Capítulo 2
Equipamentos da mais alta tecnologia, mapas, gráficos e um mobiliário variado compunha o escritório que Hermione Granger dividia com vários outros geólogos. Nos dias bons, ela e os colegas de trabalho conseguiam tocar nos projetos, individuais e coletivos, com uma certa ordem. Mas, infelizmente, este não era um daqueles dias. O caos reinava por toda a parte, e quando o presidente da companhia chamou-a até sua sala, Hermione sentiu-se aliviada.
Aos vinte e sete anos, ela parecia muito mais jovem. O rosto delicado era emoldurado por cabelos castanhos e ondulados e os olhos chamavam a atenção pelo brilho profundo. Mesmo vestida com roupas simples, ela parecia uma modelo de capa de revista. Era esta a maldição da sua vida: os homens davam a impressão de notar apenas seu rosto, e não a personalidade ou a inteligência. Felizmente seus colegas de trabalho já haviam se acostumado à sua aparência e nenhum deles fazia piadinhas machistas ou assobiavam com admiração ao vê-la chegar. Também, eram todos casados à exceção de Jack, que estava um pouquinho velho para o gosto de Hermione, pois, afinal, acabara de completar cinqüenta e seis anos.
Já fazia algum tempo que ela havia desistido da idéia de casamento. Teria sido uma coisa maravilhosa de acontecer, entretanto os dois únicos homens com quem chegara a cogitar essa possibilidade haviam deixado claro que não lhe permitiriam dedicar-se à carreira depois que se tornassem marido e mulher. Eles queriam uma dona de casa em tempo integral, que lavasse, cozinhasse e cuidasse dos filhos. Hermione não teria se incomodado tanto se estivesse ao lado do homem certo. Porém havia passado anos estudando e se aperfeiçoando, e agora, ao atingir o topo da profissão, recebendo um excelente salário, abandonar tudo lhe parecia um desperdício. Mas, talvez, ainda não houvesse encontrado o homem da sua vida...
Ao entrar na sala de espera de Eugene Ritter, Hermione olhou ao redor, procurando por Harry. Com um suspiro de alívio, reparou que estava sozinha. Era ridículo deixar que um homem a afetasse tanto, especialmente um tipo frio e distante como o sr. Potter. Sendo o encarregado máximo da segurança interna da empresa, sempre que havia problemas, estava nas mãos dele resolvê-los. E nos últimos tempos, sobraram problemas. Agentes inimigos haviam estado atrás de documentos confidenciais e de mapas secretos de um possível filão de metais estratégicos, todo esse material em poder de Hermione. Assim, numa noite impossível de ser esquecida, ela e Harry haviam se visto às voltas com os ladrões. Dois deles tinham sido pegos, mas o chefe conseguira escapar. E Harry a havia culpado. Era o que ele sempre fazia quando qualquer coisa dava errado.
Ao vê-la se aproximando, Betty, a secretária de Eugene, apressou-se a dizer:
— Entre, ele a está esperando.
— Harry está lá dentro? — ela perguntou um tanto hesitante.
— Ainda não.
Sentindo-se levemente apreensiva, Hermione bateu na porta.
— Entre, entre. Sente-se, por favor. Como você tem passado? — Eugene perguntou sorrindo. — Sentindo-se solitária desde que Daniela se casou com meu filho e se mudou daqui?
— Eu realmente sinto falta da minha prima, ela, era ótima companheira de quarto.
Numa maneira que lhe era peculiar, Ritter foi direto ao assunto, sem perder-se em preâmbulos:
— Tenho uma proposta a lhe fazer. Eu gostaria que você fizesse uma pesquisa de campo numa determinada área do deserto do Arizona. Enviarei para lá todo o seu equipamento e você poderá ficar acampada por alguns dias, até traçar um mapa preliminar da região e estudar o afloramento dos minérios.
— No deserto do Arizona? — Hermione repetiu, sentindo-se empalidecer.
— Isso mesmo. Um lugar calmo. Bonito. Cheio de paz.
