Uma Noite... Interessante



Capítulo VII – Uma Noite... Interessante


 


OoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoOoO ________________________________________________________________


Os pedregulhos me perdoam,as árvores me perdoam


Então, por que você não pode me perdoar?


Eu não entendo o que os outros conseguem ver em qualquer outra pessoa,


a não ser em você.


 


(Anyone else but you - The Moldy Peaches)


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Lily Evans


 


- Eu... eu... – ótimo, ficarei o resto da noite aqui, gaguejando.


 


Ele se levantou e se virou para mim, me encarando com aqueles olhos castanho-esverdeados acusatórios. Sabe quando a gente se sente pequena? Muuuito pequena?


James tirou os óculos de quadribol, jogando-os de qualquer jeito num armário aberto, e se dirigiu para a saída do vestiário. Eu me preparei para o que aconteceria quando ele descobrisse que não conseguiria sair.


Ouvi quando ele socou a porta, tentou abrir à força e bufou de raiva. Voltou ao armário, devia estar procurando a varinha. Me ignorava completamente.


 


- James? – chamei, ele fingiu não ouvir – James, será que podemos conversar um pouco? – continuou a me ignorar. Suspirei, sabia que não seria fácil, mas assim também já é demais.


 


Ele fechou o armário com força e voltou a espancar a porta tentando sair.


 


- James, quer me escutar? – ele não parou de bater – Por favor, é só um segundo! – agora, começou a dar chutes – A porta não vai abrir até que você me ouça. – falei tentando sobrepor minha voz ao barulho. Ele ainda não me deu atenção, então resolvi esperar que ele cansasse e me sentei no chão até que isso acontecesse.


 


Aproximadamente vinte e cinco minutos depois ele finalmente se cansou. Encostou as costas na parede e se deixou escorregar até sentar no chão, na parede oposta a mim, ofegando de cansaço. Eu sabia que ele ainda não ia querer ouvir, mas resolvi falar mesmo assim.


 


- Me desculpa. – falei olhando para ele, que virou o rosto para o lado – Eu tentei te dizer isso a semana inteira, eu não quis fazer aquilo, é só... Eu sou tão impulsiva, não penso em nada, simplesmente faço. – ele continuava olhando a parede, então eu prossegui – Eu sei que fui uma completa idiota, mas, por favor, acredita em mim! Eu nunca quis que acabasse daquele jeito! Eu... Quando eu vi que iam culpar o Frank injustamente pela confusão...


- Culpar o Longbottom? – ele finalmente me interrompeu e me olhava com certa curiosidade.


- É... Ele estava no lugar e hora errados, então a McGonagall o pegou e estava levando para o castelo quando eu... – não consegui terminar a frase.


- Você resolveu me entregar. – ele bufou.


- Não foi assim, eu...


- Não foi assim?! Mas foi exatamente isso que você fez! E ainda entregou todos os meus amigos, você entregou o Remus! E que eu que achei que fosse amiga dele! – ele estava quase gritando.


- Eu já disse que foi impulso! Não pensei antes de fazer aquilo, eu só não podia deixar que acusassem ele injustamente e disse a primeira coisa que me veio à cabeça! – falei já me desesperando.


 


Ele ainda estava parado, sua face vazia de qualquer sentimento que me desse alguma esperança, a expressão dura não ajudava meu nervosismo.


 


- Me desculpa, por favor! – eu estava suplicando. É, o fundo do poço estava próximo – Eu sei que é difícil de acreditar, mas não foi de propósito, foi o momento, sabe? – ainda sem reação. Resolvi prosseguir com o monólogo – Era simplesmente tão injusto que Frank levasse a culpa e... Foi tudo tão rápido! Quando me dei conta, estava na sala da Minerva tentando consertar as coisas, mas se tornou uma bola de neve e só ficava pior. – a memória doía na minha garganta enquanto eu respirava para me forçar a continuar – Como se as minhas mentiras conseguissem enganar alguém. – completei com uma careta.


