Os problemas começam
N/A: Sejam felizes e não me matem! XDDD Espero que gostem deste capítulo! ^^
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Capítulo 7 - Os problemas começam
A noite fria começava a se dissipar, mas o vento enregelante não tinha a mínima vontade de acompanhá-la. As nuvens tapavam qualquer brecha por entre a qual o sol pudesse aparecer. A neve deixava a paisagem ainda mais bonita e calma. Mas por incrível que pareça, dois garotos estavam acordados àquela hora da manhã, enfrentando o frio, o cansaço e o sono que teimavam em não os abandonar. Ambos haviam tido um longo e exaustivo dia que não os deixara descansar pela madrugada adentro. Agora, as conseqüências eram visíveis.
O ruivo andava molemente; parecia um sonâmbulo, com os olhos meio abertos, meio fechados. O dos olhos verdes caminhava mais firmemente, contudo a cada cinco passos ele bocejava, e uma leve tontura o fazia pensar que ainda estava dormindo. Os dois amigos atravessavam lentamente os corredores de Hogwarts, às vezes esbarrando um no outro, até chegar ao seu destino.
– Harry - resmungou o ruivo, enquanto o amigo abria caminho para o corujal. - Por que você quis acordar a essa hora? Nem amanheceu ainda...
– Porque, Rony - respondeu o Eleito, retirando pergaminhos e penas da mochila que carregava e bocejando longamente. - Quanto mais cedo mandarmos as cartas, mais cedo eles as receberão e mais cedo poderemos nos reunir. Satisfeito?
– Não. Agora eu poderia estar dormindo no sétimo sono, sonhando com coisas mais fáceis e mais agradáveis de fazer do que bolar um plano contra os comensais.
– Pare de reclamar, Rony, e comece a escrever.
Harry empurrou os materiais ao amigo, e os dois puseram-se a trabalhar. Precisavam escrever muitas cópias das mesmas cartas, com algumas poucas diferenças, e enviá-las o mais rápido possível para os membros da Armada de Dumbledore. Eram muitos os colegas, e os dois bruxos acreditavam que uma boa quantidade deles não compareceria. Mas tinham certeza de que outra boa quantidade não os deixaria na mão.
– Você vai escrever para a Chang? - questionou o ruivo, de repente.
– Não sei... Será que a Mione poderia mandar a carta?
– Duvido muito, cara. A Mione ‘tá muito ocupada pensando em certo professor...
– Rony!
– Ok, parei.
Passaram-se vários minutos, nos quais só podia-se ouvir o arranhar das penas nos pergaminhos.
– Já escrevi para o Neville... para a Spinnet... para o Dino... Simas... Fred e Jorge...
– Fred e Jorge? - espantou-se Rony.
– Sim. Você não acha que eles gostariam de entrar em ação e, quem sabe, usar alguns dos “truques” deles?
– É... acho que sim. Bom, eu escrevi para a Lilá... Lino... Susana Bones... Goldstein...
– Luna.
– O quê?
– Você vai escrever para a Luna Lovegood.
– Por que eu? - irritou-se o ruivo. - Você é o amigo dela.
– Por isso mesmo. Será uma grande falta de consideração da sua parte se não escrever a ela.
– Não, não mesmo! Aquela garota é louca, Harry!...
– E útil. Vamos, Rony. Se quiser, coloque nossos três nomes no final.
Emburrado e resmungando xingamentos, Rony Weasley pegou a carta padrão e pôs-se a transcrevê-la, mudando algumas poucas partes.
Cara Luna:
Temos informações de que a Guerra logo terminará, mas precisamos de toda a ajuda possível para que isso se torne realidade. Lembramo-nos da Armada de Dumbledore e pensamos que ela poderia reunir-se novamente e combater uma última vez os comensais. As aulas começarão em exatos três dias, e gostaríamos que você, membro da AD, viesse para Hogwarts em, no máximo, dois dias. Assim, poderemos conversar e tirar qualquer dúvida sua.
Assinado,
seus amigos,
Harry, Rony e Hermione.