— Cheio de cobras! Homens armados transitando pela área em seus jipes! Índios!
— Psiu! Harry pode ouvi-la!
— Não tenho medo de um apache alto chamado Harry. Estou me referindo aos outros, àqueles que não trabalham para nós.
— Ouça, querida, os apaches não têm mais o costume de ata¬car acampamentos e já se vão anos desde que alguém foi atingido por alguma flecha.
Hermione encarou Ritter com dureza:
— Mande Harry.
— Oh, é o que vou fazer. Fico satisfeito ao vê-la concordar que ele é o homem certo para o trabalho. Vocês dois poderão fazer companhia um ao outro. Ele será a pessoa encarregada de protegê-la.
— Eu? Sozinha no deserto com Harry durante vários dias e noites? Você não pode fazer isso! Acabaremos por nos matar um ao outro!
— Não de imediato. Além do mais, você é a melhor geóloga do meu quadro de pessoal e não posso correr o risco de enviar alguém menos experiente, principalmente depois dos acontecimentos do mês passado. E lembre-se de que o terceiro dos nossos inimigos ainda está à solta. É por isso que não os quero acampando num mesmo lugar todos os dias, para não deixar rastros. Vocês irão para a área-alvo apenas na segunda noite. Vou lhe mostrar no mapa onde é que fica, mas não diga nada a ninguém.
— Nem mesmo a Harry?
— Harry sabe tudo.
— É o que ele pensa sobre si mesmo. Aposto que se considera o mais...
— Deixe disso. Trata-se de trabalho. Você é uma funcionária e eu sou o chefe. É pegar ou largar.
Ela atirou as mãos para cima, dando-se por vencida:
— E eu tenho escolha? Num momento você me paga muitíssimo bem e no outro me ameaça com a possibilidade da penúria. Não tenho outra saída a não ser aceitar.
Ritter sorriu com carinho antes de responder:
— Ótimo. Harry não morde.
— Tem certeza? Ele quase arrancou a minha cabeça fora na noite em que perdemos o último dos agentes inimigos. Disse que foi tudo culpa minha!
— Mas como poderia ter sido você a culpada?
— Eu não sei, mas foi o que ele disse. Você tem mesmo que mandar Harry? Por que não Mallory? É um rapaz simpático.
— Harry não é simpático, mas será capaz de protegê-la e ao meu investimento. Não há homem melhor para esse tipo de trabalho.
Resignando-se afinal, Hermione procurou saber mais detalhes sobre a missão.
— O que deveremos procurar? Petróleo? Molibdênio? Urânio?
— Molibdênio e talvez ouro. Agora você sabe por que eu não quero qualquer comentário sobre essa expedição. Sei que tanto você quanto Harry são pessoas reservadas, o que diminui as possibilidades de vazamento de informações. Prepare tudo o que for necessário. Harry a apanhará no seu apartamento amanhã de manhã, às seis horas.
— Posso ir até ao aeroporto sozinha!
— Está com medo dele? — Ritter brincou.
— Não, claro que não.
— Ótimo. Ele tomará conta de você. Divirtam-se.
Divertimento não era exatamente a palavra que Hermione usaria para definir a expectativa de vários dias e noites em companhia de Harry. Na verdade, ela não conseguia pensar em nada que a assustasse mais do que aquela missão no deserto
Ao voltar para o escritório, após um almoço frugal, Hermione viu-se frente a frente com ele.
A mera visão daquele homem a deixava com o coração acelerado. Harry tinha um metro e noventa e cinco de altura e se movia com uma graça felina. Mas não era apenas a elegância natural, ou o corpo musculoso que atraía a atenção das mulheres. O ar arrogante, o modo penetrante de olhar as pessoas acabavam por fazê-las sentir insignificantes expostas. Não era difícil imaginá-lo vestido com as roupas de um chefe apache, com direito a cocar e tudo, pois a sua presença dominava qualquer ambiente. Este era um homem para ser temido pelos inimigos.
— Sr. Potter. — ela o cumprimentou com polidez, caminhando em direção à porta do seu escritório.
