Capitulo 10



CAPÍTULO X

Harry aguardou que ela trocasse de roupa e arrumasse uma pequena valise, enquanto ele ligava para Bob e explicava o ocorrido ao irmão.

- Pode vir, Connie e Mikey voltaram hoje – disse Bob, em voz baixa.

- E Teresa?

- Fui meio bobo com ela. Connie não fala comigo, e quem sabe se você trouxer Hermione, a situação melhore.

- Vejo você daqui a pouco. E muito obrigado.

Desligou o telefone. Sentiu-se observado. Olhou para a porta, e deparou com Hermione parada ali, ainda com as roupas amarrotadas.

- Você não trocou de roupa – observou ele

- Não quero entrar aí sozinha – disse ela, com um riso sem graça. – Que bobeira, não?

- De jeito nenhum. Acho que você foi muito corajosa. Estou orgulhoso da minha aluna.

- Pois não me senti nem um pouco corajosa. Vomitei de medo depois... – confessou ela.

- Isso não importa, e é uma coisa natural, nas circunstâncias. O que interessa é que teve presença de espírito para agir na hora certa – disse Harry, conduzindo-a para o quarto.

Ambos examinaram o aposento, e ele abaixou-se para espiar embaixo da cama. Depois levantou-se e declarou:

- Tudo limpo. O que deseja vestir madame?

Hermione escolheu uma camiseta e uma calça jeans. Mas antes que pudesse mover-se, ele começou a despi-la.

Ela levantou os olhos castanhos, como uma criança curiosa.

Harry sorriu com ternura.

- Acho que vou acabar gostando disso – declarou ele, retirando com cuidado todas as peças de roupa, à exceção da calcinha e do sutiã. – Seu corpo é muito bonito, srta. Granger. Sabia?

- Estou me sentindo fraca.

- É mesmo? – indagou ele aproximando-se.

Beijou-a com carinho na boca. As mãos deslizaram pelos lados do corpo até a altura dos quadris. Abriram-se, os dedos acariciando o ventre.
- Eu também fico fraco quando beijo você. Meus joelhos tremem.

- Tremem, nada – riu Hermione.

- Como é que sabe? Não está olhando para baixo.

Ela suspirou preocupada.

- Será que escutei você dizer que Connie voltou a morar com Bob?

- No momento, pelo menos. Ele voltou a ter bom senso.

- Espero que ela também – comentou ela, fitando os olhos desejados com tanta intensidade. Sentiu que as lágrimas iam brotar. – Eu queria...

- O quê? – sussurrou ele.

Hermione retirou as mãos de seu corpo.

- Nada – respondeu ela, bruscamente. – Não está na hora de irmos?

- Com você assim? – riu Harry. – Iríamos direto para a cadeia por atentado ao pudor.

- Se você me largar, eu posso me vestir.

- Não gosto muito dessa idéia – ponderou ele. – Cobrir um corpo tão bonito devia ser considerado crime.

Ela corou.

- Harry!

Beijaram-se com lentidão erótica, as línguas sugerindo o que os corpos tinham vontade de fazer.

- Podemos fazer amor antes de ir – disse ele, com a voz entrecortada pelo desejo, as mãos pousando nos seios macios. – Quer?

- Mas nós concordamos que não devíamos mais... – protestou ela.

- Isso foi antes...

- Antes do quê?

- Antes de descobrir que não me importo em ter um filho com você.

O corpo de Hermione enrijeceu, e ela afastou o rosto para poder estudar-lhe o interior dos olhos verdes. Encontrou a sinceridade que buscava.

- Pode repetir?

- Você teria de continuar trabalhando – explicou Harry, tomando-a nos braços e levando-a para cama. – Eu estou ganhando bem, mas acho que dois salários iriam elevar nosso padrão de vida. Além disso, você precisa ser auto-suficiente. Podemos procurar uma creche, que os dois aprovem, e posso aprender a trocar fraldas e outras coisas para ajudar.

- Amo você, Harry. Mais do que tudo na vida – disse ela.

