Nos jardins



Obrigada pelos comentários! XD
Nani, muito obrigada, haha
Não sei se vou escrever mais nada HG por enquanto, mas definitivamente tem L/T vindo por aí. =]

***

Harry manejou atravessar o salão principal com alguma dificuldade. Horas após a queda de Voldemort, a comemoração parecia apenas ter aumentado. A cada momento mais e mais pessoas chegavam, entre elas familiares e amigos de alunos, moradores de Hogsmeade, vários ex-alunos, ou apenas gente que ficara sabendo das notícias por meio da Rede Radiofônica bruxa ou correio-coruja e quis vir comemorar no lugar em que havia acontecido. O castelo agora estava apinhado de gente, que comia, bebia, festejava e dava vivas a cada nova boa notícia anunciada aos gritos, a cada dez minutos ou menos, sobre o mundo bruxo – o Profeta Diário, livre do controle do ministério, estava imprimindo a edição matutina que anunciava o fim da guerra, a tiragem dez vezes maior que o normal; Praticamente todos os Comensais da morte já haviam sido localizados e enviados para Azkaban; Kingsley, como novo ministro, já banira o departamento de controle aos nascidos trouxas, que poderiam agora voltar à vida normal... Até os que haviam sofrido perdas aquela noite, que não eram poucos, comemoravam em meio ao pesar, e doses de cerveja amanteigada e uísque de fogo corriam de mão em mão. Os corpos haviam sido retirados do salão principal e havia sido decidido que deveriam ser enterrados ali mesmo em Hogwarts, ao pôr-do-Sol, junto da tumba de Dumbledore, e um memorial seria construído.
Nenhum dos bruxos e bruxas que comemoravam, no entanto, deixaram de perceber a ausência de seu herói. Onde estaria Harry Potter, que não era visto desde a batalha? Alguns cogitavam que ele poderia ter ido comemorar com a tal família de trouxas que o criara. Outros, que o conheciam o suficiente para saber que isso seria impossível, achavam que ele estaria com Ronald Weasley e Hermione Granger, cujos nomes agora já eram conhecidos, e que também não eram vistos desde o início da comemoração. O que ninguém poderia imaginar era que Harry Potter ainda se encontrava no castelo, acabara de deixar seus dois amigos ainda adormecidos no dormitório da Grifinória e agora cruzara o portão principal, com cuidado para não pisar em ninguém por debaixo da capa de invisibilidade.
Ao se distanciar do castelo, o silêncio e a brisa vieram como uma benção. Ele vagava sem pressa pelos gramados, o cérebro agora descansado e vazio. Caminhou sem rumo, até avistar algo de uma familiaridade tão curiosa que provocou uma sensação engraçada em seu estômago: à beira do lago negro, que agora refletia o tom rosado do céu que precede o pôr-do-sol, exatamente onde, apenas horas atrás, Harry vira a jovem Lily Evans conversando despreocupadamente com as amigas, cabelos tão ruivos quanto os dela esvoaçavam levemente ao vento, e a solidão da garota que encarava a água sem ver parecia implacável.
Harry hesitou. Pretendera passar alguns minutos sozinhos, antes de... Olhou para trás. Não havia ninguém nos jardins, e ninguém que aparatasse à entrada da escola ou viesse de Hogsmeade iria sequer reparar em um casal que conversasse à beira do lago. E Harry não poderia enganar a si mesmo, ele esperava por aquele momento havia meses. Tirou a capa de invisibilidade e guardou-a no bolso das vestes, enquanto andava em direção à garota. Ela ouviu-o se aproximar e virou-se para ver quem era. O rosto de Ginny Weasley não mostrava o menor sinal de lágrimas, mas seus olhos ainda estavam bastante vermelhos quando ela identificou o recém-chegado.
_Ah, olá - disse ela, enquanto Harry se sentava na grama, ao seu lado. – Onde você estava? Estavam todos perguntando por você.
_Descansando um pouco. Passei a noite em claro e, bem... Foi uma noite longa.
_É... É, foi longa mesmo – respondeu a garota, voltando a encarar a superfície do lago.
Harry não queria que seus pensamentos se voltassem novamente para Fred, então perguntou:
_E você, porque não está na festa? Com a sua família e os outros?
_Achei que um tempo sozinha viria a calhar – disse ela, encolhendo os ombros. – Suponho que é pela mesma razão que veio?
Harry acenou afirmativamente, observando as pequenas ondulações que o vento fazia na água.
_É, pelo menos por hora, sim.
_Então fico feliz que tenha mudado de idéia – disse Ginny. Harry ergueu a cabeça e viu que ela o olhava com um pequeno sorriso. A brisa soprou contra o rosto de Harry e ele sentiu o perfume floral que ele se lembrava tão bem, e teve vontade de segurar a mão de Ginny.
