Único
Respirava ruidosamente. Não sabia o que pensar, havia um turbilhão de idéias em sua cabeça. Nenhuma que o fizesse sentir-se melhor.
Estava com a cabeça baixa, as mãos apoiadas no próprio joelho, que tremia, assim como boa parte do seu corpo. Sentia-se vazio.
Escutava os gritos lá fora. Os gritos que tantas vezes já lhe haviam erguido o ego, lhe trazido alegria, animação...
Agora eram apenas sons vazios e sem sentido. Todos apenas queriam uma coisa. Pediam, chamavam...
Por ele.
Ele iria subir lá, iria dar-lhes o que queriam. Apenas mais uma vez, para acabar com aquilo. Para tirar aquele fardo das costas, sentir-se leve. Há tempos não sabia o significado daquilo.
Andava sempre pesado, como se fosse sua obrigação ser o melhor. Ele tentara. E como. Mudara hábitos, às vezes mal se reconhecia. Tudo em prol de uma coisa perdida.
Sempre fora uma causa perdida, ele sabia, mas por dentro permanecia aquela luz de esperança de que alguma coisa um dia fosse mudar.
Mas não aconteceu.
Agora ele sentia-se horrível. Não com ele mesmo, por ter feito algo errado... Mas por ter sido tão idiota a ponto de apostar toda sua fé, TUDO o que tinha por alguém que não merecia nem 1% do que ele era.
A raiva fervilhava em seus nervos, cerrava as mãos, como se, com o gesto, pudesse atingir àquela que lhe afligia os pensamentos.
Fechou os olhos, tentando concentrar-se no que deveria fazer. Na única coisa que faria aquela noite.
Acabar.
(What if I wanted to break?)
Acabar com aquela rotina de submissão e dependência.
- James, agora? – Sirius, seu amigo, aproximou-se, guitarra em mãos, apenas esperando por sua decisão.
- Cinco minutos. – Informou ele, com a voz rouca, aos outros.
Remus, sentado perto do palco, batucava distraidamente no baixo, olhando para a fresta onde era possível ver a multidão enlouquecida.
Peter estava de pé, perto da porta de saída, um olhar vago distante, assim como Sirius que aguardava o comando de James.
Este, por sua vez, continuava perturbado. Sentiu uma leve pontada no antebraço. Levantou parte da blusa, fazendo uma leve careta.
O corte parecia fundo e o sangue escorria lentamente, num ritmo uniforme, quase chegando a ser bonito, manchando a blusa por cima do rasgo. Pegou um lenço e amarrou o ferimento, escondendo-o dos outros.
Não sentia dor.
Machucara ao sair às pressas de onde estivera conversando com ela. Desatento, trombou com alguém e acabou sendo jogado em uma árvore com galhos secos. Nada tão alarmante.
Tirou o moletom rasgado, colocando o paletó de formatura. Sim, formatura. A grande formatura, esperada há tanto tempo, acabou por tornar-se o pior dia de sua vida.
(Você realmente não muda, não é!?)
Lembranças terríveis que tentavam ser passadas para trás lhe voltavam ao pensamento, como uma desferida de um machado contra seu cérebro. Sua cabeça latejava...
Queria parar de pensar, parar de sofrer e parar de ser estúpido, de sempre tentar ver o melhor em tudo. Mas de nada adiantava uma simples vontade.
Deveria passar por isso. Merecia, pensou consigo. Merecia, por ter sido tão cego e destruir-se para tentar ser outra pessoa apenas para agradar à alguém que não merecia nada dele.
Estava pagando pelo erro. Pelo erro de confiar.
(Suma da minha vida!)
- Vamos subir – Falou, levantando a cabeça e balançando-a, numa vã tentativa de afastar esses pensamentos.
Os quatro subiram ao palco, levando a multidão ao delírio. James observava cada movimento, cada palavra inteira que lhe chegava aos ouvidos. Era como se estivesse em uma bolha.
