ATRÁS DOS OLHOS DELA
- CAPÍTULO V -
ATRÁS DOS OLHOS DELA
A MENINA PERMANECEU PARADA, uma das mãos na maçaneta, os olhos fixos no bruxo a porta, enquanto as coisas aconteciam na mente dela. Os pensamentos surgiam, um a um, e despencavam uns sobre os outros, como num efeito dominó rápido demais para qualquer um acompanhar, até mesmo ela. Mas Laure não precisava de nenhum deles. Ela sabia perfeitamente o que fazer.
– Queira entrar, professor – disse Laure, sorrindo singelamente, e afastando-se a fim de dar espaço para Snape entrar.
Os olhos negros de Snape percorreram o lugar assim que ele pisou dentro da casa, notando, sem dar muita atenção, os móveis velhos, a escada para o andar de cima, e o papel verde musgo com detalhes nas paredes. Nesse tempo Laure fechou a porta, pondo-se à frente de Snape e murmurando algo para ele seguí-la, ao entrar na sala.
A bagunça feita por Kimberly, enquanto cantarolava no café-da-manhã, ainda estava por ali. Circulando entre os móveis Laure recolheu as almofadas espalhadas pelo chão, jogando-as sobre o sofá. Tirou o jornal que estava sobre a poltrona, colocando-o na mesa de centro, desdobrou a ponta do tapete e indicou o sofá para Snape se sentar. Curiosamente, na opinião de Laure, ele se acomodou no exato lugar que fora de Eva.
– Vim a pedido de Albus Dumbledore, diretor de Hogwarts, tratar sobre a confirmação de sua vaga – disse Snape a Laure, que se empertigava na poltrona adjacente. – Suponho que recebido à carta – Laure assentiu. – Então, gostaríamos de saber por quê não enviou a coruja com a confirmação.
Ela observou-o por alguns instantes, enquanto ele falava. Estava claro que ele não era como um daqueles seres comuns e desprezíveis do vilarejo. Ele era um bruxo, e certamente não era um bruxo medíocre. O professor havia medido as palavras ao falar, usava um tom baixo de voz, vestia-se discretamente. Esses pequenos detalhes que poderiam passar despercebidos a qualquer um, lembraram-na que ela estava lhe dando com um bruxo adulto, portanto, deveria calcular suas palavras, seus pensamentos. Finalmente Laure iniciou:
– Eu gostaria de ter confirmado a vaga, professor, mas... – ela pausou, como se lhe faltassem palavras. – Eu não sabia como fazer. Não tinha idéia de como mandar a carta.
– Ao que me consta, srta. Hargrave – iniciou ele, a voz baixa –, sua mãe é uma bruxa.
– Ela era – disse Laure em voz baixa e rouca, desviando lentamente o olhar para as mãos pousadas sobre as pernas. – Minha mãe, professor Snape, morreu no mesmo dia em que recebi a carta de Hogwarts.
Laure olhou, de relance, para Snape – ele a observava, em silêncio. A menina, voltou sua atenção para as mãos, e prosseguiu:
– Recebi a coruja de madrugada, e esperei até o amanhecer para contar... Até então eu não sabia, que ela era... – ela pausou e voltou-se ao professor com os olhos vermelhos e marejados. – Que nós éramos bruxas. Ela me escondeu isso até aquele dia. Eva, minha mãe, explicou-me que tomara aquela decisão para me proteger... – Laure tomou fôlego, contendo as lágrimas e o nó na garganta que impedia o choro. A voz da menina tornou-se rouca e embargada quando ela continuou. – Ela tomaria as providências necessárias quando voltasse do trabalho, mas não houve tempo. Ela saiu... E... Aqui, bem em frente a nossa casa... O carro a pegou, e ela... ela...
As lágrimas que cobriam os olhos claros caíram, e colaram pela face de Laure, que abaixou levemente o rosto. Numa tentativa inútil de abafar os soluços, a menina levou as mãos ao rosto, antes de se entregar e chorar copiosamente, como uma criança.
Evidentemente, se estivesse em Hollywood, a pequena Laure ganharia o Oscar de Melhor Atriz.
– Meus pêsames – disse Snape, sem emoção na voz.
Com as mãos ainda enterradas no rosto, ela assentiu as condolências silenciosamente.
– Presumo que haja alguém cuidando da senhorita – continuou ele momentos depois, ao ver que Laure se recompunha.
– Há – afirmou secando as lágrimas remanescentes com a manga da camisola. – Minha madrinha, Kimberly. Ela não sabe nada sobre Hogwarts, ou qualquer outra coisa relacionada. Não consegui contar...
– Senhorita Hargrave, saiba que a decisão de ir para Hogwarts é unicamente sua – informou Snape. – Se for necessário falarei com sua madrinha sobre a situação. Caso aceite a vaga, teremos que ir a Londres comprar seus materiais escolares, o quanto antes.