Havia uma pilha razoavelmente alta de pergaminhos prontos para serem enviados. Rony jogou o último que escrevera para junto dos outros e observou o dia que já amanhecera há um bom tempo. Virou-se para o amigo e perguntou, intrigado:
– E a Gina, cara? Você vai convocar a minha irmã?
– Ahn... não sei. Se eu não o fizer, ela vai ficar brava comigo. Mas eu não quero que ela se machuque lutando numa guerra que é minha.
– Nossa - retrucou Hermione que acabara de entrar no corujal. - Harry, nós já lhe explicamos que somos seus amigos e que vamos continuar com você até o fim. Essa guerra é nossa. Você conhece a Gina. Ela é teimosa e destemida. E ela ama você, Harry. Vamos, deixe-a colaborar. Ela não vai desistir até você a deixar ajudar.
– Hermione, você está louca! - exclamou Rony, sublinhando a última palavra. - A Gina é minha irmã. E eu devo protegê-la! Ela pode muito bem amar o Harry, mas ela fica fora dessa história de guerra. Não vou permitir que a convoquem!
– Ronald! - retrucou Hermione, no mesmo tom de voz. - Você é um insensível! Nem conhece direito a própria irmã para saber que ela nunca vai desistir. Eu mesma vou chamar a Gina. Ela vai estar aqui amanhã bem cedo, prometo-lhe.
– Só se for por cima do meu cadáver! - respondeu Rony, parando na frente da garota.
– Perfeito - disse ela e puxou a varinha do bolso.
Um traço de espanto perpassou o rosto do ruivo antes de ele dizer:
– Granger, você está convivendo demais com o Snape. Um inexperiente poderia jurar que você está me ameaçando.
– Que pena que você, Weasley, não seja um inexperiente - Hermione não hesitou em dizer. Sublinhou “inexperiente” com desprezo - porque só assim perceberia que essa sua coragem não dará em nada.
Os dois começaram a andar em círculos, sempre encarando-se, prontos para lançar qualquer feitiço. Harry apenas os observava com algo indefinido no olhar.
– Você deveria saber, Granger, que minha Casa é a Grifinória. Enquanto a sua... - olhou a amiga de cima a baixo - um inexperiente poderia cogitar a Sonserina.
– Pelo menos lá, Weasley, algumas pessoas sabem a hora de falar, de ajudar e de parar de achar que tem razão.
Aquela foi a gota d’água. Rony aproximou-se o máximo da garota e a olhou de cima. Estava enfurecido, ela pôde perceber. Mas Hermione não deixaria que aquele insensível, poucos centímetros mais alto que ela, atrapalhasse a vida da própria irmã. Hermione faria justiça. Gina era sua amiga, e como amigas uma sabia exatamente o que a outra queria.
Porém, havia não só fúria nos olhos do ruivo. Era algo difícil de definir. Seria... tristeza? Decepção? Chateação? Ódio? Alegria? Não. Não. Não. Não. E não. Indefinível. “Que estranho”, pensou Hermione. Sim, ela estava com raiva de Rony. Muita raiva. Queria dar uns murros naquele garoto que sempre a irritava e entristecia. “Mas ele é seu amigo”, disse uma voz na mente de Hermione.
Foi como se uma balde de água fria caísse sobre a garota. E ela viu. Rony sentia raiva. Sentia tristeza. Sentia muitas coisas ao mesmo tempo. Mas o que dominava suas ações, algo pior que ódio, era o ciúme. Os olhos do ruivo estavam vidrados. Hermione e Harry entenderam na mesma hora o que aconteceria: Rony agarraria a amiga. Nenhum dos dois sabia como aconteceria, mas tinham certeza de que aconteceria. Hermione lançou um olhar rápido ao Harry, e ele correspondeu com a mesma velocidade.
O menino que sobreviveu postou-se entre os dois, de frente para o amigo, no momento exato em que Rony ia lançar-se sobre a garota.
– Rony! Rony, pare! - exclamava Harry, segurando o ruivo enfurecido.