O som lhe vinha baixo e lento, como um sussurro, as imagens difusas e vagarosas, como em um filme em câmera lenta.
Ele entreabriu os lábios, respirando forte novamente. Seus olhos caçavam o alvo, seu coração palpitava como se estivesse em seus dedos, dando uma sensação nervosa e uma urgente necessidade de fazê-lo rápido.
(Fazê-lo?)
Sim.
Piscou lentamente, sentindo o microfone pulsar nas mãos frias que o seguravam.
Olhou além das pessoas, o sol terminara de se pôr e agora a noite cobria as calçadas frias de Hogsmeade pela última vez.
Mesmo fora de época, havia uma fina chuva gelada ao invés do normal calor sufocante de final de junho, e a maioria das pessoas, ainda que vestidas de gala, usavam casacos quentes.
Até que seus olhos encontraram o que tanto queriam.
Parada, perto da saída, longe do povo, havia uma figura feminina. Longos cabelos ruivos caíam-lhe sobre belo corpo, que vestia um delicado vestido preto de alças e um salto fino, destacando a bela silhueta.
Seu semblante permanecia sério, com um fundo triste e amargurado. Não usava casacos, e não parecia sentir frio. Do contrário: pouco se importava com o vento gelado que entrava pela porta ao seu lado.
Ela fitava o garoto sentindo quase a mesma raiva, mas havia uma mescla de outro anseio. Não estava arrependida, tampouco brava. Sentia-se, por um lado aliviada, mesmo que um nervosismo triste continuasse a penetrar-lhe o coração.
Ela estava triste, não havia como negar, mas seu orgulho a impedia de repensar e tentar voltar atrás. Mesmo que quisesse, algo lhe dizia que agora realmente era tarde demais.
(Um dia você vai perceber o que perdeu, garota)
Temia, intimamente, que este dia havia chegado tardiamente, apenas para confundir-lhe os pensamentos.
Ela segurava um dos braços, sentindo um leve arrepio passar pela espinha. E não era frio.
James crispou os lábios, lançando-lhe um olhar ressentido. Sua cabeça abaixou por um breve momento, como se pensasse no que estava para fazer. Uma leve dúvida.
Mas logo a levantou. Era o que deveria ser feito, iria sentir-se melhor. Aproximou-se do pedestal, decidido.
Peter e Remus começaram os acordes secos e James pegou no microfone com as duas mãos, começando a cantar com os olhos fechados.
- What if I wanted to break? (E se eu quisesse terminar?) – Sua voz saía num timbre suave, com um levíssimo tom rouco. Nunca havia cantado dessa maneira.
Lily olhava-o sem ação. Tentava, acima de qualquer coisa, esconder a tristeza alucinada que tomava conta de si completamente, mas estava difícil.
- Laugh it all off in your face… What would you do? (Rir tudo isso na sua cara… O que você faria?) – Nessa hora, o garoto abriu seus belos olhos, que agora estavam com um brilho acinzentado. Meneou, quase que imperceptivelmente, a cabeça para trás, num gesto provocador.
Que apenas Lily percebeu.
‘Já é suficiente’.
- Oh, oh, oh, oh... - Sirius cantou, ao fundo, numa bela entoação, muito parecida com a de James, apenas um pouco mais fraca.
James, ao mesmo tempo em que dava tudo para cantar da melhor maneira possível, sentia uma carga terrível, que o abatia e tentava colocá-lo para baixo.
Mas iria resistir. Até o fim.
- What if I felt the flour? Couldn’t take this anymore (E se eu sentisse o chão? Não consigo mais agüentar) – Cantou, voltando a fechar os olhos por um momento.
O grupo olhava-o como se fosse um rei, cuidavam até para respirar lentamente.
Respiravam sua música.
- What would you do, do, do? (O que você faria?) – Cantou forte, sem tirar os olhos da ruiva.
Peter bateu várias vezes na bateria, num ritmo alucinante, enquanto James terminava essa parte.
