O estranho pesadelo
- O-o-o-oi Harry, o que faz aqui a essa hora?
- Desculpa o horário, mas pensei que...
- Você não acha que está muito tarde pra vir aqui no meu quarto conversar? – Gina agora fazia um esforço enorme para não dizer “Entre, fique à vontade, pode sentar aí!” e parecer que contou os segundos por aquela visita desde o momento em que foi comunicada de que ela aconteceria.
- Tudo bem, eu volto depois.
Harry já ia dando meia volta, cabisbaixo, quando ouviu:
- Já que você está aqui, pode falar! – Gina agora pensava “Se controle, se controle, não vai dar bandeira como se fosse uma criança de dez anos!”.
- Posso entrar?
- Hum... Pode! – Gina estendeu o braço, fazendo menção para ele entrar.
- Er.. Oi Mione, será que podia nos dar licença?
- Claro, Harry, fiquem à vontade.
Hermione saiu batendo a porta do quarto.
- Nossa! O que foi com ela? – perguntou Gina, na verdade, tentando quebrar o gelo e iniciar aquela conversa que não seria fácil. Era de sentimentos que iriam discutir, um assunto sempre delicado.
- Gina, eu... É muito difícil dizer o que pretendo di...
- Tudo bem, Harry, não precisa ficar com medo. Só ta a gente aqui... – disse, ansiosamente pegando em sua mão, que também estavam suadas de aflição.
- Gina, antes de tudo, eu queria te fazer uma pergunta. Dependendo da resposta, eu vou sair daqui e não tem assunto.
Gina tremeu e tirou suas mão da dele, sabia o que ia perguntar. Tentou pensar, o mais rápido que pôde se o melhor seria dizer o que estava engasgado em sua garganta há tanto tempo ou simplesmente deixa-lo ir embora, e não ferir o seu orgulho.
- Gina, vocêrealmentegostademim? – parecia que Harry estava vomitando e não perguntando.
- O quê?
- Desculpe. – Harry estava muito nervoso. Parou , respirou e disse, devagar - Eu perguntei se você gosta de mim.
Gina encheu o peito de ar, corada como nunca. Afinal aquela pergunta era muito fácil de responder.
- Claro que gosto, Harry. Minha mãe, meus pais, meus irmãos...
- Gina, você sabe que eu não estou falando desse tipo de gostar.
- É, eu sei. Olha, Harry, eu não quero me machucar. Eu não quero ser motivo de piada.
- Você sabe que eu jamais brincaria com uma coisa dessas. Também deve saber o esforço que eu estou fazendo para conversar sobre isso... Sabe... Nunca tive coragem de falar muita coisa para a Cho, acho que por isso que eu a perdi...
Os olhos de Gina se encheram d’água. Ela poderia ouvir tudo naquela noite, menos sobre a Cho.
- Se você veio aqui pra chorar suas mágoas com sua ex, acho melhor ir embora.
- Não, não! Por favor! Eu só quis dizer que, agora, não posso mais deixar as coisas simplesmente passarem por mim porque de repente eu posso não te-las mais.
Gina viu que Harry ficou muito triste ao falar isso. Ela sabia que ele estava se lembrando de Sirius.
- Por favor, Harry, me desculpe. Eu não tinha a intenção de te magoar, nunca tive!
Gina se sentou ao lado de Harry e passou a mão por seus cabelos, tentando consola-lo. Deu um beijo suave no rosto dele e o abraçou, fechando os olhos com muita força, com se quisesse que aquele momento jamais terminasse. Harry praticamente não reagiu ao carinho e Gina se afastou, pondo-se em pé.
- Desculpe Harry, eu não deveria...
- Não deveria o quê? – Harry agora se aproximava de Gina, enquanto ela dava passos para trás. – Pode falar! O que você não deveria ter feito?
- Ah... eu... er...
Harry agora podia ver cada detalhe dos olhos da garota, que estava encurralada pelos seus braços e a parede, assim como havia visto os de Cho há alguns meses. Mas agora era diferente, ele podia sentir o coração da ruivinha bater bem mais depressa que o seu, e com certeza, esta garota não estava chorando. Ele podia, àquela distancia, sentir a alegria que invadia o corpo de Gina, não havia tristeza.
Harry foi o mais delicado que pôde. Afastou alguns fios de cabelo que ainda estavam na frente dos lábios da ruiva, e encostou os seus, gentilmente. Aquele não era o primeiro beijo de nenhum dos dois, mas, certamente, era o mais emocionante e mais esperado, especialmente para Gina. Ele a abraçou forte, como se não quisesse deixar escapar aquele cheiro tão bom que ela tinha, aqueles lábios tão macios, que agora eram seus. Mas por algum motivo, Harry se sentiu extremamente culpado.
- Por favor, não me iluda, Harry, disse a garota após abrir os olhos, depois de presenciar o que chamaria pelo resto da vida de paraíso. Você sabe que eu gosto de você, que você é uma das pessoas mais importantes para mim, mas não sei o que faria se sofresse uma decepção.”Como ela poderia olhar tão fundo nos meus olhos?”
