A Árvore Queimada





À dezenas de quilômetros do centro da cidade de Londres, um aglomerado de casas de grande estatura rodeava um parque escuro e cheio de folhas caindo amareladas no chão de seus robustos troncos devido ao calor do verão daquele ano. Uma placa enferrujada, suja e mal feita estava suspensa no poste por apenas um velho parafuso que ameaçava em cair a qualquer momento sinalizava aos visitantes o nome “Largo Grimmauld” em letras góticas misturadas com comuns.
Alguns carros trouxas estavam parados em frente grandes casas e pequenos prédios que faziam uma forte muralha de tijolos de diferentes cores que adquiriam um brilho diferente pelo brilho do sol do anoitecer. Uma casa em especial chamava a atenção por parecer um tanto que destacável em meio às outras construções e uma janelinha com quatro quadrados de vidro podia liberar passagem para a luz invadir por dentro do cômodo.
O quarto tinha uma aparência bem rústica, com um tapete preto e um brasão estranho cromado em verde e prata, uma mesa de mogno bem posicionada ao canto com uma cadeira estofada ao lado com duas almofadas em cima e um monte de cuecas e meias jogadas no mesmo lugar. Um guarda roupas de madeira preta e esculpidos florais em suas bordas tinha as portas abertas onde se podiam ver negras vestes, blusas de botões, gravatas, calças jeans, sapatos, mais meias e cuecas, algumas dúzias de cintos e fotografias jogadas de qualquer modo.
A noite já caía e o manto negro era guiado pelo céu seguido pela lua. As estrelas estavam como pingentes que encantavam a noite que prometia ser uma bem linda e atrativa a casaizinhos de namorados. Na cama que estava quase toda sobreposta em cima do tapete e com duas mesinhas de cabeceira em seus lados, estava com um rapaz bonito e de cabelos longos e pretos dormindo, um comum cochilo do entardecer. Tinha uma bela aparência e pelo que se podia ver de seus traços finos e boca avermelhada era que dormia como um anjo.
Em cima de seu corpo – que usava apenas uma calça preta de nylon – estava um lençol branco ao qual o rapaz grudava como se ninguém fosse tirá-lo dele. Já estava quase na hora de acordar, seus olhos meio inchados pelo sono e um lado do rosto um pouco marcado pelo bordado de seu travesseiro onde se lia “Black”.
Ele já começava a se mexer, se virar e espreguiçar esticando os braços lentamente e fazendo algo que parecia um delicioso bocejo. Havia dormido igual uma pedra. Levantava-se devagar tateando a mesinha até conseguir ligar o abajur que o ajudava a iluminar o grande quarto onde estava, podendo reparar também na mesa um maço de cartas presas por fitas de elástico, uma gaiola vazia e embaixo da mesa um gato preto dormindo do mesmo modo que o dono estava.
Sirius Black caminhava através do quarto e abria a porta devagar. Colocava primeiro a cabeça para fora olhando aos lados enquanto com uma das mãos jogava uma mecha dos cabelos negros por trás da orelha. Queria se certificar que seu irmãozinho Regulus não havia feito mais nenhuma gracinha como colocar bombas de bosta na sua porta, e por mais que aquela idéia fosse sua, tinha causado estragos enormes, como encher de cascudos a cabeça do menininho.
A barra estava lima, podia sair tranquilamente, foi o que fez, colocou um pé pra fora e deu um sorrisinho maroto mordendo o lábio inferior e expressando em seu rosto uma cara de um anjo demoníaco. Voltou ao seu quarto com uma corridinha e pegou de dentro da última gaveta um objetivo estranho que parecia um papel com uma coloração amarelada. Sirius voltou a sair do quarto e andou na ponta dos pés até a porta do quarto do irmão que naquela hora devia estar dormindo como a família inteira fazia nas tarde. O belo rapaz largou o papel na porta do quarto de Regulus e ao fazer isso, o objeto se tornou transparente.
Sirius o deixou por lá mesmo e saiu calmamente até as escadas com as mão para trás e com um sorrisinho no canto de sua boca. Ao passar por um corredor com cabeças decepadas de elfos domésticos antigos, encontrou um deles, o jovem Monstro – que tinha uma péssima aparência – na frente de seus pais, avós, bisavós e o que fosse. Como sempre estava a resmungar coisas que não dava para entender.
- Boa noite, Monstro – era o que Sirius dizia a ele ao passar ainda sorrindo e assoviando uma música muito boa.
Chegava até a cozinha se sentando e lá encontrando o pai Orion Black relendo o Profeta Diário pela milésima vez. Sirius espiava de rabo de olho enquanto pegava umas torradas e as colocava completamente na boca, estava com muita fome.
