Capítulo Único



                                             Promiscuous
             “Hello little boys, little toys, we’re the dreams you’re believing!”


Ela sempre fora assim.

- Você ‘ta me dando o fora? – ele perguntou incrédulo. A boca e o queixo dele chegavam a tremer, pateticamente.

- Dito por palavras bruscas, é. – ela disse revirando os olhos.

E não mudaria por ninguém.

Ela estava apoiada pelo ombro na parede de pedra externa do castelo do colégio, e ele, de pé, na sua frente, próximo e indignado. Ela só não soltava uma risada ali mesmo por piedade ao menino, que alias, ela nem lembrava o nome. Algumas pessoas passavam ali e olhavam para os dois com expressões que chegavam a ser constrangidas, porque eles sabiam o que estava acontecendo. Eles sempre sabiam o que aquela ruiva fogosa fazia com os seus parceiros.

Mas a realidade era que nenhum era parceiro dela. Pode-se dizer que compromisso não é uma palavra encontrada no vocabulário de Lily Evans.

Ah, Lily Evans. Ela, sim, pode ser considerada literalmente a garota dos sonhos dos garotos. Pelo menos dos garotos de Hogwarts. Ela não apenas possuía a sua beleza ardente como arma, mas também sua frieza. Afinal, nunca nenhum garoto havia domado a fera Grifinória. E, como todos nós bem sabemos, o que um garoto não pode ter, é seu maior desejo, e a depender do garoto, ele faria qualquer coisa para tê-lo. Consequentemente, todos desejavam Evans.

Bom, ela não pediu que todo o par de calças do colégio gostasse dela.

Claro que ela gostava de certas coisas, não há como não gostar de ser o centro das atenções masculinas e também femininas. Mas e quando se quer privacidade? Você acaba sendo prejudicada. E era exatamente isso o que estava acontecendo agora com ela, como já acontecera tantas outras vezes.

Os meninos que não a podiam ter adoravam ver os foras que ela dava-nos que tiveram. Então, logo ali no lago, estava um grupo de meninos, e ali no corredor ao lado, outro, e mais outros vários espalhados pela propriedade, atentos a “conversa” da Evans com sua vítima do momento.

- Olha, cara. – ela disse revirando os olhos para os meninos que passavam pelo corredor, que secavam suas pernas. – É isso. Acabou, ‘ta legal?

Os meninos que passavam soltaram risadas baixas, e Lily revirou mais uma vez os olhos.

- Mas... Lily, o que houve? Eu fiz alguma coisa? – ele disse, chegando mais perto dela. Ela se afastou nada delicadamente e gritou:

- Fez, fez sim, que saco! Pára de tentar ser legal comigo! Pára de querer ter alguma coisa comigo!

E, não entendo nada do que acabara de sair de sua boca, ela olhou confusa para os olhos castanhos do menino, e começou a andar em direção ao lago, se sentindo estranha.

O que diabos fora aquilo? “Pára de tentar querer alguma coisa comigo”? Pelo amor de Deus, se esse fosse o problema, ela nem teria aceitado o convite do garoto, que alias, ainda estava parado no lugar de antes, olhando pra ela.

Por que ela era tão complicada? Por que ela simplesmente não podia gostar de qualquer um desses caras? Esse que ela acabara de abandonar era uma gracinha! E havia outros caras bonitos loucos pra ter um compromisso com ela, e lá estava Lily Evans, a intocável, negando tudo e todos que lhe representassem um pouquinho de amor. Nem amor, apenas carinho. E todo mundo precisa de carinho. Não é?

Não é?

Jogou-se na grama, arrancou sua gravata, seus sapatos, suas meias e jogou tudo do seu lado, ignorando sua platéia. Deitou na grama fria e pos os pés na água do lago, olhando para o nublado céu sobre sua cabeça, o sol se pondo, a lua aparecendo. Fechou os olhos, tentando encontrar um ponto de paz na sua cabeça, mas não conseguia. Ninguém sabia, mas ela sempre se sentia assim, mal, quando terminava com um garoto.

Mas nunca explodira com nenhum deles como acabou de fazer.

Ainda tentava achar algum sentido no que falara para o menino bonitinho. Será que ela estava atrás de algum desafio? Queria conquistar algum menino que não quisesse ela? Porque se fosse isso, meu bem, era só sentar em cima do colo de Sirius Black. Aquele Deus na Terra não ama ninguém menos do que ele próprio e seus amigos que ela também não conseguia lembrar os nomes. E era, de longe, o menino mais bonito que Lily já vira na vida.

Mas não, lá estava ele, beijando Marlene McKinnon do outro lado do lago.

