pelo menos não vou escutar o que estão falando... Pensei antes de fechar as cortinas e me jogar na cama. As lágrimas voltaram a escorrer silenciosamente pelo meu rosto, será que eu conseguiria consertar as coisas? Poxa, eu sei que era uma situação realmente comprometedora, mas será que eu não dei provas suficientes de que o amava? Que não tinha olhos para mais ninguém?
Abafei um soluço, o choro foi cessando aos poucos. Acho que porque, no fundo, tinha plena convicção de que tudo se resolveria e este seria apenas mais um episódio. Afinal, que graça teria a vida se tudo fosse tranqüilo e ninguém brigasse ou tivesse problemas?
Acalmei-me e adormeci com estes pensamentos um sono de sonhos estranhos, entretanto, não recordava nenhum deles quando acordei cedo na manhã seguinte. Pelo silêncio que reinava no dormitório, deduzi que havia acordado primeiro. Melhor assim. Pensei, eu devia estar horrível (sentia os olhos inchados) e, até tomar um bom banho e voltar ao normal, não queria que ninguém me visse.
Tomei um banho demorado cantarolando baixinho enquanto pensava na melhor forma de falar com David. Antes ou depois das aulas? Hum... É provável que a conversa demore, vou esperar até o fim do dia. Se bem que não vou parar quieta e nem prestar atenção em nada enquanto não falar com ele...
Bom, eu nunca presto muita atenção em nada mesmo, não fará diferença. Foi meu último pensamento antes de deixar o banheiro já vestida, embora ainda fosse muito cedo para isso. Sentei-me na cama a fim de arrumar a mochila para o dia de aulas e reparei num embrulho fino feito com cuidado de papel pardo que descansava em cima do meu criado mudo.
Deve ter chegado noite passada... Pensei enquanto abria o pacote tomando o cuidado de não rasgar o papel. Dentro dele, um bilhete e... Uma varinha? Minha varinha! Mas... O quê...? Lembrei-me então do bilhete e voltei minha atenção para ele.
Você deve ter esquecido na pressa de sair. Sinto muito pelo inconveniente.
R. Lupin.
Levei mais tempo que o necessário para entender o que aquelas simples palavras queriam dizer. Tenho de admitir, foi muito decente da parte dele me pedir desculpas, mesmo que pareça uma mera formalidade... Ah, agora fico com peso na consciência por tê-lo deixado na mão com o trabalho. Era tão grande e complicado e ele me parece uma pessoa tão impaciente para esse tipo de coisa.
O pensamento que surgiu em minha mente no segundo seguinte não fazia muito sentido, contudo, eu devia tentar compensá-lo. Afinal, quem sabe quanto tempo eu passaria procurando pela varinha se ele não tivesse me enviado? Conferi meu horário antes de tomar a decisão final. Poções era a terceira aula, eu tinha três horas. Três e meia se pulasse, também, o café da manhã.
Reuni o necessário e parti apressada para a biblioteca.
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Lily Evans
- Lily! Lily, acorda! É uma emergência, LILY! – fui acordada aos gritos e chacoalhos por ninguém menos que uma Jéssica Buttler de pijamas, descabelada e ofegante – Lily!
- Dá pra falar baixo! – alguma das meninas gritou em reposta.
- Já acordei, Jeh, o que foi? Quem morreu? – perguntei, igualmente alto, segurando seus braços para que parasse de me sacudir.
- Pior, Lily, muito pior! – ela sentou ao meu lado e passou a mão nervosamente pelos cabelos.
- Jéssica, está me assustando. – falei preocupada – Aliás, o que você faz fora da enferm... Oh, Merlin. Aconteceu alguma coisa com ele!? – ela não respondeu, apenas me olhou apreensiva – Jéssica... O que aconteceu? – perguntei sem ter certeza se queria ouvir a reposta.
- Ele acordou. – disse após um tempo.
- Mas isso é ótimo! O que aconteceu de tão grave? Ele ficou sequelado? – perguntei ainda receosa.
- Um pouco... – ela mordia os lábios, sinal claro de ansiedade. Engoli seco antes de continuar.
- E...?
- Ele não... Bem, ele... Ele esqueceu. – respondeu fazendo uma careta.
- Ele esqueceu o quê? – meu coração batia acelerado agora, ia ter um ataque se ela não parasse com aquele suspense.
- Bom... Tudo.
- Tudo o quê?
- Tudo, Lily. Tudo, tipo, tudo! Qual parte do inteiro você não entendeu!
- Mas tudo, assim, tudinho? – o entendimento batia a porta de minha mente, mas eu me recusava a deixá-lo entrar. (N/A: Que conversa de gente bêbada!)
- Ah... Ele não sabia se eu estava falando com ele quando o chamei de James; ele não tinha idéia de onde estava; ele “acha” que me conhece... Tire suas conclusões a partir daí. – Jéssica estava impaciente, embora não falasse de maneira irritada. Eu apenas a olhei por alguns segundos.
- Não. – falei dando uma risada.
- O quê!? – perguntou alarmada.