- Pelo visto se empolgou com seu nome ter saído ai nessa coisa... – dizia soltando leves migalhas por entre os lábios.
Sirius não gostava muito do Profeta Diário, o atual ministro era só mais um desses bruxos que achavam que a exterminação dos trouxas era a solução pra um mundo melhor, mesmo não afirmando nada, até mesmo foi capaz de citar Orion Black e sua gorda ajuda a inocentar um assassino de trouxas.
- E que pelo visto você não vai ser como eu, você vai ser um fracassado. Minha esperança é no Regulus, ele sim vai aproveitar a chance de ser um Black – Orion nem sequer olhava pro filho, e o tratava com indiferença, frieza e extrema ironia em sua voz – até defender a imundice você defende, posso esperar tudo de você, Sirius.
O rapaz não largou a torrada ou perdia o apetite como fazia, já se acostumava com a condição de ser odiado pelos pais só por ele ter sido escolhido para a Gryffindor e defender trouxas e filhos de algum.
Continuava a comer como se nada tivesse acontecido e apenas seu sorriso havia saído de seus lábios vermelhos, era uma das únicas coisas que lhe tirava o bom humor. Pegava um copo de suco de abóbora para ajudar a empurrar a torrada. Estava com a boca lotada e suas bochechas se estufavam por isso. Momentaneamente Orion o olhava de esguelha para ver como ele reagiria, mas se sentia mais nervoso pelo menino não ter feito nada com tudo o que havia dito a ele. O silêncio só interrompia pelos estalos na casa quando Monstro aparatava ou seu pai mexia a sua xícara de chá com uma pequena colherzinha.
“SIRIUUUUS!!!”
Alguém havia gritado o nome do rapaz, o que o assustou fazendo parte do suco pular pra fora de sua boca e Orion olhá-lo com uma cara de quem desprezava qualquer coisas que viesse de alguém.
Segundos depois, vestindo um roupão cinza, pantufas que deixavam suas canelas mais finas e ossudas, a Sra. Black – Walburga – descia correndo pelas escada cautelosamente para não tropeçar e com o semblante demoníaco nos olhares vermelhos e com um tampão de dormir para bloquear a luz preso em sua cabeleira negra bagunçada. Ela tinha uma aparência bastante magra, o que podia lembrá-lo um corvo ou urubu, que fosse, mas nem seu filho Sirius conseguiria chamá-la de bonita para agradá-la e muito menos Regulus, o predileto. Ela aparecia na cozinha atraindo olhares consideráveis do marido que observava mais uma travessura de Sirius. Ela o pegava pela orelha agressivamente e o levantava gritando em seu ouvido:
- Que diabos você fez com seu irmãozinho Regulus, menino do demônio?! – o olhar de Walburga estava totalmente avermelhado de raiva do menino e ele conseguiria distinguir ali uma chama acender de dentro da mulher. – você vai lá tirar ele e ficar de castigo o resto do verão em seu quarto e sem corujas com aqueles seus amigos sangue-ruins!
Sirius não sabia se respondia ou não. Era claro que ele odiava que falassem mal de seus amigos James, Remus e Peter, ainda mais seus pais que odiavam qualquer um que tinha ligação com trouxas, assim como faziam com Sirius que não recebia nenhuma demonstração de afeto dos seus pais.
O jovem garoto ficava estático enquanto sua orelha ardia com a unha de seu mãe fincando dentro dela e já sentindo perto de sangrar ele se levantou e subiu as escadas na companhia da bruxa até onde Regulus estava suspenso no ar de cabeça pra baixo e rodava loucamente de um lado pro outro. Regulus era um garoto não muito bonzinho, e não se dava muito bem com o irmão, por isso um aprontava peças um pro outro, mas a do mais velho sempre ficava melhor do que as do caçula que só sabia reclamar depois disso.
Sirius, que já é alto, esticou o braço musculoso e puxou um pedaço de papel grudado nos pés de Regulus que caia com um estardalhaço no chão que estremecia com o tombo do menino. Não conseguia controlar totalmente o riso de ver aquela cena do seu irmão mesmo com a mão de sua mãe presa em sua cabeça, o soltando com um empurrão na cabeça do menino que batia contra a parede. Quando Regulus se ergueu, este grudou seus braços pelos da mãe e olhava pra Sirius sorrindo vitoriosamente. O outro irmão mostrou a língua para o mais novo e fez chifrinhos em si mesmo com os dedos enchendo a paciência de Regulus.
- Mãe... – Regulus dizia puxando parte do roupão de Walburga que olhava para ele – Sirius está me provocando, depois eu bato nele e ele sai machucado e ninguém pode vim me xingar.
- Quem vai bater em alguém sou eu em você, seu mentiroso!