 


Olhei para ele só por hábito e reparei, com surpresa, que ele me observava com a expressão levemente amaciada. Eu pude sentir a expectativa crescendo dentro de mim, esperando que ele dissesse alguma coisa. Ele olhou bem dentro dos meus olhos e meu rosto esquentou, mas eu sustentei o olhar tempo suficiente para ver um canto de sua boca se curvar em um sorriso travesso.


 


- Será que você não pode perdoar uma garota idiota por conseguir cometer um erro mais estúpido que ela própria? – perguntei sem coragem de encará-lo, com um sorriso triste nos lábios.


 


Ele soltou uma risada um tanto amarga antes de responder.


 


- Isto é irônico, não acha? – ele perguntou, eu não respondi – Semanas atrás, numa situação como esta, eu estaria me declarando, ou talvez te pedindo desculpas, com a marca dos seus adoráveis dedos no meu rosto enquanto você gritaria o mais alto que pudesse todos os xingamentos nos quais conseguisse pensar. No entanto, aqui estamos e a realidade não podia ser mais invertida. – Seu rosto voltou a ficar sem expressão, eu apenas esperei que ele continuasse e, quando ele o fez, parecia mais estar falando sozinho – Eu não sabia que iam culpar o Frank – suspirou – Longbottom, sempre se metendo em confusão...


 


Estas foram as últimas palavras ditas no cômodo por longos minutos, a luz vinda das janelas começava a diminuir. Eu não tinha idéia do que mais poderia fazer ou dizer, ele parecia demasiado absorto em seus próprios pensamentos e eu receava irritá-lo se o interrompesse. Suspirei pela enésima vez.


 


- Foi um erro grande, Evans, está exigindo tanto da minha paciência quanto da sua. – ele comentou considerando meu suspiro de impaciência.


- Não há nada que eu possa fazer? – perguntei sem conter o impulso. Sempre o impulso. Maldito seja.


- Hã? – ele ergueu uma sobrancelha como quem espera uma explicação.


- Eu sei que errei bastante, mas eu queria me desculpar! Não há nada que eu possa fazer? – eu mal estava pensando no que dizia – Por favor, eu preciso disso.


 


James agora me olhava com as duas sobrancelhas arqueadas de surpresa e incredulidade, seu rosto muito confuso mostrava que ele estava decidindo se acreditava naquilo ou se eu estava brincando.


 


- Eu diria para você sair comigo... – ele soltou uma risada nasal – Mas acho que seria pedir demais. – pude notar o traço de humor na sua voz.


- Eu aceito. – respondi séria.


- O quê?


- Eu. Aceito. – repeti pausadamente.


- Evans, eu estava brincando. – explicou rapidamente.


- Bom, eu não. – discuti. Ele me olhou como se fosse louca, mas havia algo mais em seus olhos. Esperança?


- Esquece, Evans, eu não quero sair com você pra tirar o peso da sua consciência. – falou irritado.


- A intenção não é essa. – falei revirando os olhos.


- Oh, claro. – o sarcasmo preenchendo sua voz.


- Potter, - frisei bem o sobrenome – você acha, realmente acha, que EU me rebaixaria ao ponto de sair com alguém para ser perdoada? – perguntei sem acreditar.


 


Os olhos castanho-esverdeados me observaram por um breve momento de dúvida.


 


- Eu não entendo. – falou ainda sem tirar os olhos de mim.


- Não entende o quê?


- Você. Por que, de repente, “quer sair comigo”? – perguntou fazendo aspas com os dedos. Eu bufei de impaciência.


- Porque da última vez que você me propôs e eu neguei, decidi que aceitaria se houvesse uma próxima. – não era bem uma mentira, então, não me sairia tão mal – Está bem?


 


Ele ainda me olhava desconfiado.


 


- Ora, por favor, Potter! – falei me levantando e indo até ele, que se levantou também, só por precaução – Você vai sair comigo ou não?


 


As palavras saíram antes mesmo de se formarem e eu percebi, muito tarde, que o fundo do poço havia chegado. Eu, Lily Evans, estava convidando alguém pra sair. Ou melhor, estava convidando agressivamente alguém a sair comigo e este alguém era James Potter.


A minha boca se abriu em choque assim que eu percebi o que havia acontecido. Eu estava vermelha, não, roxa de vergonha e eu queria morrer. Será que o mundo me faria o favor de acabar agora?