– Me solte, Harry! Me solte!
– Não! Só solto você se prometer não machucar a Mione!
– Não vou machucar a Mione - disse Rony, com um sorriso malicioso.
– Ele não está bem, Harry. Vou falar com a Madame Pomfrey.
– Engano seu, Granger! Estou ótimo!
– Pare, Rony! Pare de se debater! Ou serei obrigado a lançar um Sectumsempra em você!
– Harry! - repreendeu Hermione.
Imediatamente, o ruivo acalmou-se. Parou de tentar soltar-se de Harry. Os três observavam-se. Rony ofegava. Harry também. Hermione estava assustada. Nunca vira o amigo naquele estado. Ciúme, não era isso? Tudo muito estranho. Harry continuava perto do ruivo para o caso de ele entrar novamente em crise. Rony, em compensação, não despregava o olhar da garota dos cabelos castanhos. Quase a tivera em seus braços.
De repente, uma coruja invadiu o recinto. Era Guísela. Ela voou em direção a Hermione e pousou em seu ombro. Largou um pergaminho nas mãos da garota e alçou vôo novamente. O pergaminho dizia:
Srta. Granger,
Estou a esperando na minha sala para tratarmos de um assunto referente à nossa fonte de informações. Por favor, venha imediatamente e sozinha.
Obrigada.
Prof. McGonagall.
PS: a senha é “pudim de gnomos-momos”.
Hermione guardou o bilhete no bolso e anunciou:
– Tenho de ir. A professora McGonagall quer falar comigo.
– Certo - respondeu Harry.
Os dois olharam para Rony. Ele não estava nada bem. Parecia hipnotizado.
– Harry, você o leva à enfermaria?
– Claro. Pode deixar.
– Bom... então, tchau.
Virou-se lentamente, receosa. Saiu do corujal e andou um pouco. Quando teve certeza de estar longe o suficiente para não ser ouvida pelos amigos, correu desabaladamente, chorando. Ela não entendia mais nada. Estava triste e confusa, e parecia que ninguém poderia ajudá-la naquele momento. Apenas parecia.
~*~
Hermione correu por mais alguns corredores e escancarou a porta de uma sala de aula. Fechou-a atrás de si e escorou-se na parede. “Por que tudo isso?” questionou-se “O Rony nunca foi assim... ciumento... por que agora?”. As lágrimas voltaram a rolar, e ela ouviu um pigarro. Levantou a cabeça, assustada. Na hora, não viu ninguém.
– Posso me intrometer?
Era Nick-Quase-Sem-Cabeça.
– Oh, desculpe... - disse Hermione, enxugando as lágrimas. - Desculpe, eu não sabia que o senhor estava aqui.
– Tudo bem, srta. Granger - respondeu o fantasma, aproximando-se lentamente. - Mas posso perguntar o que a deixa tão triste a ponto de chorar?
– Você vai se chatear... é uma besteira.
– Não parece.
A garota observou o fantasma, curiosa. Não estava muito à vontade para falar de assuntos tão pessoais com alguém tão transparente (N/A: desculpe a ironia. XD). E ela mal o conhecia. Quer dizer, o via desde seu primeiro ano em Hogwarts, mas nunca chegara a se tornar íntima do fantasma.
– Então? Talvez eu possa ajudar.
Que impasse! Mas o que a garota perderia se contasse que Rony, num estranho acesso de ciúmes, quase a agarrara? Muita coisa? Ela sentia-se envergonhada de contar aquilo para um desconhecido. Porém, talvez, ele pudesse mesmo ajudar. E se não pudesse? Hermione apenas pagaria um belo mico...
– Não sei...
– Deixe-me ver... é algo que diz respeito aos seus amigos?
Hermione espantou-se.
– Pelo visto, acertei - murmurou Nick-Quase-Sem-Cabeça. - Bem, Hermione Granger, posso lhe dar um pequeno conselho que talvez ajude. Se tratando se seus amigos, acredito que você deva dar um tempo para eles e para você mesma. Esqueça um pouco o assunto e mantenha a calma. Depois, tente conversar com eles e fazer as pazes. Isso funcionou comigo muitas vezes.