- Não, não, não, não, não... Você só pode estar brincando comigo. – repeti ainda rindo um pouco – Não. Não mesmo. Sem chance.
- Lily, eu não estou brincando!
- Eu não acredito em você.
- Como assim “não acredita em mim”!? – agora ela estava indignada.
- Jeh, não leve a mal, mas você deve ter se confundido. Ou ele próprio deve ter enganado você... É bem a cara dele, se você quer saber.
- Lily, é sério! Ele não estava brincando, não tem como! E a Sra. Higgins estava falando algo sobre terem dito isso no Saint Mungus... Lily?
- Sim? – respondi com a voz fraca.
- Você está bem? – ela se aproximava com preocupação em seu rosto.
- Eu acho que... Preciso ir à Ala Hospitalar! – levantei de um salto da cama e me encaminhei para a porta.
- Lily, você não pode ir até lá agora, está de pijamas! – disse Jéssica segurando meu braço.
- Você também. – rebati arqueando as sobrancelhas. Ela imediatamente olhou para baixo e começou a corar. Percebi que ela não havia se dado conta deste detalhe.
- Isso não vem ao caso. – falou se recuperando da surpresa – Era uma emergência!
- E agora não é? – perguntei com tom de “óbvio”.
- Bem,é, mas não vai adiantar você ir agora, a Sra. Higgins não vai te deixar entrar.
- Eu preciso tentar.
- Lily, seja sensata. Ela me expulsou da enfermaria de pijamas! – insistiu quase gritando enquanto apontava para as próprias vestes.
- Qual o problema de vocês, heim!? São seis e meia da manhã! – Rose Dixon levantou-se mal-humorada e foi para o banheiro batendo os pés.
- Olha, não vamos fazer nada agora, ok? – pediu baixando a voz – Nós vamos nos arrumar, ir tomar café da manhã, encontraremos Nicole e pensamos no que pode ser feito por você.
Pensei um pouco antes de admitir que ela estava certa e reunir minhas coisas para ir ao banheiro. Nada poderia ser feito no momento, afinal, mesmo que eu conseguisse entrar escondida, a enfermeira deve estar tão perto dele o tempo todo que não adiantaria de muita coisa.
Mesmo assim, não pude deixar de me preocupar. Amnésia... Será que era permanente? Deve ser algo terrível simplesmente acordar e não conhecer nada a sua volta.
- O quê mais sabe sobre isso, Jeh? – perguntei alto para que ela escutasse do outro lado da porta.
- Acho que ouvi a Sra. Higgins mencionar que era temporário, mas não estava prestando muita atenção. – sua voz era hesitante quando respondeu.
- E você só me diz agora!? – exclamei impaciente.
- Eu disse que não tenho certeza. – repetiu simplesmente. Eu podia vê-la dando de ombros mesmo que não estivesse ali – Aliás, onde você e Nick se meteram ontem?
- Ah, é uma longa história. Mas foi bom você ter perguntado, é melhor que já esteja sabendo de tudo quando a encontrarmos. – respondi.
Contei a ela tudo que havia acontecido no dia anterior. Jéssica começou imediatamente a xingar David de tudo quanto era nome. Na verdade, ela me assusta um pouco quando está irritada, mas é adorável a maneira como defende as amigas.
Quando finalmente fiquei pronta, Jéssica já havia acabado de xingar David (embora ainda estivesse um tanto irritada) e agora se resumia a bufar ocasionalmente e revirar os olhos. A irritação, entretanto, durou pouquíssimo tempo, um corredor após termos deixado a torre, sua expressão se suavizou e seu olhar vagava perdido algum lugar a frente. Deixei-a absorta em seus pensamentos sem interromper, afinal, eu também começava a mergulhar nos meus.
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Jéssica Buttler
Parei de pensar em novos xingamentos para David quando cruzamos com Pettigrew num corredor. Olhar para ele me lembrou Sirius, que me lembrou noite passada, que me deixou ligeiramente (eufemismo?) confusa. Quero dizer, ele é sempre tão frio e fechado a maior parte do tempo, não achei que tivéssemos nenhum tipo de intimidade, pra mim era apenas conversa casual entre duas pessoas desocupadas.
Bom, na verdade, não é bem assim, eu já tinha certa afeição por ele, mas estava certa que não era nada pra ele. Não estou falando de amor, paixonites ou qualquer coisa do tipo, é só... Ah, só porque ele me beijou não significa que seja alguma coisa, significa? Sei que ele não parece o tipo de cara que sai beijando todas as garotas, mas isso não quer dizer que sinta algo por mim. Não mesmo, não vou acreditar nisso.
Merlin, por que isso apenas não sai da minha cabeça!? Eu não gosto dele desta maneira. Não gosto. É só que ele me parece alguém tão sozinho apesar de viver rodeado dos amigos. Não sei explicar, mas tem algo nele que parece pedir ajuda, algo que está impregnado em sua voz, modo de agir, falar... Não é uma coisa que se percebe de cara, na verdade, você precisa olhar bem pra ver que tem algo errado ali, alguma coisa fora do lugar, simplesmente não se encaixa.