Um pequeno sorriso se formou nos lábios de Laure, não singelo como antes, pelo contrário, era quase perverso. Snape a encarou, com os olhos cerrados: por uma pequena fração de segundos, ele pareceu ver um lampejo brilhante perpassar pelos olhos dela.
– Eu aceito – disse Laure, transformando o sorriso em agradecimento. – Eu aceito estudar em Hogwarts, professor.
– Hogwarts é a melhor escola de toda a Europa – afirmou Snape, tornando a examinar os olhos da menina, contudo sem encontrar nada de anormal dentro deles –, garanto que será bem educada lá.
Snape afastou-se ligeiramente da menina, encarando-a nos olhos. Não viu fulgor nenhum, apenas dois olhos claros, mirando-o. Ela não sabia o que ele procurava, mas dizendo um “volto rápido”, ela saiu da sala e subiu a escadaria de dois em dois degraus até chegar ao quarto. Arrancou a camisola que vestia, atirando-a por sobre a cama, abrindo a porta do guarda-roupa e pegando a primeira roupa que encontrou. Com algum custo prendeu os cabelos numa trança e enfiou os pés, já com meias, num tênis velho que estava guardado debaixo da cama.
Desceu correndo e fazendo barulho ao pisar na madeira. Snape, que a esperava em pé na sala, caminhou até o hall, enquanto Laure entrava na cozinha. Ela abriu um pote que ficava em cima do armário, retirando dele o dinheiro que Kimbeerly havia separado, posteriormente, para a compra do material da outra escola e guardando-o no bolso. Apanhou uma caneta perto do radinho de pilhas e um papel qualquer, escrevendo um bilhete e o pregando com um imã na geladeira. Largando-o lá, Laure dirigiu-se até Snape e ambos deixaram a casa.
Kim,
Fui comprar o material
escolar na outra
cidade. Peguei o dinheiro
no pote.
Volto antes de escurecer.
Laure
Andaram algumas quadras até um ponto de ônibus, pegando um intermunicipal para Cambridge, a cidade vizinha, e de lá um trem para Londres. A viagem até aquele instante fora muito silenciosa. Snape pouco falava, respondia as dúvidas sempre com poucas palavras. Laure também não parecia querer conversa alguma, fazia as perguntas sobre aquilo que mais lhe intrigava, escutava a resposta em silêncio, e o resto deduzia. Nesse ritmo ela sabia que Snape era professor de poções, que Hogwarts era milenar, que existiam outros meios bruxos de viagem, mas que nenhum deles se enquadrava na situação e que vassouras, de fato, voavam.
O trem passava por uma grande zona rural naquele instante, e a única paisagem era de grandes campos cobertos por mato. A atenção de Laure desviou-se da janela para Snape, que estava sentado no banco em frente a ela, também olhando a paisagem. Mirou fora da cabine; não havia ninguém no corredor.
– Professor? – chamou Laure, fazendo-o virar-se para ela – É comum fazer magia antes de entrar na escola?
– Na sua idade geralmente são feitos alguns truques, ou magia involuntária – respondeu ele.
Laure permaneceu calada por um momento, os olhos levemente cerrados enquanto a mente dela maquinava.
– Mas existe algum modo de alguém saber quando se faz esses truques?
Snape a estudou antes de responder.
– O Ministério da Magia pode monitorar a prática indevida de magia – respondeu –, mas não é possível saber que truques foram feitos antes do bruxo ter uma varinha. O Ministério também pode punir quem usar magia fora da escola, antes de completar dezessete anos.
Sentiu-se aliviada ao saber que os “truques” que ela fez não poderiam ser descobertos por ninguém. Ela suspirou baixinho, antes de agradecer pela resposta. Nenhuma outra palavra foi dita até chegarem em Londres.
Ao descer do trem para a plataforma, Laure sentiu uma estranha sensação, como um arrepio ao pisar no chão da estação King’s Cross. O lugar estava apinhado de gente, andando em todas as direções, cheios de bagagens e pressa. Discretamente a menina segurou na ponta da capa de Snape, para não perdê-lo em meio à multidão.
Do lado de fora havia menos pessoas, e bem mais espaço que dentro da estação. Sentiu o cheiro de café vindo de um coffee-house logo na esquina, e de jornal ao passar em frente uma banca ao lado da estação. Não teve tempo para nenhuma outra sensação, pois Snape caminhava a longos e rápidos passos, e Laure teve que correr para alcançá-lo. Seguindo-o de perto, ela reparou no modo como a capa dele farfalhava, e a carranca ao andar. Instantaneamente ela lembrou-se do Batman. Ela precisou morder os lábios para segurar o riso.
Pararam em frente uma porta velha e imunda, entre uma loja de discos e uma livraria. Teve a impressão de que ninguém além dela e de Snape podiam ver o lugar. Olhou para cima, forçando os olhos a lerem as letras gravadas numa placa de madeira que anunciava: O Caldeirão Furado.