Ele deu um passo para o lado, bloqueando a passagem.
— A idéia foi de Eugene ou sua?
— Se você está se referindo à missão no deserto, esteja certo de que não acho a perspectiva muito interessante. — Hermione procurava falar com calma, embora sentisse que aquele olhar frio era capaz de penetrar-lhe a alma. — Se eu pudesse escolher o meu acompanhante, não seria difícil encontrar alguém com um gênio melhor do que o seu, alguém que nunca tivesse me insultado.
Harry permaneceu impassível, sem que um músculo do seu rosto se movesse. Porém, não havia nada de incomum nisso, já que Hermione nunca o tinha visto sorrir.
— Com licença agora. Se você não se importar, preciso voltar ao trabalho.
— Eu me importo em ter que adiar alguns projetos importantes apenas para brincar de anjo da guarda para uma garota que deveria estar se dedicando à profissão de modelo.
Os olhos de Hermione brilhavam e foi numa voz baixa, fria, que ela respondeu:
— Eu poderia lhe devolver os insultos, se quisesse. Fiz mestrado em geologia. Minha aparência não tem absolutamente nada a ver com a minha inteligência ou com a minha capacidade profissional.
— É interessante que você tenha escolhido uma profissão dominada por homens.
— Não vou me dar ao trabalho de discutir com você. Essa missão não foi idéia minha e muito menos minha escolha. Se você se acha capaz de convencer Eugene a mandar um outro geólogo no meu lugar, vá em frente.
— Ele me disse que você é a melhor.
— Sinto-me lisonjeada, mas não é bem assim. Talvez não seja possível destacar um outro profissional neste exato momento.
— Isso é mau.
Hermione ergueu a cabeça num gesto de desafio e orgulho, porém, por mais que se empertigasse, mal chegava aos ombros dele.
— É uma pena que você não seja capaz de distinguir quartzo de diamantes, ou poderia fazer todo o trabalho sozinho!
Harry olhou-a vagarosamente, demorando-se na contemplação daquele corpo perfeito, mas se teve prazer naquilo que via, nada deixou transparecer, pois suas feições permaneciam rígidas.
— Passarei em seu apartamento às seis horas, amanhã de manhã. Não me faça ter de esperá-la, boneca.
Ele se afastou no mesmo instante, sem que Hermione tivesse tempo de pensar numa resposta adequada a tanta insolência. Com os olhos faiscando e o rosto vermelho de raiva, ela voltou ao escritório, só então sendo capaz de imaginar algumas respostas mordazes que poderia ter lhe dado. Hermione abriu vários mapas sobre a mesa, estudando a área onde deveria realizar a pesquisa de campo. O terreno era bastante familiar: montanhas e deserto. É claro que possuía os mapas topográficos, mas iria precisar de algo muito mais detalhado antes que Eugene convocasse uma reunião com o conselho de diretoria, para que decidissem o ponto exato onde seriam feitas as escavações. E o trabalho dela era apenas o primeiro passo. Assim que tivesse terminado as pesquisas preliminares, seria necessário delimitar uma área menor para estudos posteriores. Isso envolveria o trabalho de técnicos em geologia, que seriam enviados para e local a fim de estudarem os movimentos sísmicos e realizarem uma investigação minuciosa, incluindo-se estudos aéreos e talvez até mesmo um mapeamento da região com o auxilio de satélites.
Mas neste exato momento, o que importava era a pesquisa de campo. Essa área em particular ficava ao sudoeste do Arizona espremida entre terras do governo e a reserva Apache. A reserva indígena era como uma nação soberana, regida por suas próprias leis, obediente ao próprio governo. Não seria possível garimpar ali sem permissão. O que Eugene tinha esperança de encontrar era uma área entre os dois territórios, e as suas chances de consegui-lo eram grandes. As horas passaram com rapidez. Hermione arrumou todo o equipamento que seria levado ao aeroporto na manhã seguinte, e foi para casa.
