Parte I
N/A: Olá! =D
Primeiramente, gostaria de comentar que esta era para ser uma short-fic bem simplesinha, mas a empolgação foi tanta que a Nani aqui não se conteve ^^
Eu sei que muita gente vai achar a fanfic sem pé nem cabeça, outros vão detestar, mas espero que ao menos alguns de vocês compreendam o sentido da história e, se for possível, gostem do enredo.
Se trata de uma fanfic pós-HP7 e, como acabou ficando maior que o esperado, será dividida em partes. Aí você me pergunta: "Já ouviu falar em uma coisa chamada capítulo?" e eu respondo: "Ah, mas capítulo precisa de título e eu realmente estou gastando toda a minha criatividade com a fanfic em si. Tanto que enquanto terminava a primeira parte parei e pensei 'Putz! Essa fic não tem título!' Mas graças a opinião da Luh e uma pequena inspiração no título de uma música eis que surge 'Uma Vez Mais'". Ai você para, olha pra mim e se pergunta porque está lendo toda essa bobagem enquanto poderia muito bem ter pulado as notas iniciais e eu...
Concordo contigo xD
• Uma Vez Mais • Parte I
Ela esperou a vida toda, mas à medida que o tempo passava tornava-se mais difícil permanecer naquela angústia. Sua impaciência pouco colaborava para tornar as coisas mais fáceis, ao contrário: transformava a espera em martírio.
O conflito que se instalara em seu pequeno coração a atormentava de maneira cruel. Pobre menina de tão frágeis emoções, cuja alma atormentada mal cabia em tão pouca idade. Tudo que lhe restava era continuar a espera, sufocada pelas horas longas e os dias frios do inverno mais solitário que já vivera.
Sob uma brisa gélida, a menina percorreu uma trilha de pedras até chegar à construção antiga coberta de neve. Antes de entrar, porém, teve a sensação de ser observada. Seus olhinhos castanhos percorreram o terreno por inteiro, mas nada havia ali além do manto branco do rigoroso inverno inglês, que se estendia por todo o campo de visão. Com o rostinho protegido pelo cachecol e o gorro de lã, a menina voltou-se mais uma vez para a porta de madeira a sua frente. Levou os dedinhos à fechadura e girou-a lentamente até que a porta começasse a se mover.
- Lily? – chamou uma voz suave do outro extremo.
Ao contrário do frio cortante de onde a pequena Lily havia acabado de sair, do lado de dentro do casarão havia um calor morno e aconchegante. O fogão a lenha da cozinha aquecia o aposento além de inundar o oxigênio com um delicioso aroma salgado.
Lily tirou o cachecol que envolvia seu pescoço e pendurou-o em um suporte ao lado da porta, que acabara de fechar. Seu rostinho de feições infantis, mesmo pontilhados por sardas, era tão pálido que fazia com que seus olhos castanhos ressaltassem ainda mais sua profundidade.
- Eu não lhe disse para não sair de dentro de casa? – indagou a mulher que preparava a comida junto ao fogão. Seus cabelos ruivos brilhavam à luz bruxuleante das chamas, ondulando-se por suas costas e descendo até sua cintura.
- Eu só estava procurando minhas partituras. – respondeu a menina. Sua voz era muito parecida com a da mulher, apenas um tanto quanto mais doce e infantil.
- Você as perdeu há uma semana, Lily. – explicou Ginny. – Não creio que vá encontrá-las agora que a neve cobriu todo o jardim.
Ginny, a mulher de cabelos ruivos, foi até a menina e tocou sua bochecha. Lily sentiu as mãos suaves e aquecidas de sua mãe encontrarem seu rosto gelado em um pequeno choque térmico.
- Você vai acabar se resfriando, mocinha. – disse ela, agora retirando o gorro que cobria a cabeça da menina.
Os cabelos de Lily, um tanto despenteados, caíram sobre seus ombros. Eram tão ruivos e ondulados quanto os de sua mãe, porém mais curtos. Alguns fios de franja lhe caíram sobre sua testa e Ginny tentou ajeitá-los, sem muito sucesso.
Sem aviso, a janela ao lado delas se abriu, trazendo uma lufada de vendo gélido para dentro da cozinha. Lily deu um pequeno gemido e arregalou os olhos, assustada. Um perfume forte se sobrepôs ao aroma salgado do jantar, era masculino e lhe parecia estranhamente conhecido.