Deitando-a com cuidado sobre o colchão, Harry beijou-a demoradamente e suas mãos encontrara o fecho do sutiã, expondo a pele sensível e delicada aos carinhos dos dedos e das mãos.

- Também amo você – murmurou ele. – O que eu não podia suportar era a idéia de formar uma família. Eu nem mesmo sabia por que, até que você me chamou a atenção para isso. Eu não sabia que era tão afetado assim pela minha infância. Mas não posso me afastar de você duas vezes na mesma vida. Acho que vamos ter de nos acostumar um com o outro.

- Sei que vamos conseguir – afirmou ela, os olhos mergulhados nos dele. – Harry?

- O que foi?

- Pode tirar suas roupas?

Ele riu.

- Quer ficar olhando enquanto eu tiro?

- Quero – admitiu ela, com voz rouca.

- Tarada! – brincou ele, colocando-se de pé e começando a tirar o paletó.

Harry demorou-se em cada peça como uma bailarina de inferninho, revelando aos poucos o corpo musculoso, para delícia de sua única espectadora, que estremecia em antecipação, agora que conhecia os prazeres que aquele corpo podia proporcionar ao seu.

Ele deslizou para o lado dela, tocando-lhe a pele febril.

- Não precisamos usar preservativos, se você não quiser – ofereceu ele.

Hermione parou para examinar os olhos dele.

- Sei que você não acredita que posso ser boa profissional e mãe ao mesmo tempo, mas vou provar que está enganado – declarou ela. – Na hora certa. Se vamos mesmo casar, podemos muito bem aproveitar agora, e deixar os filhos para depois do casamento. Além do mais, hoje em dia a prova de amor está em usar o preservativo. Se quiser, eu coloco...

- Eu adoraria – concordou ele.

Por vários minutos, os dois entregaram-se a todo tipo de carícias íntimas, que aumentou o erotismo de ambos, levando-os a um estado crescente de excitação. Quando Hermione estava a ponto de perder o controle, resolveram colocar o preservativo. Com dedos trêmulos ela ajustou a peça de borracha à rigidez dele, provocando gemidos de
prazer. Continuou a acariciá-lo para verificar se estava tudo em ordem, mas a urgência de Harry fez com que abreviasse as caricias. Ele deitou sobre ela e penetrou-a, permanecendo imóvel por alguns instantes, apreciando a sensação de estarem ligados.

- Será que estou sonhando? – sussurrou ele, ao ouvido de Hermione.

- Espero que não – disse ela, envolvendo-o com as pernas e puxando-lhe o corpo. Encostou os lábios à garganta de Harry. – O mundo está tremendo, ou somos nós?

- Acho que tudo está tremendo - riu ele.

- Gosto do jeito que você faz amor...

- Então demonstre outra vez – pediu ele, movendo devagar os quadris. – Me faça gritar.

- Você consegue gritar?

- Por que não experimenta para saber? – murmurou Harry, aumentando o ritmo.

Só chegaram à casa dos Potter três horas depois.

- Estávamos começando a ficar preocupados – disse Bob, ao recebê-los. – Você está bem, Hermione?

- Estou ótima, obrigada. Um pouco dolorida, mas é normal, nas circunstâncias.

- Ela derrubou o atacante – contou Harry, orgulhoso. – Muito obrigado por nos acolher.

- A família é para essas ocasiões mano. Connie, eles chegaram!

Quando a cunhada entrou, Harry quase não a reconheceu, pois estava maquiada e trajava um vestido cor-de-rosa.

- Connie?

Ela sorriu.

- Sou eu mesma. Fica difícil reconhecer sem a graxa?

- Fica. Mas valeu a pena esperar. Está muito bonita.

Connie adiantou-se e abraçou Hermione.

- Está bem, querida? – quis saber, com ar de preocupação.

- Estou ótima – confirmou Hermione, com um olhar de adoração para Harry. – Estamos noivos.

- Eu sei, vocês já nos contaram. Não se lembra?