- Gina, preciso ir dormir, o Rony não vai gostar de saber que ficamos aqui sozinhos até tarde, desconversou, claramente constrangido.
O bruxo deu um beijo no rosto de Gina, enquanto ela estava esperando que o beijo fosse nos seus lábios. Ficou muito desapontada com aquilo, mas nada poderia tirar a sua alegria. E, naquela noite, Gina foi dormir com um sorriso e uma sensação que nunca havia experimentado.
***
- Acho que nos entendemos...
- E é só? – questionou Rony, indignado com o laconismo do amigo.
- Claro que é! O que mais você queria saber?
- O que eu queria saber? Você ta com cara de quem saiu de um enterro!
- É apenas cansaço, Rony. Já está tarde, preciso dormir. Amanhã a gente conversa mais, afinal, você até agora não me disse em que eu o ajudaria.
- Tudo bem, até amanhã então.
- Boa noite.
Naquela noite, mais alguém foi dormir triste e culpado além de Harry. A única a presenciar as suas lágrimas era a escuridão.
***
- Aaaaaaaaaah!
- Harry, acorda! Acorda!
Harry estava coberto de suor. Sua cicatriz doía tanto que a qualquer momento, sua cabeça poderia explodir.
- Rony, me ajuda! – gemia Harry, agora se contorcendo de dor.
- Mãe! Pai! Venham aqui! – gritava Rony, em desespero.
Logo a senhora e o senhor Weasley apareceram na porta do quarto, com mais Hermione, Gina e os gêmeos a tiracolo, todos extremamente preocupados.
- Harry, querido, calma! – pedia docemente Molly, enquanto colocava as mãos sobre a testa de Harry.
- Meu pai! Meu pai! Ele está em perigo! Aaaaaaaaah.
- Calma, querido. Foi só um pesadelo.
- Minha cicatriz... Minha cicatriz está me matando.
Todos ficaram calados, não havia nada que se pudesse fazer a não ser observar a enorme dor que o garoto estava sentindo e tentar acalma-lo.
- Meninos, fiquem com ele, eu e seu pai precisamos conversar...- a mãe dos ruivos agora olhava misteriosamente para seu marido.
- OK! – responderam em coro, enquanto Harry não parava de balbuciar “Pai, pai...”
***
- Arthur, o que você acha disso?
- Não sei, Molly... Mas nós não podemos nos apavorar. Eu sei que Vold... er...Lorde das Trevas não se manifesta há algum tempo, com certeza está tramando alguma coisa... Mas você se lembra que da última vez, era alarme falso, não lembra?
- Claro que sim, querido. Perdemos Sirius por causa disso. Mas o que me intrigou não foi a dor na cicatriz... Quer dizer, não tanto. O que mais me chamou atenção foi o fato de Harry dizer que o pai estava em perigo... Mas Tiago não está mais vivo!
- Você tem toda razão. Será que Harry pôde ver quando o Lorde estava perseguindo os pais?
- Não, Arthur! Ele falou PAI e não PAIS!
Arthur apenas se calou. Não sabia mais o que dizer. Mas sabia o que deveria fazer agora. Falar com Dumbledore. Só aquele velho bruxo poderia dizer algo sobre toda aquela situação e ajudar de maneira mais concreta.
- Vou mandar uma carta à Dumbledore. Ele certamente descobrirá o que está por trás desse pesadelo.
- Claro, querido. Você tem toda razão. Vou lá em cima ver como Harry está.
Arthur Weasley sentou-se à mesa da cozinha, pegou um pergaminho e ali mesmo começou a escrever ao que ele considerava o maior dos bruxos da época.
Alvo Dumbledore,
Esta noite tivemos aqui na Toca um episódio um tanto quanto estranho. Harry acordou durante a noite aos berros de dor na cicatriz, gritando que seu pai estava em perigo. Achamos melhor não tomar nenhuma atitude sem antes consulta-lo, para evitar que certas coisas aconteçam novamente. Ficamos realmente preocupados e muito confusos. Prefiro não dar mais detalhes, acho que é tão seguro com o Lorde das Trevas solto por aí.
Aguardo respostas,
Arthur Weasley
* * *
- Como ele está, meninos? – perguntou Molly, calmamente.
- Agora ele está melhor, parou de sentir dor e acho que dormiu, sussurrou Rony, para o amigo não acordar.
- Ele falou mais alguma coisa?
- Falou! – disse Hermione, antes que Rony pudesse mentir.
- Hermione! – Rony a repreendeu.
- Senhora Weasley, não acho que devíamos esconder nada de vocês – Rony agora parecia soltar fumaça pelas ventas – Harry falou que o pai estava em uma floresta, e Vol... a senhora sabe quem, o estava torturando. Ele achava que era a Floresta Proibida, mas estava muito escuro. Queria, por tudo, ir lá ajudar.
- Sei, sei...- disse, pensativa - Bom, crianças, vão dormir. Já está muito tarde, não é hora para ficarem fora da cama. Boa noite, queridos.
Apesar de todos terem ido para suas camas dormir, Molly não conseguira. O que, afinal, significava aquele sonho?
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