E deu uma piscadela. Hermione retribuiu com um sorriso constrangido. O fantasma apoiou sua mão no ombro da garota procurando passar confiança. Só que não adiantou muito. Do mesmo modo, o pequeno conselho do fantasma foi útil. Hermione já se sentia menos confusa. Sorriu novamente, abriu a porta da sala e pôs-se a caminho da sala da diretora.
~*~
Se você já viu alguém hipnotizado, ou leu sobre os sintomas da hipnose, pode imaginar como Rony estava se comportando naquela manhã. Harry despachara todas as cartas para os membros da Armada de Dumbledore e, agora, encaminhava o amigo ruivo para a enfermaria. O Eleito pensara que seria difícil convencer Rony a colaborar; pensara que ele iria se debater e tentar fugir, ou qualquer coisa do gênero. Muito pelo contrário. O ruivo estava extremamente calmo e sério, com o olhar vago, fixo no infinito. Harry mandara o amigo ir até a enfermaria consigo e, agora, em vez de guiar Rony, estava sendo guiado.
“Qual o problema dele?” questionou-se o menino que sobreviveu enquanto via o amigo entrar calmamente e como se fosse por vontade própria na enfermaria. Quando o alcançou, Madame Pomfrey lançou um olhar confuso para os dois.
– O que tem ele, sr. Potter? - quis saber a bruxa.
– Bom, na verdade, eu não sei direito, Madame Pomfrey. Ele teve uma crise há pouco e quase agarrou a Mione. Está assim desde então.
– Crise, é? Os dois brigaram?
– Sim, ele e a Mione. Briga feia. Xingaram-se bastante.
– Humm... - fez a bruxa, examinando o olhar do ruivo. - A srta. Granger lançou algum feitiço?
– Não, mas ameaçou.
– Humm... Qual foi a última coisa que a srta. Granger falou antes do sr. Weasley quase agarrá-la?
– Ahn... - fez Harry, confuso e envergonhado. - Acho que algo sobre, na Sonserina, as pessoas saberem a hora de parar de achar que têm razão.
– Hum... isso não fecha - murmurou a bruxa depois de alguns minutos e pôs-se novamente ereta. - O sr. Weasley precisará passar uma ou duas noites aqui na enfermaria. Você e a srta. Granger poderão visitá-lo amanhã.
Dito isso, Madame Pomfrey praticamente expulsou Harry da enfermaria, dizendo que tinha muito que fazer. O menino que sobreviveu, estupefato e confuso, ficou a observar a porta que fora fechada na sua cara. Até que se lembrou da amiga. Decidiu fazer uma breve caminhada pela escola e, supostamente sem querer, passar pelas gárgulas.
~*~
– Pudim de gnomos-momos!
Automaticamente a escada apareceu, e Hermione Granger pôde subir à sala da diretora da Hogwarts. Mal sabia a garota que, a poucos passos dali, escondido, um garoto de olhos verdes ouvira a senha.
– Hermione! - saudou entusiasmadamente Minerva McGonagall, apontando para uma poltrona. - Ah, que bom que você veio logo... mas o que houve? Parece que você esteve chorando!
– Oh, não é nada - blefou a garota, sentando-se. - Eu... passei boa parte da noite lendo e... o sono me fez esfregar muito os olhos... não é nada.
– Tsktsktsk... - Minerva balançou pesarosamente a cabeça. - Minha querida, você lê demais. Por sorte, tenho um pedido para você. Desta vez, você vai ficar longe dos livros.
– E qual é?
– Você sabe que ontem à noite, Severo se reuniu com os comensais, não é? Não? Oh, agora já sabe. Pois bem, ele não veio contar-me nenhuma novidade, nenhuma notícia, seja ela boa ou ruim. Estou preocupada. E agora que seus amigos da Armada virão logo, precisamos saber o que diabos aconteceu naquela reunião.
