Tempo de Perdoar



Passaram-se três horas desde que eles chegaram ao hospital St. Mungus, e desde aquele momento Harry continuara no mesmo lugar, do mesmo jeito: sozinho, na ultima cadeira de um vasto corredor de espera, com o rosto coberto entre as mãos. Não falava com ninguém, não queria ver ninguém. Apenas queria ficar ali, até que algum curandeiro chegasse com alguma resposta sobre Gina.
A noite já havia reinado, mas ainda não existia sinal algum sobre Gina. Se ela estava bem... Ou se estava viva. E isso significava para Harry exclusão total.
Arthur e Molly Weasley já estavam no Hospital, porque estavam esperando respostas do caçula dos homens, Rony. Molly teve que tomar uma poção para reanimar ao descobrir que sua filha fora internada as pressas, com chances de não sobreviver. Fred e Jorge também estavam presentes.
Arthur tentou falar com Harry sobre o acontecido, querendo saber detalhes, com os olhos marejados, mas Harry não o atendeu. Disse que não conseguiria falar sobre aquilo em momento algum. Não naquele dia, pelo menos. Não enquanto não tivesse resposta alguma da saúde de Gina. Fred sentou-se ao lado dele, buscando respostas e talvez certo consolo, mas em menos de quinze minutos ele acabou deixando Harry sozinho. Quinze minutos afundados em um silêncio desagradável.
Desde então, ele continuara no mesmo lugar, com o rosto afundado nas mãos e inclinado. A luz noturna, vinda de uma única janela atrás do banco que sentava iluminava a figura solitária.
Cecília estava mancando com uma poção fedorenta em mãos e fazendo inúmeras caretas por causa do cheiro quando avistou Harry. Imediatamente parou e ficou contemplando o homem. Sentiu uma enorme pena invadir seu peito e sabia por quê: sabia o quanto ele estava sofrendo, ou pelo menos achava que sim. Assim como o carinho que tinha por Gina, Cecília havia criado o mesmo sentimento para com o Menino Que Sobreviveu.
Ela passou dois minutos o observando e naqueles dois minutos Harry movera um músculo sequer. Ela passou a mão livre pelos cabelos desgrenhados e mancou até ele.
Ele ergueu o rosto para ela, talvez na esperança de que fosse algum curandeiro. O rosto dele estava inchado e vermelho. Se ela não soubesse que ele estava chorando, ela poderia jurar que ele havia enchido a cara.
Com dificuldade, ela sentou-se ao lado dele e colocou a poção a seus pés. Soltou um suspiro de dor e colocou as mãos na perna, massageando-a. Harry não escondeu o rosto, mas não a encarou. Seu olhar fixou-se em algum ponto na parede.
- Como está o Lucas? – ele perguntou, com a voz saindo completamente rouca, como se não a usasse havia décadas. Cecília entendeu o que ele estava fazendo.
- Está dormindo. – ela sussurrou. – Deram-lhe uma poção do sono depois que ele sugeriu que fugiria se não lhe dessem nada para aliviar a dor na perna. Ele quebrou um osso, mas também Nicholas havia destruído um osso na batata da perna.
- Reconstituição. – Harry comentou em um tom baixo. – Eu sei o quanto dói, já passei por isso uma vez.
Ela soltou um estranho sorrisinho.
- Aposto que você não urrava blasfêmias para os pobres curandeiros como ele.
Harry soltou um suspiro e deu de ombros. Respondeu com a voz a fio:
- Suponho que não.
E o silêncio tornou a reinar. Cecília percebeu a dificuldade que Harry encontrava em não chorar na frente dela. Mas ele não conseguia evitar que as lagrimas se formassem em seus olhos.
Ela abaixou o rosto e encarou o chão:
- Alguma noticia dela?
Ele balançou a cabeça e fez o mesmo gesto dela.
- Não.
Ela suspirou. Massageou mais uma vez a perna e soltou um bocejo.
- E Rony?
- Ele está descansando. Escutei a Sra. Weasley dizer isso. Parece que tudo ocorreu bem. Ele vai sobreviver, e com sorte, acordará amanhã já. Em breve ele estará fora daqui.
Cecília tentou sorrir para reconfortá-lo.
- Isso é muito bom de se ouvir. Aposto que a noiva dele deve estar radiante.
- Ainda não a vi. Deve estar ao lado dele, e provavelmente ela nem saiba que Gina...
Sua voz foi morrendo aos poucos. Ela mordeu o lábio.
Gina Weasley era como sua irmã. Ela também estava sofrendo com o medo, e o desespero. Vira o estado da amiga enquanto Harry a carregava para fora da casa. Ele não deixou que ninguém a tocasse, até que os curandeiros se encarregassem disso. Na verdade, houve até mesmo certa relutância para deixar que os curandeiros a tocassem, também.