Hermione esquecera que eles nem chegaram a saber do rompimento, pois estavam em crise conjugal. Trocou sorrisos com Harry.

- Não adianta esperar atitudes sensatas desses dois – comentou Bob, balançando a cabeça. – Vamos entrar. Mikey já está na cama. Tomar um café e comer um pedaço de bolo.

- O meu bolo, e não o dela – salientou Connie, olhando para Bob. – Acabei de tirar do forno. Também sei cozinhar.

- Meu bem, eu nunca disse que você não sabia... – começou o marido.

Connie voltou-se e entrou na casa.

- Ela está assim desde que voltou – reclamou Bob, com tristeza. – Está me tratando como se eu fosse adúltero. Eu juro que nunca encostei um dedo em Teresa.

- Você disse isso a ela?

- Será que ela escutaria?

- Isso depende. Se você usar as palavras certas... – opinou Harry, olhando para Hermione, que se dirigia para a cozinha, para conversar com Connie.

- Dessa vez está pensando mesmo em casar, não? – indagou Bob, observando o sorriso do irmão.

- Estou, sim – disse Harry, enfiando as mãos nos bolsos. – Sabe, Bob? Acho que a forma com que fomos criados me afetou mais do que você. Eu simplesmente não suportava a idéia de trazer ao mundo uma criança, porque a pobrezinha podia ser tratada como um estorvo pela mãe. Como nós...

- Não acredito que imaginou que a Hermione seria uma mãe parecida com a nossa – objetou Bob. – Acho que ela tem o tipo maternal.

- Tinha. – Corrigiu Harry. – Agora ela está desenvolvendo uma mente brilhante voltada para a carreira, e acho muito bom. Ela quer ser mãe mais tarde. Além disso, é uma das melhores alunas de caratê que já tive. Ela derrubou o sujeito que a agarrou dentro do próprio quarto. Deixou o sujeito estendido...

- É mesmo?

- Com uma joelhada na virilha – acrescentou Harry sem reprimir o sorriso. – Amassou as bolas dele. Se ela não soubesse se virar, o mínimo que teria acontecido seria um estupro. Talvez até o cara a matasse.

- O que ela fez para ele?

- O sujeito era segurança lá na firma, e vivia dizendo piadinhas para todas as mulheres. Ela teve a coragem de me contar, quando cheguei. Despedi o sujeito, e ele prometeu se vingar.

- Por que ele ficou tanto tempo no emprego, com essa atitude? – quis saber Bob.

- Acontece que as mulheres ficam quietas por medo ou por timidez. No começo do século, apesar de não gozarem de muita liberdade, pelo menos as mulheres eram tratadas com mais respeito. Hoje em dia você às vezes fica surpreso com a linguagem que se usa perto das mulheres.

- Você já esteve perto de Connie quando ela dá uma martelada no dedo?

- Certo – sorriu Harry, dando uma palmada no ombro do irmão.

A experiência de Hermione foi o assunto da noite, mas os olhares que ela e Harry trocaram não passaram despercebidos a Bob.

- Acho que vocês ainda não escolheram a data - comentou ele.

- Será na semana que vem - afirmou Harry, sorrindo perante a surpresa de Hermione. - Isso se você quiser uma cerimônia simples.

- Só quero você - respondeu ela. - Uma pequena cerimônia no civil será o suficiente.

- Foi o que eu e Connie fizemos – comentou Bob, procurando os olhos da esposa. – Costumávamos sentar e ficar conversando horas a fio. Éramos amigos muito antes de resolvermos morar juntos. Quando veio o Mikey, foi o começo de uma vida nova.

O olhar de Connie suavizou-se ao lembrar do nascimento do filho. Olhou para o marido com expressão magoada.

- E você queria jogar fora dez anos de bom relacionamento por uma garota brincando de casinha...

- Pelo menos ela gostava – respondeu ele, endurecendo a expressão.

- Por enquanto, mas ela é muito jovem. Quando ficar um pouco mais velha, vai perceber que é uma pessoa por inteiro, e não a sombra de um marido. Inventar receitas novas não é o suficiente para algumas mulheres.