O rosto de James não podia estar mais confuso. Seus olhos estavam arregalados e a boca ligeiramente aberta, seria extremamente engraçado se eu não estivesse ocupada em encontrar um bom lugar pra me esconder.


 


- Você estava... Estava falando sério? – perguntou ainda incerto. Bom, já que tá no inferno... Abraça o capeta!


- Estava. – eu nem quero imaginar a minha cara nessa hora.


- Então vamos sair. – falou animadamente, um enorme sorriso se abriu em seu rosto.


- Vamos. – sorri de volta, porém, ainda meio sem graça – Então, quando vai ser?


- Agora. – respondeu simplesmente e começou a procurar algo pelo aposento.


- Agora!? – quase gritei em surpresa.


- Exato. – ele confirmou de dentro da sua pequena sala de capitão, a porta estava fechada, mas ele não demorou a sair – Assim que você me devolver a varinha e os óculos, por favor. – falou estendendo a mão. Eu o olhei ainda mais confusa.


- Como você...


- Esses óculos de quadribol com grau são realmente muito bons e, além de tudo, eu adivinhei que você seria esperta o suficiente para ter minhas coisas por perto quando resolvesse nos deixar sair. Agora, a não ser que você prefira ter seu encontro num vestiário de quadribol...


- Aqui. – disse quando devolvi seus pertences.


 


Ele destrancou a porta sem pronunciar uma única palavra, abriu-a e a segurou fazendo um gesto para que eu passasse. Não pude deixar de sorrir. James fechou a porta atrás de si e me ofereceu o braço, que eu aceitei com outro sorriso, antes de sairmos pelos jardins em direção ao castelo.


 


- O que vamos fazer? – perguntei curiosa. De noite e sem poder sair dos terrenos, nossas opções era bem limitadas.


- Você logo vai saber. – respondeu misterioso.


- Ok, agora eu realmente estou curiosa. – declarei. Ele apenas me olhou sorrindo e seguiu em frente.


 


A noite estava clara, apesar de não haver lua no céu. Não falamos nada enquanto continuávamos, se aproximando cada vez mais do castelo. Eu me perguntei novamente o que ele pretendia fazer e a idéia da escola inteira me ver de braços dados com James me veio à cabeça como uma imagem desagradável. Será que era isso que ele pretendia? Mostrar a todos que ele havia vencido?


Eu o olhei com este receio em mente, ele olhava para frente com um pequeno sorriso nos lábios. Não, não era isso. Eu podia sentir a inocente felicidade que se desprendia daquele sorriso e, de repente, me senti um pouco boba por sentir algo daquele tipo.


Nós paramos a poucos metros da porta do saguão principal, James se virou para mim ainda sorrindo, porém, havia um pouco de hesitação desta vez.


 


- Lily, o quanto você confia em mim? – perguntou.


- Bom, é uma pergunta forte pra o primeiro encontro. – respondi com humor, mas ele inclinou a cabeça para frente pedindo uma resposta séria – É... Eu não sei, James, não é o tipo de coisa que se mede, sabe?


- O suficiente para fechar os olhos e ficar bem quieta enquanto eu te levo ao nosso local de encontro? – ele perguntou esperançoso.


 


Vamos considerar, era uma pergunta extremamente esquisita, coisa que mexeu com a minha imaginação e cenas de variadas formas sobre como aquilo poderia acabar começaram a passar pela minha mente.


 


- Eu prometo que vai acabar bem. – James disse, como se lesse minha mente, me acordando de meus devaneios.


 


Eu o encarei, bem no fundo dos olhos quase pretos na pouca luz da noite. A inocência permanecia ali.


 


- O suficiente. – confirmei esperando não me arrepender mais tarde.


 


Ele sorriu ainda mais abertamente e eu fechei meus olhos esperando pelo que viria. Por um momento, nada aconteceu, então eu senti um tecido frio me cobrir, ouvi algumas palavras murmuradas e, por último, James se espremeu embaixo do tal tecido comigo.


 


- James...