- Eu jurava que havia trancado esta. – disse Ginny. Ela levantou sua varinha em direção à janela, que se fechou instantaneamente.
Lily a observava com um pequeno sorriso. Como gostava de vê-la fazer magia. Era uma esperança vaga de que muito em breve estaria praticando encantamentos também.
Assim que a janela se fechou, o perfume desapareceu. Inocente, Lily não se deu ao trabalho de perguntar ou sequer pensar no assunto. O calor voltara a predominar e o cheiro delicioso da comida sobre o fogão preenchia seus pulmões e seu estômago.
- Hugo virá jantar conosco? – perguntou Lily.
- Infelizmente não, meu amor. – respondeu Ginny enquanto enfeitiçava alguns objetos que picavam ou descascavam temperos. – Hugo está resfriado e Hermione achou melhor que ele ficasse em repouso. Mas seu tio, George, virá jantar conosco esta noite.
- Que bom! – exclamou Lily alegremente. – Ele e tia Sally não aparecem por aqui há um bom tempo. Eu estava com saudades de Matt e Lois, eles virão, não é?
- Creio que sim.
Matt e Lois eram os filhos mais novos de George e Sally Weasley e irmãos gêmeos inseparáveis. Enquanto o filho mais velho do casal, Fred, completava seu último ano escolar, os mais novos ainda tinham três anos de espera pela frente. Mas, ao contrário de Lily que impacientava-se com os seus dois anos de espera, tanto Matt quanto Lois aproveitavam sua infância não-mágica fazendo travessuras na loja de logros da qual o pai era proprietário. Lois era a única amizade feminina de Lily e Matt um amigo tão estimado quanto Hugo. Eles sempre apareciam para o Natal, mas este ano seria um pouco diferente.
Lily lembrou-se, com muito pesar, de que James e Albus, seus irmãos mais velhos, ficariam em Hogwarts por motivos que nem mesmo seus pais entendiam. A própria Rosie, irmã mais velha de Hugo, decidira ficar na escola. O Natal seria menos populoso e agitado para as crianças este ano.
- Lily, meu amor. – chamou Ginny enquanto uma pilha de pratos e vários copos se dirigiam por conta própria para o aposento ao lado. – Vá chamar a vovó e o vovô para o jantar, sim? O papai deve chegar a qualquer momento.
Lily atendeu ao pedido da mãe prontamente, subindo as escadas aos pulinhos para aquecer suas pernas curtas. Chegando ao corredor iluminado pelo reflexo da neve, se dirigiu a uma das últimas portas. As paredes que ladeavam o corredor eram abarrotadas de retratos. Vários familiares ruivos sorriam em suas molduras, mas não como os quadros normais, que costumavam se movimentar e falar com quem estivesse disposto a ouvi-los. Estes eram apenas pinturas as quais todos se referiam como trouxas. Apesar de fiéis as pessoas que representavam, eram imóveis e caladas.
O único parente de cabelos escuros cujo retrato estava ali pendurado era, Lily sabia, seu falecido avô James.
A menina abriu a porta a qual se dirigira e entrou em uma saleta mal iluminada. Em uma cadeira de balanço a um canto, sua avó Molly cochilava enquanto um suéter era tricotado magicamente em seu colo. Arthur, seu avô, dormia a sono solto no sofá em frente à caixa de madeira de tela cinzenta que exibia uma imagem chuviscada a qual era tão apegado. A estante que ocupava boa parte da sala era recoberta por objetos mágicos e não-mágicos em uma mistura confusa. Lily sorriu ao observar a cena. Pé ante pé caminhou até a avó (seu avô roncava, sinal de que não seria tão fácil acordá-lo). Ela ajoelhou-se próxima à senhora gorducha de cabelos brancos e observou-a por algum tempo. Deveria mesmo acordá-la? Estava cochilando tão tranqüilamente que nem aparentava ser aquela mulher gritalhona que tivera um ataque de nervos quando a filha lera a carta de seus "netos ingratos" que chegara a poucos dias, avisando que estes não voltariam para o Natal.