Cantava com movimentos um tanto angustiantes, contínuos e frios, como um anial que agoniza á morte.
O toque dos instrumentos estava em uma harmonia perfeita, como eles nunca haviam tocado antes.
- Come break me down! Bury me, bury me! I am finished with you… (Venha me destruir! Enterre-me, enterre-me! Eu acabei com você) - James quase gritou, sem perder a compostura e a beleza da voz, é claro. Percebeu, com um fundo de satisfação, que Lily mexia-se nervosamente.
Ele movia os braços, de uma maneira seca e rígida, um pouco estúpida até mesmo, tornando tudo mais perfeito ainda.
Menos para Lily, que realmente estava sentindo-se mal. Seu orgulho estava começando a perceber que...
‘Quieta Evans’, ordenou-se a si mesma, ‘Não admita, esqueça. Deixe...’.
O toque voltou a ser calmo e, aparentemente, tranqüilo.
Sirius e Remus estavam muito equilibrados nos toques determinados a tocar sem nenhum erro, ou confusão, seja de qual tipo fosse.
Peter não olhava para os lados, apenas concentrava-se na bateria. Era só o que importava agora.
- What if I wanted to fight? (E se eu quisesse lutar?) - Continuou, agora sem esconder o sorriso sarcástico em seus lábios. A garota permanecia firme. Iria agüentar. Até o fim. - Beg for the rest of my life (Implorar pelo resto da minha vida)
Ela não podia deixar de admitir que ele cantava muito bem, mesmo que até isso fosse um insulto ao seu ego.
Enquanto ele ia para frente e para trás, lentamente, ao som do baixo, ela sentia sua voz, como se penetrasse no cérebro, onde não podia esconder-se.
(Por que você apenas não me deixa!?)
Suas próprias palavras angustiavam-lhe agora.
(É isso que você quer? REALMENTE?!)
Sentiu como se lágrimas quisessem formar-se em seus olhos, ardendo e apertando-lhe o coração.
- What would you do, do do...? (O que você faria?) - Ele continuava, sem saber do que se passava com Lily. Sem saber o quanto seu plano estava funcionando.
Ele sorriu com o canto da boca, os olhos semicerrados, num gesto provocante, sem desviar da ruiva.
Lily fechou os olhos, respirando fundo. ‘Pare de pensar nisso...’.
(Sinceramente... Sim, eu te amei muito. Mas isso não vale tanto assim. E não há NADA que eu já não tenha feito por você Lily...)
(Eu nunca QUIS nada de você)
- You say you wanted more, what are you waiting for? (Você diz que queria mais, está esperando o que?) – Dessa vez quase riu, cinicamente. Um James que ela desconhecia. - I’m not running from you (Eu não estou fugindo de você)
(O pior é que eu sei que você nunca quis nada de mim... Mas ainda assim eu fazia... Não tinha como evitar.)
(Bom, perdeu seu tempo, okay?!)
- From you (De você…) – Sirius cobriu, a voz doce cantada com concentração. Eram poucas as vezes que cantava, então aproveitava ao máximo.
A mente da ruiva vagava longe. Em coisas que ela nunca mais lembrara...
(Já te disse que é linda, não?)
Em coisas na qual, agora não conseguia não admitir, arrependia-se.
(Meu Deeeeus, você não tem ninguém mais pra amolar? Vai achar o que fazer...)
Sentiu outra vez aquela dor no peito e colocou a mão sobre o colo. O ar passava com dificuldade, gelado e cortante.
(Eu já disse, um dia você vai ter que ceder...)
(Por que você tem tanta certeza?)
(Porque eu te amo demais.)
As imagens passavam em sua cabeça como um filme muito confuso do qual ela não queria lembrar, mas quanto mais ela resistia em pensar, mais forte elas vinham, trazendo a dura verdade consigo.
(Por que você ainda tenta?)
(Não vê que o que eu falo é sério? Eu REALMENTE te amo. Por isso eu tento. E vou continuar tentando.)