Claro tem sempre aquela velha possibilidade de eu ter imaginado tudo isso, mas... Sei lá, me parece muito certo. Coisa de sexto sentido, sabe? Aaah, não dá pra explicar assim, é tão subjetivo!
- Consegue ver Nicole? – Lily perguntou e percebi que havíamos chegado ao salão principal. Percorri o lugar com os olhos, nenhum sinal da cabeleira colorida dela.
- Será que ainda não acordou? – perguntei ainda procurando.
- Nicole? – replicou incrédula.
- Tem razão. – concordei imediatamente – Não sei onde estou com a cabeça...
- Isso é verdade. – ela comentou levantando uma sobrancelha pensativa – O que aconteceu? Você está muito pensativa.
É uma boa pergunta. Pensei antes de responder.
- Sinceramente, Lily, ainda não tenho certeza. – disse. Não sabia se já queria dividir o evento com alguém, acho que preciso digerir melhor. – Você vai saber quando eu tiver.
Lily se resumiu a sorrir breve e docemente. Resolvemos tomar café-da-manhã antes de ir tentar arrancar Nick da torre e arrastá-la para as aulas (concordamos que ela deve estar lá triste demais para querer sair). Não nos entenda mal, não estamos sendo insensíveis com o caso dela, apenas não podemos deixar que ela se prejudique por alguém que certamente não merece.
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- Tem certeza mesmo? – Lily perguntou de novo.
- Absoluta, Lily, ela nem estava mais lá quando acordei. – respondeu Ariane – Vocês devem apenas ter se desencontrado.
- É bem possível... Bem, obrigada, Nani. Nos vemos mais tarde.
- Tchau.
Me pronunciei apenas quando a loira foi embora.
- Ela pode estar mentindo.
- Que bobagem, Jeh, por que ela mentiria sobre isso?
- Sei lá.
- Ótimo motivo... – disse Lily revirando os olhos – Olha, sei que você “simplesmente não gosta dela”, mas não é por isso que vamos desconfiar da garota o tempo todo. E ela nunca me deu motivos pra isso. Aliás, você também não. – apenas ignorei o que ela disse.
- Vamos logo pra a aula, é lá que ela vai estar.
Eu estava, entretanto, enganada. Nick não estava na aula de Feitiços quando nós chegamos, não apareceu atrasada (o que raramente acontece, mas ainda era uma possibilidade) e ninguém da Corvinal parecia saber dela.
- Onde diabos ela se meteu!? – perguntou Lily quando nos sentamos em nosso lugar habitual na sala de Poções.
- Eu acho que devíamos ir procurá-la... – comecei.
- Jéssica, você não vai faltar esta aula. – Lily interrompeu com a voz cansada.
Estava tentando convencê-la a matar aula de Poções e procurar Nicole durante os últimos dez minutos (os amigos são mais importantes que aulas!), mas não tem dado resultados muito bons.
- Tá, tá... Mas se ela aparecer com os punhos cortados num banheiro a culpa vai ser toda sua!
- Jeh! – Lily me repreendeu.
- Ah, eu tava brincando. – falei revirando os olhos.
Slughorn entrou na sala, recolheu os trabalhos e estava começando a dizer sobre o que seria a aula quando a porta se escancarou sobressaltando todos nós e Nicole entrou correndo e tropeçando na sala enquanto se dirigia ao professor.
Ela lhe pediu desculpas pelo atraso e entregou-lhe alguns pergaminhos que ele olhou confuso.
- O que é isso, Srta...? – Slughorn perguntou ainda intrigado.
- Carrew. É o trabalho que o Senhor pediu, foi por causa dele que eu me atrasei, estava dando os toques finais, revisando e tal...
- Ah, ok. – ele se deu por satisfeito, pôs o trabalho junto com os outros e começou a checar uma lista – Espere, Srta. Carrew, acho que temos um engano.
- Engano? Por quê? – Nick perguntou um pouco alarmada.
- Acontece que o seu trabalho já consta na lista.
- Quê? Como assim?
- Está aqui. – disse o professor mostrando a lista de assinaturas a ela – Foi entregue esta manhã pelo Sr. Lupin.
Toda a turma observava a cena em silêncio. Não que fosse realmente grande coisa, mas sabe como esse povo de Hogwarts é exagerado. Nick permaneceu calada esperando que o professor tornasse a falar.
- Sr. Lupin? – chamou Slughorn – Será que um dos dois pode me explicar isso?
Remus também ficou calado e encarava o tampo de sua mesa.
- Está me parecendo que os dois fizeram individualmente o trabalho que passei em dupla. – disse Slughorn olhando de um para o outro. Estava visivelmente irritado embora falasse com calma – E estou tão certo de ter deixado isso claro quanto estou de que os dois sabem o significado da palavra “dupla”. – Nick e Remus permaneceram em silêncio – Muito bem... Só, e só, porque ambos são excelentes alunos e têm ótimas notas, vou lhes dar outra chance. Dez pontos a menos para cada um e me tragam um novo trabalho daqui a dois dias. Juntos. Esses aqui estão confiscados. – os dois assentiram e Nicole se juntou a nós enquanto Slughorn recomeçava a aula.