Enquanto jantava, apenas um bife e salada, ela pensava no encontro que havia tido com Harry. Os próximos dias seriam difíceis, tinha certeza disso. Estava claro que ele não gostava dela, mas esse sentimento não deveria afetar o relacionamento profissional entre ambos, como vinha acontecendo. Havia outras mulheres na companhia e Harry parecia se relacionar bem com elas.
— Talvez seja o meu perfume. — ela murmurou alto, rindo da idéia maluca.
Não, tinha de ser alguma coisa em sua personalidade, pois ele parecera não gostar dela à primeira vista.
Hermione lembrava-se muito bem daquele dia. Havia sido o seu primeiro dia de trabalho na Companhia de Petróleo Ritter. Com o seu diploma debaixo do braço ela havia conseguido emprego numa das maiores empresas do país e o feito dera-lhe confiança.
Ao chegar ao trabalho, vestida com uma saia branca de linho, blusa azul clara, os cabelos presos num coque elegante e uma maquiagem bem leve, ela havia causado um verdadeiro furor nos colegas do sexo masculino. Mas ao ver Harry pela primeira vez, Hermione também se sentira extasiada, para o seu mais completo assombro.
Eugene Ritter o havia chamado à sua sala para apresentá-lo a Hermione. Ela ainda não sabia nada sobre ele, nem mesmo sobre a sua ascendência apache. E ao vê-lo entrar, Hermione, em geral tão indiferente aos homens, sentira-se derreter por dentro.
Naquela época, Harry parecera ainda mais reservado.
O terno claro de verão que ele trajava servira acentuava o tom moreno da sua pele. Mas tinha sido o rosto dele, forte e másculo, o olhar, verde e profundo, que lhe chamara a atenção acima de tudo. E embora tentasse, não havia conseguido deixar de olhá-lo fixamente. Harry sequer sorrira ao serem apresentados. Na verdade, os olhos dele haviam deixado transparecer uma súbita hostilidade. Hermione nunca conseguira esquecer o desdenho daquele olhar, como se ela fosse uma garota qualquer se pondo à mostra, e não uma cientista, dona de uma mente analítica e competente no seu trabalho. Naquele momento lhe havia ocorrido um pensamento divertido: uma geóloga seria o par perfeito para Harry, um homem de pedra. Posteriormente, ela havia partilhado a pilhéria com Eugene, e ele a contara a Harry, que não achara a mínima graça. A resposta não tinha tardado a chegar: o chefe de segurança comentara com alguns colegas que ela não o atraía nem um pouco mesmo que fosse servida em bandeja de prata.
Hermione suspirou, terminando de jantar. Como era possível ele a odiar tanto, quando ela o achava insuportavelmente atraente? O destino lhe havia pregado uma peça. Durante toda a sua vida os homens que a desejaram haviam sido filhinhos de papai ou tipos dependentes que precisavam ser paparicados. Tudo o que Hermione sempre quisera era encontrar um homem que fosse seguro de si o suficiente para aceitá-la como ela era, com a sua es¬tampa e o seu cérebro. Agora, ao encontrar alguém forte, independente, com uma personalidade marcante, ele não a queria, não se interessando nem pela sua beleza, nem pela sua inteligência.
Ela nunca havia tido coragem de perguntar a Harry por que ele a detestava tanto. Eles haviam estado a sós numa única oportunidade, embora já se conhecessem havia alguns anos. E fora na ocasião em que montaram a cilada para pegar os agentes inimigos que traziam o apartamento de Hermione sob espreita.