Sirius saltou em cima do irmão como se um instinto animal encarnasse nele e fizesse atacar Regulus apertando-lhe a garganta e dando socos no menino que relutava contra o mais velho que era muito mais forte e maior. Walburga sacava a varinha e batia nas costas de Sirius que novamente era empurrado batendo na parede.
- Sirius! Você está passando dos limites, Escória!
Walburga gritava com o filho como nunca podia se escutar em outra situação que fosse. Sirius sentia seu rosto arder de raiva do irmão e da mãe ao mesmo tempo, e também do pai que estava na beira da escada observando tudo e sorrindo satisfeito com aquilo tudo que estava acontecendo. Regulus continuava jogado no chão olhando para o irmão que respirava ofegante e tinha seus cabelos jogados no rosto como se fosse um animal, um cachorro.
- Será que vocês não vêem que esse menino que fica me provocando?! – Sirius tentava, mas era como carregar água com uma peneira.
- Você ficou impossível depois que entrou praquela casa de nojentos! São as más influências, eu bem que disse pro seu pai colocar você em Durmstrang no ano passado, mas ele não me escuta. Esse inferno de menino é todo culpa sua,Orion!
A Sra. Black continuava a gritar profundamente sem conseguir se acalmar. Regulus se levantava e olhava de rabo de olho para o irmão fazendo cara de vítima indefesa e atacado pelo Sirius malvado.
- Não fala mal da minha casa, Walburga Black!
Ele chamava sua mãe pelo nome, estava realmente nervoso agora e com o rosto vermelho no lugar do comum pálido e com uma parte da cabeça latejando devido aos empurrões que sua mãe havia lhe dado no mesmo lugar, e sentia também que sua orelha sangrava dolorosamente.
- Você foi um erro na nossa vida, Sirius! Um erro! Nunca devia ter nascido! Devia ter morrido quando eu fiz a desgraça de te ter.
Os pensamentos vinham rapidamente à cabeça de Sirius, pensamentos tentando procurar momentos em que se sentia feliz com sua família. Antigamente podia recordar de alguns, mas depois que conheceu a família de seu melhor amigo, James Potter, viu o que realmente era felicidade, e o que ele tinha em casa em raros momentos eram só réplicas baratas. Queria fugir de casa, esquecer sua família, queria ser da família de Pontas – como chamava James – e poder pensar que nunca havia existido a enorme casa dos Black ou o que fosse.
- Essa família não é mais a mesma depois de você, nós perdemos o orgulho de falar que somos Black, você não passa de um inútil igual aos seus amiguinhos sangue-ruins! Vai correr pra chorar, Sirius, seu idiota defensor da escória imunda e fedida.
Walburga era má com Sirius, completamente, era agressiva e se pudesse lançava a maldição da morte no próprio filho do que vê-lo daquele jeito, para preservar sua família de pessoas puro-sangue, para manter seu status, ou talvez até mesmo fazer de Sirius um elfo doméstico, tratá-lo como se fosse só mais um e quem sabe quando morresse de tanto trabalhar, pudesse ter sua cabeça decepada e pendurada no corredor nos antepassados de Monstro, que soltava gargalhadas e resmungava algo como “Monstro tinha razão, ele é só mais um sujo, a patroa não gosta dele, não gosta. Monstro sempre soube”.
Sirius escutava aquilo tudo caído ainda no corredor, com a respiração ainda forte e os cabelos do mesmo modo que antes. Seu coração disparava como se fosse agredir até mesmo a mãe, mas ele apesar de tudo tinha dignidade e não ia fazer isso. O menino se levantou e caminhou de cabeça baixa até seu quarto e no meio do caminho dando um encontrão em Regulus que já não escondia sua felicidade.
O menino se sentava em sua cama grosseiramente socando o colchão, fazendo o gato se levantar e ir ao lado dele roçando o pêlo macio e negro nas costas desnudas do menino. O cabelo caía pelo seu rosto e ele tinha vontade de sumir dali, e faria isso. Pensou por um tempo para onde poderia ir e a resposta não tardou nem um pouco a vir encontrar suas idéias.
Tão rápido como se sentou, Sirius se levantou e pegou um pedaço de pergaminho em uma gaveta, uma pena, molhou a ponta no tinteiro e começou a riscar o papel com uma caligrafia definitiva masculina escrevendo então os seguintes dizeres:

“Pontas,
Como eu te disse durante o ano inteiro, o clima aqui em casa ia estourar e eu não posso mais ficar aqui. Espero poder ir pra sua casa como você tinha deixado. Te conto tudo assim que chegar ai, estou doido pra fazer minhas malas e correr fora daqui.
Nos vemos daqui a pouco,
Almofadinhas.”