Mas ele estava numa situação de desespero pior do que a dela. Ele estava como se pudesse despencar a qualquer segundo. Cecília molhou os lábios com a pontinha da língua e depois olhou para os lados, a procura de alguma curandeira. Ela estava fugida do próprio quarto em que deveria estar repousando.
Ele passou a mão pelo rosto e soltou um longo suspiro.
- Isso tudo é minha culpa.
Ela piscou e o encarou.
- Por que diabos é a sua culpa? De onde você tirou essa idéia absurda?
- Se eu não tivesse acreditado em Malfoy, ela nunca teria ido para França, talvez nunca tivesse participado do plano de se infiltrar nos Comensais... E nada disso teria acontecido. Como eu pude ter sido tão retardado? – ele lamentou. Tornou a esconder o rosto entre as mãos. – Ela pode morrer agora, e isso é minha culpa.
Ela balançou a cabeça, inconformada com o que ele dizia. Cutucou-o até que ele a encarasse.
- Eu sei que você é o único que pode derrotar Você-Sabe-Quem por inúmeras razões, que existem diversas historias sobre você, mas – ela balançou a cabeça. – Desde quando você tem o poder de adivinhar as coisas? Ou de mudar o destino? Como você ia saber que tudo isso ia acontecer? – ela fechou os olhos e suspirou. – Você sabe que isso não é a sua culpa. Talvez seja sua culpa faze-la sofrer de amor por você em Paris, mas não é sua culpa que ela esteja em estado critico agora, a menos que você seja o Malfoy – arqueou uma sobrancelha.
Ele balançou a cabeça, inconsolável.
- Eu não acreditei nela... Eu a deixei na mão daqueles comensais... E agora... Eu posso perdê-la.
- Harry. Não é você que decide o destino das pessoas. – a francesa repetiu. – Vou lhe contar uma coisa: eu me culpei quando Lucas foi mandado à Azkaban, mas que culpa eu tinha que eu tenho um irmão cretino?
Ele balançou a cabeça, com um sorriso enviesado.
- Isso não é parecido.
- Eu sei. Foi uma tentativa frustrada para você não ficar se culpando.
Ele balançou a cabeça e enterrou novamente o rosto nas mãos.
- Eu sou muito burro. – resmungou. – Muito burro.
- Gina costumava dizer isso. – Cecília sussurrou. Ele a encarou mais uma vez e sorriu. A morena colocou a mão sobre o ombro de Harry.
- Vai acabar tudo bem.
Ele balançou a cabeça.
- Como você pode ser tão calma com relação a isso tudo?
Ela deu de ombros.
- Talvez porque eu tenha aprendido que mesmo que eu surte aqui mesmo, não iria resolver nada. Então, o que eu posso fazer? Pedir para Deus faça o melhor.
- Queria ter sua calma para isso. – a francesa riu.
- Você tem. A única diferença é que é sobre Gina que estamos falando. É o simples fato que você não consegue se acalmar. Mas eu acredito que vá tudo acabar bem. – ela olhou para a parede por um tempo. – E Malfoy?
Fora uma cena inédita. Harry, cujos olhos verdes brilhavam por causa do vermelho de choro, cerraram-se imediatamente. Aquele poder de raiva mais uma vez pareceu invadi-lo e ele pareceu mais uma vez o Harry poderoso que ela conhecia.
- O que tem ele? – perguntou num tom de voz ríspido.
- Onde foi parar o corpo? – ele deu de ombros.
- Duarte se encarregou disso, não foi? Eles retiraram o corpo logo após eu sair com Gina. Ele deve estar na geladeira.
- Duarte vai querer depoimentos seu e de Gina.
Ele balançou a cabeça, enfático.
- Gina só dará depoimento se ela estiver preparada para fazê-lo. Nem que para isso eu perca meu emprego. Quanto a mim, não estou de cama, estou? – deu de ombros. – Se ele me chamar agora, eu irei, sem problemas.
Ela tinha esquecido de pensar naquele detalhe. Como Gina agiria quando acordasse... Se ela acordasse? Ela imaginou se aquilo tivesse acontecido com ela, qual seria o tamanho do trauma que sofreria? Ou será que não sofreria trauma algum? Era difícil dizer. Passar pela mesma experiência quase duas vezes era aterrorizadora.
Cecília sentiu uma vontade arrebatadora de ir ver o estado da amiga, mas os curandeiros não haviam deixado ninguém ainda sequer entrar. Bufou chateada.
- Soube que Lucas discutiu com Duarte. – Harry comentou. Ela entendeu o que ele estava fazendo, e sentiu-se grata por isso. Era bem capaz que agora fosse ela quem começasse a chorar.
- Discutiu. Duarte o acusou de não ter percebido que Nicholas era um comensal.
Harry balançou a cabeça, com um desdém mortal.
- E ele havia percebido, com toda a certeza. – murmurou irônico.