O Caldeirão Furado era tão sujo quanto a porta do lugar, ou ao menos, dava essa impressão. Snape atravessou o bar escuro, atraindo olhares dos bruxos que por lá estavam, ao acenar ligeiramente para o barman atrás do balcão, um homem corcunda e careca de meia-idade, que secava copos com um pano branco. Snape abriu a porta dos fundos, e Laure entrou no que parecia ser o quintal do bar, com paredes fechando todos os lados, mato nascendo nas fendas do chão e um latão de lixo encostado numa das paredes.
Ela recuou para dar meia-volta. Onde quer que seja que eles iam, com certeza não poderia ser ali. No entanto Snape avançou, sacando a varinha e aproximando-se do latão de lixo. Laure caminhou receosa até ficar ao lado dele.
– Preste atenção – mandou ele.
Com a ponta da varinha ele contou os tijolos, batendo no terceiro de baixo para cima, a partir do latão de lixo e se afastou, fazendo Laure fazer o mesmo. Nada aconteceu de imediato, porém, antes dela achar que algo havia dado errado, o tijolo tocado pela varinha sumiu, e os que estavam ao redor dele também, abrindo um arco grande o suficiente para um gigante passar. A frente erguia-se uma rua de pedras, com prédios altos e irregulares.
– Onde estamos? – perguntou Laure, ao atravessarem o arco e a parede se fechar atrás deles.
– No Beco Diagonal – respondeu Snape.
A resposta não era muito esclarecedora, mas O Beco Diagonal era visivelmente uma rua de comércio. Havia bruxos e bruxas andando em todas as direções, vestidos com roupas estranhas e chapéus pontudos que Laure pensava, até então, só existir nas histórias dos irmãos Grimm. Ao lado de Laure havia uma loja com vários caldeirões de todos os tipos e tamanhos empilhados; do outro lado havia corujas e mais à frente as vassouras que voavam.
– Sua mãe lhe disse se guardava algum dinheiro? – perguntou Snape, enquanto andava.
– Não, ela nunca falou nada sobre dinheiro, mas eu sempre achei que ela tinha algum guardado, só não sei a onde – respondeu Laure, lembrando-se dos anos que Eva tinha ficado sem trabalhar e com dinheiro suficiente para viver.
Snape assentiu, e continuou caminhando. Ele subiu os degraus brancos de mármore, que levavam ao edifício mais alto e imponente de todo o Beco Diagonal. No entanto, Laure não olhava para o Gringotes, e sim para o lado oposto, onde uma pequena ruela que escondia-se nas sombras. Despertando dos devaneios ela olhou em volta e não viu Snape. Ele a esperava, já no alto da escadaria. A menina correu e ambos entraram no Gringotes.
Ela ficou surpresa ao ver todos aqueles duendes sentados em suas bancadas, analisando livros-caixa e atendendo as pessoas. Teria ficado encantada, mas logo descobriu que o humor deles era pior do que o do professor Snape. Depois de algum tempo, e muitos registros, o duende que os atendia encontrou um cofre em nome de Eva Hargrave, aberto no ano de 1976, e que desde 1977 ninguém havia usado. Ao descerem pelos trilhos e serem levados quilômetros abaixo de Londres, Laure descobriu a fonte do dinheiro que sustentou Eva por muitos anos. O pequeno cofre tinha alguns montes de moedas douradas espalhados pelo chão, e uma arca, cheia de objetos valiosos, o suficiente para Laure comprar os livros e materiais, até se formar em Hogwarts.
Saíram do banco, Laure carregava uma pequena sacola com moedas do cofre da mãe, somado ao dinheiro que Kimberly havia separado para os materiais escolares e que havia sido trocado por Galeões e Nuques. A primeira parada foi na loja de caldeirões, em seguida na botica, onde Snape comprou alguns ingredientes para as poções enquanto Laure escolhia o estojo de frascos que levaria para Hogwarts.
A loja da Madame Malkin - roupas para todas as ocasiões, estava parcialmente cheira. Snape entrou com Laure, parando próximo ao balcão.
– Em que posso ajudar, senhor? – perguntou a própria Malkin, com sua voz fina e seus cabelos bem penteados. – Ora! Professor Snape seja bem-vindo... Ah, vejo que trouxe uma aluna trouxa para fazer as compras de Hogwarts, não é mesmo? Esperem aqui, vou já pegar algumas peças do uniforme para a mocinha dar uma olhada.
E dando um sorrisinho artificialmente simpático ela saiu para trás da loja.
– Desculpe professor, mas ela me chamou do quê? – questionou Laure, confusa.
– De trouxa – repetiu ele, fazendo-a franzir o cenho. – Pessoa nascida de pai e mãe não bruxos, ou seja, nascida trouxa.
– Mas eu sou bruxa! – protestou ela.
– Contudo está vestida como uma trouxa, Srta. Hargrave.