Não havia mais necessidade de perguntá-la onde estivera, já estava bem claro que passara o começo da manhã aprontando o trabalho.
Como Nicole Carrew, avoada como era, conseguia um boletim quase impecável era um mistério para muita gente. A verdade é que ela é mais rápida e mais inteligente que, me arrisco a dizer, qualquer um nesta escola quando está realmente concentrada. Mas isso não acontece com muita freqüência e ela não faz nenhuma questão de divulgar suas notas por aí, então quase todo mundo acha que ela é só uma lunática.
Slughorn parou de falar e começamos a trabalhar. Eu lia três vezes cada linha antes de seguir qualquer instrução, Lily mal olhava para o livro e Nick dividia sua atenção entre preparar a poção corretamente e olhar de esguelha para David do outro lado da sala.
Depois de acrescentar o pinhão, eu tinha sete minutos de folga até que a poção estivesse no ponto de ser trabalhada novamente. Passei os olhos pela sala enquanto esperava e me dei conta da ausência de Sirius. Ele também não compareceu à aula de Feitiços. Não que eu realmente me importe com que ele faz...
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Lily Evans
Saímos da aula de Poções conversando amenidades enquanto Nick xingava Slughorn pelos pontos perdidos, embora admitisse que ele estava certo. Uma criatura interessante, a Nicole. Bipolar, sabe? Inteligente e tão distraída, sensata e supersticiosa, reclama mesmo admitindo que está errada... Ai ai, eu e essa mania de observar e analisar as pessoas sem nenhum motivo especial pra isso, as vezes fico vários minutos divagando sobre a personalidade de alguém.
Isso irrita Jéssica de vez em quando, ela diz que sou praticamente incapaz de pensar mal de alguém e que é um milagre quando vejo mal em algo que não esteja diretamente ligado a Voldmort. Remus concorda com ela, embora use palavras diferentes, ele diz que sou boa demais pra esse mundo (comentário que costuma me deixar extremamente sem graça). Pra falar a verdade, acho que a única pessoa que já julguei mal até hoje foi James. Tinha que ser... Tudo em mim que diz respeito a ele é diferente.
Quem poderia dizer que, um dia, eu estaria aqui, toda boba com pensamentos sobre James Potter? Ou que um simples pensamento como esse me daria vontade de sorrir? É tudo tão novo... Não que eu nunca tivesse gostado de ninguém antes, mas ... Ah, tudo parece apenas tão novo agora, tão diferente.
- Como assim “no que é que EU estava pensando”!? – a exasperação de Nick me puxou de volta para a realidade – Não é você o “Sr. É Hora de Ter Responsabilidade”? Eu estava tendo!
- O trabalho estava muito bem feito e entregue! Não precisava de mais nada! – respondeu Remus.
- Aaah, claro, porque eu ia adivinhar que você resolveu fazer tudo sozinho do dia pra a noite!
Eu não sabia como isso havia começado, mas me vi parada, junto com Jéssica, a alguns centímetros dessa discussão que crescia aos poucos. Nicole e Remus se encaravam com raiva parados no meio do corredor interrompendo a passagem.
- E eu ia saber que você teria um surto de bom senso de repente! – rebateu Remus.
- “Você deve ter esquecido na pressa de sair. Sinto muito pelo inconveniente.” – não entendi o que ela quis dizer com isso – Que tal se tivesse incluído um “P.S.: Fiz o trabalho”!?
- Como eu podia esperar que você lembrasse de um “insignificante” – ele fez as aspas com os dedos – trabalho quando é estúpida o suficiente pra deixar a varinha largada pelos cantos! – wow! Remus pegou pesado.
- VÁ SE FERRAR, LUPIN! EU NÃO PEDI QUE ME FIZESSE NENHUM FAVOR! – Nicole já estava vermelha e aos gritos.
- DANE-SE VOCÊ! SE NÃO TIVESSE GAZEADO ÀS AULAS DESTA MANHÃ, TALVEZ EU TIVESSE TE INFORMADO! MAS NÃÃÃO, ESTAVA INCONSOLÁVEL DEMAIS PARA TER ALGUMA RESPONSABILIDADE! – Remus disse apontando o dedo para ela. O número de alunos que se esticavam para ver a briga já estava enorme.
- O QUE FAÇO COM MEU TEMPO OU COM MINHA VIDA NÃO É DA SUA CONTA! E NÃO OUSE COLOCAR ESSE DEDO NA MINHA CARA! – gritou Nick colocando o próprio dele no rosto dele.
- EU FAÇO O QUE QUISER, CARREW, QUERO VER VOCÊ ME OBRIGAR A ALGO!
- AAAAH, VOCÊ REALMENTE QUER? – estava vendo a hora de sair tapa ali.
