Único







“Lá estava ela, olhando em minha direção. Seus cabelos ondulavam, leves, ao toque do vento. Ela sorria, e foi ai então que eu soube: Meu coração havia sido roubado”.





Esse foi o pensamento que acometeu Draco, ao observar a foto que acompanhava a carta enviada por Gina, naquele frio dia de inverno. Nela estavam aquelas mesmas perguntas de sempre: “Oi, como está? Que está fazendo? Sinto saudades. Quando você volta para mim?”. Porém, ele não responderia tão cedo, pois seu tempo livre era curto. A cada hora chegavam mais e mais serviços a mando do Lorde, e Draco não via outra saída, a não ser cumpri-los no prazo desejado. “Estou bem, atarefado como sempre. Tenho adquirido informações para a Ordem, porém não posso transmiti-las por aqui”. Mal sabia Gina, e todos os outros membros, que não era esse o trabalho que Draco fazia, e sim o contrário. Era o Lorde quem estava adquirindo informações sobre a Ordem, mas Draco recusou-se a confessar a Gina que sua lealdade permanecia com Voldemort, e não com a Ordem. “Eu mudei, Gina. Não sou mais o mesmo garoto mimado, que vivia às sombras de meu pai. Agora sou um homem, e percebo que errei e quero me redimir, por isso me ofereço para cumprir quaisquer serviços que a Ordem tiver a me oferecer”, disse ele. Gina, como todos os outros, acreditou na palavra de Draco, que havia contado toda a história sobre a vingança do Lorde das Trevas para com seu pai, exigindo a execução de Dumbledore por sua parte. No final, fez-se de vítima e, como era esperado por Voldemort, foi recebido de braços abertos pelo que ele gostava de chamar de “o outro lado”.


Porém, suas preocupações não eram com tarefas a executar, e sim, com o fato de mentir a pessoa que mais amava e que mais o amou durante todo o tempo. Seu coração doía só de pensar na reação de Gina ao descobrir a verdade sobre ele, mas sabia que um dia ele teria de revelar tudo. Sua única esperança era que ela compreendesse suas razões. “Foi para o seu próprio bem, meu amor”.


Enquanto isso, longe dali, Gina pensava a respeito da última carta de Draco. “Tão vaga”, pensou ela. Ela ainda guardava os papéis e a caixa dos chocolates que havia recebido de presente, acompanhados de um bilhete com a seguinte música: “Vou te mostrar que é de chocolate, de chocolate o amor é feito, de chocolate choc-choc-chocolate bate o meu coração”. “Que diabos é isso?!”, indagava-se. Então uma pequena nota, em um mínimo pedacinho de papel trazia os dizeres “Para minha doce Gina, uma alegria para esquentar seu inverno. Com amor, Draco”. Lembrava-se de cair na gargalhada ao ler aquilo, e logo em seguida esboçar um sorriso emocionado. “Volte para mim...”.




.xXx.





Havia algum tempo que Gina andava meio distraída. Constantemente, podia-se observá-la vagando pela casa, olhando através da janela, ou simplesmente fixando algum ponto pelos cômodos. E não foi só isso; andava bem relapsa e desleixada com suas coisas, deixando tudo jogado pelo seu quarto. Roupas, livros, bilhetes, papéis diversos, penas, tinteiros; uma bagunça só. E sua casa parecia compartilhar dessa situação, onde a cozinha encontrava-se às avessas, com pilhas e pilhas de louça na pia e pratos e panelas jogados pela mesa. Os armários vazios e revirados, na esperança de encontrar um resto de alguma besteira para se ocupar. Porém, não era somente seu quarto e casa que já não eram os mesmos. Podia-se observar que sua aparência mudara; o brilho intenso que outrora era constante em seus cabelos vermelhos-vivo já os havia deixado há tempos. Emagrecera, e adquirira um tom pálido ultimamente. E ela sabia exatamente a razão, mas preferia evitar pensar sobre isso. “O que há com você? Concentre-se!”, ela pensava. Por mais que tentasse, não conseguia. Seus pensamentos estavam longe dali, com outra pessoa. “Por que você não está aqui? Preciso de você!”.