- Foi o que Lucas disse. Então eles discutiram e como Lucas já não está nada agradável em humor por causa da dor e das poções que é obrigado a tomar, ele finalmente explodiu em cima de Duarte. Então, Duarte o demitiu. – Cecília abriu um sorriso de canto. – O que o idiota não percebeu é que ele jamais foi auror dele. Lucas é do Ministério da Magia francesa. Então não tem a quem demitir.
Harry balançou a cabeça, desgostoso.
- É típico do que Duarte iria fazer. – ele arqueou uma sobrancelha para Cecília. – O que vai ser da seção de aurores da França?
A morena balançou a cabeça.
- Não sei. Na verdade, não tenho idéia. Ivon era chefe da seção há muitos anos... Não sei como o ministro vai lidar com isso, agora. – ela deu de ombros. – Mas no momento isso não me preocupa. Fico pensando...
- Ah, aí está você! – tanto Harry quando Cecília se sobressaltaram. Uma curandeira de meia-idade já estava parada batendo um dos pés no chão, freneticamente. – Francamente, senhorita Renard, já é bem grandinha para ficar fugindo do próprio quarto.
- Ora, por favor! – exasperou-se. – Não dá para ficar o tempo toda trancada ali, e não estou em estado tão decadente para ficar de cama todo o tempo.
A mulher sacou a varinha e apontou para Cecília.
- Já para seu leito, senhorita Renard, ou serei obrigada a te estuporar.
A morena arregalou os olhos para a varinha, depois encarou Harry.
- Ela pode fazer isso?! – perguntou incrédula. Harry encolheu os ombros.
- Eu não sei. Talvez ela possa, desde que você a ameaçou com a varinha uma vez.
- Mas isso faz tempo! – ela exclamou assustada. – E eu apenas disse “some”. Que culpa eu tenho se sempre designam a mesma curandeira para mim?
- Senhorita Renard, por favor, não me obrigue a...
- Oh, raios, está bem, está bem! Eu já estou indo. – levantou-se muito mal-humorada e saiu mancando acompanhada da mulher, que continuava a lhe passar um sermão. A sombra de um sorriso suavizou a expressão de Harry, mas logo tornou a se apagar quando ficou mais uma vez sozinho. Com os pensamentos perdidos em Gina.
Harry encostou a cabeça na parede e esticou o corpo numa tentativa frustrada de sentir-se confortável na cadeira.
Lembrou-se dos momentos em que passou com Gina. Lembrou do som de sua voz, da risada maravilhosa que só ela tinha... Do brilho intenso que suas íris castanhas tinham. Ela era perfeita para ele... E ele era um perfeito idiota.
Esperava que, pelo menos, ela pudesse perdoá-lo por nunca ter entendido o quanto ela era especial para ele. O quanto ela realmente o amara, a ponto de respeitar a sua opinião, mesmo jamais tendo feito alguma coisa para trai-lo.



_Em termos, você está certa. Parcialmente. – comentou, olhando-a cruzar os braços. – Mas não estou preocupado que vá me machucar com algum daqueles comensais, eles não causam nada além de arranhões em mim, e isso não me machuca. Mas – ele a segurou pelos ombros, olhando-a nos olhos, como quem quisesse desvendar todos os segredos daquela ruiva. Sorriu, de forma preocupante. – Eu ficarei realmente machucado se eles te machucarem, ou pior. – ela o sentiu tremer levemente. – Se eles me fizessem perder você para sempre.




Mais uma vez, ela teve a sensação de que todos os ossos de seu corpo estivessem destruídos. Cada parte, por menor que fosse, doía como se ela tivesse despencado de um prédio.
A sensação boa, talvez, era que ela estava completamente confortável no que parecia ser uma cama. Estava quente e em algum lugar macio. Seus pensamentos estavam lentos demais e ela não conseguia se lembrar direito o que havia realmente acontecido. Apenas lembranças difusas ecoavam em sua cabeça.

- Não, não, eu preciso terminar. Preciso lembrar você. Quero que você entenda por que vai morrer. Eu a humilhei naquele dia quando foi descoberta como agente dupla, eu arranquei sua inocência apenas para me satisfazer. Eu a desejava, e aquilo para mim foi a gloria. – ele gritou. – Sua alma pode não ser minha, mas aquilo me fez sentir vingado. Até você matar meu pai. Então... Você começou com morte, e eu vou terminá-la da mesma forma.

Aos poucos, ela foi se lembrando. Estava em um dormitório sujo e que fedia como um cadáver. Malfoy estava ali. Falava em vingança. Gina encolheu-se, ainda que de olhos fechados. Lembrou-se de tudo que ele havia dito e feito, e o que estava proposto a fazer.