E acho que realmente teria saído, não fosse a intervenção que chegou logo em seguida.
- Mas o que está acontecendo aqui!? – o tom ríspido e seco não deixava dúvidas, não era necessário olhar. McGonagall. O Silêncio, é claro, foi imediato – Nunca, em toda a minha vida, vi um comportamento tão absurdo por parte de um monitor e uma boa aluna! Para a minha sala, agora!
Eles trocaram um olhar de asco antes de seguir a professora que já ia na frente com os alunos abrindo caminho. Voltei-me para Jéssica assim que a massa de estudantes começou a se dispersar.
- Jeh... Eu não estava prestando muita atenção, como... O que foi isso!? – perguntei muito surpresa. Jéssica não estava muito diferente.
- Eu não sei, Lily, eles são pessoas tão calmas... Eu nunca os vi se exaltando com ninguém antes. – respondeu com a expressão tão chocada quanto a minha.
Era, de fato, muito estranho que duas pessoas tão calmas e, geralmente, sensatas quanto Nicole e Remus discutissem aos gritos (e, vamos ser realistas, quase tapas) no meio de um corredor por um motivo tão babaca quanto uma falha de comunicação. Principalmente quando as intenções eram claramente boas.
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Nicole Carrew
Não, não tenho a menor idéia do que me deu para agir daquele jeito. Acho que fui possuída por algum espírito barraqueiro quando ele começou a me provocar. Mas poxa, a pessoa perde aula pra ajudar o infeliz e ele vem falar merda? Aaaaah, faça-me o favor!
Só sei que quando a McGonagall apareceu, parecia realmente que tinha um fantasma passando por mim. Gelei mesmo. É que a fama da Minerva não é de boazinha com gente que faz bagunça, sabe?
Entramos em sua sala e ela nos indicou duas cadeiras em frente à escrivaninha. Sentamos sem ousar nos olhar, e também não havia motivos para isso. McGonagall passou um tempo nos lançando seu olhar mortífero antes de começar a dar outra bronca. Ainda ouvi muita coisa, apesar de todo meu esforço. As broncas da Minerva, as vezes, doem na alma. Comecei a prestar atenção apenas quando ela começou a dizer quais seriam as conseqüências.
- Serão descontados trinta pontos de cada um. – uh! Quarenta pontos a menos em uma manhã! – E os dois irão cumprir detenção por três sábados. Ou até mais, se não aprenderem a trabalhar juntos. Lhes enviarei uma mensagem quando decidir o que vão fazer, agora vão imediatamente para as suas aulas e é bom que eu não torne a ver cenas como aquela ou, ao menos, ficar sabendo delas.
Saímos da sala juntos e fomos caminhando lado a lado até a próxima aula (DCAT), porém, nenhuma palavra ou olhar foi trocado.
Dois dias. Duas cenas. Ah... Isso não vai ser legal, já posso até ouvir os comentários e ver os dedos apontando... Não que eu dê muito valor ao que essa gente diz ou pensa, mas realmente incomoda, entende?
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Remus Lupin
Merda! Não podia ter me deixado perder o controle daquela maneira. É a lua cheia chegando, sempre fico irritadiço, deprimido ou algo do tipo nestas épocas (Sirius costuma brincar que tenho Tensão Pré-Monstrual). Mas, mesmo assim, é perigoso que eu perca o controle, não posso deixar que isso volte a acontecer.
Eu até reconheço que ela não tinha culpa, mas... Porra! Passei horas fazendo aquela porcaria de trabalho sozinho pra que ficasse, ao menos, apresentável, aí ela chega na aula atrasada, não fala comigo e entrega outra coisa ao Slughorn (provavelmente algo em que usou um feitiço de cópia, pois era um trabalho complexo demais pra uma pessoa conseguir fazer sozinha em duas ou três horas), que fica puto da vida e nos manda fazer tudo de novo? É de se surpreender que a vontade de arrancar a cabeça dela não tenha surgido naquela mesma hora.
Bem, não adianta chorar pela poção derramada, vou prestar atenção na aula que é o melhor que eu faço.
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Jéssica Buttler
O resto da manhã foi um tanto irritante. De um lado, Nick guardava seu silêncio mal-humorado muito incomum para ela, do outro, Lily quase não parava quieta em sua ansiedade pela hora do almoço, quando planejava entrar na enfermaria nem que tivesse que estuporar a Sra. Higgins. Levei algum tempo para fazê-la prometer que não chegaria a este extremo.
Quando, finalmente, o sinal tocou anunciando o fim das aulas da manhã, Lily desapareceu antes mesmo que eu guardasse minha pena e Nick apenas jogou a mochila nas costas enquanto me esperava ainda de mau-humor.
Aproveitando o silêncio de Nicole para meditar sobre inutilidades, deixei meus olhos vagarem lentamente pelo salão sem realmente prestar atenção no que estava vendo, isto é, até que me ele cruzou meu campo de visão.
E por um segundo, todos os sons se extinguiram, as pessoas ao redor não mais existiam, meu coração deu um enorme salto e até o vento parecia ter parado de soprar.