“Hermione, querida, é estranho para mim lhe pedir isto, mas eu no momento não posso fazer nada. Estou ocupada com outros assuntos de extrema importância e preciso de uma ajudante. Você poderia fazer um favor para mim?”
– C-claro - gaguejou a garota dos cabelos castanhos.
– Que bom! Porque quero que você vá até as masmorras ver como está o Severo.
Um barulho perto da porta chamou a atenção da aluna e professora. Como não vissem nada fora do normal, retomaram a conversa.
– E-eu? Por que eu, professora? Ir lá sozinha? E se aconteceu algo de grave e eu não puder fazer absolutamente nada?
– Ora, Hermione, não é necessário que se preocupe tanto. Só quero que você desça às masmorras, bata na porta. Se o Severo atender, pergunte como ele está; se quiser, pode dizer que eu a mandei lá. Se ele não responder, entre e o procure; se não o encontrar, suba imediatamente me avisar. Não é simples?
– C-claro. Muito simples - disse Hermione, com um sorriso amarelo. - E se eu o encontrar... você sabe... ferido. O que faço?
– Se você não souber curar os machucados, suba e me avise.
Alguns minutos de silêncio se passaram, nos quais podia-se apenas ouvir as respirações das duas. Por que Hermione hesitava tanto em ver Snape? Ela não queria ajudá-lo? Não queria saber como estava? Se o plano dera certo? O que ela temia? Que Rony a visse e tivesse outra crise? Engoliu em seco ao pensar nisso.
– E então, Hermione? Você faria esse favor para mim?
– Professora... eu tenho de ir sozinha?
– Não necessariamente, mas o Severo confia mais em você do que nos seus amigos.
Aquilo era verdade. E agora? E se o Rony... “Deuses, garota, pare de pensar nele!” repreendeu-se “Você é livre! Se quiser rever Snape, você pode. Na verdade, deve revê-lo! Vá!”. Já decidira.
– Muito bem, professora. Eu vou.
Outro barulho pelos lados da porta. Desta vez, mais forte e abafado.
– Perfeito! - festejou McGonagall, ignorando o ruído. - Oh, Hermione, muito obrigada! Você pode descer agora mesmo se puder e quiser. Eu ficarei muito mais tranqüila! E não hesite em subir e me chamar, aconteça o que acontecer. Você mal pode imaginar o quanto isso me deixa mais calma! Obrigada.
– Não há de quê, professora.
Mais rapidamente do que entrara, Hermione viu-se fora da sala da diretora. Por Merlin, o que ela teria de fazer agora? Sem sombra de dúvida, aquele seria um longo dia. Mal chegara a hora do almoço, a garota quase fora atacada pelo amigo ruivo, recebeu conselhos de um fantasma e teria de saber “como estava” o Mestre de Poções. Esfregou a testa; tudo aquilo, além de irritá-la e confundi-la, estava começando a dar dores de cabeça. Não poderia fazer nada por enquanto. Iria almoçar e conversar com Harry. Talvez ele soubesse o que fazer.
~*~
Hermione parou no batente da porta do Salão Principal. Estava vazio e silencioso. Um arrepio percorreu sua espinha. A escola sem os gritos e as risadas dos alunos ficava depressivamente calma no inverno. Mas logo aquela monotonia teria fim.
Os olhos da garota encontraram Harry sentado, sozinho. Ela encaminhou-se até ele. O Eleito apoiava sua cabeça na mão direita, e na esquerda o garfo remexia vagarosamente a comida. Não parecia muito satisfeito. Parecia entediado.
– Sem fome? - questionou Hermione, sentando-se ao lado do amigo.
– É...
Silêncio. O que poderia ser dito depois daquela manhã espantosa?
– Ahn... - fez Hermione, tentando iniciar um diálogo amistoso. - E... como está o Ronald?
Harry arqueou as sobrancelhas. Estranhou o fato de sua amiga não ter usado o apelido do ruivo. Mesmo assim, continuou, um pouco indiferente:
– Não sei direito.
– Como não sabe direito?