- Manter a casa limpa e criar filhos que se sentem amados e protegidos costumava ser suficiente – disse Bob.

- Claro que sim, mas o mundo mudou muito. É tão difícil manter a casa com um só salário... quando comecei a trabalhar e ganhar dinheiro, acho que fiquei tonta com as coisas que conseguimos comprar – declarou Connie, olhando ressabiada para Bob. – Quase perdi minha família nesse processo. Resolvi que queria ser mecânica, mas não coloco isso acima do meu amor por você e Mikey.

Bob permaneceu um instante em silêncio, como se examinasse atentamente a caneca de café que tinha nas mãos.

- Não quero me acostumar com outra pessoa, a essa altura da minha vida – admitiu, por fim.

- Eu poderia trabalhar para outra pessoa, como empregada...

- Você pode trabalhar na própria oficina, no quintal, que deu tanto trabalho para montar. Basta fechar aos sábados e quartas-feiras, que vamos dedicar às atividades da família, como os domingos. Enquanto isso, podemos contratar alguém para cuidar da casa – sugeriu Bob. Antes que a esposa pudesse objetar, ele acrescentou: - Conheço um rapaz que gosta de cozinhar e não se importa em fazer a limpeza. É o filho da sra. Jones, que está precisando de dinheiro para viajar para a França e fazer um daqueles cursos de culinária.

- Mas você detesta meu trabalho.

- Eu tinha ciúmes do seu trabalho – confessou ele, com um sorriso. – Acho que eu e Harry nunca falamos sobre como fomos criados. Nossa família era muito diferente do normal, e só agora temos a chance de aprender o que é casamento.

O rosto de Connie expressou tanta alegria, que Bob alargou o sorriso.

- Não é tão ruim assim, ter um mecânico na família. Meu carro não tem andado muito bem.

- É só trazer que eu conserto...

Hermione sentiu a mão de Harry sobre a dela. Os dois encararam-se, o sentimento passando como uma corrente elétrica.

- Onde vão morar depois de casados? – perguntou Bob, quebrando o encanto.

- Gosto muito da segurança no prédio onde estamos – declarou Harry. – No meu apartamento ou no dela, tanto faz. Qualquer lugar.

- Por mim, também. Qualquer lugar.

- Pelo menos até os filhos chegarem. Depois disso, o mais adequado seria uma casa. Com quintal grande, para podermos ter um cachorro.

Os olhos de Hermione lacrimejavam.

- Vai continuar trabalhando na Lancaster? - Quis saber Connie.

- Ah, isso me lembra uma coisa... – começou Hermione, contando a Harry e ao casal o que fizera naquele dia, a forma como obtivera o novo emprego na Reflections.

Harry deu uma gargalhada de alívio.

- E eu pensei que você não estava prestando atenção quando dei a sugestão.

- Eu andei ouvindo coisas por lá, e Mack me contou que Cho já está ameaçando retirar a conta. A sra. Lancaster vai se arrepender um bocado. Em dólares.

- Isso não me surpreende nem um pouco. Eu me sinto um pouco responsável pelos aborrecimentos que Cho causou. Espero que tenha acreditado quando disse que não tive nada com ela.

- Claro – murmurou Hermione, perdida na contemplação do rosto dele, que expunha as emoções.

- O que a policia vai fazer com o atacante quando o pegarem? – indagou Connie. – Será que vão conseguir provas suficientes para mantê-lo na cadeia?

- Espero que sim – respondeu Harry, lembrando-se de todas as vezes que Erikson e outros como ele conseguiram escapar impunes.

Hermione pensava no mesmo assunto, um pouco além. Tinha visões de um julgamento demorado, incluindo despesas com advogados.

- Não se preocupe. Vamos conseguir ultrapassar tudo isso – afirmou ele, beijando a testa da noiva. – Juntos. Você vai ver.