O medo invadiu sua garganta com força sobrenatural, e ela sobressaltou-se na cama, abrindo os olhos em desespero. Sem entender onde estava, isso a fez que ficasse mais assustada. Olhou para os lados e se viu sozinha, mas não estava mais amarrada. Olhou para os pulsos e viu que estavam arroxeados nos lugares em que foram amarrados. Assustada ainda, sem perceber onde estava, encolheu-se e começou a gritar por ajuda.
Quando decidiu por fim levantar-se, sentiu que alguém segurou seu braço e ela, sem equilíbrio, voltou para a cama. Ela gritou desesperada e começou a se debater ao sentir a mão quente correr até seu ombro, apertando-a com força. Mas não era força para machucar. Era como se o dono daquela mão quisesse conte-la de cometer alguma insanidade. Virou-se e viu um homem de idade, calvo, com uma longa roupa branca. Ela ficou histérica.
- Onde eu estou? Quem é você? O que estou fazendo aqui? Quem é você?
- Acalme-se, senhorita Weasley, por favor. Acalme-se. Está segura aqui, agora. – ela pareceu não acreditar. – Você está no Hospital St. Mungus para Acidentes Mágicos, consegue lembrar-se desse lugar alguma vez?
Ela começou a respirar com mais rapidez e força, ainda assustada. Ela não conseguia entender porque estava tão desesperada ainda. O velho não havia lhe dito que estava num hospital? Então ele devia ser um curandeiro. Significava que ela estava em segurança.
Era uma farsa. Ela não entendia, mas não conseguia confiar nele.
- St. Mungus? – ela disparou. Sim, ela se lembrava daquele lugar. Visitara seu pai uma vez quando fora atacada. Mas aquele homem a desesperava. – Quem é você?
Ela não deixou que o homem a acomodasse novamente em seu leito. Desvencilhou-se abruptadamente quando ele a tocou e seu olhar emitiu nojo e medo.
- Está tudo bem, Virginia. – dizer seu nome completo fora como um pesadelo. Ela lembrou do som que Malfoy fazia ao soar seu nome. Ela estremeceu e gritou para que ele não dissesse seu nome. O homem arregalou os olhos. – sim, sim, está tudo bem, senhorita Weasley. Por favor, não precisa se desesperar. Sou o curandeiro Jullians, fui responsável em cuidar de sua saúde até que melhore. Ainda está muito debilitada, mas é um grande feito que você tenha acordado tão rápido, tendo em vista o estado em que a senhorita chegou.
Ela piscou para ele, como um animal enjaulado.
- Há quanto tempo estive desacordada?
O homem sorriu com bondade, e aliviado que ela não tivesse gritado.
- Apenas uma noite, senhorita. Você se recuperou rapidamente, mas ainda está fraca. Mas se assim quiser, posso lhe avisar sua família para entrar. Estão todos ansiosos em vê-la.
A idéia de toda a sua família rodeando-a a deixou desesperada. Todos lhe fazendo perguntas... Todos desesperados com seu bem... Todos a tocando. Ela não conseguia sentir confiança nem em sua própria família. Sentiu lágrimas se formarem seus olhos, mas não chorou. Não confiava no homem para que ele a visse tão vulnerável.
- Minha família?
- Sim, estão todos preocupados com você.
- Eu não quero que ninguém me veja, entendeu? Ninguém! Não os quero aqui!
Ela olhava para os lados, como quem esperava que qualquer coisa a atacasse.
- Tudo bem, tudo bem, não precisa se alterar, senhorita. Acalme-se. Heather irá avisá-los que a senhorita não quer ver ninguém, não é mesmo, Heather? – ele olhou para uma curandeira que Gina até então não tinha visto. Era uma moça nova. Gina cerrou os olhos para ela. – E então ninguém virá até que a senhorita peça isso, tudo bem? Bom. – ele sorriu quando ela assentiu, em silêncio.
Gina abraçou as próprias pernas e encostou o queixo no joelho, olhando para o vazio. Ela sabia que não precisava sentir medo, mas não conseguia evitar. Estava desesperada.
Não queria que ninguém a tocasse, que ninguém a visse. Queria até mesmo que o curandeiro saísse dali, mas aquilo era insano. Ela sabia que ele não sairia.
Ela viu que seus olhos embaçavam por causa das lágrimas. Fechou os olhos e escondeu o rosto. Assim que os fechou, viu Malfoy rindo para ela, histérica e loucamente. Enterrou o rosto nos joelhos e segurou um grito. Então lembrou-se de tudo.
De como parara no lugar. De como a haviam seqüestrado. De tudo que Malfoy dissera. Aquilo a fez ficar mais desesperada. O homem estava falando, mas ela não o escutava, realmente.
Era como se uma linha a separasse do mundo em que as pessoas estavam vivendo. Ela estava marcada, e no momento não conseguia se lembrar de nenhum momento feliz. Estava sozinha. Marcada e sozinha.