- Só confia em mim, Lily, vai acabar logo. – foi a última coisa que ele disse antes de entrar no castelo.


 


Enquanto andávamos por caminhos que eu não conseguia identificar (mas ao menos sabia que não era a direção para o grande salão), eu imaginava que tipo de idéia ridícula era essa de nos cobrir com um lençol idiota e sair andando por aí. Isto certamente chamaria mais atenção que meus cabelos vermelhos.


Ele tirou o lençol de cima de nós me dizendo “ainda não” na segunda parada que fizemos, eu estava completamente confusa e morta de curiosidade. Alguns ruídos a minha frente me assustaram, mas ele riu e disse “quase lá” antes que eu abrisse os olhos.


Segundos depois que os ruídos cessaram, James pegou minha mão e me levou para frente. Eu ouvi uma porta fechando atrás de nós antes dele murmurar um “pode abrir agora” ao meu ouvido.


Eu me encontrava em uma enorme sala de ar aconchegante. Havia uma pequena mesa redonda bem no centro, coberta com uma toalha azul petróleo e alguns detalhes prateados, como a maioria das coisas no cômodo, incluindo as duas cadeiras de madeira clara que se juntavam à mesa. Um som de aparência muito antiga descansava em um canto em frente a um espaço vazio de maneira sugestiva. Pequenas velas flutuavam em um movimento vagaroso perto do teto alto deixando a sala na penumbra. Havia outros pontos de iluminação, porém, como a lareira de mármore no lado oposto ao som que queimava em chamas baixas e as velas elegantes no castiçal sobre a mesa.


 


- Então, o que você acha? – perguntou ansioso, seus olhos brilhando.


- Como...


- Explicações mais tarde. – ele cortou – Gostou?


- É incrível. – falei admirando cada canto da sala. Seu sorriso se abriu ainda mais.


- Então, deixe-me levá-la à sua mesa. – disse me oferecendo o braço outra vez.


 


Todo este tratamento estava fazendo muito bem ao meu ego. Eu esperava que este cavalheirismo não durasse só no primeiro encontro, porque é óbvio que eu ia querer outros.


Ele sentou na cadeira a minha frente após me deixar bem acomodada na minha (vou ficar mal acostumada) e começou a retirar o nosso cardápio de uma cesta. Coisas como sanduíches, suco, torradas, pedaços de torta, leite e mais uma porção de coisas informais que não combinavam com o clima da sala ou com a mesa chique, mas conseguiu deixar tudo ainda mais perfeito.


Passamos todo o jantar conversando bobagens, evitando falar das últimas semanas. James me contava coisas sobre a família dele, que era uma linhagem bruxa importante, mas acho que ele preferia escutar sobre as coisas do mundo trouxa, sempre me fazia montes de perguntas sobre isso.


Eu não tinha reparado que havia música tocando até que ele me convidou para dançar estendendo sua mão à minha frente.


 


- Você tem certeza? Sabe... Eu não sei dançar... – falei nervosamente.


 


Mas era mentira. Dizer que eu não sabia dançar era uma hipérbole para a triste realidade, eu simplesmente tinha pavor a pistas de dança.


James revirou os olhos antes de responder.


 


- Vou correr o risco. – disse com um sorriso.


- Os pés são seus... – respondi dando de ombros e pegando sua mão.


 


http://www.youtube.com/watch?v=jjsCPGkWsf8


 


Começou uma nova música assim que chegamos ao local sugestivo à dança. Eu tinha a leve impressão de que conhecia aquela melodia, apesar de não lembrar de onde.


James pôs as mãos em torno da minha cintura e manteve uma distância educada enquanto se movimentava no ritmo da música para que eu o seguisse. Eu pus meus braços timidamente ao redor de seu pescoço e tentei acompanhar. Considerando que eu realmente não sei dançar, as coisas estavam indo bem.


 


- Ah... Lily? – ele estava hesitante.


- Sim, James. – respondi em tom encorajador.


- Você está mesmo aqui por que quer? – não passou de um sussurro, como se ele temesse a resposta.


 


Eu não respondi, tinha quase certeza sobre o que ele estava falando, mas preferi me fingir de boba pra ver o que ele fazia.