Em um lugar, longe dali, a situação era a mesma. Draco não conseguia parar de pensar em Gina, e isso prejudicava seu desempenho no dia-a-dia.


- O que há, Draco? – Perguntou o Lorde.
- Nada milorde, nada – Disse ele.
- Draco, Draco, Draco... Você ainda quer mesmo tentar esconder algo de mim? Sei bem o que se passa em sua cabeça, e aviso-lhe: concentre-se e realize corretamente sua tarefa ou essa em quem você tanto pensa sofrerá por causa de seu desempenho.


Draco sabia que precisava manter sua cabeça firme, ou seria Gina quem pagaria por isso; e muito caro.


Temendo que algo pudesse acontecer, Draco resolveu que seria de uma vez por todas que avisaria a Gina. Contaria tudo para ela, mesmo que ela nunca o perdoasse por ter feito o que fez. Mandou-lhe uma carta, relatando sobre sua visita.




.xXx.





Gina acordou na manhã seguinte com batidas incansáveis em sua janela. Ao acordar, percebeu que uma coruja a esperava. Foi até a janela, e recebeu a carta. Seu rosto iluminou-se ao ler que uma visita lhe seria feita.


“Querida Gina,
Como está? Espero que bem. Não tenho muito tempo, por tanto me desculpe por ser tão direto. Preciso lhe fazer uma visita, urgente. Precisamos conversar. Espere-me à meia-noite de hoje. Saudades, Draco.“.



Ficara muito feliz com a notícia, porém, um pensamento lhe acometia: o que poderia ser tão importante que necessitava de uma visita assim, tão às pressas? O que é que precisava tanto conversar com Gina que não poderia esperar o término de seu serviço? “Algo não vai bem”, pensou ela.


Uma trovoada se fez ouvir no céu. Olhou pela janela, e um mar de cinzentas nuvens cobriam-no por inteiro. Logo começaria a chover. Seria este um mau sinal?


Draco só esperava que ninguém suspeitasse de sua empreitada, ou tudo estaria arruinado. “Eu nunca serei capaz de me perdoar se algo te acontecer...”.




.xXx.





Já eram quinze para meia-noite, mas Gina estava esperando desde as 21:00h. Ansiosa por ouvir as palavras e ter a visão de Draco, não agüentou mais tentar se distrair e resolveu aprontar-se para sua chegada. Sua única dúvida era onde ficar. Não fazia idéia de como seu amado chegaria. “Será que ele vai aparatar? Ou virá através de pó-de-flu? Se ao menos ele tivesse me dado uma pista...”.


Chovia torrencialmente do lado de fora. Pesadas gotas de chuva atingiam a janela e produziam um som que, após tanta espera, começavam a irritar Gina. “E essa chuva também, que não pára? Que diabos!”.


Cinco para meia-noite; Suas mãos suavam apesar do frio. Meia-noite; Ele chegaria a qualquer momento. Meia noite e cinco; Aonde é que estava ele, afinal?


Então, quando pensava que seu amado não mais chegaria, ouviu batidas secas na porta. Ajeitou os cabelos, deu uma última borrifada de perfume e, finalmente, abriu. Lá estava ele, coberto com um pesado capote preto, no intuito de abrigar-se do frio e da chuva. Seus lisos cabelos loiros estavam completamente encharcados. Gina abriu um imenso sorriso, e nesse momento, Draco sentiu que até o último pedacinho de sua alma esquentava-se só de presenciar tamanha beleza. Abraçaram-se, e seguiu-se um silêncio, que apenas foi quebrado após o convite de Gina:


- Você vai ficar ai parado, ou vai entrar e sentar-se aqui comigo?
- Ah sim, hum, obrigado. – Draco respondeu.


“Que há com ele? Está tão sério e quieto...”, Gina pensou.


- Gostaria de tomar alguma coisa?
- Uísque de fogo seria bem vindo.


Gina apanhou dois copos e materializou a bebida.