Passaram a noite ali, separando-se com relutância quando Hermione recolheu-se ao quarto de hóspedes, e Harry acomodou-se no sofá.

Nenhum dos dois queria gastar dormindo o tempo que poderia estar ao lado do outro. Mal o dia despertou, ele levantou-se e foi buscá-la no quarto. Permaneceram abraçados até a hora de levantar, cochilando no sofá.

Assim foram encontrados pelos sorrisos indulgentes de Bob e Connie, que levantaram cedo e os observavam, embevecidos.

- Lembra como era gostoso? Quando a gente se adorava tanto que não podia suportar a idéia de ficar separados, mesmo por algumas horas? – comentou Bob, em voz baixa.

- Claro que lembro – respondeu Connie, com um beijo na boca do marido. – Foi por isso que voltei para casa. Ainda me sinto assim.

- Eu também – disse ele abraçando-a. – Estou contente por termos acordado a tempo de salvar tudo, Connie.

- O casamento implica em direitos e obrigações, se for para durar. Principalmente por Mikey. Estou contente por conseguirmos ultrapassar essa crise. Com bom senso.

- Depois do que aconteceu ontem à noite, não sei mais se tenho bom senso – sussurrou ele, com um olhar malicioso. – Foi você mesmo que fez todas aquelas coisas, ou sonhei?

- Que coisas? – fez ela, com ar inocente, mas incapaz de cobrir o rubor que tomou conta do rosto.

O casal no sofá remexeu-se, e ambos abriram os olhos, piscando com surpresa. Harry sorriu e espreguiçou-se, passando um braço ao redor da noiva, que olhava para os anfitriões.

- Posso garantir que não é o que parece... – começou Harry.

- Pois para mim parece um casal apaixonado – interrompeu Connie. – Como é, vamos ficar aqui conversando de estômago vazio, ou vamos tomar o café da manhã?



Depois da refeição, Harry e Hermione partiram para San Antonio, ansiosos para saber das novidades sobre Erikson. Pararam na delegacia, onde foram atendidos por um tenente. Ambos ficaram chocados com o quer ele tinha a dizer.

- De uma certa forma foi trágico – comentou o policial. – Ele estava fugindo em alta velocidade de dois de nossos carros patrulha, e perdeu a direção. Foi na ponte, e o carro arrebentou a amurada e caiu direto. Encontramos o corpo algumas horas atrás, com a luz do dia. Tentei telefonar para vocês, mas não obtive resposta.

- A gente ficou na casa de meu irmão, em Floresville – explicou Harry. – Tivemos uma semana cheia.

- É, nós também. Esse não foi o único caso de perseguição que tivemos nos últimos meses. Conversei com um dos vereadores sobre o assunto, e ele está disposto a elaborar uma lei para nos dar maior autonomia. Aliás, ele disse que gostaria de conversar com a senhorita.

- Certo, pode contar com minha colaboração – respondeu Hermione, ainda surpresa com a morte de Erikson.

- De qualquer forma, pode considerar-se segura, a menos que tenha medo de fantasmas – comentou o policial. – Não deixe que essa experiência atrapalhe sua vida, senhorita. O mundo está cheio de pessoas que gostam de machucar os outros. É como uma doença. Por isso faço esse trabalho.Mas nem todos são maus...

- Obrigada.

Os dois saíram abraçados para a luz do sol, que pareceu injetar novas forças, numa visão do futuro que os aguardava. Começaram a andar de mãos dadas, pela calçada.

- Sabe por que coisas assim continuam a acontecer? – perguntou subitamente Hermione.

- Por quê?

- Porque as mulheres morrem de medo de perder o emprego. Têm medo de coisas como as que aconteceram comigo, que as torne assunto de fofocas dos colegas, ou de serem discriminadas por atitudes impopulares. Mas mesmo que você conserve o trabalho, eles ainda tratam a gente diferente. Existem mulheres que não acham nada demais o fato de um homem usar palavras vulgares quando ela passa, ou de fazer observações discriminatórias. Acreditam que deve ser assim, o que torna pior as coisas, porque o sujeito fica sempre impune.