Laure abaixou os olhos para as próprias roupas: usava calça jeans, camiseta e um casaco de moletom. Saíram de lá meia hora depois com o uniforme de Hogwarts e mais três sacolas cheias de vestes bruxas.
– Srta. Hargrave – chamou Snape ao saírem da loja de instrumentos bruxos –, preciso mandar uma coruja ao professor Dumbledore. Consegue ir sozinha até a loja de varinhas?
– Sim, senhor – respondeu ela, entregando as sacolas com as últimas compras de tinteiros e pergaminhos ao professor.
Snape passou as coordenadas para ela. Era uma das últimas do Beco Diagonal, ficava quase escondida. Laure só conseguiu identificá-la pela varinha pousada sobre uma almofada púrpura desbotada na vitrine. Ela parou lendo o letreiro acima da porta “Olivaras - Artesãos de Varinhas de Qualidade desde 382 a.C”.
Um sininho tocou em algum lugar dentro da loja quando ela entrou. As paredes eram repletas de caixas, até o teto, que Laure supôs ter varinhas. O único móvel do lugar era uma cadeira alta e estreita, que ficava no centro daquele espaço, onde ela se sentou. Instantes depois um velho senhor saiu do fundo da loja. Ele tinha os cabelos brancos e os olhos mais claros que os de Laure.
– Bom dia – cumprimentou ele suavemente, sorrindo.
– Bom dia – retribuiu Laure, sorrindo sem jeito. – Sou Laure Hargrave... Você é o senhor Olivaras, certo?
– Sim, sim Srta. Hargrave, sou Olivaras – disse ele, analisando-a. – Você se parece muito com uma jovem que esteve aqui no fim da década de 60, se não me engano. Se bem recordo o nome dela era Eva, os cabelos vermelhos como os teus. Avelã, vinte e sete centímetros, flexível. Uma boa varinha aquela. Imagino que sua mãe esteja cuidando bem dela...
– Desculpe-me senhor, mas minha mãe morreu – disse Laure insípida –, há exato um mês.
Olivaras olhou-a espantado. Ele piscou os olhos algumas vezes, e então balançou ligeiramente a cabeça, enfiando uma mão no bolso e trazendo de volta uma fita métrica.
– Vamos ao que interessa! – e dizendo isso Olivaras esticou a longa fita e a soltou, deixando-a se movimentar no ar. – Qual a mão da varinha?
– Hum... Direita, suponho – respondeu Laure, enquanto a fita media a altura dela.
– As varinhas têm personalidade, Srta. Hargrave. Isso vária da madeira que se usa, e de muitas outras condições, mas principalmente do núcleo. Estenda os braços... – disse ele a Laure, após a fita medir a distância entre os olhos dela. – Não há duas varinhas Olivaras iguais, elas são únicas. E o mais importante, Srta.: a varinha que escolhe o bruxo.
E com um movimento de mãos a fita métrica amoleceu e caiu no chão. Olivaras circulava pela sala, fazendo alguns movimentos com a própria varinha que faziam as caixas das demais descerem. Ele as empilhou perto da cadeira onde Laure estava, e estendeu uma varinha a ela.
– Cipreste, 25 centímetros, coração de dragão – disse entregando a varinha a Laure. Ela a pegou, mas mal teve tempo de fazer qualquer gesto, pois Olivaras tomou-a de volta. – Não, não. Tente essa: Macieira, vinte e oito centímetros, pêlo de unicórnio. Não, acho que não...
E assim foi. Cada vez mais a pilha de caixas aos pés da cadeira aumentava. Nogueira, Oliveira, Pinheiro, Mogno, Olmo, pêlo de unicórnio, corda de dragão, pena de fênix, farfalhantes, duras, quebradiças, flexíveis: nenhuma parecia se ajustar a Laure.
– Vejamos estas – disse Olivaras trazendo mais algumas caixas. – Castanheira, vinte e nove centímetros, farfalhante.
Laure sacudiu a varinha, mas nada aconteceu.
– Choupo, trinta e quatro centímetros, sangue de unicórnio – disse entregando a varinha a Laure.
Ela a pegou, e a sacudiu, sentindo um leve calor na mão direita. Da ponta da varinha saíram dois fios muito finos de fumaça negra, que se entrelaçaram e sumiram no ar.
– Finalmente, sua varinha a encontrou – disse Olivaras, sem sorrir. – Flexível, particularmente feminina por ter sangue de unicórnio e boa para proteção e feitiços rápidos. A madeira dela é originalmente branca, claro que envernizei esta, mas ainda é possível ver o branco em alguns lugares.
A varinha era fina como um dedo, longa, envernizada de castanho. Ela sorriu e pagou o senhor Olivaras alguns galeões antes de deixar a loja.
Do lado de fora Snape a esperava. A última parada era a Floreios e Borrões, há poucos metros dali. Tal como a loja de Olivaras era coberta por varinhas, aquela livraria era completamente coberta por livros. Snape aproximou-se do balcão, entregando a lista de livros para um dos atendentes. Laure, entretanto, não ateve-se ao balcão. Passou por Snape, indo diretamente para os livros. Olhou-os com atenção, retirou alguns do lugar, colocando-os nas prateleiras novamente após folhear algumas páginas.