Perdera.
- Come break me down! Bury me, bury me! I am finished with you… (Venha me destruir! Enterre-me, enterre-me! Eu acabei com você) – Ele parecia realmente decidido, ela percebeu, a não voltar atrás. E começava a concordar, mesmo que com dificuldade, que ele tinha toda razão.
(O que você quer de mim? FALE A VERDADE!)
Cometera um erro.
(EU SÓ QUERO QUE VOCÊ SUMA DA MINHA VIDA, GAROTO!)
Um grande erro.
Tivera-o em suas mãos por quatro anos. Agora, no final do seu último ano, no último dia, ela percebera...
(Ótimo. É isso o que terá.)
Perdera o jogo.
- LOOK IN MY EYES! You’re killing me, killing me! All I wanted was YOU! (OLHE EM MEUS OLHOS! Você está me matando, me matando... Tudo o que eu queria era VOCÊ!) – Ele, dessa vez, realmente apontou para Lily, que deu um salto quando toda a platéia virou a cabeça para olhá-la.
James sentia seu coração palpitar rapidamente em cada extremidade de seu corpo, seu sangue fervilhar em cada centímetro de si, a satisfação de ver Lily derrotada.
A garota cerrou os olhos, não apenas retribuindo o olhar penetrante de James, mas para conter as lágrimas.
Estava perdida, e não podia negar.
(Quando você vai perceber que eu não estou brincando?)
Ela colocara a própria vontade na frente. Não sabia por que. Quem sabe fosse o prazer de ter James Potter aos seus pés, mesmo que fosse ridículo pensar algo do tipo.
Ou fosse medo de se magoar...
O que acabou sendo estupidamente inútil. Nunca se sentira tão pisada como agora.
- I tried to be someone else (Eu tentei ser outra pessoa) – Ele voltou a cantar, fechando os olhos com um sorriso malicioso no rosto. - But nothing seems to change, I know now: This is who I really am inside! (Mas nada parece mudar, eu sei agora: Esse é quem eu realmente sou por dentro!) – Desceu pelos degraus laterais, deixando o microfone no pedestal, ainda cantando e conseguindo-se fazer ouvido, o olhar fixo em um ponto perto da porta.
Os garotos abaixaram o volume dos instrumentos, para não abafar a voz de James, mesmo que não fosse tão preciso. Ele conseguia “gritar” sem perder a formosura.
Lily movia-se nervosamente no lugar, trocando de pernas para apoiar-se melhor no chão, uma vez que se sentia cada vez mais mole e sem forças. Cada passo de James era uma batida do seu coração que se acelerava descontroladamente, fazendo-a ficar com a respiração ofegante e nervosa.
Ele chegava cada vez mais perto dela, e a multidão abria espaço, acompanhando-o com os olhos, maravilhada.
Sirius levantou a cabeça, observando-o com curiosidade, Peter tentava olhar, mas para não se desconcentrar, mantinha a cabeça baixa, e Remus ameaçou ir, mas pensou melhor e ficou onde estava, desejando que James não fizesse nenhuma loucura.
- Finally find myself, fighting for a chance... I know now… (Finalmente me encontrei, lutando por uma chance... Agora eu sei...)
Ele nunca a olhara tão profundamente, cada movimento que fazia com as mãos, como cortes, socos no ar, de uma maneira majestosa, até chegar perto dela, pareciam loucos. Não havia outra palavra. Alucinantes. Chegou à frente dela assim que terminou de cantar a última frase, fitando seus olhos, sem desviar, firme e decidido.
- THIS IS WHO I REALLY AM! (ESSE É QUEM EU REALMENTE SOU!) – Ele gritou. Gritou alto na frente dela, como se avançando, deixando-a pequena, rebaixando-a, a voz meio rouca, mas linda ao mesmo tempo. Houve murmúrios entre as pessoas.