- Ninguém disse que seria fácil... – sentenciou Harry. – Nossa realidade é como a selva. Muitas vezes é perigoso fazermos o que parece certo; em outras isso causa um bocado de aborrecimentos. Mas nada altera o fato de que todas as pessoas têm o direito de trabalhar sem serem perturbadas.

Ela pensou um pouco e concordou com um gesto de cabeça.

- Pode ser. Mas não sei se eu teria coragem de fazer tudo outra vez, depois do que passei...

- Está brincando! Você diz isso agora, mas na hora fica vermelha e reage cheia de coragem. É capaz de arrebentar uns dois ou três ao mesmo tempo.

- Você é suspeito para ficar elogiando.

- Pode ser que eu seja suspeito, mas que você estendeu o cara no chão, isso estendeu. Eu não queria estar na pele dele. Aliás, quero morrer seu amigo, depois disso. Amo você.

Os olhos dela transbordavam de amor.

- Você dizendo isso de cara limpa, e à luz do sol... deve ser mesmo verdade.

- Não acredita em mim?

Hermione parou de andar e olhou fundo nos olhos dele.

- Acredito. Não acho que seria possível eu te amar tanto sem você sentir a mesma coisa.

- Espertinha. E falando em espertinha, quando sai da Lancaster?

- Na outra segunda-feira. Daqui a quinze dias – respondeu ela. – Ah, esqueci de contar. Na Reflections, já começo com um salário bem maior.

Ele sorriu.

- Vai ter que viajar tanto quanto viaja agora, para atender clientes?

- Não. Quando conversei com meu novo patrão, disse a ele que precisava estar em casa todas as noites – explicou ela. – E ele respondeu que tem dois empregados jovens e solteiros que gostam de viajar e podem dar conta dessa parte. Pelo menos até ampliarmos os serviços. Então talvez eu precise viajar para atender os clientes mais importantes, mas mesmo assim, será esporádico.

- Se for assim, não há problema. Como meu trabalho é só na cidade, quando viajar posso cuidar das crianças.

- Crianças? Harry, você usou o plural, reparou?

- É mesmo? – sorriu ele. – É que o ideal para mim seria um menino e uma menina.

- Tem certeza?

- Tenho.

- Nesse caso, preciso informar que na minha família, os meninos têm prioridade. Quer dizer, sou a única mulher em duas gerações. As probabilidades dizem que não vai ser fácil ter uma filha... – ele ia começar a responder, mas Hermione colocou o indicador nos lábios que se abriam. – Gosto de jogar beisebol, lembra? E nunca brinquei com bonecas.

- Certo. Vamos ver o que a gente consegue nesse sentido...

- Por que não vamos para casa, já que hoje não temos trabalho? – sugeriu ela. – A gente começa a tentar hoje mesmo. O que acha?

- Meus joelhos estão tremendo.

- Quer saber de uma coisa? Os meus também.

Hermione aconchegou-se contra ele, caminhando para o carro. Por reflexo, examinou os arredores, e só depois deu-se conta de que não era mais necessário.

- Será que ele tinha família?

- Quem, Erikson?

- É.

- Não tinha. Pelo menos não constava nada na ficha.

- Coitado, Harry. Ele era doente. Mentalmente doente. Estou com pena dele.

- Ele escolheu o próprio destino. Podia muito bem ter procurado outro emprego, em vez de apoquentar você – retrucou Harry. – A verdade é que estou contente por você estar segura outra vez. Daqui por diante, pretendo tomar conta de você.

Ela gostou de ouvir o tom de preocupação vindo de Harry, e apoiou o rosto no ombro dele.

- Também pretendo tomar conta de você.

- Vamos parar no caminho e tirar a licença de casamento – sugeriu ele, parando ao lado do carro. – Depois vamos para casa tentar.

Ela não quis discutir.


A cerimônia de casamento teve lugar uma semana depois, na presença de Bob, Connie e Mikey. Logo após, saíram numa breve viagem de lua de mel para a Jamaica.