Mal Lily decidira que era melhor deixá-la dormir, quando avistou um objeto estranho escondido atrás do projeto de suéter no colo de Molly. Curiosa, a menina levou as mãos cuidadosamente até o objeto e apanhou-o. Era um livro grosso e pesado, fora difícil não provocar barulho algum ao trazê-lo para si, mas felizmente a mulher não acordara. A capa grossa de tecido marrom trazia os dizeres "Em Memória da Ordem da Fênix".
Ao ler aquelas palavras, Lily não soube explicar, um sentimento estranho invadiu-a. Sua curiosidade fora impulsionada ainda mais depois daquele súbito arrepio. Algo dentro dela parecia ter despertado e não havia meio de contê-lo.
Ela abriu a capa e, impaciente demais para esperar, folheou as páginas de pergaminho envelhecido até encontrar uma que lhe chamasse a atenção. Seu coração deu um salto repentino quando seus olhos castanhos encontraram duas figuras em uma fotografia colada ao pergaminho.
Não conseguia pensar, sentiu como se o tempo parasse naquele momento e todos os sentidos de seu corpo entrassem em conflito. Era como se sua alma, de repente, tivesse total controle sobre seu corpo e não soubesse como exercer tal poder. Se Molly acordasse naquele momento ficaria extremamente confusa. Lily, cujo rosto pálido tornou-se ainda mais sem cor, tinha os olhos pregados ao livro em seu colo e, inexplicavelmente, eles se encheram de lágrimas. A foto era antiga, podia-se notar. Sorrindo de maneira encantadora, um casal absurdamente estranho se abraçava e trocava olhares apaixonados. Lily não saberia dizer qual dos dois a fascinara mais: a jovem de cabelos cor-de-rosa, vestida com trajes excêntricos que lhe trouxera um sorriso espontâneo aos lábios ou o homem roto de cabelos castanho-claros um tanto esbranquiçados, cujos olhos cor de âmbar, brilhantes, não se desviavam dos olhos de sua companheira. O segundo despertara algo desconhecido dentro dela. Era um sentimento inocente, misturado a algum tipo de tristeza, que a fizera chorar, assim, sem mais nem menos.
A ruiva permaneceu em um devaneio inexplicável por alguns minutos, despertando a tempo de ler as palavras borradas sob a fotografia: "Ao amor eterno de Remus e Nymphadora".
Já ouvira aqueles nomes antes, disso tinha absoluta certeza. Mas quem eram, ou porque a imagem daquele casal mexera tanto com ela, Lily não fazia idéia. Suas mãos tremiam quando fechou a capa o livro, no exato momento em que um estrondo abafado quebrou o silêncio do lado de fora.
Molly deu um suspiro, mas não acordou. Lily correu para junto da janela e encostou o nariz no vidro. Mais uma vez, não havia nada lá fora.
Em um ato impensado, Lily abaixou-se e apanhou o livro que deixara no chão, colocando-o de baixo do braço com dificuldade. Silenciosamente, a menina saiu do quarto para o corredor e desceu as escadas. Estava ansiosa como nunca, precisava perguntar à mãe quem eram aquele homem e aquela mulher estranhamente familiares. Mas antes que chegasse a metade do caminho, tropeçou em um degrau e o livro voou de seus braços curtos para fora da pequena janelinha aberta que permitia que um pouco de ar adentrasse a escadaria. Houve um baque abafado quando o peso do objeto encontrou a neve do gramado e uma voz masculina ecoou alguns metros abaixo.
- Está tudo bem aí em cima?
Sem pensar duas vezes, Lily se levantou e desceu o restante dos degraus, lançando um último olhar para o lado de fora e lamentando o ocorrido. Mas as palavras ditas na voz de seu pai espantaram aqueles pensamentos e a incitaram até a cozinha.
Lily correu até a figura pontilhada de flocos de neve que fechava a porta dos fundos e atirou-se em seus braços.
- Papai! – exclamou amavelmente envolvendo o pescoço do homem alto e moreno. Ele estava encharcado, mas ela não se importou.
- Calminha princesa! – exclamou Harry surpreso, beijando o rostinho de Lily delicadamente para que sua barba não a machucasse. – Papai está coberto de gelo, preciso me trocar ou vamos os dois pegar um belo resfriado.