 


- Eu quero dizer... – ele parecia desconfortável – Você realmente quer estar comigo ou está fazendo isso só pra se redimir? – ele evitou me olhar enquanto falava rápido – Porque, se for isto, você não precisa se preocupar, sabe, eu... – a voz dele foi morrendo conforme eu ia fechando mais a minha expressão.


- James. Potter. – eu falei pausadamente – Eu realmente pareço o tipo de garota que faria tal coisa? – perguntei, de novo, um tanto irritada, os olhos cerrados para ele.


- Não foi isso que eu quis dizer... Desculpa se eu te ofendi. – ele se apressou em dizer – É só que eu não consigo mesmo entender – ele parou de dançar agora – Achei que você preferisse a lula gigante. – ele sorriu de lado e esperou uma resposta.


 


Eu corei com a lembrança, as coisas haviam mudado tanto... Mas eu não podia me distrair agora, tinha que pensar em uma resposta melhor que “É que eu me apaixonei por você”.


Mesmo só em pensamento, as palavras me assustaram, o meu sentimento era forte o suficiente para torná-las verdadeiras? Eu pensaria nisto depois.


 


- As coisas mudam. – respondi dando de ombros – Então, eu pensei: “por que não?” e aqui estamos. Eu já te disse isto. – sorri ao fim da frase, esperando que ele acreditasse.


 


Ele pareceu não se convencer, então eu comecei a planejar respostas evasivas.


 


- Eu pisei tanto assim no seu pé que você desistiu de dançar? – perguntei para distraí-lo.


- Não. – ele deu outro sorriso de lado – Aliás, eu tenho certeza que você estava blefando sobre não saber. – eu sorri pelo elogio, apesar de achar que era mentira.


 


Ele voltou a se mover outra vez, nos girando lentamente através da sala. Eu acabei com a distância que ele havia deixado ente nós o abraçando mais perto e descansado minha cabeça em seu ombro.


Nos primeiros segundos, a intenção era que ele se distraísse mais e parasse com as perguntas, mas a intensidade inesperada do momento me fez esquecer.


Ele apertou os braços em volta da minha cintura e apoiou sua bochecha no topo da minha cabeça. Ainda dançando, eu lutava para manter a respiração normal. O ritmo era perfeito, parecia que o mundo havia parado.


Eu havia fechado meus olhos, apenas me deixando levar. O perfume que exalava dele me deixava inebriada e eu precisava me esforçar pra não deixar minha imaginação ir longe demais.


 


- Lily...


- Shhh! – eu o interrompi – Vai acabar com o momento. – repreendi com um falso tom irritado. Eu pude sentir seu sorriso se abrindo, mesmo sem ver.


- Estamos tendo um momento? – ele perguntou.


- Não por muito tempo se você continuar falando. – eu revirei os olhos. O sorriso se abriu mais e ele se calou.


 


Nós continuamos girando lentamente. Ainda abraçados, nenhuma palavra foi dita por várias músicas, até que o ritmo mudou. Sem nenhum aviso, James mudou de ritmo também, dançando muito rápido.


 


- James, eu...


- Shhh! Vai acabar com o momento. – ele disse sorrindo.


- Mas eu...


 


Não houve tempo para terminar a reclamação porque, no segundo seguinte, ele me afastou dele me fazendo girar, sem soltar minha mão. É claro que isto não poderia dar certo. Quando ele me puxou de volta, eu tropecei em meus pés e caí por cima dele, que se desequilibrou e foi cambaleando pra trás até tropeçar no sofá e cair no assento comigo por cima.


Nós nos olhamos por um breve momento e, então, caímos na gargalhada. Eu consegui arrancar lágrimas de James quando caí do sofá enquanto ria.


Só paramos depois de bastante tempo, minha barriga doía quando conseguimos nos acalmar. Ainda meio risonho, James desceu do sofá para sentar-se ao meu lado no chão. Ele me olhou brevemente com um sorriso nos lábios antes de falar.


 


- Este está sendo, sem sombra de dúvida, o encontro mais divertido que eu já tive. – ele disse.


- Igualmente. – confessei e sorri de volta – Já houve tantos assim para comparar? – perguntei curiosa.