Não que ela ligasse se o seu garoto do momento tivesse uma namorada ou não. Era só que Marlene era o que Lily podia chamar de mais próximo de amiga. Ela era um pouco parecida com Lily, exceto por ser estupidamente extrovertida e simpática.

Algo que Lily nem ao menos quer ser.

Mas voltando ao assunto, será que era isso? Será que ela queria um desafio? Alguém que ela conquistasse, e não alguém que só quisesse sair com ela porque ela era Lily Evans? Alguém que gostasse dela pelo que ela é, e não pelo que as pessoas dizem que deve ser?

Que estranho.

Abriu os olhos, e levou um susto enorme.

Quem estava ali, de pé, olhando-a com o cenho franzido, os braços cruzados?

O “gracinha” que ela acabara de chutar.

- O que? – ela perguntou se sentando, coçando os cabelos lisos que estavam despenteados. Ele fez um “hm” irritado com a garganta e se sentou do lado dela, parecendo um pouco irritado.

- Eu só quero deixar uma coisa clara, Evans.

‘Ta bem, muito irritado.

- O que? – ela repetiu rouca, piscando varias vezes graças ao sol em seus olhos. Ele olhou firmemente para os olhos dela por uns segundos, e Lily pela primeira vez reparou em quão bonito era o rosto daquele garoto. Era quadrado, cheio de ângulos, sobrancelhas grossas e escuras, lábios finos, mas carnudos, vermelhos, as maçãs saltadas, a pele bem alva. E seus olhos não eram simplesmente castanhos. Eles tinham uns salpicados de verde por toda a íris, e uns tons de amarelo também.

Como ela nunca reparara no rosto desse garoto?

- Eu realmente pensei que você fosse diferente. – ele começou, e nem piscava. – Realmente pensei que você sabe, essa sua fama de biscate era tudo fachada. Que era papo que caras chutados por você inventaram e que, se eu fosse um pouquinho aberto com você, você seria aberto comigo. Por que adivinha só? Eu nunca tinha me aberto com nenhuma menina antes, e só agora eu percebo que nunca nem devia ter feito. Caralho, eu fui tão... Idiota! Porque hoje eu percebi que não é fachada não, você é tudo aquilo que os caras me falaram. Uma mulher fria e sozinha, que vai terminar a vida sozinha, porque um dia, Evans, os homens vão cansar desses seus joguinhos. Apesar de você ser provavelmente a coisa mais sexy que todos nós já vimos, eles vão cansar. E é aí que você vai lembrar de mim, e vai pensar “porra, aquele meu chutado numero, sei lá, quatrocentos e setenta e nove, tinha razão! Eles CANSAM!”, e aí, Evans... Aí você vai virar a participante dos jogos dos homens, e vai sofrer pra caralho. Entendeu? SOFRER PRA CARALHO.

- Oh.

FAMA DE BISCATE??????????

Ele piscou, com raiva, e se levantou, e Lily mais uma vez percebeu o quanto era burra, olhando para o corpo daquele rapaz.

O corpo daquele rapaz.

- A gente se vê por aí, Evans. Se eu estiver entediado e quiser mais uma noite de sexo selvagem, eu te procuro. – ele terminou ironicamente e começou a andar lentamente, com as mãos no bolso.

- Hey! – ela gritou, e ele se virou para ela.

E Lily viu que como ele disse, ela iria se lembrar dele sim daqui a muitos anos, mas ela iria se lembrar dessa cena. Ele virado para ela, o sol bem atrás das costas dele, os olhos praticamente verdes, a pele alva brilhando ao crepúsculo, as sobrancelhas arqueadas tediosamente.

- Como... Como você se chama mesmo? – ela perguntou, e ele riu sarcasticamente, como quem diz “ah você tem que ‘ta brincando...”. Ela riu junto. – É, eu sei, foi mal... Eu realmente sou péssima pra... Pra guardar nomes.

- Eu aposto que sim. – ele disse, sorrindo falsamente. – É James Potter, Evans. James Potter.

- Oh. Claro.

Ela assistiu-o olhar intensamente para ela, e depois virar-se e caminhar rapidamente até Sirius e Marlene, deitados na grama, e ele também se deitou ao lado do amigo. Ela virou-se para o lago, ignorando Marlene, que se sentara rapidamente na grama e olhava fixamente para ela, e pensou no que diabos ela estava fazendo e esperando da vida.

Levantou-se, e praticamente correu até o menino.

E ele provavelmente levou o maior susto de sua vida ao, ali deitado na grama do lago de Hogwarts, abrir os olhos e ver aquela ruiva de pé, olhando-o com cenhos franzidos e braços cruzados.

Ele sorriu.

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