Quando voltaram, Hermione começou no emprego novo, e descobriu que era muito mais agradável do que o anterior. Os Lancaster perderam a conta de Cho, e também a promessa de obtenção de novos clientes.

Chegaram a marcar um almoço com Hermione, no qual se desculparam por acreditar em Cho e fizeram uma boa oferta para que retornasse à posição que ocupava na companhia. Hermione aceitou graciosamente as desculpas, mas não quis voltar ao trabalho, embora Harry também tivesse apoiado a idéia. Mas não houve rancores de nenhuma parte, e o casal deu como presente de casamento uma baixela de prata.

- Foi muito simpático da parte dos Lancaster, não achou? – perguntou Hermione, deitada na cama ao lado de Harry.

- Os dois são pessoas sensatas, e muito educadas – concordou Harry. – Sabe, reparei que você estava enjoada depois do café. Comeu alguma coisa que fez mal?

- Não, não. Pelo contrário. O melão com presunto estava uma delícia. Foi só um enjôo.

- Enjôo! – os olhos de Harry brilharam.

- Amanhã vou comprar um daqueles testes de gravidez. Depois, vou marcar uma consulta no ginecologista, para confirmar – disse ela. – Mas meu instinto feminino não vai se enganar.

Ele a beijou, incapaz de conter-se.

- O seu instinto diz se é menino ou menina?

- Não existe absolutamente nenhuma chance de ser uma menina – garantiu Hermione. – Eu fui a única mulher em duas...

- Gerações – completou Harry, beijando-a na barriga.


Oito meses mais tarde, ele estava num quarto de maternidade com Cecília Maureen Potter nos braços. Depois de completar embevecido o rosto mais precioso do mundo, ergueu a sobrancelha e olhou para a esposa.

- Tudo bem. Sei que você está louco para dizer. Pode falar – desafiou ela.

Ele riu, e seu rosto demonstrava o que lhe ia no coração, ao sentir o pequeno ser que palpitava em seus braços.

- Obrigado. Acabei de descobrir que não sabia nada sobre a vida até sentir minha filha nos braços – declarou Harry, emocionado.

- Entendo perfeitamente o que quer dizer – concordou ela, com os olhos embaciados. – Nunca senti as coisas que senti agora. A maravilha é que essa pequena vida, criada pelo nosso ato de amor...

- Não podemos esquecer como foi gostoso – lembrou Harry, acariciando o rosto da esposa, depois baixando os olhos para a filha. – Ela não é linda? Papai vai passear muito com ela, comprar algodão doce, e quebrar a cara dos meninos que a deixarem tristes. Ela vai aprender defesa pessoal, vai aprender a atirar, a seguir espiões...

- E a mamãe vai ensinar como criar anúncios muito bonitos – acrescentou Hermione.

Harry sorriu.

- Adivinhe o que ela vai gostar mais de aprender.

Hermione ficou quieta. Não disse mais nada. Sabia que a filha teria uma vida interessante, e que o casamento iria melhorar ainda mais com os anos, se é que isso era possível. Recordou desde o princípio os momentos que haviam passado juntos, a estrada, por vezes cheia de obstáculos, que percorreram até chegar àquele momento, de felicidade absoluta.

Faria tudo outra vez. Quando sorriu para o marido, todos esses sentimentos passaram por seus olhos, como se o coração se derramasse por ali, encontrando o dele, que vinha no sorriso.



FIM



Obs:Espero que tenham curtido a fic como eu curti em adaptá-la. Muuuuuuuito obrigada a todos que leram e comentaram. Desculpem por não ter postado na sexta, é que estava doente e não tinha condições nem de levantar da cama. Porém não podia deixar vocês não mão e resolvi atualizar logo. Creio que até o final de semana que vem eu atualize "Nas mãos do destino" e até quarta eu atualizo "Paixão Obscura". Mais uma vez obrigada a todos e continuem acompanhando as outras fics!!!Bjux e adoro vocês!!!!!!

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