O rapaz então enrolou o pergaminho e o prendeu ao pé de uma pequena ave tropical de cor amarela com rajadas verdes e a pedindo para entregar a James Potter em Godric’s Hollow tão rapidamente e o esperar lá mesmo.
Sirius puxava de dentro do seu armário uma mala de couro marrom que costuma usar ao ir para Hogwarts e nela colocava mais do que tinteiros, pergaminhos ou penas, mas também suas roupas do dia-a-dia, outras vestes e alguns objetos que enfeitavam seu quarto. Estava finalmente de partida para bem longe do Largo Grimmauld, lugar onde pretendia nunca mais voltar em sua vida, onde iria certamente trazer-lhe lembranças péssimas como a desse dia em que todos de sua casa resolveram se virar contra ele e percebeu de uma vez por todas que aquela não era sua casa.
Fechava com custo a mala que estava com mais coisas que de costume cabia, pegava sua varinha que ficava em cima da mesinha de cabeceira e saiu carregando o caixote empunhando a varinha a qual não hesitaria usar se fosse impedido de fazer o que queria, colocou só uma blusa, sapatos e seguiu em frente.
Passou pelo marco da sua porta, sem olhar para os lados agora, continuou a puxar a mala com a varinha em mãos e a guiou pelo corredor. Seria tão mais prático se pudesse usar magia, mas ainda não tinha dezessete anos, e entraria agora no seu quinto ano de Hogwarts junto com o restante dos seus amigos Os Marotos.
Chegou ao lugar da sala indo em direção à porta. Da cozinha estavam sentados os outros três Black’s rindo como se alguém tivesse contado uma piada muito engraçada que dava náuseas de tantas gargalhadas. Sirius abriu a porta da sala se deparando com a friagem que vinha da rua e a calçada fria do lugar, descia os degrauzinhos da entrada derrubando a mala ao descer com ela. Escondia a varinha um pouco ao andar, ali era um lugar de residências trouxas e não seria bom ser visto com algo como aquele em punho.
Quando fechou a porta, logo a ouviu se abrir de novo às suas costas e era Orion com Walburga debruçada nos ombros no marido – pode notar depois a presença insignificante de Regulus ao lado. O pai então disse para ele:
- Para onde você pensa que está indo?
- Para a imundice... Não é de lá mesmo que eu sou? – respondia Sirius abusando de todo seu sarcasmo que podia juntar na ponta de sua língua.
- Você sabe que se der mais um passo não vai voltar mais, né? – dessa vez que disse foi Walburga adotando o tom sério.
- Melhor ainda – retrucava Sirius.
- Então se considere fora de casa – dizia Orion novamente.
- Minha casa é com meus amigos, e não com pessoas que vão morrer afogadas no próprio sangue.
Sirius permanecia sério enquanto falava. Sua família virava as costas e fechava a porta sem nenhuma resposta. O menino então começou a vagar sem saber muito o rumo da casa de James, havia se esquecido de perguntar isso durante todo esse tempo, só sabia que era em Godric’s Hollow, mas não sabia onde ficava isso.
Walburga e Orion por dentro ardiam em raiva e ódio, por mais que não demonstrassem isso na frente de Regulus que olhava atenciosamente para os pais e só sabia pensar em ficar com o quarto de Sirius como depósito das suas coisas velhas agora e subia até seus aposentos pulando de felicidade.
A mulher acendia um cigarro e começava a tragá-lo soltando a fumaça em longos bafos cinza que atingiam a estreita janela e voavam junto do vento para bem longe dali. Os dois subiram as escadas bem devagar deslizando as mãos elegantemente pelo corrimão e chegaram a uma sala onde um grande papel de parede de uma árvore ocupava todo lado.
Era uma árvore da família, onde estava escrito “A Mui Antiga e Nobre Casa dos Black - Toujours Pour”. Ao longo da árvore havia muitos nomes, alguns com outros juntos que simbolizavam casamentos e galhos saindo destes. A mulher procurou ao longo da árvore onde havia dois nomes juntos “Walburga e Orion”, deles vinham outros dois estreitos galhinhos, um com o nome “Regulus Black” e o outro “Sirius Black”.
Walburga tirou o cigarro de sua boca, deu mais uma baforejada gostosa que invadiu o lugar de fumaça e então com a ponta em brasa do trago, ela queimou toda região onde poderia estar escrito “Sirius Black” e qualquer vestígio dele que havia na tapeçaria. Enfim, ela parou e só observou os outros pontos queimados por desonrarem a família Black e riu. Riu de desgosto, riu de raiva, de nervoso, riu por ver que sua família começava a ruir.

Aguarde: Capítulo 02 – Godric’s Hollow
(Obs.: Comentem para eu ver se estão gostando e postar mais, ok?) ;D

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