Mas só por um segundo.
Pisquei e saí do meu “transe relâmpago”. Talvez tenha tido esta reação por não esperar vê-lo ali, talvez por não saber o que esperar, ou talvez, até, porque eu podia jurar que ele percebera minha presença pelo canto do olho.
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Lily Evans
Depois de muito insistir e inventar uma história tão louca que mal lembro o que era, finalmente convenci a Sra. Higgins a me deixar falar com James por alguns minutos.
Ela indicou a cama, me lembrou para ser breve e se trancou em sua sala para nos dar um pouco de privacidade. Meu coração parecia acelerar mais a cada passo avançado, eu podia vê-lo sentando observando atentamente um livro, sua expressão se dividia entre concentração e incerteza e, apesar disso, ele levantou os olhos ao perceber minha presença e sorriu.
- Oi. – disse ainda sorrindo sinceramente como se estivesse realmente feliz em me ver e, até mesmo, esperasse minha visita.
- Lembra de mim, então? – sorri de volta empolgada.
- Claro que sim! Como eu esqueceria logo você? – a empolgação foi substituída por suspeita, havia algo de muito estranho em seu jeito.
Encarei-o desconfiada e cruzei os braços, James sustentou o olhar mais animado e inocente que conseguiu. Inocente demais, para a infelicidade dele. Aquele medo que senti quando Jéssica me contou que ele perdera a memória voltou a fazer peso em meu coração, entretanto, reconheci que não era sua culpa, descruzei os braços e fechei os olhos enquanto soltava um longo suspiro.
- Não tem a mínima idéia de quem eu sou, não é? – abri os olhos para ver sua reação.
- Desculpe... Não. – admitiu envergonhado e sem me encarar.
Ficamos em silêncio durante algum tempo, afinal, não sabíamos o que dizer um ao outro. Havia tantas coisas em minha mente e, no entanto, nenhuma parecia apropriada.
- Eu disse ao Sirius que isso não ia dar certo! – exclamou de repente. Dei uma risada discreta, claro que isso era idéia do Black... – Bem, como você se chama?
- Lily Evans, prazer. – estendi a mão para ele, que a apertou gentilmente.
- Uhh... Foi quase. – comentou para si mesmo, ergui uma sobrancelha pedindo explicação – Bem... Linda assim, só poderia ter nome de flor. Mas o meu palpite era “Rose”. – concluiu piscando pra mim.
Ri gostosamente desta vez. Não que fosse realmente engraçado, mas porque me dei conta que era James ali em minha frente e pouco importava o que lembrava ou não, continuava sendo o mesmo James Potter que conheci seis anos atrás. O mesmo a que já meu causou repulsa um dia e o mesmo que tem dominado meus pensamentos nos últimos cinco meses. O peso se foi, nada iria mudar.
- Devo me sentir ofendido ou presumir que sou assim tão engraçado? – perguntou em tom divertido.
- Ai ai... Não tem bem a ver com você, na verdade... – falei em resposta – Você se lembra do Sirius? – mudei rapidamente de assunto.
- É. Bem, não de muita coisa. Mas disseram que a memória vai voltar aos poucos. – respondeu dando de ombros – Ele passou a manhã aqui escondido, sabe? – diminuiu o tom de voz – E me deu este álbum pra ver se eu me lembro de algo. – indicou o que, antes, achei que fosse um livro.
- Legal da parte dele. Quero dizer, perder aula no ano dos NIEM’s pra ajudar o amigo.
- É... Ele chegou aqui bem cedo e ouviu quando a enfermeira disse que minha memória voltaria mais rápido com incentivos, então veio com isto e estava me contando a história de algumas fotos. – disse folheando o álbum – Saiu pouco antes de você chegar.
- Horário de almoço. – falei para mim mesma pensando em como teria sido chegar aqui e dar de cara com Black.
- Espero que ele chegue logo, fiquei curioso sobre esta foto. – falou rindo.
Olhei a foto que ele me mostrava. Aah, eu lembrava daquele dia. Quarto ano, James era quase um troglodita de tão arrogante, então enfeiticei o cabelo dele pra ficar rosa choque com alguns enfeites de flor, o contra-feitiço era pedir “por favor” ao cabelo que voltasse ao normal. É claro que ele nunca descobriu a senha, descobriu que eu havia lançado o feitiço e veio me pedir para desfazer. Obviamente o fiz sofrer um pouquinho antes de aceitar. Um sorriso surgiu em meus lábios com aquela lembrança.
Na foto, James estava no dormitório masculino de cara amarrada com seu cabelo rosa choque enquanto Black e Pettigrew rolavam de rir. Remus provavelmente havia tirado a foto.
- Sabe algo sobre isto? – perguntou curioso pela minha reação.
- Foi obra minha. – confessei apontando para o James da foto. Ele caiu na gargalhada.
- Jura? – perguntou quando parou de rir – O que eu fiz pra você? – apesar das palavras, seu tom não era de acusação.