- Bom, é uma pergunta forte pra o primeiro encontro. – respondeu me citando. Eu ri.


- Fugindo da resposta, Potter? – desafiei.


- Não... Mas eu me pergunto: se eu responder suas perguntas, você responderá as minhas? – perguntou levantando uma sobrancelha. Eu considerei a questão por um momento.


- Temos um trato. – concordei e me sentei de modo a focar de frente para ele – Quantos?


- Não muitos... Eu acho que seis ou sete. – ele disse pensativo – É. São oito contando com você.


- Só? – perguntei abismada.


- Hey! Não é como se eu fosse um misógino ou coisa do tipo. – ele se defendeu – Além do mais, fica difícil namorar com o Sirius por perto. – completou revirando os olhos, eu ri de novo.


- Não sabia que o Black era namorador... – comentei sem real interesse.


- Ele não é. – James fez uma careta – Mas as garotas acham que estragarão suas chances com ele se saírem com seus amigos. – explicou dando de ombros – E quanto você? Aposto que os caras fazem fila.


- Quatro. – respondi – Eu não gosto muito de sair com os caras daqui... – admiti. Ele abriu um largo sorriso.


- Devo me sentir lisonjeado? – perguntou convencido.


- Hum... Acho que sim. – sorri de volta – Por que você e os outros gostam tanto de gerar o caos na escola?


- É divertido. – ele deu de ombros outra vez – Que tipo de flor você prefere?


- Eu te dou a oportunidade de saber qualquer coisa sobre mim e você me pergunta isso? – eu o olhei descrente.


- Eu posso precisar desta informação para encontros futuros. – eu senti meu rosto esquentar, a presunção brincava em sua voz – Então...? – ele encorajou.


- Você acharia clichê se eu dissesse que são lírios?


- Não. São as minhas favoritas também, espero que não ache clichê. – ele sorriu outra vez – Brancos?


- Na verdade, eu prefiro os rosa escuro no centro que vão clareando até ficarem brancos nas pontas. Qual seu time de quadribol?


- Chudley Cannons. – respondeu orgulhoso, eu contive uma risada.


- Chudley Cannons? – perguntei incrédula, ele percebeu meu tom.


- Posso saber qual o problema?


- Ora, vamos lá, James, os Cannons? – perguntei outra vez – Não poderia ter escolhido um time pior?


- Ah é? E pra que time você torce? – desafiou.


- Ballycastle Bats. – respondi simplesmente.


 


Ele ficou calado e de cara amarrada por alguns segundos, era fato incontestável que meu time havia esmagado o dele nas últimas catorze partidas.


 


- É sua vez. – ele disse.


- Eu sou o que você esperava? – perguntei séria.


- Como assim? – ele estava surpreso.


- Bem, já que você me chamou pra sair tantas vezes, significa que você tinha expectativas... – eu deixei a frase no ar.


- Er... Bom, você é... Bem melhor do que eu consegui imaginar. – ele disse olhando para baixo e... corando!?


 


Eu abafei outra risada enquanto ele se recompunha e limpava a garganta.


 


- Você já se apaixonou, Evans? – senti a presunção na voz dele.


 


Eu fiquei muda sentindo o sangue se acumular nas minhas bochechas. Engoli seco antes de responder.


 


- Eu não sei.


- Como pode não saber? – ele insistiu.


- Não sabendo. – dei de ombros – Eu tenho apenas dezesseis, Potter, o que é que eu sei sobre isso?


- Eu não acho que isso tenha a ver com idade. – disse e me lançou um olhar divertido – E também acho que está me escondendo algo. – eu corei ainda mais – Já?


- Bem... Eu acho que sim. – respondi sem olhar pra ele.


- Posso perguntar quem foi o sortudo?


- Não é sua vez. – fugi.


- Ora, eu perguntarei quando for, que diferença faz? – e lá estava aquele olhar de presunção outra vez.


- Eu não sou obrigada a te responder. – falei na defensiva.


- Não. – ele concordou – De fato, você me dirá apenas o que quiser. Mas é engraçado ver a ansiedade nos seus olhos quando você se sente pressionada. – ele riu outra vez.