- Seus amigos também estão aqui, preocupados com você. O senhor Preston está em repouso recuperando-se e a Senhorita Renard também está em seu leito. O Senhor Potter, eu creio que está conversando com o chefe, passou a noite inteira plantado no hospital esperando noticias, e só dormiu quando soube que você ficaria bem. Ainda sim, dormiu sentado em um banco, depois de tantos copos de uísque, creio eu, e -.
Só então ela entendeu que ele estava falando. Mas a única coisa que conseguira captar fora a menção do nome de Harry.
Ela não se sentiu amedrontada ou desesperada, entretanto. Na verdade, a imagem da Harry ao seu lado fez com que se acalmasse. Ela não entendia, mas ela sabia e sentia que podia confiar nele. Sim, ela podia confiar nele. Apenas não entendia por quê. Sua família também era importante, mas ela sentia medo deles. Mas de Harry não. Na verdade, ela queria que ele estivesse ao seu lado.
- Harry está aqui? – ela olhou para o homem e seu tom de voz começou a se elevar. – Harry está bem? Ele está aqui? Onde ele está? Quero vê-lo. Você me entende? Quero vê-lo.
- Mas a senhorita disse que -.
-Quero vê-lo. Traga o Harry aqui. Quero vê-lo.
- Tudo bem. Apenas fique calma, senhorita. Não fique histérica. Você ainda está fraca demais. Heather, vá buscar o Senhor Potter. – avisou a curandeira. Depois, sussurrou de modo que Gina não ouvisse. – E explique a situação dela para ele e a família. Não sei qual será a reação dela ao ver o rapaz.
A mulher assentiu e saiu em silêncio. Gina cobriu-se com o lençol do hospital e olhou para a porta, em silêncio.




Molly Weasley quase se jogou em cima da curandeira quando esta chegou com noticias de Gina. Todos olharam apreensivos para a mulher.
- Minha filha está bem? Ela já acordou? Podemos vê-la?
A mulher colocou uma das mãos sobre o ombro de Molly e a afastou com delicadeza.
- Sim, senhora Weasley, sua filha acaba de acordar. – a mulher soltou um gritinho de alegria e agradeceu aos Céus. – Mas ela não está em condição de vê-los.
Fred Weasley arqueou uma sobrancelha.
- Como assim? O que você quer dizer com isso?
- A moça está em estado de choque. – a curandeira balançou a cabeça. – Está assustada com tudo e com todos. Gritou conosco no mínimo três vezes já. Ainda está fraca, também. Jullians acredita que ela ainda não conseguiu absorver a idéia de que todo o pesadelo pelo qual ela passou acabou. Nota-se nos olhos dela: ela não está confiando em ninguém.
- Gina... Em estado de choque? – repetiu a Senhora Weasley, com os olhos rasos de lágrimas. – Minha menininha...
- Espero que os senhores saibam que pode ser provável... se ela não melhorar... Que ela precise ficar um tempo por aqui.
- O quê?! – gritou a matriarca. – Minha filha não vai ficar isolada neste lugar!
- Molly, acalme-se. – sussurrou o marido, mas a mulher já estava aos prantos.
- Quero ver minha filha, quero ver minha menina... Oh, Arthur, ela não quer nos ver!
- O que está acontecendo? – uma voz perguntou as costas da curandeira. Era Harry, que havia acabado de chegar ali. Seu olhar estava alerta. – Gina... Ela acordou?
- Sim, senhor Potter. A senhorita Weasley acabou de acordar, mas como eu estava explicando aos pais dela, a jovem está em estado de choque e -.
- Eles querem mantê-la aqui! – gritou a Senhora Weasley, histérica. – Querem manter minha menina isolada!
Harry arqueou uma sobrancelha. Não demonstrou que seu coração pulara em seu peito.
- Manter Gina aqui? Por quê?
- Ela está em choque, senhor. Está desconfiando de todos. Sentiu-se desesperada até mesmo com a presença do curandeiro e minha.
O homem abaixou o rosto por um breve momento, antes de erguê-lo.
- E ela não quer ver ninguém?
- Na verdade – ela abaixou o tom de voz para que a matriarca Weasley não a escutasse. – ela quer vê-lo.
Ele ficou um tempo em silêncio. Não expressou emoção alguma, mas assentiu com a cabeça.
- Tudo bem. Pode me levar até lá? – virou-se para a senhora Weasley e a abraçou. – Tudo bem, Senhora Weasley. Gina irá ficar bem. Por favor, não fique assim.
- Vão trancar minha menininha aqui, minha única menina! – soluçou a mulher histérica.
- Não, não vão! – balançou a cabeça, convicto. – Sua filha é forte. Ela vai melhorar e não vai precisar. Mas pense no melhor para ela, Molly. Eu vou conversar com meu chefe – mentiu. – Quando Gina estiver preparada para nos receber, iremos todos juntos, tudo bem?
