Capítulo IV



Capítulo IV


E o céu se fez chorar. As grossas gotas que caíram naquele dia se misturaram com as minhas próprias lágrimas. Por quanto tempo eu desconfiei de você? Não mais do que o necessário para errar...
Nossas amarras estavam partidas. Jogadas fora em um ápice, em uma precipitação. Quantos sonhos eu estilhacei com minhas palavras? Quantas possibilidades eu neguei naquele dia? Você estava ao meu lado enquanto eu me afogava em minhas próprias neuroses. Minha desconfiança rasgou nosso amor. E eu pagava com dor novamente tudo o que você tinha me dado.
E eu, na minha ingenuidade, borrei sua alma de negro...

* * *

Nossos lábios se tocaram como um breve adeus naquela noite. Os encontros haviam se tornado casuais desde a nossa saída de Hogwarts. Não que tudo fosse uma brincadeira. Longe disso. Tudo o que eu sentia por você era sério. Muito mais sério do que você imaginara; muito mais sério do que você suportara. Mas você continuava ao meu lado. Comodidade, talvez. Mas eu pensava que aquilo era o mais puro amor. E naquela hora isso era a única coisa que importava.
O sangue de tantas pessoas podia escorrer, desde que eu tivesse seu corpo entre meus braços. E como um tirano eu preguei seu coração na parede de meu quarto, esperando que você voltasse para nossos encontros. E eu sorria a cada vez que você entrava pela porta, com aquela face cansada. Por que continuamos com isso? Eu podia ler suas expressões se indagando. E na minha ânsia de ser feliz, eu imaginei que era certo. E deveria ser. Nós desejávamos. Nós nos consumíamos entre os lençóis daquela cama. Mas nunca consegui dizer o porquê.
Nós esperávamos a paz, e lutávamos por ela. Por mais contraditório que pudesse parecer, nós éramos os mocinhos. Mas em nossa própria história, criada em noites de agonia, não havia um vilão, nem um herói. Apenas duas almas pecadoras. E a nossa história era errônea e sinuosa, como nossas palavras, como nossos atos. Mas mesmo assim tudo parecia se encaixar perfeitamente. Eu fingia que estava tudo certo. Você fingia que tinha o que sempre quis. Levantamos os muros da ilusão ao nosso redor e pelo menos naquelas noites nós nos permitíamos uma falsa felicidade.
Mas naquela noite fria você não apareceu. E nem em todas as outras daquele mês de março. Você se cansara de mim. E eu estava disposto a perder a única faixa de sanidade que ainda possuía só para acreditar que apesar de tudo você ainda me queria. Que você me perdoaria por lhe chamar de traidor. Você voltaria como sempre. Mas quem me traiu naquele dia fui eu mesmo. Meu orgulho me derrubou, e eu passei a desconfiar de você. Estava implantada uma semente mais negra do que meu nome.
Reguei-a com desconfiança: você foi o Judas dos meus delírios, pintado de preto e vermelho. E carreguei a dor de não suportar mais tudo aquilo. Você não era o culpado. Eu não era o culpado. Mas então, quem errou? Agora eu sei que não existem culpados ou inocentes. Apenas mortos. E eu morria aos poucos, afogado dentro de mim mesmo. E você não estendeu a mão.
Confiei no inconfiável. Aceitei que vendassem meus olhos, sem ao menos lhe dar uma chance de se explicar. E disse que você não era mais meu. Mas algum dia você fora? Menti para você julgando estar salvando vidas. Não a minha, nem a sua. E seus olhos cor de âmbar não me perdoaram. Eu não me perdoava.
Senti seu ódio quando soube de James, de Lily, de Peter. E eu não quis me explicar. Você não acreditaria. Já me julgava insano antes mesmo do derradeiro fim. E estava certo. Eu quisera ter escutado sua voz durante o julgamento, ao menos eu saberia que você ainda me odiava. E eu fui condenado. Estava morto muito antes de ser enterrado em Azkaban.
Agora, aqui entre o cinza, eu consigo pensar em uma única coisa: vingança. Não aquele perdão que você tanto gostaria que eu pedisse. Não era o perdão que eu queria. Você já tinha me mostrado que as pessoas erram muitas vezes. Você havia me perdoado. Mas eu não saberia, jamais, perdoar. Nem ao Peter, nem a você, nem a mim. Eu era sujo demais para poder me perder em sentimentos tão nobres. Julguei-me capaz de apagar todos os borrões em meu coração. Mas eu esqueci que ele continuava ali, batendo forte, tão escuro que as manchas se tornaram imperceptíveis. E todo o amor que eu tinha está trancado. Tudo o que eu sentia está fechado dentro dele.
Você tem a chance de recomeçar. Um inocente. Eu estou pagando. Um condenado. E o meu coração continua batendo dolorosamente. Como sempre foi.

~oOo~

N/A: O último capítulo...
*suspiro*

Agradeço à todos que leram.

Morgana Onirica.

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