Snape a observava de longe, quando a viu voltando em direção ao balcão, sem nenhum livro na mão. A menina se postou ao lado dele, e ficou quieta até o atendente voltar com a pilha de livros de Hogwarts.
– Mais alguma coisa, senhor? – perguntou o jovem bruxo de espinhas no rosto.
– Sim – respondeu Laure, antes mesmo de Snape abrir a boca. – Quero que me traga os títulos Manual da Magia - Um guia para bruxos novatos, O Conto da Circe, Brumas de Morgana... Têm algum livro que fale sobre Hogwarts?
– Temos Hogwarts: Uma história – informou o atendente. – É excelente para os alunos do primeiro ano, que não conhecem a escola. Vai querer levá-lo?
– Sim, e me traga também “A verdade nos contos de fada”, de Marion Witchood.
O rapaz assentiu e saiu em busca dos livros, enquanto Laure permaneceu no balcão tamborilando os dedos sobre a madeira. Snape a olhava, o cenho franzido. Ela virou-se para ele ao notar o olhar:
– O que foi? – questionou ela.
Ele não respondeu.
Laure seguia ao enlaço de Snape, que caminhava carregando a maioria das sacolas e as mais pesadas. Passavam pela metade do beco diagonal, próximos ao Gringotes, quando a atenção da menina prendeu-se a uma loja cheia de animais em gaiolas perto dali.
– Posso ter uma coruja, professor? – perguntou Laure parando.
Snape virou-se para ela, e mirou a loja ao fundo. Ele concordou, e seguiram a caminho da loja de Animais Mágicos.
A loja era apertada, mal-cheirosa e barulhenta. As paredes eram repletas de gaiolas e o chão estava coberto de penas, pêlos e ração dos animais das gaiolas. Não muito longe da porta havia corvos, e mais adiante peixes que mudavam de cor. Laure pode escutar os pios, ronronados e coaxos dos animais próximos ao balcão. Ela e o professor pararam ao lado de uma gaiola cheia de coelhos que se transformavam em cartolas negras de veludo, e esperaram a bruxa do balcão capturar mini-dragão vermelho, que soltava fogo pelas ventas, para colocá-lo numa gaiola.
– Pois não? – perguntou ela depois de engaiolar o dragão, descabelada e com as vestes levemente queimadas, sorrindo simpaticamente para Snape e Laure.
– A senhora vende corujas? – perguntou Snape sério.
– Sim, vendo algumas... Elas são um tanto diferentes das vendidas no Empório das
Corujas. Costumo dizer que as minhas são mais espertas – respondeu ela sorridente, pegando com uma vareta algumas gaiolas com corujas, escondidas dentre as demais no teto. – Tenho estas, são muito astutas. Oh, essa aqui é bem velhinha, anda meio surda...
Ela colocava a gaiola de uma coruja meio despenada de cor cinza sobre o balcão. O olhar de Laure pulou desta para a da gaiola do lado, onde uma coruja negra espiava-a. A vendedora colocou outra gaiola sobre o balcão, com uma coruja de pelagem preta e branca e olhos cor âmbar.
– Essa aqui – disse Laure mostrando a coruja. – Quanto custa?
– Hum... – murmurou a atendente, mordendo os lábios ao tentar se lembrar do preço. – Seis galeões, com a gaiola e ração. Essa é uma coruja fêmea, cria dessas duas aqui – e bateu com a vareta em duas gaiolas no teto, fazendo as corujas baterem as asas, assustadas. – Tenho também alguns tônicos, para dar a ela se for fazer uma viagem longa... Vai querer algum?
– Err... Pode ser.
– Ah, vou ter que pegar os tônicos e a ração lá dentro – disse a bruxa, coçando a cabeça. – Volto em um instante!
Laure a viu sumir por uma porta escondida dentre pilhas de gaiolas vazias. A menina dispersou-se, olhando para os animais. Ratos pulavam exibindo-se numa grande gaiola e os coelhos pararam de se transformar para brigar por pedaços de uma cenoura. Ela deu alguns passos e viu um pote com vaga-lumes coloridos piscando e zunindo. Ao lado um grande gato laranja de cara amassada ronronava, e, ao ver Laure aproximar-se, mostrou as garras afiadas. Ela afastou-se, mais para o fundo da loja, onde a luz era fraca e precária, ela viu num aquário uma cobra, verde e fina, enrolada numa imitação de galho de árvore.
– Você é venenosa? – questionou Laure a ela.
A cobra levantou as narinas para cima, colocando a língua para fora.
– Quem é você? – questionou a cobra, rastejando pelo galho, até ficar muito perto da tampa meio-aberta do aquário.
– Laure Hargrave – respondeu a menina. – Sou uma bruxa.