Arthur percebera que Harry estava mentindo. Mas entendeu o motivo e assentiu silenciosamente. Molly, ainda em soluções, assentiu. Harry deu as costas à família e caminhou com a curandeira até o quarto de Gina.


- Senhor Potter, - a curandeira disse quando pararam de frente para a porta do quarto em que Gina se encontrava. – Ela o chamou, mas isso não significa que estranhe sua presença e até o expulse daqui aos gritos. O senhor me compreende? Mas não culpe a jovem... Ela não tem culpa.
Ele balançou a cabeça.
- Se ela quiser que eu saia, eu sairei. Respeitarei a decisão dela em qualquer momento. – disse em um tom de voz baixo e convicto. A mulher assentiu e deu espaço para que ele abrisse a porta. – Mas eu quero ficar a sós com ela, se ela permitir.
Ele abriu a porta e seu olhar caiu imediatamente em Gina. Ela ergueu o rosto pálido para ele e piscou seus dois enormes olhos castanhos em sua direção, e imediatamente o mundo pareceu ter entrado em seus conformes para ele.
Ela estava viva. Isso o fez que inspirasse e expirasse com a tranqüilidade que pensou nunca mais sentir.
Ainda sim, ficou parado, hesitante. Gina não se mexia, apenas o encarava. Pelo menos ela não gritara histérica, ele pensou. Seria um bom sinal?
Ele não se mexeu, com medo que ela começasse a ficar assustada com sua presença. Deixaria que ela se acostumasse à sua maneira. Talvez fosse por isso que estivesse tão assustada. Talvez ninguém lhe tivesse dado o espaço que ela precisava.
Ela virou os olhos para o curandeiro e disse em um tom de voz baixo:
- Quero ficar a sós com ele, por favor.
Harry pareceu surpreso. Ele nem precisara pedir para ficar a sós com ela, já que ela mesma o fizera. Ele percebeu também o tom na defensiva e fez um sinal de assentimento para o curandeiro quando este o encarou, como quem dizia se estava tudo bem com aquela decisão. Em silêncio, os dois curandeiros saíram e fecharam a porta com delicadeza. Harry continuou parado, apenas encarando Gina.
- Você pode se sentar aqui? – ela perguntou com a voz baixa. Mas ele percebeu que não havia medo.
- Você quer que eu me sente aí? – perguntou. Ele estava com o semblante indecifrável. Ela pareceu pensativa, e depois fez um aceno afirmativo com a cabeça. Vagarosamente, ele caminhou até a cama de Gina e sentou-se na beirada, nem tão perto nem tão longe dela. Ficaram em silêncio.
Gina ainda estava abalada fisicamente, Harry percebeu. Ainda havia uma marca do corte do feitiço que Malfoy lançara nela na linha do pescoço, um corte grande. Mas as bochechas de Gina não estavam mais cortadas. Apenas estava pálida.
Ela engatinhou até ele e ele reparou o roxo em seus punhos, mas não comentou nada. Ela o encarou nos olhos por um tempo, antes de sentar-se ao seu lado. Logo depois, encostou a cabeça em seu peito e fechou os olhos. Com cuidado, ele rodeou os braços ao redor dos ombros dela, e ao ver que ela não recuara, ele a abraçou contra si e fechou os olhos, sentindo o aperto em seu peito sumir.
Sabia que ela estava traumatizada, mas saber que ela não sentia medo dele fez com que tudo se tornasse mais fácil, para ele.
Inspirou profundamente enquanto ela o abraçava. Não disseram nada, apenas ficaram assim durante alguns minutos, se abraçando com força.
A maior vontade de Harry era segurar seu rosto em suas mãos e beija-la, pedir perdão de joelhos e beija-la mais uma vez, mas ele sabia que ela não estava preparada para isso ainda. Tinha que ir aos poucos. Deixaria que ela o conduzisse, o mostrasse até onde ele poderia ir.
Ela ergueu uma mão e acariciou o rosto dele, com a ponta dos dedos.
- Como se sente? – ela perguntou em um sussurro. Ele sorriu.
- Agora eu me sinto tranqüilo.
- Você está cheirando a bebida. – analisou - Você me disse que só bebe quando está preocupado.
Ele assentiu. – Sim. Só bebo quando estou muito preocupado.
- Por que você estava preocupado, Harry?
Ele deslizou a mão pelos cabelos limpos dela.
- Estava preocupado de talvez nunca mais poder fazer isto com você.
Ela não estava assustada com nenhum gesto dele.
- O quê?
- Abraça-la. Escutar sua voz. Escutar você me xingar de demente. Acho que eu preciso disso às vezes para abaixar o ego.
Ela se afastou dele e o encarou nos olhos por um tempo. Passou a mão na franja dele, arrumando-a.