Naquela noite Hermione e Harry haviam ido juntos a um restaurante em companhia de Cabe Ritter e Daniela Marist. Hermione escolhera, propositalmente, um vestido vermelho e sexy para "melhorar a opinião de Harry a seu respeito". Mas ela não precisaria ter se dado ao trabalho, pois ele mal a olhara. Ao voltarem ao apartamento, ela havia tido a oportunidade de vê-lo em ação pela primeira vez. A velocidade com a qual atacara os intrusos era algo fascinante. Num instante deixara o primeiro dos ladrões inconsciente, e partira para agarrar o segundo que, na pressa de escapar, jogara Hermione de encontro à parede. Harry havia parado para ver se ela estava bem, ajudando-a a ficar de pé. Os olhos verdes faiscavam ao perguntar-lhe se tinha sido ferida. Só depois de ter certeza de que nada lhe acontecera, foi que saíra ao encalço do segundo homem, e havia ódio em seu olhar. Porém, o agente inimigo já tinha conseguido escapar. O terceiro membro da gangue havia sido pego do lado de fora do prédio pelos homens de Harry. Então, ele a culpara por ter perdido o segundo dos ladrões, a quem presumia ser o líder da operação. Era estranha tanta raiva.
Hermione lavou a louça, tomou banho e vestiu a camisola.
Quanto mais cedo dormisse, mais cedo se veria a caminho de iniciar e terminar essa viagem forçada.
Ela olhou-se no espelho antes de deitar-se. Estava com vinte e sete anos. Sua idade começava a incomodá-la também. Dentro de mais alguns anos a beleza se desgastaria e ela não teria mais nada, além do intelecto, para atrair um marido. E isso parecia uma piada. A maioria dos homens que havia conhecido não hesitaria em trocar uma mulher inteligente por outra que fosse bonita, apesar das atitudes modernas. Harry, provavelmente, apreciaria o tipo de esposa que andasse três passos atrás do marido e se portasse como uma escrava.
Hermione tentou imaginá-lo com uma mulher nos braços e enrubesceu com os pensamentos. Harry tinha o corpo mais perfeito que ela jamais vira e exumava masculinidade. Imaginá-lo sem roupas era algo que a deixava lânguida, entorpecida.
Suspirando com força, apagou a luz e meteu-se sob as cobertas. Tinha de parar de atormentar-se com esse tipo de pensamento. Mas é que ele a atraía como homem algum jamais havia conseguido. Só de vê-lo sentia o sangue latejar nas veias, o coração a ponto de explodir. Ela o olhava e o desejava além do corpo: queria ser capaz de tocar-lhe a alma. Certa vez, ao saber que Harry havia sido ferido em ação, não tivera paz até ter certeza de que ele estava vivo e iria se recuperar. Onde quer que estivesse, Hermione procurava por Harry, consciente ou inconscientemente. Era quase uma mania da qual não conseguia libertar-se. Que coisa estúpida estar apaixonada por um homem que nem se dava conta da sua existência! Apaixonada e sem esperança... Na sua idade e com a sua inteligência, ela deveria ter um pouco mais de bom senso. Mas mesmo assim, seu mundo se resumia a Harry.
Já era muito tarde quando Hermione conseguiu dormir e seu sono foi tão pesado que não ouviu o relógio despertar na manhã seguinte. Foram as batidas na porta, fortes e insistentes, que a acordaram. Ainda tonta de sono, ela se dirigiu à porta, sem lembrar-se de pegar um robe. Felizmente sua camisola de algodão ia até os pés, e a cobria decentemente.
— O avião sai em duas horas e precisamos chegar ao aeroporto dentro de sessenta minutos. Não lhe falei que viria buscá-la às seis?
— Sim. — ela falou suspirando — Você nunca sorri?
— Apenas quando encontro algo para o qual valha a pena sorrir.
"Isso me põe no meu lugar" ela pensou dando-lhe as costas.
— Preciso tomar um café ou me sinto incapaz de funcionar.
— Eu farei o café. Vá se vestir. — Harry falou com aspereza, lutando para não olhar as curvas suaves daquele corpo, apenas sugeridas pela camisola.
— Mas...
— Eu disse para ir se vestir.
Hermione percebeu um brilho diferente naquele olhar, que percorria seu corpo com ousadia. Ele nunca a havia olhado dessa maneira antes, e não foi algo lisonjeador. Foi simplesmente o olhar de um homem que sabe apreciar o corpo de uma mulher. Luxúria, nada mais do que isso.