– Não sabia que bruxos falavam com cobras – constatou a ofídia.
– Alguns podem falar... Eu falo desde que era pequena – disse Laure.
A cobra novamente colocou a língua para fora, afrontando a garota de cabelos vermelhos.
– Não sou venenosa – respondeu a ofídia. – Ninguém tentaria me comprar se tivesse veneno.
– Engano o seu. Eu estava pensando em trocar a coruja por você... Mas que graça há em ter uma cobra se ela não pode matar?
– Hargrave...
Laure instantaneamente parou de falar. Ela sentiu a mão congelar e a respiração ficar tensa. Virou-se em direção da voz e viu Snape parado, olhando-a. Não sabia há quanto tempo ele estava ali, nem se ele havia escutado alguma coisa. Encararam-se por um tempo. Laure não sabia decifrar a expressão vazia no rosto dele, então limitou-se a andar de volta para o balcão ao escutar a voz da vendedora, anunciando que havia encontrado a ração.
Fizeram o caminho de volta para o Caldeirão Furado, e de lá para a estação King’s Cross. Dessa vez chamaram alguma atenção, pois carregavam a gaiola da coruja – coisa que não é comum aos londrinos normais. As outras compras foram encolhidas magicamente, e guardadas num dos bolsos de Snape.
Nenhuma palavra desnecessária foi dita na viagem de volta. Laure restringiu-se a olhar a paisagem, e vez por outra mirar a coruja ao lado dela. Contudo Snape olhava freqüentemente para a garota distraída com a vista monótona fora da janela. Ele a avaliava secretamente, procurando algo além do rosto infantil e inexpressivo da menina.
Desceram em Cambridge, pegando um ônibus para Red Lodge. Eram quase quatro da tarde quando o coletivo chegou ao vilarejo. Desembarcaram quadras antes da casa de Laure, e caminharam em silêncio até a rua Mildenhall. Ambos pararam em frente o jardim da casa de cercas vermelhas, a rua vazia.
– Enviei uma coruja para o Ministério da Magia – disse Snape. – Provavelmente dentro de poucas horas eles instalarão a rede Flu na lareira da sua casa.
– Rede Flu? – questionou confusa.
– Transporte bruxo por meio de lareiras – explicou Snape, retirando um saquinho vermelho de uma das sacolas (já desencolhidas), e mostrando-o para Laure – Este é o pó de Flu. Joga-se um punhado de pó de Flu no chão da lareira acesa, entrando em seguida dentro das chamas e anunciando claramente o local para onde quer ir. Quando for para Hogwarts basta fazer isso dizendo “Caldeirão Furado”, e de lá indo para a estação, está entendendo?
– Sim, senhor – respondeu acenando positivamente.
– Deve estar na estação, dia primeiro, sem atrasos – ressaltou ele, entregando as sacolas com as compras a menina.
– Não me atrasarei – garantiu ela. – Senhor, se não houver problemas, eu mesma gostaria de falar com a minha madrinha sobre Hogwarts. Acho que isso diminuiria o choque...
– Não vejo problemas nisso, Hargrave. Faça como quiser.
Ela assentiu.
– Fico grata, professor Snape.
E dizendo isso ela pegou a gaiola no chão, dando as costas para Snape e rumando em direção a porta. Ao colocar a chave na porta ela escutou um pequeno estalido, no ar, e virou-se em direção do jardim: Snape tinha sumido.
Entrou em casa deixando as sacolas ao pé da escada, juntamente com a gaiola da coruja. Foi à cozinha, verificar se Kimberly tinha visto o bilhete deixado por ela de manhã. Grudado na geladeira, no lugar do bilhete feito por Laure, estava outro com a letra arredondada da madrinha.
Laure,
Fui na venda comprar
mistura para bolo e pão.
Regue as plantas do jardim
enquanto eu não chego.
Ass: Kim.
Kimberly chegou alguns minutos mais tarde carregando o pacote com as compras, e encontrando um jardim recém regado. Ao abrir a porta de casa, ela deparou-se com várias sacolas espalhadas pelo chão do hall de entrada, e uma coruja empoleirada na gaiola sobre um dos degraus da escada. Olhando de relance para a sala, ela não achou Laure, e sim uma lareira acesa, crepitando em altas chamas amareladas. Ela olhou da lareira para a coruja, com os olhos espantados e a boca ligeiramente aberta. Que diabos estava acontecendo?
Na cozinha a chaleira apitava anunciando que a água já havia fervido, e Laure estava abaixada, pegando uma caixa com saquinhos de chá no armário. Kimberly colocou o pacote sobre a pia, virando-se para a mesa, onde havia um conjunto de chá postado numa bandeja.
– Laure, posso saber por que raios você acendeu a lareira? Estamos em pleno verão, um calor de derreter lá fora... E aquela coruja? Onde você comprou ela? Se queria um bicho de estimação, poderíamos comprar um labrador. E por quê você está fazendo chá de camomila?