- Sua cara está pior que a minha.
Ele abriu um sorriso fraco. Assim como ela.
- Você fica linda de qualquer jeito, Gina.
- Não precisa ser mentiroso, Harry. Estou fraca, mas isso não alterou minha capacidade visual. Estou pior que um demônio. – ela abriu um pequeno sorriso matreiro para ele.
Ele sorriu e balançou a cabeça, em silêncio. Ela se aconchegou a ele mais uma vez e colocou as pernas para fora da cama.
- Eu estou assustada. E nem consigo entender por quê. Não quero ver meus pais, os curandeiros me assustam... Toda vez que fecho meus olhos, vejo e revejo todas as cenas que eu sofri antes de... Vir para cá. – ela estremeceu. Ele a apertou contra si.
- Não precisa se preocupar, Gina. Você está em segurança agora. – ele esfregou o nariz em seus cabelos. – Você confia em mim, Gina? – sussurrou em seu ouvido. – Acredita em mim quando digo que nada pode atingir você?
Ela assentiu.
– Confio. Sei que posso confiar em você. Não sinto medo.
- Então acredite em mim. Você está em segurança, agora. Você não precisa ter medo de ninguém. Ninguém mais pode machucar você. Você pode confiar em mim? Você pode por sua segurança em mim? Eu prometo a você nunca engana-la.
- Eu sei disso. – ela suspirou, entrelaçando sua mão com a dele. – Eu confio em você. Sempre confiei. Apenas acho que preciso de um tempo para esquecer tudo isso – eles ficaram em silêncio por um breve momento. – Harry?
- Sim?
- O que aconteceu? – ele fez uma careta de desentendimento. – Lá, naquela casa. Eu desmaiei... Não lembro de nada.
- Você desmaiou no momento em que eu já estava na casa. – ele passeava a mão nas costas dela, massageando-a, acariciando-a. – Bárbara foi presa e eu tirei você de lá.
- Você prendeu Malfoy?
Ele não soube dizer se aquele era um bom momento para dizer a ela que ele havia matado Malfoy com cinco tiros na cabeça, certamente. – Sim, querida, eu prendi.
Ela se afastou dele e passou a mão pelos cabelos. Seu olhar pareceu cético, mas ao mesmo tempo estava perdido em algum ponto. Ele ficou contemplando a ruiva que tanto amava. Ela não parecia em choque. Estava conversando daquele assunto com ele... Não estava histérica. Apenas parecia abalada.
- Malfoy disse que eu era acusada de desgraçar sua vida. – ela arqueou uma sobrancelha.
- Ele era doente. – resmungou Harry. Não podia evitar sentir raiva ao lembrar-se do filho da puta.
- Ele disse que era louco por mim. – ela ergueu os olhos para ele, numa expressão confusa. – Disse que eu era o motivo dele ter ingressado aos Comensais da Morte, para chamar minha atenção.
- Eu sou louco por você, Gina, entenda. – ele balançou a cabeça negativamente. – Malfoy era demente. Estava jogando em cima de você culpa por ele ter desgraçado a própria vida. Não leve em conta o que a doninha disse antes de morrer.
- Malfoy morreu? – ela perguntou antes que ele desse conta do que havia dito. Harry arregalou os olhos e soltou um muxoxo, mas não a respondeu. Gina o cutucou. – Harry, me responda.
- Ah, maldição. Morreu, ele morreu assim que você desmaiou.
Ela pareceu surpresa. Mas definitivamente, não parecia assustada.
- Ou seja: você o matou.
Droga! Disseram que ela estava mal, mas a criatura continuava mais astuta que ele nem sabia como.
- Exato. Eu o matei.
Ela percebeu o brilho feroz em seus olhos verdes.
- Harry?
Ele grunhiu.
- Tudo bem. Eu escutei tudo o que ele disse. Eu escutei ele jogar toda a culpa da vida desgraçada dele sobre você. Escutei ele dizer que você era culpada. – ele soltou um suspiro. – E também escutei ele dizer que iria tentar de novo aquilo com você antes de matá-la. – ele bufou. – Ele mereceu a morte que teve, e nem tente me repreender ruiva, se eu pudesse, eu faria de novo.
Ela soltou um sorriso com a confusão dele.
- E o que você fez?
- Atirei nele. Duas vezes na cabeça. – ele deu de ombros. – E mais três vezes depois que ele já tinha morrido.
Ele lembrou-se da cena como se estivesse acontecendo novamente, e o drama de vê-la naquela situação o deixou desesperado. Piscou e olhou para ela. Talvez quem estivesse louco ali fosse ele, pensou.
Ela piscou e sorriu.
- Eu escutei o que os curandeiros disseram sobre mim, sabia? – ela balançou a cabeça. – Disseram que eu estava em estado de choque, e querem me manter aqui.
Ele não disse nada.