- Nós não costumávamos nos dar muito bem... – comentei sorrindo fraco.
- Mas isso mudou agora, não? Ou você não estaria aqui. – afirmou – O que nós somos, Lily? Quero dizer, nós somos colegas, amigos ou...
- Senhorita Evans! – a enfermeira exclamou me fazendo sobressaltar – Achei que já tivesse ido, eu disse que Potter precisa descansar, agora para fora, já! Vamos, ande logo. – ela não parava de falar enquanto me empurrava para fora. Olhei para James e disse “eu volto mais tarde” apenas mexendo os lábios. Ele sorriu e assentiu com a cabeça pouco antes da porta se fechar na minha cara.
Encostei-me na parede ao lado da porta. O que eu responderia se ele houvesse terminado a pergunta? Definitivamente, não era o tipo de coisa que achei que perguntaria a mim. Se bem que... A quem mais ele perguntaria? Soltei um longo suspiro antes de seguir para o salão principal, o almoço estava quase acabando, mas talvez desse tempo de comer algo.
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Jéssica Buttler
Tive certeza que Sirius havia percebido quando, apenas alguns segundos depois, ele olhou diretamente para mim, sorriu com um canto da boca, piscou o olho direito e voltou a conversar com Remus e Pettigrew normalmente. Nenhum dos dois havia reparado nisso.
Ou é tão comum que não merecia atenção.
Não. Definitivamente, isso não é normal. O Black não é de ficar dando sorrisinhos e piscada pra garotas. Não que eu prestasse atenção na vida dele antes da noite passada, claro, mas qual é? Estamos em Hogwarts! Todo mundo sabe a enorme quantidade de garotas que já teve o coração partido pela frieza dos olhos azul acinzentado. Dizem que ele é arrogante demais e acha que nenhuma garota está a sua altura, mas não acredito nisso, não depois de ontem. Quer dizer, eu sou uma nascida trouxa! Se o problema fosse arrogância, o beijo de ontem jamais teria acontecido.
Na verdade, a vida de Sirius Black em Hogwarts é cercada dos mais diversos (e, as vezes, absurdos) boatos. Rumores que vão de “ele só usa cuecas azul-petróleo” até “ouvi dizer que ele tentou matar o próprio irmão”, eu não acredito em nenhum deles. Primeiro porque era impossível que alguém que tivesse tentado matar o irmão estivesse no castelo (Dumbledore jamais permitiria) e segundo porque, francamente! Nem quero imaginar como descobriram sobre as cuecas dele!
Até mesmo porque ele não parece deixar ninguém se aproximar o suficiente para saber tamanha intimidade, com exceção de Potter, Pettigrew e Lupin, é claro. Aliás, não me lembro de alguma vez já ter ouvido sobre namoradas do Black, será que ele nunca teve uma? Quer dizer, agora que penso sobre isso, alguém tão frio assim, com toda essa pose de “nada me atinge”, não costuma gostar muito de ser tocada.
Que frígido... Será que ele é virgem?
Arregalei os olhos assustada com minha própria mente. POR QUE, em nome de Merlin, EU estava pensando sobre a suposta virgindade de SIRIUS BLACK!?
Balancei a cabeça para os lados, como se fosse ajudar a afastar aqueles pensamentos, e voltei a me concentrar no almoço. Meu prato estava quase intocado, e era camarão! O que estava acontecendo pra eu não tocar no camarão!? Pus uma garfada na boca e olhei para Nicole, ela parara de resmungar e parecia estar de melhor humor, embora se mantivesse calada, seus olhos fixados em lugar nenhum combinados com o sorriso quase imperceptível indicavam que estava tendo bons pensamentos.
Estava justamente me perguntando onde estaria Lily quando a mesma sentou ao meu lado sorrindo abertamente. Perguntei-lhe imediatamente o que havia acontecido, mas ela já estava com a boca cheia de comida e apenas sinalizou que “estava morrendo de fome e contava tudo em detalhes assim que acabasse”. Obviamente, não é algo fácil de sinalizar, muito menos de entender, mas, sabem como é, depois de seis anos de amizade e convivência, esse tipo de coisa flui tão naturalmente quanto o ar para dentro dos pulmões. Nick acabara de comer e observava Lily com leve interesse e curiosidade.
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Lily Evans
- Ele te perguntou mesmo isso? – Nick quis saber enquanto nos acomodávamos na sala de Feitiços.
- A quem mais ele perguntaria? – disse Jéssica – A coisa é entre eles dois, afinal. – concluiu dando de ombros.
- Nisso você está certa, mas com que cara eu ia responder? – argumentei.
- Era exatamente o que eu estava pensando. – falou Nick – Se coloca no lugar dela, imagina o que você faria.
- Mas Lily foi a primeira pessoa com quem ele conversou, não? – Jeh contrapôs – Se coloca no lugar dele.
- Na verdade, Black esteve com ele a manhã inteira, escondido, é claro. – comentei distraidamente no exato momento em que McGonagall entrou na sala e nos mandou abrir os livros.
- Ah... – Jéssica resmungou... Corando?