Laure, que colocava os saquinhos dentro das xícaras olhou, pacientemente, para Kimberly.
– Chá de camomila acalma as pessoas quando elas estão nervosas – disse a menina enrolando a mão num pano de prato, pegando a chaleira e derramando a água quente dentro das xícaras. – Você me ensinou isso, não se lembra?
– Acontece que eu não estou nervosa! – protestou Kimberly.
– Mas vai ficar...
Laure levou a bandeja de chá para a sala, obrigando Kimberly ir atrás dela. Ao passar novamente pela coruja, a madrinha olhou-a, ameaçadoramente. A bandeja foi deixada na mesinha de centro, e Laure empurrou uma xícara fumegante para a madrinha, que se sentou no sofá, ao lado da lareira.
– Agora você pode me explicar o que está acontecendo? – perguntou Kimberly, tomando um gole do chá.
– Bem... – a menina respirou fundo. – Lembra-se que Eva foi estudar num internato quando ela era da minha idade, e perdeu a amizade com você até o dia em que ela apareceu aqui na porta, grávida?
– Ah, Laure! O doutor Frazier disse como é negativo para você, que acabou de perder a mãe, falar sobre ela. Você deve estar tendo... Como ele chamou mesmo? “Um trauma muito grande” e uma “tentativa de recuperação das lembran-...”
– KIM, ME ESCUTA! – berrou Laure abruptamente, fazendo Kimberly calar a boca – Ela não foi estudar num internato. Eva foi para uma outra escola, chamada Hogwarts. Não, Kim, não abra a boca, apenas me deixe falar (pois ela tinha feito menção de interromper). Hogwarts é um internato, mas não ensina matérias comuns. Hogwarts é uma escola de magia. Eva era uma bruxa, e eu também sou.
Fez-se silêncio. Laure olhava apreensiva para a madrinha.
Kimberly, olhando para Laure, tentou segurar a risada – o que gerou um barulho estranho –, gargalhando abertamente depois.
– Hey, eu estou falando sério! – exclamou Laure em meio ás gargalhadas da madrinha. – Kimberly, quer prestar atenção em mim?
– Você e sua mãe? Bruxas? – disse ela entre risadas, com uma das mãos na barriga, esbaldando-se de rir.
– É isso mesmo, B-R-U-X-A-S! – gritou Laure nervosa e tão vermelha quanto Kimberly que ria. Ela tomou a xícara de chá da madrinha e a virou, num único gole.
– Laure, quero que entenda uma coisa – começou Kimberly, tentando acalmar-se. –Você, obviamente, sofreu um choque com a perda da sua mãe, e está criando rotas para fugir da realidade. Eu entendo isso, também perdi meus pais, mas essa não é a melhor saída, querida. Eva era a pessoa mais normal que eu conheci e... Afinal... Bruxas não existem!
– Leia isso, então – disse Laure, retirando um papel dobrado do bolso e entregando a Kimberly. – É a carta de Hogwarts. Verá que é verdade.
Kimberly pegou o pedaço de pergaminho, empurrando os óculos contra os olhos. Momentos depois ela abaixou o papel, fitando a menina com os olhos azuis cerrados.
– Quer dizer, então, que se eu abrir uma daquelas sacolas na escada eu vou encontrar um caldeirão e poções mágicas? – questionou uma Kimberly desconfiada.
– Sim – respondeu Laure.
– E quer dizer que você, Laure Justine Hargrave, que eu vi nascer e criei, é uma bruxa?
– Sou – tornou a responder.
Cruzando os braços, com uma expressão divertida no rosto, e recostando-se no sofá Kimberly mirou a afilhada, sorrindo.
– Se é mesmo uma bruxa, onde está sua a varinha?
– Aqui – disse Laure, levantando uma das almofadas e puxando a varinha.
Kimberly balançou negativamente a cabeça, tentando puxar a menina para um abraço.
– Isso foi uma boa piada, Laure, muito bem montada... Uma brincadeira muito bem planejada. Agora, apenas me explique o que aquela coruja está fazendo em nossa escada. Você não gastou todo o dinheiro do material escolar com ela, não é?
– Não é uma piada! – afirmou Laure, frustrada e irritada, desfazendo-se do abraço. – Eu sou uma bruxa... Por que não acredita em mim?
– Tudo bem – disse Kimberly. – Faça uma mágica com a sua varinha, e eu acreditarei que você é uma bruxa.
– Mágica com a varinha? – Kimberly assentiu. – Não sei fazer mágica com varinha.
– Portanto, você não é uma bruxa! – concluiu a madrinha, sorrindo amavelmente. – Agora, vamos para a cozinha, o pão que trouxe já deve ter esfriado...