- Bom Gina... – Começou ele. – Vim aqui porque preciso realmente conversar com você. O que preciso lhe dizer não tinha como ser dito por carta ou qualquer outra maneira. É algo que pode afetar a nós dois.


Gina apenas assentiu com a cabeça. Sentia que, o que quer que Draco fosse falar, ela não gostaria nada disso.


- Não sei bem como dizer isso, então serei direto. Eu menti para você.
- Sobre o quê, exatamente?
- Sobre minha lealdade à Ordem. Todo esse tempo, não é a vocês que venho servindo, e sim, ao Lorde das Trevas.


Gina estacou. Era como se um balde de água gelada tivesse sido jogado sobre ela, para se somar a todo frio que fazia em sua volta. Não podia acreditar naquelas palavras.


- Agora sim você está mentindo. Isso não pode ser verdade. Você não mentiria, não para mim.
- Infelizmente, é verdade. Eu mesmo gostaria que não fosse.


Nesse momento, Gina deu às costas a Draco. Não conseguia encará-lo, não quando ele dizia aquelas palavras, que mais pareciam adagas perfurando-lhe.


- Gina, por favor... Entenda, eu...
- NÃO, EU NÃO QUERO MAIS OUVIR. NÓS DOIS PROMETEMOS QUE NUNCA MENTIRÍAMOS UM AO OUTRO. COMO VOCÊ FOI CAPAZ DE TRAIR A TODOS NÓS DA ORDEM? COMO VOCÊ FOI CAPAZ DE ME TRAIR?


Gina correu para o lado de fora da casa. Queria sumir dali, queria que nada daquilo estivesse acontecendo. Preferia agora não mais ter que ficar na presença daquele em quem ela tanto confiou.


Draco corria desabalado atrás dela.


- GINA, POR FAVOR, ESPERE! EU PRECISO LHE DIZER... ELE ME FEZ JURAR, GINA!


Então, ela parou.


- Ele me fez jurar, me fez fazer isso... Eu tive que fazer, não havia outra escolha...
- Por que? Por que?! Só me diga isso...
- Por que ele ameaçou matar... Você. Ameaçou tirar você de mim, a não ser que eu fizesse o que ele queria. Eu preferi assim... Não suportaria vê-lo por as mãos em você. Não suportaria vê-la machucada. Não suportaria... Ficar sem você. Sei que fui egoísta, e admito isso, mas não me arrependo. Apenas me arrependerei se, depois de tudo, ele tirar você de mim.


Draco abaixou a cabeça, virou as costas, e ia embora, quando...


- Por que você não me disse logo... Meu amor? Eu... Eu teria entendido, eu teria te ajudado!
- Não, isso só traria mais perigo para você, e eu não agüentaria ver algo lhe acontecer, entende? Você é a pessoa que eu mais amo. Não quero te perder...


Lágrimas rolavam por seu rosto, mas Draco não se envergonhava. Não tinha medo de chorar. Não na frente dela.


Gina também chorava. Ficara tão surpresa com a revelação de Draco, que se esquecera que estavam na chuva. Porém, somente uma coisa perpassava sua mente.


- Eu não queria que...


Mas Draco calou-se. Gina correra em sua direção e dera-lhe um beijo tão repentino e apaixonado, que fez com que ele ficasse atordoado por uns segundos. Então, ele retribuiu o beijo, e ao final, sorriu, abobalhado.


- Aconteça o que acontecer, não esqueça que estou aqui. – Gina disse. – Estou e sempre estarei ao seu lado. Eu te amo, Draco. Você... É a minha vida.


E Draco sentiu o calor daquelas palavras atingirem seu íntimo.


- Você também... É a minha vida...


Então, os dois se abraçaram e voltaram para dentro da casa. Não sabiam o que o futuro lhes guardava, mas de uma coisa tinham certeza. E essa certeza era de que se amariam... Eternamente.
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N/A: Bom gente, resolvi transformar os quatro capítulos da fic em um único! Estava muito pequena para dividí-la! Espero que gostem! Beijos e comentem!!

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