– Você sabe, ele estava estranho - largou o garfo sobre a mesa. - Eu disse a ele para ir à enfermaria; ele foi. Só que eu tive de correr atrás dele; não tive problema algum em encaminhá-lo à Madame Pomfrey. Era como se ele estivesse indo por vontade própria. E quando o alcancei, já dentro da enfermaria, Madame Pomfrey me fez umas poucas perguntas estúpidas, resmungou umas coisas sem pé nem cabeça e me expulsou de lá dizendo que poderíamos visitar o Rony amanhã. Pobre Rony... ele não era ele, Mione. Parecia... hipnotizado.
– Hipnotizado?
– Sim, ou controlado pela Maldição Imperius.
Hermione arregalou os olhos.
– Harry, você quer dizer que...
–... que Voldemort pode estar dominando o Rony? Não, né, Mione? - a voz do garoto ficou amarga pela ironia. - O mais que confiável professor Snape nos assegurou que ele está morto, certo?
– O quê?! Você mesmo ajudou a matá-lo, Harry! E além do mais, também prometeu confiar no professor Snape...
– Hermione - cortou bruscamente o menino que sobreviveu -, sinceramente, duvido muito que um comensal, algum dia, possa deixar de ser um. O Snape sempre teve de ser um ótimo ator e pode muito bem estar ainda representando. Ele é mais perigoso que um basilisco raivoso. Mesmo que você simpatize com ele, mesmo que a gente o perdoe, ele sempre terá o espírito vingativo. Imagine só, Mione, se houver um plano como aquele que nos arrebatou o Sirius...!
O garoto parou com o discurso, engasgado, embargado por lembrar do tão querido padrinho. Leves lágrimas se formavam em seus olhos, mas ele as enxugou rapidamente. Hermione aproveitou a deixa:
– Mas todos erram, Harry. Por que você não dá outra chance ao profess...
– Sim, todos erram - continuou o Eleito, interrompendo a amiga e recompondo-se. - Até mesmo Alvo Dumbledore. Quem pode nos garantir que ele não se enganou a respeito de Snape, do mesmo modo que se enganou sobre o professor Quirrel e sobre aquela maldita Horcrux?!
Hermione ia retrucar, mas parou. Ela não sabia o que dizer. Não encontrava palavras à altura das do amigo. Sim, ele estava amargurado. E tinha direito de dizer o que pensava. Contudo, a garota não admitia que falassem mal do Mestre de Poções. E isso era algo estranho. Ela revirou cada canto de sua mente a procura do que dizer, entretanto não achou nada. E se por acaso achasse, não teria coragem suficiente para dizer.
De repente, Harry perguntou, retomando o garfo:
– E como foi sua reunião com a McGonagall? Espero que não tenha nada a ver com o Snape.
Hermione gelou. Era impressão dela, ou havia mais coisas naquele questionamento? Será que, escondido nas entrelinhas, o Eleito dizia que sabia do pedido da diretora? “Não, não. Só pode ser coincidência” pensou a garota “Tem que ser coincidência”. Mas o que diabos ela deveria falar? Se mentisse, uma hora ou outra Harry descobriria e ficaria bravo com ela. Se contasse a verdade, pura e bela, ele também ficaria bravo. O discurso anterior era um aviso do que haveria pela frente se ela confessasse. Hermione engoliu em seco; já decidira. “Seja o que Merlin quiser”.
– Claro que não tem nada a ver com o professor Snape, Harry! Deuses, de onde você tirou isso?
Problemas. No seu nervosismo, Granger sorrira, como se aquilo fosse piada. E o olhar que o amigo lançou-lhe ao perceber isso não foi um dos mais carinhosos que alguém já viu. Por sorte, a garota não percebeu isso.
– Hunpf! - fez Harry, disfarçando a descoberta. - Acho bom.
O Eleito virou-se novamente para a comida. E fez-se um novo silêncio. Só se ouvia o barulho do garfo batendo no prato e as respirações curtas e rápidas dos dois bruxos.