Enquanto ele gritava Peter ficou em uma mesma nota na bateria e Sirius o acompanhando, assim que o terminou, Remus sustentou outra nota, enquanto Sirius fazia o back da voz.
Nos intervalos em que Sirius cantava, Peter batia desvairado no instrumento. Sirius cantava, e ele tocava e Remus ainda sustentando aquela mesma nota, sem errar. Um equilíbrio e perfeição magníficos.
Nesse meio termo, James aproximou-se dela, perto de seu ouvido e abriu a boca, soltando uma respiração lenta, como se pronto a falar algo. Os cabelos da nuca de Lily arrepiaram-se e ela esperava apreensiva pelo que ele iria dizer.
Mas o garoto simplesmente fechou os olhos e afastou-se. Quando os abriu, lançou-lhe um olhar indecifrável. Uma mistura de ressentimento, com uma parte de falta de coragem de continuar. E, sim, agora ela via.
Depois de tanto tempo olhando-o todos os dias sem perceber, no último instante ela percebera uma luz em seu olhar, em sua maneira de fitá-la.
O amor.
Mas agora não era um amor bonito, desejável. Era algo triste, sem vida e jogado às traças. Magoado. Quebrado.
(E é minha culpa)
(Você vai me perder)
Os três agora tocaram juntos por um momento, depois pararam, Sirius sozinho por alguns segundos e recomeçaram depois.
Ele andou de costas, afastando-se dela, mas ainda olhando-a. Quando chegou perto do palco, virou de costas e subiu correndo, chegando bem a tempo. Agarrou o pedestal e continuou, agora com certa revolta na voz.
- Come break me down! Bury me, bury me! I am finished with you, you, YOU! (Venha me destruir! Enterre-me, enterre-me! Eu acabei com você!) – Ainda agarrado ao pedestal, ele estava visivelmente irado.
Não apenas com Lily. Com ele mesmo. Apesar de ter sido passado pra trás tão cruelmente pela garota, não conseguia odiá-la. Estava, sim, com muita raiva, revolta, e também ódio. Mas não dela.
Não conseguia olhá-la e imaginar-se sem ela.
Mas daria um jeito, não iria ser passado pra trás daquela maneira. Mesmo que ainda a amasse. Muito.
- LOOK IN MY EYES! You’re killing me, killing me! All I wanted was you! (OLHE EM MEUS OLHOS! Você está me matando, me matando... Tudo o que eu queria era você!) – Continuava, agora aproximando-se do final do grande show...
(É tudo minha culpa...)
(Você vai se arrepender)
- Come break me down… (Venha me destruir…) – No final da musica o arranjo todo tomava um rumo seco, estúpido, e James movimentava os braços com ferocidade, o microfone do pedestal.
(Eu fiz isso)
(Evans... Marque minhas palavras...)
- Break me down (Destrua-me) – Ele segurou o microfone com as duas mãos, os olhos semicerrados, diretos e frios para ela.
(Eu perdi o melhor cara que poderia aparecer)
(Você vai querer voltar atrás...)
- Break me DOWN! (Destrua-me!) – Ele terminou, gritando.
(Eu...)
(... NUNCA mais. Você me perdeu)
Então apenas Remus ficou tocando, os acordes bem ensaiados saindo com perfeição e beleza, enquanto James e Sirius preparavam-se para o último trecho.
- You say you wanted more… (Você diz que queria mais…) – Sirius cantou, num tom mais baixo, contínuo e belo. James segurava o microfone com uma mão agora. Suava.
- What If I wanted to break? (E se eu quisesse terminar?) – Ele cantou, seus olhos fixados ainda em Lily, segurando para a lágrima não cair. Um turbilhão de sentimentos tomou conta dele, que apenas abaixou a cabeça e suspirou por um momento breve.
- What are you waiting for? I’m not running from you… (Está esperando pelo que? Eu não estou fugindo de você) – Sirius continuava a cantar em espaços intercalados com James, deixando a musica linda, ainda com os acordes de Remus.