- Ha ha. – disse mal-humorada.


- Bem, ainda é sua vez.


 


(N/A: Achei perfeito ouvindo isso, mas eu sou suspeita pra falar... http://www.youtube.com/watch?v=9L2U-tXPluU&feature=related )


Eu ponderei um momento antes de decidir retribuir-lhe o momento embaraçoso.


 


- E você, James, já se apaixonou? – perguntei sorrindo.


- Com toda certeza. – ele respondeu sério – E vou te dizer, Lily, não há sensação melhor no mundo. – sorriu docemente ao fim da frase, um sorriso quase sonhador.


- Hum... Deve ser legal. – comentei pensando se havia sentido algo de tão bom desde que tinha me descoberto gostando de James.


- Imaginando se já se sentiu assim? – perguntou com um tom de educada curiosidade.


- Você me pegou. – admiti sem graça.


 


O silêncio permaneceu por alguns segundos, mas não era incômodo. Quando olhei para James sua expressão estava concentrada, parecia tentar decidir sobre algo importante. Ele percebeu meu olhar e o retribuiu intensamente, eu podia vê-lo buscando a resposta para sua pergunta em meus olhos, também pude ver quando a decisão foi tomada, ele hesitou um pouco, mordendo levemente o lábio inferior, antes de falar.


 


- Eu posso tentar te mostrar, se você quiser. – ele disse cautelosamente estudando meu rosto enquanto falava – A sensação, sabe. – completou quando me mostrei confusa – Como é sentir isso.


- Como você faria isso? – perguntei intrigada. Só então me dei conta que estávamos sussurrando.


- Você teria que confiar em mim de novo. – respondeu incerto – Você quer?


 


O contato entre nossos olhos não foi quebrado durante esta pequena conversa, nem no único segundo que levei para pensar na resposta e nem enquanto respondia apenas balançando a cabeça afirmativamente.


Ele mordeu o lábio outra vez antes de começar a se aproximar lentamente, muito lentamente. A ansiedade, junto com mais um monte de outros sentimentos, tomou conta de mim quando me toquei do que ele pretendia fazer.  Minha respiração falhou quando ele estava próximo o suficiente para que eu pudesse ver cada detalhe da sua iris. Quando ele finalmente desviou seus olhos para minha boca, eu fechei os meus e esperei.


Senti o hálito quente na minha pele pouco antes de seus lábios roçarem os meus até que, finalmente, a minúscula distância entre eles foi fechada. A leve pressão que ele exercia sobre meus lábios tornava o beijo doce e delicado, porém, um arrepio me correu pela espinha quando ele pôs uma mão na minha nuca e se aproximou mais.


O beijo foi se intensificando, mas ainda era delicado. Passados alguns minutos, ou horas, ou quem sabe alguns anos (sinceramente, não sei dizer), nos separamos. Quando ele me olhou, estava claro o esforço dele para não sair correndo e gritando pelo castelo. Este pensamento me fez sorrir brevemente, ele sorriu de volta, um sorriso novo, iluminado.


Passaram alguns segundos silenciosos até que eu resolvi falar algo.


 


- É assim o tempo todo pra você? – perguntei.


- Não. – ele respondeu sem olhar na minha direção, o sorriso ainda brincava em seus lábios – Nem chegava perto disso.


- Hum... Legal. – comentei debilmente, ele riu.


 


Enquanto ele sorria sem me olhar, uma pequena bagunça se formava em minha mente. Eu acabara de beijar James Potter, mas o que isso significava? Ele gostava mesmo de mim? O que eu faria agora?


Eu não sabia o que falar e tentava parar de pensar, ao menos por enquanto, pois isso provavelmente me deixaria incoerente se ele resolvesse voltar a conversar.


 


- Então... – ele interrompeu o silêncio depois de mais alguns segundos – Você acha que deu pra ter uma idéia só com isso? – pude ouvir a malícia por trás das palavras dele e não consegui não rir. Ele arqueou as sobrancelhas como um incentivo.


 


Continuamos conversando, brincando e, ocasionalmente, nos beijando e, então, da próxima vez em que consultei o relógio eram...