Mas Lily não o soltou, tendo Ginny que pegá-la pela cintura e colocá-la novamente no chão.
- Tudo isso é saudade? – perguntou Harry com um enorme sorriso.
- Sim! – respondeu Lily alegremente.
Um terceiro sorriso se uniu aos deles, nos lábios de Ginny que se aproximou do marido.
- Chegou bem na hora. – disse ela melodicamente. - Já estava indo servir o jantar.
- E o meu beijo? – indagou Harry arqueando a sobrancelha.
Ginny envolveu o pescoço de Harry com um de seus braços e encostou seu nariz no dele.
- Eca! – exclamou Lily com uma careta. – Vocês adultos têm cada mania nojenta!
Harry e Ginny riram e, antes que seus lábios se colassem, Lily saiu da cozinha e se dirigiu à sala de jantar.
A mesa comprida ocupava quase todo o aposento, estava coberta por uma toalha verde-esmeralda, pratos, talheres, copos e grandes tachos cheios de comida. O aroma era delicioso, mas Lily tinha outros planos. Atravessou a sala rapidamente e chegou à porta do hall. O frio era cortante, mas ela fez pouco caso e contornou a casa até chegar à porta dos fundos. Seu estômago afundou quando percebeu que não havia nada no gramado além de neve. Procurou na direção da janelinha, por toda a extensão de terra aonde o livro poderia estar, mas não o encontrou. Encharcou-se sob a chuva de flocos por alguns momentos até que algo chamou-lhe a atenção.
Um vulto escuro atravessou o lado oposto do terreno até desaparecer por entre as árvores. A menina assustou-se e caiu sentada no chão. Seu coração disparou a uma velocidade inacreditável. Mesmo tremendamente aflita, foi guiada instintivamente para o lugar aonde avistara o vulto. O medo por vezes a perturbava, mas curiosidade e impulso eram mais influentes e a impediam de retardar suas ações. Procurou por entre as árvores rapidamente, o instinto lhe alertava a presença de alguém. O perfume que antes invadira a cozinha misturava-se ao vento gélido.
- Quem está aí? – perguntou Lily, sua voz soava fraca por causa do frio.
Não houve resposta. Dando um passo mais para o lado, ainda forçando as pupilas em direção ao bosque, a menina sentiu que pisara em algo. Quando voltou o olhar para seus pés teve a agradável surpresa de encontrar as folhas de pergaminho que a tanto procurava: as melodias compostas para o piano, as partituras.
Como haviam parado ali, Lily não fazia idéia, mas sentiu-se imensamente feliz em recuperar suas preciosidades.
Pegou-as do chão e, lançando um último e frustrado olhar para os troncos das árvores, voltou para a trilha de pedras que a pouco seguira. Algumas figuras surgiram através da cerca dos limites do terreno, próximo ao casarão. Identificando-as com uma onda de excitação, Lily correu o mais rápido que lhe fora possível, pois a camada de neve dificultava muito o caminho.
Nove pessoas caminhavam em direção a casa dos Potter, sendo duas delas, obviamente, crianças.
- Lily! – exclamaram várias vozes ao reconhecer a garotinha que se aproximava do grupo.
- Que bom que chegaram! – exclamou Lily animada.
Mais próximo a ela, estava um casal que a menina reconheceu imediatamente como sendo seus tios George e Sally. Junto deles o filho mais velho, Fred, e seus filho e filha mais novos, Matt e Lois. Os demais, Lily supunha, deveriam ser seu tio Bill e sua tia Fleur, acompanhados pela filha Victory e seu namorado...
- Ted! – gritou Lily atirando-se nos ombros do jovem que acabara de se agachar a sua frente.
Dentre todos os familiares, Ted era de quem Lily mais gostava. Poderia não ser exatamente um Potter ou um Weasley, mas era como se fosse. Ele não tinha família além da avó Andrômeda, que há pouco tempo falecera. Sendo afilhado de Harry, fora criado por ele como um filho muito amado. Ted e Lily possuíam uma conexão muito bonita. Ele era como um irmão mais velho, protetor, atento e extremamente carinhoso. Ela preenchia seu coração de afeto puro e sincero que somente uma menina tão alegre e inocente como ela poderia lhe dar, exatamente como uma irmãzinha deveria ser.