- What if I, what if I… - James terminou, levantando os olhos ainda fechados, uma feição de tristeza, mas força ao mesmo tempo. Então abriu os olhos, Lily chorava, sem importar-se com o que ele poderia pensar. A dura verdade finalmente chegara ao seu entendimento.
Terminou a música, um único som da guitarra de Sirius no final, fechando a noite.
A platéia explodiu em gritos, aplausos e berros de admiração aos garotos. Sirius, Remus e Peter sorriam, agradecendo com acenos e rindo de coisas que James não se importava em saber o que eram.
O moreno observava Lily chorar. Ela sentara-se no chão, com as mãos escondendo o rosto. Soluçava, como se tivesse acabado de perder a vida de alguém muito querido.
(Eu faria qualquer coisa por você Lily...)
James bufou e desceu as escadas por trás do palco. Descontou sua raiva em uma mala aberta perto do sofá, chutou e gritou o mais alto que pôde, mesmo que nem assim conseguisse sobrepor-se aos berros da multidão de ex-estudantes.
(Não quero nada que venha de você)
Quase chorou, segurando-se e respirando fundo e rapidamente. Nada mais importava. Percebeu o tão cruel fora a cena que realizada.
Mas ela merecia. Iria sentir o que perdeu. Arrepender-se.
‘Não que já não esteja’, sorriu para si mesmo.
Pegou seu sobretudo e colocou sobre o terno, saindo pelos fundos. A garoa fria cortante e forte passou como se cortando o rosto.
Ao se afastar um pouco, sentiu uma mão gelada segurando a sua. Olhou para trás, espantado.
Lily, com os cabelos molhados, o vestido fino, descalça e o rosto choroso encontrava-se parada diante dele. Sua pele tremia de frio e seus lábios pareciam roxos. Ela quis sorrir, mas foi repreendida por si mesma.
(Você está sempre sorrindo...)
(Ver você não me dá alegria maior. Por que não sorrir?)
(Perca as esperanças, Potter)
(Por quê?)
(Porque eu nunca gostaria de alguém como você)
(Nunca gostaria de alguém que te ama?)
Houve um momento de silêncio em que James apenas observava a loucura da garota em sair daquela maneira no frio apenas para ficar parada, olhando-o, sem saber o que fazer.
- James...
(Potter)
- Eu... Eu... – Ela murmurou, gaguejando. Quem sabe pelo frio, ou nervosismo. Um pouco de cada. – Me desculpe... Eu...
Ele estendeu o dedo, tocando nos lábios gelados da ruiva. Ela calou-se, esperando a ação que viria a seguir. Ele tirou o sobretudo, ficando com o terno, e colocou-o sobre os ombros da garota, que recebeu de bom grado.
James a observava.
Ela não sustentou o olhar. Abaixou a cabeça, os lábios temendo, as mãos levemente segurando o casaco. Sentiu o cheiro dele... Tão suave... Tão amoroso, outrora.
(Você vai se arrepender)
James a observava. Quase como se pudesse ouvir cada milésimo de segundo de seu batimento cardíaco, tomar cada molécula de ar que ela respirava, ser a causa de cada calafrio que passava em seu corpo.
Não pode deixar de sentir uma gota de pena.
Quem diria. A grande Lily Evans, digna de pena do ridículo James Potter.
Ao pensar isso James sentiu uma mórbida satisfação passando por cada centímetro de si, como se trouxesse junto uma força que ele desconhecia.
Aproximou-se do ouvido dela, ao que Lily estremeceu levemente. Ela tremia, num misto de medo e arrependimento, acrescentado ao frio alucinante. Mas tinha que fazer isso... Não iria perder outra chance...
(Mas e se fosse...?)
(Tarde?)
(Eu disse que iria ser tarde)
(Aproveite)
Ele sorriu para si mesmo e cochichou, numa voz doce, suave e provocadora.
- Bury me, bury me...
Versão Acústica
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