 


- SETE HORAS! – gritei me levantando de repente – Oh Merlin, nós passamos a noite toda aqui!


- Isso é assim tão ruim? – James perguntou em falso tom de ofensa.


- Não, mas as pessoas devem ter dado pela nossa falta e tudo mais.


- Lily, relaxa, é sábado. Todos devem estar dormindo. – ele argumentou revirando os olhos.


- É, mas hoje tem jogo de quadribol e...


- Aaah merda, O JOGO! – foi James quem levantou desta vez – Eu tenho que estar no salão principal em meia hora!


- Então vamos logo. – me adiantei para a porta.


- Espera. – ele me segurou antes que eu me afastasse muito – Você não vai querer sair por aí ao meu lado nos corredores lotados do castelo e vestindo a mesma roupa de ontem, certo?


- Muito bem pensado. – elogiei enquanto me dava conta da verdade que ele falava.


- Ok, eu conheço os caminhos mais vazios até a torre, mas tem que prometer jamais comentar isso com as autoridades da escola. – de início, achei que fosse brincadeira, mas vi em seus olhos que era sério.


- Tudo bem, eu prometo. – respondi imaginando as razões por trás disso, mas não importava agora.


 


Ele retirou um pedaço grande de pergaminho do bolso, murmurou alguma coisa e o observou por um momento antes de enfiar de volta no bolso e se virar para mim.


 


- Ok, vamos agora, teremos que andar rápido. – falou antes de pegar minha mão e praticamente me arrastar para fora da sala.


 


Depois de alguns trechos curtos de corredores e três passagens secretas (nos encontrávamos na quarta agora), estávamos bem perto do retrato da mulher gorda.


 


- Acho que devemos nos despedir aqui. – disse quando chegamos ao fim da última passagem. Eu apenas assenti com a cabeça – Obrigada pela noite, Lily. Foi incrível. – ele deu outro sorriso extraordinário enquanto eu corava.


- Sim, foi. – sorri também – “Boa Noite”, Potter.


- Não vai assistir ao jogo? – perguntou um pouco desanimado.


- Eu realmente adoraria, mas ia acabar... Desmaiando na arquibancada. – falei em meio a um bocejo.


- É melhor mesmo você ir descansar, então. – ele sorriu fraco – Mas vai à festa de comemoração, não vai?


- Tem tanta certeza assim que vamos ganhar? – perguntei erguendo uma sobrancelha.


- Claro que vamos, eu sou o capitão do time. – disse como se explicasse a uma criança de dois anos e abriu aquele sorriso presunçoso outra vez.


- Ok, Sr. Capitão do Time, - falei revirando os olhos para as palavras – bom  jogo. – e me equilibrei na ponta dos pés para conseguir dar-lhe um beijo na bochecha.


- E bons sonhos pra você. – ele sorriu de novo e me beijou brevemente.


 


Saí da passagem quando ele disse que era seguro e segui diretamente para o dormitório, que já estava vazio a esta hora.


 


... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...


 


James Potter


 


Esperei mais alguns segundos, pus a capa da invisibilidade e segui para o meu dormitório. Agora que Lily se fora eu percebia o quanto estava cansado, mas isso não importava, precisava me concentrar em encontrar o time e arranjar uma bela desculpa para o desaparecimento. Será que conseguiria arranjar uma poção contra cansaço?


 


- Quer me dizer onde diabos você estava? – ouvi a voz irritada de Sirius quando fechei a porta, não havia reparado que ele estava lá.


- Depois, cara. – foi tudo que respondi, ainda não pensara em uma desculpa decente.


- Não pense que vai escapar, procurei você a noite toda! Onde deixou o espelho? – ele estava mesmo irritado.


- Não tenho certeza. – e não tinha mesmo – Olha, Almofadinhas, tenho que tomar um banho e descer em vinte minutos, depois te explico tudo, ok? – ele me olhou desconfiado, mas assentiu.


- Quer que eu o espere? – perguntou sem mais nenhum traço de irritação na voz.


- Não precisa. – respondi – Se você quiser, no entanto... – dei de ombros e entrei no banheiro.


 


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