- É melhor entrarmos – disse tia Sally se dirigindo a porta de entrada principal. – Ou vamos congelar aqui fora!
- Claro. – concordou tio George imediatamente. – Já chega crianças. – completou segurando os filhos mais novos que se atacavam com bolas de neve em meio a gargalhadas.
Eles entraram dois a dois e Lily fez questão de fechar a porta.
- Que quentinho aqui dentro. – disse Ted enquanto ajudava Victory a tirar o casaco e pendurava-o juntamente com o seu ao lado da lareira acesa.
Ted era um rapaz alto e forte, com seus dezenove anos de idade. Assim que despiu o gorro que lhe protegia a cabeça, deixou a mostra seus cabelos arrepiados de tom azul turquesa. Ele era metamorfomago e costumava divertir Lily mudando de aparência. A menina era fascinada por aquele dom e por várias vezes dizia que seria a primeira aluna de Hogwarts a aprender a se tornar metamorfomaga sem ter nascido com esse poder.
- Tem um pouco de neve em seus cabelos, Ted. – disse Victory carinhosamente retirando os flocos de neve quase invisíveis por entre os fios azuis.
- Eu mereço um beijinho da pequena Lily? – perguntou a voz de tia Fleur as costas da menina, com as notas do inconfundível sotaque francês bem perceptíveis em algumas sílabas.
Lily esperou que ela se abaixasse e beijou sua bochecha.
Fleur e Victory poderiam ser irmãs gêmeas, não fosse o fato de Fleur aparentar um pouco mais de maturidade nas linhas do rosto. Ambas eram lindas mulheres louras, de postura delicada e elegante. A filha de dezessete pouco se parecia com o pai, um homem alto e forte, de cabelos ruivos e o rosto estranhamente deformado por feridas, mas mesmo assim muito charmoso.
- Ummmm! – disse Fred inspirando profundamente. – O cheirinho está uma delícia! Só a comida da tia Ginny pra me fazer voltar para o Natal...
- Ah, é? – exclamou Sally ofendida. – Quer dizer que a minha comida não é lá grandes coisas se comparada a de sua tia?
- Oh, não precisa ficar tristinha, amor. – disse George contendo a frustração da esposa em um abraso. – Eu até gosto de comer em um lugar diferente toda a semana.
Sally fez menção de responder, mas o marido calou-a com um beijo.
- Eca! – exclamaram Matt e Lois ao mesmo tempo.
Os cinco eram a parte mais alegre dos almoços, jantares, festas ou reuniões de família. George, o patriarca, era ruivo e forte como o irmão Bill, apenas alguns anos mais novo. Sua esposa, Sally, era uma mulher extrovertida e dada a piadas tanto quanto o marido. Fred, o primogênito era a réplica exata do pai quando tinha sua idade, de acordo com as fotografias antigas, e Matt era a miniatura de Fred. Lois, porém, era muito parecida com a mãe, com seus cabelos cor-de-mel e seus olhos verde-claros. Todos (pai, mãe, filhos e filha) eram o centro da diversão familiar.
- Ah, aí estão vocês! – disse Harry vindo da sala de jantar e cumprimentou todos um por um. - E a senhorita, onde estava? – perguntou ele a Lily.
- Olhe, papai! – exclamou a menina alegremente, sacudindo as folhas de pergaminho que segurava com as mãos frias. – Minhas partituras!
- Partituras? – indagou Victory com um sorriso. – Vamos ouvir a pequena Lily tocar piano após o jantar?
- Ótima idéia! – concordou Ted imediatamente. – Lily é uma ótima pianista, toca divinamente!
- É estranho que uma menina tão pequena se interesse por um instrumento tão complicado. – comentou Fleur. – Ainda mais a nossa Lily, que tem um gênio impaciente.
- Também me espantou – disse Harry enquanto todos se encaminhavam para a sala vizinha. – mas é uma maneira de ela passar o tempo enquanto não vai para Hogwarts e algo em que possa focar todo esse espírito.
- Eu sempre achei que Lily se parecida com Ginny – comentou George observando a sobrinha. – Mas devo admitir que minha irmã, ao contrário de sua filha, não conseguia ficar quieta um minuto.
- Deve ter puxado o pai. – sugeriu Sally.