- Mas eu acho que estou completamente normal, depois do que eu ouvi.
Ele a encarou com uma sobrancelha erguida.
- Por que diz isso?
Gina sorriu, e pela primeira vez ele a reconheceu como a mulher que estava acostumado a ver.
- Porque eu já estaria tentando me matar para ficar longe de você depois do que você acabou de dizer. Você atirou no homem mesmo depois que ele havia morrido.
Havia um tom de riso inexplicável na voz dela.
- Como você pode achar graça disso? – perguntou incrédulo. – Eu estava furioso, está bem? Se eu pudesse, traria o cara do inferno e o mataria por pelo menos, mais umas vinte vezes. E cada uma de uma forma mais cruel.
Gina riu.
- Eu acho que assumi certo humor negro.
- Você acha? – zombou o moreno. Ela inspirou alegre e o beijou no rosto.
- Acho que tudo o que eu precisava era sua presença. Sim, era isso. – ela sacudiu a cabeça. – Eu estava assustada com todos, mas definitivamente, não estou mais. Sei que em um momento ou outro eu posso dar um surto, mas sei em quem posso confiar. Consigo entender isso. E tudo graças a você. Você me acalmou... Não sinto mais medo. Na verdade, até quero ver minha família, estou preocupada com eles. E se puder, quero ver Rony também. Mas, definitivamente eu estou bem.
- Você está bem?
- Contanto que você não deixe os curandeiros me prenderem aqui, estarei ótima. Você sabe que eu odeio hospitais.
- Você acha mesmo que vai ficar aqui? – ele riu irônico. – Até parece. Sua mãe quase teve um outro Weasley quando eles cogitaram essa possibilidade.
- Foi a adrenalina que eu ainda não havia liberado. – ela se defendeu. – Agora eu estou muito bem. Mas vai demorar um pouco para esquecer tudo isso.
- Esquecer você não vai, você sabe disso.
- Mas eu digo esquecer no sentido de superar. – Gina comentou. – Mas eu tenho um ótimo remédio para isso.
Ele fez uma careta confusa.
- Tem, é?
- Tenho. – ela beijou seu rosto mais uma vez. – Tenho a você. Você é tudo o que eu preciso.
E ele entendeu que ela jamais havia deixado de amá-lo, mesmo ele tendo não acreditado nela. Não pelo o que ela havia dito, mas como seus olhos brilharam para ele. Do mesmo modo quando começaram a namorar, oito anos atrás. Ela sempre o amara, mesmo quando ele não entendia isso.
Não conseguia acreditar como pudera achar que ela algum dia o trairia.
- Gina, ouça. – Harry colocou suas mãos na cintura delicada da ruiva e aproximou seu rosto do dela. – Eu escutei o que Malfoy disse sobre aquele dia em que eu achei que você tivesse me traído. – balançou a cabeça. – Eu devia ter imaginado que você jamais faria isso. Devia ter acreditado em você. Você pode me perdoar?
- Harry... Para que...
- Porque eu me sinto culpado de tudo isso que aconteceu com você. – disse tudo tão rápido que ela fez uma careta. – Gina, eu sou um idiota. Um perfeito panaca. Por favor, me perdoa.
- Você não tem culpa se é um idiota. – ela comentou risonha, dando os ombros. – Snape vivia dizendo que você era meio lerdo, mesmo, isso não é novidade.
- Gina...
Ela segurou seu rosto entre as mãos, da mesma forma que ele fazia com ela e o beijou. Não foi um beijo de desejo carnal. Foi um beijo carregado de amor, ternura e compreensão. Para que ambos se lembrassem que se compreendiam perfeitamente e por completo.
Quando Gina se afastou, ela sorria.
- Não é assim que se forma um relacionamento? Como as pessoas viveriam juntas se elas não perdoassem os defeitos e os erros das outras pessoas? – sorriu. – Você não é perfeito Harry, e eu fico imensamente grata por isso, mesmo que as vezes você exija ser para derrotar Voldemort. Não somos iguais, e é isso que faz nossos momentos juntos serem tão especiais, por que um completa o outro. Você aceita meus defeitos e meus erros assim como eu aceito os seus. Você não pode se culpar por um erro do passado, pela nossa idade. Quando novos, sempre achamos que já entendemos tudo quando na verdade não entendemos nada. – ela riu. – Hoje eu consigo entender, espero.
Ambos estavam com os olhos marejados.
- Um relacionamento, qualquer tipo que seja, tem como uma das bases o perdão. Nada iria durar se ninguém desculpasse ninguém. – ela o beijou mais uma vez. – E eu já perdoei você mesmo antes de você perceber. Sabe por quê?
Ele já estava a beijando novamente. Afastou-se dela e perguntou:
- Por quê?
- Porque quem ama perdoa. E eu já disse isso a você, Harry. Eu amo você, sempre amei. E isso jamais mudou.

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