_Para onde você vai, depois daqui? – ela perguntou. Harry inspirou. Havia planejado aquilo desde que acordara, e isso o fez sentir mais cansado do que em qualquer momento da noite anterior, como se tivesse setenta anos ao invés de dezessete.
_Tenho que ir à casa da mãe de Tonks. Não quero que ela saiba o que aconteceu por coruja, ou... Ela está sozinha com o Ted, também preciso vê-lo.
Ginny o encarou com uma expressão quase curiosa, antes de responder:
_Eu vou com você. – e acrescentou, em resposta ao olhar confuso de Harry – Conheço Andrômeda desde pequena, ela é próxima da família. Mamãe seria melhor, as duas são bem amigas, mas levá-la só pioraria as coisas, ela ainda está muito abalada.
Nesse momento, os olhos de Ginny pareceram um pouco mais brilhantes, mas ela espantou as lágrimas sacudindo os cabelos, impacientemente.
_Tem certeza de que não quer ficar? Com a sua mãe...
_Não agora. Eles vão ficar bem, estão todos juntos. E de qualquer jeito, nós estaremos de volta para o funeral, Andrômeda vai querer vir conosco. E você seria um desastre – não tem um jeito agradável de se contar isso, mas um rosto conhecido não faria mal. Foi Bellatrix que assassinou Tonks, e ela era irmã de Andrômeda.
Harry ainda não sabia disso, e se sentiu ainda pior sobre as notícias que teria que dar. Também não poderia fingir que a idéia de Ginny vir com ele, e saber o que dizer à Andrômeda, era muito reconfortante.
_Mas e você? – ele perguntou, olhando para ela. Seus olhos ainda estavam vermelhos. – Se seus irmãos e seus pais vão ficar bem porque estão juntos, então você não quer...
Não completou a frase, mas Ginny entendeu. Ela olhou novamente para a superfície do lago, e pareceu pensar por alguns segundos. Com ar de quem chega a uma antiga e simples conclusão, encarou-o novamente nos olhos.
_Eu quero ir com você. Queria antes, e quero agora. Eu teria ido antes se não fosse menor, o ministério poderia rastrear vocês em um segundo. Não me importo com o que você disse, estávamos todos em risco.
_Ah, eu sei – disse Harry, sorrindo. Parecia que os músculos do seu rosto haviam se desacostumado a isso. – Você não se manteve exatamente segura esse meio tempo, pelo que ouvi. Me preocupou, achei que os Carrows iam te esfolar viva.
_Estávamos todos na mesma – disse ela, sorrindo também. – Estávamos todos agindo como podíamos. Só esperava ter sido mais útil.
_Mas você foi! – admirou-se Harry, lembrando-se que se a espada falsa não tivesse sido enviada para Gringotes por “medidas de segurança”, eles nunca teriam percebido a angústia de Bellatrix ao pensar que eles poderiam ter pego outra coisa do cofre, e talvez nunca tivessem encontrado o cálice. – Sério, muito mais do que você pensa. É uma longa história. Tenho muita coisa para te contar, e quero saber o que aconteceu por aqui o tempo que estive fora. Mas vamos ter bastante tempo para...
Parou de falar. Sabia que havia ocorrido a Ginny a mesma coisa que a ele, quando olhou-o misteriosamente e depois mirou uma parte mais distante dos jardins, onde meses antes eles se sentaram em cadeiras postas em fileiras e falaram sobre isso.
Tempo...
_Sabe, você me deu um susto horrível essa noite – disse ela, ainda sem olhar para ele, seus olhos definitivamente mais brilhantes que o normal agora. – Eu realmente pensei que você tinha morrido. Eu tive medo disso todos esses meses, e eu só conseguia pensar que você ia acabar voltando, porque... Porque aqueles dias, meses, talvez anos de que você falou... Bem, quase soaram como uma promessa.
Ela tinha um ar de quem confessava um pensamento tolo, uma esperançazinha, mas Harry entendeu perfeitamente, e segurou a mão dela, apoiada no gramado...
_Só se você quiser que eles sejam.
E quando Ginny encarou-o novamente, havia uma ansiedade tão óbvia no rosto de Harry que fez ela sorrir.
_É claro que eu quero.
Harry não esperaria mais. Passou os dedos da mão livre pelos cabelos dela, segurando-a mais perto, ela se aproximou, e seus lábios tocaram. Eles se beijaram como nunca haviam se beijado, e quando o gosto salgado da única lágrima de Ginny invadiu o beijo, ela sorriu, sem se importar, e Harry também não. Nada poderia ser mais doce.

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Comentários (1)

  • Nikki W. Malfoy

    ah foi maravilhosa!eu amei!Se vc fizer uma continuação, será uma das melhores...  

    2012-04-16
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