- Acho que não. - respondeu Harry com um sorriso no exato momento em que Lily tropeçou nos tornozelos e segurou-se em sua perna. – De todos, Albus é o que mais saiu a mim. James faz jus ao nome, e como faz! Já Lily é mais tímida e um tanto descuidada, devo dizer.
- Deve ter puxado um pouco dos dois. – concluiu Bill.
- Ela me lembra muito outra pessoa. – comentou Fleur amavelmente acariciando uma mecha dos cabelos da sobrinha.
- Quem? – perguntou Fred.
Mas Fleur não teve tempo de responder, pois Ginny e Molly saíram da cozinha, carregando um último tacho com as varinhas no alto e colocando-o sobre a mesa. Arthur já estava servindo-se de salada. Todos foram logo se cumprimentando e demorou até que o ritual terminasse e todos se sentassem à mesa do jantar.
Lily adorava aquele momento do dia. O céu lá fora escurecia cada vez mais enquanto a imensa família Weasley-Potter se servia da deliciosa comida de Ginny, todos conversavam, riam, comentavam sobre as novidades.
- Ingratos! Isso é o que eles são! – esbravejou Molly Weasley quando Fleur perguntou-lhe sobre James, Albus e Rosie. – Imaginem só! Preferir ficar em Hogwarts a comemorar o Natal com a família!
- É o primeiro ano deles – defendeu Ginny. – Deixe que aproveitem um pouco.
- Mas não é o primeiro ano de James! – retrucou Molly impaciente. – Nenhum dos meus netos havia passado sequer um Natal longe da família! Fred alguma vez permaneceu em Hogwarts nesta época do ano? Não! Nem a querida Victory, ou os meninos do Percy, nem Clarice ou Margaret, as meninas do Charles. Nem mesmo Ted.
- Calma mamãe! – disse George. – Você pode berrar com eles assim que voltarem para as férias de verão.
- E onde andam Ron, Hermione e Hugo? – perguntou tia Sally, mudando o rumo da conversa.
- Hugo está de cama. – respondeu vovô Arthur. – Ron e Hermione preferiram ficar em casa hoje, mas virão para a ceia de Natal com certeza. Hugo é um menino forte.
Lily permaneceu quieta durante os primeiros minutos, mas logo ela e Lois começaram uma conversa.
- Você não tem jeito mesmo, né Lil? – brincou Lois quando Lily derrubou parte do arroz de seu prato na mesa enquanto cortava o bife.
- Eu sei. – respondeu Lily às gargalhadas. – Essas coisas me perseguem! Por que você acha que os objetos pontudos ou pesados ficam muito bem guardados aqui em casa?
Lois caiu na gargalhada e as duas continuaram a comer. Falaram sobre Hogwarts, sobre como deveria ser estudar num grande castelo. Lois dizia querer ir para a Grifinória, junto com Matt, a casa a qual seus pais pertenceram e que todos afirmavam ser a melhor. Já Lily, Lois mal pôde acreditar, afirmou com todas as letras que sonhava em ir para a Lufa-Lufa, a casa de Ted.
Lily, talvez por tanto admirar o primo postiço, adorava a Lufa-Lufa. Ouvira Ted dizer, em seu último ano, que sentiria muita falta da escola e principalmente da casa a qual pertencia. Afirmava que os lufanos eram grandes amigos e dificilmente havia qualquer encrenca entre eles, por menor que fosse. O lema da Lufa-Lufa era, segundo Ted, ajudar uns aos outros e estar sempre disposto a partilhar experiências. Ted, que estava sentado entre Lily e Victory, não pode deixar de se meter na conversa da prima.
- É uma ótima escolha, Lily! – exclamou ele animado. – A Lufa-Lufa é maravilhosa!
- Eu prefiro a Grifinória! – defendeu Lois prontamente – Fred disse que há um quadro de pequenas fotografias em homenagem a antigos alunos e que dentre eles estão o papai, a mamãe, e muitos da nossa família.
- Nós também temos um desses na Lufa-Lufa.
- Verdade, Ted? – perguntou Arthur curioso.
- Claro! – respondeu Ted. – Eu já lhes contei, lembram?
- Claro que já nos contou! – intrometeu-se Molly. – Arthur é que está muito esquecido.