- Jeh, você tá bem? – perguntei.
- Sim, sim. Por quê? – respondeu imediatamente.
- Você tá toda vermelha. – disse Nick olhando-a com atenção – O que foi?
- Nada, está quente aqui, vocês não acham? – perguntou se abanando com uma mão.
Nick e eu nos olhamos sem entender, mas não continuamos a questionar e tratamos de prestar atenção na aula. Ou tentar, ao menos, já que, percebi, todas estávamos com a mente bem longe da sala de aula.
A minha estava perdida na enfermaria; a de Nick, 99,8% de chance de estar perseguindo certo loiro da Lufa-lufa e Jéssica... Eu ainda não sabia o que, mas tinha algo estranho nela e eu ia descobrir.
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Ao término da aula, Nicole foi atrás de David e eu estava pronta para abordar Jéssica sobre seu inexplicável constrangimento quando fui atrapalhada por Frank, que estava praticamente em desespero porque Alice marcara a aula para a próxima tarde.
Assim que consegui convencer Frank que ele realmente era o melhor da escola em Herbologia e que realmente o azararia se continuasse insistindo que eu desse aula a Alice em seu lugar, retornei minha atenção para o plano inicial.
- Jéssica, o que você sabe sobre Sirius Black? – perguntei fingindo pouco interesse.
- Só que ele é maluco, por quê? – respondeu com calma. Suponho que ela já era tinha se preparado para esse tipo de questionário. Então ela quer jogar, né?
- Nada em especial... É que reparei ele meio mudado estes dias, você não percebeu? – vi o interesse súbito brilhar rapidamente em seus olhos, mas logo se recompôs.
- Eu não poderia, estive na enfermaria nos últimos três dias, se for assim tão recente o fato ao qual você se refere, é claro, pois não presto atenção a vida dele. – seu tom era vago, mas era muito notável o quanto queria saber mais.
- Mas então... Por que diz que ele é louco? – perguntei no tom mais inocente que consegui.
- Ah, você sabe. – respondeu dando de ombros – Todos aqueles boatos sobre o irmão e a família, as coisas loucas que vemos ele e os amigos fazendo, aquela história sobre as cuecas e tudo mais.
- Pensei – disse pausadamente como estivesse pensando muito antes de falar – que não acreditasse em boatos
- Mas não é só isso. – replicou com veemência, ela estava quase onde eu queria.
- E que outro argumento você tem?
- Aquela detenção, – respondeu imediatamente – eu te contei sobre ela, lembra? O quanto ele foi grosso e tudo mais.
- Não acho que ele seja louco por isso... Quer dizer, todo mundo sabe o quanto ele é frio e até meio anti-social, não era de se esperar outra coisa.
- É, mas ele ficou puxando assunto depois.
- Silêncio demais incomoda qualquer pessoa uma hora ou outra.
- Ele não precisava necessariamente falar comigo para fazer barulho.
- Bom, a maioria das pessoas não fala sozinha na frente dos outros...
- Não era só por causa disso.
- E como você pode saber?
- Por causa da enfermaria! Ele não precisava puxar assunto comigo lá, era só ir embora, e depois vem aquele beijo... – ela falou e logo em seguida, ao se dar conta do que havia dito, cobriu aboca com as mãos. Bingo!
- Ele o quê!? – perguntei dividida entre o riso e a incredulidade.
Jéssica não respondeu, apenas ficou ainda mais vermelha do que na hora da aula e começou a andar mais depressa
- Sem chance, mocinha, volta já aqui! – chamei enquanto corria atrás dela – Jéssica, espera! Ele... Você quer dizer, ele ... Você...?
- Ok, ok. – disse ela se virando de volta para mim – Foi isso mesmo que você ouviu, agora pára de fazer alarde!
- Mas você tem que me contar tudo já! Como assim ele...
- Shhhhh! Alguém pode ouvir você!
- Desculpa, mas é que algo simplesmente... – eu nem sabia uma palavra que se encaixasse ali – É quase inacreditável!
- É, é, eu sei... – disse ainda encabulada.
- Sim, mas me conta como foi isso, afinal. E que história é essa de enfermaria...
- Espere, vamos encontrar Nick primeiro então, não seria justo não dizer a ela se vou contar a você. – disse Jéssica num suspiro.
- Você não ia nos contar? – perguntei indignada.
- Não leva a mal, Lily, é que vocês iam fazer escândalo e isso não é nada.
- Que absurdo! – reclamei.
- Vai dizer que não está fantasiando a cara dos nossos filhos agora mesmo? – perguntou cerrando os olhos.
- Não estou! – neguei imediatamente, embora fossem sair lindas crianças e eu esperava que puxassem os olhos de Black (são muito charmosos e expressivos) e o sorriso de dela. É, talvez eu seja um pouco precipitada.
Jéssica limitou-se a cerrar mais os olhos e continuar seguindo para a torre no que eu, obviamente, fui atrás dela. Queria trocar de roupa antes de ir à enfermaria ver se James já podia sair.
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