Hermione vestiu calça jeans, blusa cor-de-rosa e calçou tênis. Es¬tava mais preocupada com o conforto das roupas do que com o estilo. Resolveu deixar os longos cabelos soltos; se Harry não gostasse da sua aparência, que reclamasse.
Ao chegar à pequena cozinha, ele já havia colocado duas xícaras de café fresco sobre a mesa. Também havia um prato com torradas e geléia.
— Não era preciso tanta coisa. — ela falou um pouco hesitante.
— Você precisa se alimentar. — Harry respondeu sem qualquer expressão no rosto — Está magra demais. Coma.
— Obrigada.
Hermione sorvia o café vagarosamente, tentando desviar os olhos de Harry. Mas era difícil. Ele estava elegante e sóbrio, trajando calça cinza, camisa branca e blazer azul-marinho. Porém, havia nele algo profundamente perturbador, capaz de intimidá-la. Hermione não conseguia pensar em nada para falar, e continuou a tomar o café em silêncio.
Harry percebia o quanto ela estava nervosa, entretanto não fazia nada para suavizar a tensão. Ele receava o que a proximidade entre os dois pudesse desencadear. Hermione era sinônimo de complicação, algo que não saberia como lidar.
— Você costuma falar mais no trabalho ou quando está com outras pessoas?
— Há segurança na quantidade. — ela respondeu sem levantar os olhos.
Harry a olhava com tanta intensidade que, por fim, Hermione o encarou. Quando seus olhos se encontraram, ela sentiu-se vulnerável, exposta, o corpo sacudido por uma onda de prazer.
— Segurança para quem? Para você? Do que você tem medo, Hermione? De mim?
Sim, mas ela não deixaria que ele o soubesse.
— Não, claro que não. Apenas quis dizer que é difícil manter uma conversação com você.
— A maioria das pessoas fala muito e não diz nada.
Ela acenou com a cabeça concordando:
— Uma amiga minha sempre dizia que é melhor ficar de boca fechada e parecer estúpida, do que abri-la e remover qualquer dúvida.
Harry não sorriu, mas havia um brilho de divertimento nos seus olhos. Ele levou a xícara aos lábios, olhando-a em silêncio, pensando no quanto aquela mulher parecia encantadora envolta pela luz da manhã. Sua beleza era radiante e perturbadora.
Harry não gostava dos sentimentos que Hermione parecia despertar em sua alma. Nunca, até então, havia amado alguém, e não queria que isso acontecesse. A sua profissão arriscada era, também, um empecilho a vínculos emocionais mais profundos.
— É melhor irmos andando. — ele falou de repente.
— Sim.
Hermione levantou-se e começou a lavar a louça. Harry encostou-se numa das paredes, com os braços cruzados. Nada dizia, mas seus olhos semicerrados não perdiam um só dos movimentos daquele corpo bem feito.
Ele lembrava-se bem do vestido vermelho que Hermione havia usado na noite em que seu apartamento tinha sido invadido e esperava que ela não viesse a usar nada tão revelador enquanto estivessem juntos no deserto. Hermione era o ponto vulnerável da sua vida, mas felizmente ela não tinha consciência do quanto o afetava, e ele não pretendia dizer-lhe.
— Vou apanhar as suas malas. — Harry falou de súbito, como se estivesse ansioso para sair da cozinha.
Ela relaxou ao ficar sozinha. Havia sentido que fora observada o tempo todo e estava nervosa. Por que será que Harry a olhara tanto? Talvez pelo simples prazer de deixá-la ainda mais tensa.
"Ele realmente não me suporta" Hermione pensou "E devo dar graças a Deus por isso. Pelo menos a sua hostilidade me impedirá de fazer papel de boba, tomando alguma atitude estúpida como, por exemplo, me atirar nos seus braços."
Harry já estava com as malas junto à porta, esperando-a. Hermione pegou uma jaqueta antes de sair, pois devia estar frio lá fora. E nenhum dos dois disse sequer mais uma palavra.
Que´Harry complicado, não é? Desculpem a demora, eu não quis mas a preguiça quis. hehehehe Comentem. bjao
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