Em compensação, as mentes deles estavam a mil. Pensamentos, dúvidas e receios de todos os tipos voavam, batiam-se e só faziam confundir. Um Legilimens teria bastante trabalho naquela hora.
Bruscamente, Hermione levantou-se suspirando e pôs-se a caminhar lentamente na direção da porta do Salão Principal.
– Sem fome? - ela pôde ouvir Harry perguntar.
– É...
E sumiu pelo batente da porta.
~*~
O sol da tarde não estava quente. Nem frio. Não ajudava em nada. Nem a pensar.
Hermione caminhou durante horas pela escola. Não sabia o que fazer. Sua conversa com Harry lhe causara receio; receio de que ele pudesse saber que ela iria falar com Snape; receio de que o amigo estivesse chateado com ela. Mais do que nunca, a garota precisava do apoio de alguém.
Ela pensou em adiar ao máximo o encontro com o professor. Assim, poderia pensar no que dizer e como agir, pesando todas as possibilidades: de ele estar ferido, irritado, triste, indiferente, eufórico. Mesmo que fosse difícil distinguir as emoções de Severo Snape. “Sou uma Grifinória, não sou?” pensou ela “Não vou desistir.”
Na metade da tarde, Hermione cansou da atmosfera inabitada da escola e decidiu caminhar lá fora, perto do lago.
Ao andar sobre a neve, a garota observou as pegadas que seus pés formavam. Parou diversas vezes para descobrir a lógica entre elas. Não via motivo para aquele passatempo, mas achava divertido.
De repente, Mione parou mais uma vez. Apurou os ouvidos.
Esperou alguns segundos.
Jurava ter ouvido qualquer coisa como passos ou vozes.
Acalmou-se, pensando ser só sua imaginação e continuou a caminhar.
Olhou ao longe o lago. E sentiu uma vontade louca de saber como Rony estava. De um jeito ou de outro, ele era amigo dela, mesmo que a tivesse atacado. Sem dúvida ele tivera algum motivo. Como Harry dissera, talvez estivesse hipnotizado.
Viu um vulto vindo da direção do castelo.
“Quem será?” pensou.
Apertou os olhos e ficou na ponta dos pés. A postura da pessoa lhe era familiar, muito familiar, aliás. E parecia carregar um pacote.
Outro ruído, desta vez a suas costas, chamou sua atenção.
“Não, de jeito nenhum. Agora NÃO FOI minha imaginação.”
O coração da garota disparou. Ela olhou ao redor, assustada. Não viu nada além da neve, do castelo e do lago. Ah, e suas pegadas. Mas, espere. Elas estavam apagadas, e não havia nevado enquanto Hermione permanecera ali fora! Isso era estranho. Pegadas não se apagam sem mais nem menos.
– Ah, Hermione! - uma voz conhecida exclamou.
A garota virou-se rapidamente. Era Lupin.
– Oh, olá, professor - disse ela, com um alívio aparente. - Eu não o vi chegar.
– Sim, sim - respondeu nervosamente o lobisomem, remexendo o pacote pardo que trazia sob o braço. - Você estava absorvida em devaneios, eu notei. Parece assustada. Algo aconteceu?
– Ah, não, nada. Eu só, ahn, fiquei surpresa por vê-lo aqui, professor.
– Pois é. A escola está meio vazia, não? Sem todos aqueles alunos barulhentos e brilhantes para ocupar nosso tempo. Minerva me contou que Rony foi para a enfermaria. Espero que ele esteja bem, pois vamos precisar de muitos para colocar em prática o plano do Snape.
Hermione corou.
– É - falou, desenhando um círculo na neve com a ponta do pé - tomara que o Rony melhore.
Ficaram em silêncio por alguns minutos. Só se ouvia o ruído abafado do calçado da garota riscando a neve.
– Veio falar com a diretora, professor?
– Ah, sim, ela... me pediu um favor.
– Sim - sorriu Hermione - ela também me pediu um.
– Verdade? - espantou-se Lupin. - Ora vejam só. Ela parece estar bem ocupada por não poder fazer tudo por conta própria. Mas - ele logo contradisse - pelo menos estamos sendo úteis. Eu detestaria me sentir sem utilidade.