- Mas não tem nenhum de nossos pais lá. – comentou Fred.
- Como não? – indagou Ted. – A minha mãe está lá.
- Eu queria ter visto. – comentou Victory. – Você sempre falava dessa tal homenagem, mas eu nunca a vi.
- Você não podia entrar na sala comunal da minha casa, Vicky.
- Eu sei, mas seria tão bom ver a fotografia de sua mãe. Afinal de contas você entrou na nossa sala comunal para ver a fotografia do seu pai.
- Mas isso é totalmente diferente – defendeu-se Ted. – Eu posso ser da casa que eu quiser, tendo um bom uniforme.
- Muito útil ser metamorfomago. – ironizou Victory.
- Eu queria tanto ser metamorfomaga! – exclamou Lily.
- Quem sabe um dia. – disse Ted. – Não é impossível, sabiam?
- Mas é muito desgastante e complicado. – disse Ginny. – Ter nascido com o dom é uma coisa, adquiri-lo é outra. Teve sorte de herdar o dom de sua mãe.
- Sua mãe tinha cabelo azul, Ted? – perguntou Matt interessado.
- Acredito que minha mãe mudava a cor de seu cabelo constantemente. – respondeu Ted.
- O favorito dela era cor-de-rosa. – comentou Fleur com um sorrisinho triste. – Ela era realmente linda, Nymphadora.
Lily estremeceu ao ouvir aquele nome, tal foi seu espanto que derrubou o copo que segurava e encharcou-se de suco de abóbora.
- Foi só falar nela. – comentou George com um sorriso.
- George! – exclamou Sally. – Isso é maneira de se falar?
- Que foi que eu fiz? Foi só uma observação. Afinal, derrubar as coisas era a marca registrada de Tonks, não se lembram?
- Lily, meu amor. – disse Ginny indo até a filha. – Está tudo bem?
- Claro, mamãe.- respondeu Lily sem refletir.
Mas obviamente não estava tudo bem. O coração da menina disparara enlouquecido, suas mãos tremiam e ficara mais pálida do que o normal.
Então era ela a mulher da fotografia, a mulher de cabelos cor-de-rosa que sorria apaixonada. Era a mãe de Ted, de nome engraçado. Então, certamente, o homem roto de cabelos claros e olhos cor de âmbar deveria ser o pai dele.
- Realmente, George. – disse Bill ao irmão e Lily fez questão de prestar total atenção enquanto Ginny secava sua blusa com um feitiço. – Tonks era muito desastrada, uma mulher realmente engraçada.
- Espero que isso seja um elogio. – disse Ted rapidamente.
- Oh, claro que é! – respondeu Fleur. – Sua mãe era encantadora, além de ter uma personalidade forte e agradável. Era impulsiva, verdade, mas tinha um coração enorme.
- Disso eu tenho certeza! – exclamou Ted satisfeito. – Por tudo que tio Harry me contou quando eu era garoto, confio cegamente no amor dos meus pais e tenho muito orgulho deles.
- Vamos mudar de assunto. – pediu Ginny. – Falar em Remus e Tonks, apesar de eu ter as melhores lembranças, me aperta o coração.
- Remus era o nome do seu pai, Ted? – perguntou Lily sem pensar. Seu coração acelerara consideravelmente quando pronunciou aquele bonito nome.
- Era sim, Lily. – respondeu Ted estufando o peito. – E é meu nome do meio também, Ted Remus Lupin.
Lily abriu a boca para contar-lhes sobre o livro que encontrara sobre o colo da avó e aproveitar para se desculpar por tê-lo pego, mas lembrou-se de que o havia perdido e achou melhor ficar quieta.
- Ginny tem razão. – disse Fleur enxugando uma lágrima. – É tão triste pensar que eles não estão aqui conosco.
Todos à mesa a compreenderam de imediato e baixaram o olhar para seus pratos em um silêncio momentâneo. Sentiam muita falta das pessoas queridas que havia perdido há dezenove anos atrás.
Mas o quebra-cabeças da vida era muito mais complicado e, mesmo que nenhum deles pudesse enxergar, todas as peças continuavam ali, mesmo que em uma composição diferente.
N/A²: E aí? Merecemos uma continuação? *___*
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