– Concordo.
– Minerva pediu que eu fizesse uma entrega. Mais precisamente, deste pacote. Infelizmente, desconheço seu conteúdo. Ela disse que seria essencial para o plano do Severo - parou e virou o embrulho de todos os lados. - Se posso dar minha opinião, isto me parece ser uma capa. Talvez de invisibilidade. Sem dúvida seria útil. Mas não sei, posso estar enganado. Há tempos não vejo uma assim.
O silêncio desceu sobre eles mais uma vez. Hermione o quebrou de novo.
– Deve entregar a quem, professor, se me permite perguntar?
Lupin já esperava que a garota quisesse saber isso, mas não conseguiu evitar ficar corado. Para disfarçar seu embaraço, alisou o embrulho que, possivelmente, era uma capa de invisibilidade, como se fosse uma carta de amor.
– Devo entregar a Tonks - sua voz falhou um pouco ao pronunciar o nome dela.
Hermione sorriu. Queria rir do professor, por ficar tão embaraçado. Era óbvio que ele estava apaixonado por Tonks. Todos já sabiam. E provavelmente Minerva também.
Lupin viu o sorriso da aluna e pigarreou.
Ela ficou séria novamente.
– Bom - ele começou. - Tenho de ir. Preciso entregar este pacote o quanto antes. Dê minhas lembranças a Harry e Rony. Até mais.
– Até, professor - respondeu a garota, sorrindo, enquanto o lobisomem voltava para o castelo caminhando rapidamente e segurando com força o embrulho.
Hermione observou o vulto até que desaparecesse. Depois, balançou a cabeça, brincalhona. “Ele não tem jeito.”
Fixou sua atenção no lago. Nas águas calmas. Na cor profunda. E suspirou, sem conseguir desviar os olhos.
Tinha de agir. Não podia ficar adiando o inadiável. Ela já fizera a besteira de mentir ao Harry; devia ter dito a verdade. Percebera isso enquanto conversava com Lupin. A verdade dolorosa é sempre melhor que a mentira agradável, pois em algum momento esta última se tornará desagradável. Ele iria ficar ainda mais bravo se Hermione desmentisse, se chegasse a ele e falasse “Olha, Harry, desculpa, eu menti. Minha reunião com a diretora foi sobre Snape.” Contudo, ela não teve escolha. Não conseguia dizer não a Minerva. Precisava ir ao Severo e ver como ele estava, descobrir como se saíra na tal reunião com os comensais e talvez ajudá-lo, se fosse preciso. Não tinha tempo de se entender com o amigo. Harry teria de compreender por que ela fizera aquilo. Ele precisava perceber que nem tudo girava em torno de “o que Severo fez de mal”, mas em torno de “o que Severo fez de mal, do que se arrependeu e o que pode fazer de melhor”.
Hermione virou subitamente a cabeça na direção da origem de suas pegadas. Se não estava enganada, vira alguém correndo por ali.
Um arrepio percorreu a espinha da grifinória, e ela fechou mais seu casaco, encolhendo os ombros. Não estava se sentindo muito bem ali fora. Talvez fosse o frio, talvez fosse essa atemorizante impressão de estar sendo observada. Alias, já tivera essa impressão antes, naquele mesmo dia.
Olhou ao redor, receosa.
Balançou a cabeça com força para espantar os pensamentos negativos e pôs-se a caminhar de volta à escola. Tinha coisas mais importantes em que pensar, como um certo Mestre de Poções.
Continua...
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N/A: A Mione e suas manias de perseguições! XDD Me lembra muito eu mesma! XDD
No próximo capítulo!
A Mione vai falar com o Snape. Hummm, sei não. =/
Ah, e DESCULPE a demora! ._.' Deuses! A escola ocupou minha cabeça! Mas terminei este capítulo bem a tempo da Rosy não me estrangular. XDD
Beijos fofas! Obrigada por lerem! Vocês são as melhores!
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