No mesmo momento que Kimberly levantou-se do sofá, a lareira brilhou estranhamente, e as chamas altas tornaram-se verdes-esmeralda. A atenção imediata das duas voltou-se para o fogo, onde uma voz macia feminina anunciou:
–Agradecemos por ligar a sua lareira a Rede Flu. Havendo eventuais problemas com sua lareira, procure um bruxo responsável no Departamento de Transportes Mágicos, sexto nível. O Ministério da Magia deseja um bom dia.
E as chamas voltaram a crepitar normalmente.
Kimberly, com a expressão totalmente chocada e espantada, virou-se para a menina.
– La-laure... você... é-é...
– Uma bruxa. – Concluiu ela. – É, eu sei!
A madrinha piscou uma dúzia de vezes e desmaiou, caindo no sofá.
– Entre.
A porta do escritório do diretor se moveu e por ela surgiu o professor Snape, sem sua capa de viagem, apenas com suas costumeiras vestes negras. Ele acenou, levemente, em cumprimento ao diretor antes de avançar pela sala.
– Recebeu a coruja? – perguntou Snape, parando próximo a escrivaninha abarrotada de pergaminhos.
– Recebi – confirmou Dumbledore, sentado em sua alta cadeira-trono, fazendo um gesto para Snape sentar-se na poltrona á frente. – Foi uma lastimável perda saber que Eva morreu. Creio que se lembra dela, Severus... A jovem lufa-lufana de cabelos vermelhos. Ela estudou no mesmo ano que você, chegaram a ter algumas aulas juntos. Mas desde que ela saiu de Hogwarts não tive notícias dela.
– Segundo a filha, Hargrave não havia contado a ela que era bruxa – informou Snape. – Provavelmente passou todos esses anos vivendo como trouxa, sem nenhum contato com magia.
– Sim, é provável – assentiu o diretor. – Como foi com a menina, Severus?
– Sem dúvida me deu menos trabalho do que os outros cabeças-ocas que você me manda levar a carta de Hogwarts e apresentar o mundo bruxo – respondeu Snape com azedume. – Hargrave é quieta, observadora, me fez poucas perguntas. Diferente da maioria das crianças bruxas...
Snape pausou, e o silêncio tomou conta do escritório. Ouvia-se apenas o baixo ruído dos delicados instrumentos de prata, que zuniam e soltavam fumaça sobre as mesinhas. Dumbledore, no entanto, continuou olhando Snape, atento. Contudo, o professor parecia em duvida se deveria prosseguir.
– Há algo de errado nessa menina – disse Snape. – A mente dela é mais complexa, mais rápida do que das outras crianças. Ela parece calcular o que fala, talvez monitore os próprios pensamentos e avalie suas ações.
– Severus, não deveria usar legilimência nos alunos – repreendeu Dumbledore.
– O problema não está na mente dela – rosnou Snape, levemente exasperado. – Não somente na mente. Quando olhei nos olhos da menina, tive uma sensação ruim. Como se atrás dos olhos dela houvesse uma sombra densa, ao invés de uma garota de onze anos.
– Pode ser apenas uma impressão – Dumbledore ponderou. – A menina, Laure, deve estar triste pela morte da mãe. Isso, ás vezes, reflete até mesmo nos olhos.
Snape balançou negativamente a cabeça.
– Alvo, ela é ofidioglota.
Foi como se houvesse entrado numa penseira e estivesse assistindo suas próprias memórias. Uma série de imagens voltou à mente de Dumbledore, memórias esquecidas há tempos atrás. Ele podia se ver, nitidamente, segurando a mão do garoto pálido de cabelos escuros, e a voz, ainda infantil dele, ecoando:
“...– Posso falar com as cobras. Descobri isso quando fui ao campo, nos passeios, elas me acham, sussurram para mim. Isso é normal nos bruxos?...”
– Ela lhe disse que fala com cobras? – perguntou Dumbledore a Snape.
– Não – respondeu. – Eu a vi.
Dumbledore pausou por um segundo. Os olhos dele vagaram da escrivaninha aos quadros dos ex-diretores pendurados na parede, em seguida para Fawkes, que bicava uma fruta. O diretor se levantou e caminhou até a fênix, coçando a cabeça dela antes de voltar-se a Snape.
– Se sua consciência permitir, Severus, e se estiver disposto a fazê-lo, então vigie-a – disse Dumbledore calmamente, como se comentasse sobre o tempo daquela manhã. – Entretanto você sabe que pode estar apenas intrigado com ela, pode não haver mal nenhum nessa menina. Mas caso esteja certo, jamais se deixe enganar por ela.
Os dias se passaram. Laure ficava a maior parte do tempo dentro do quarto lendo o máximo que conseguisse sobre aquele novo mundo o qual ela fazia parte. Em poucos dias ela leu Manual da Magia - Um guia para bruxos novatos de Cornelius Agrippa, e iniciou sua leitura de História da Magia, intercalando também com os demais livros que deveria levar a Hogwarts. Kimberly, durante mais de uma semana teve que ficar em casa tomando chá de camomila até parar de murmurar que bruxas existiam.
Laure mal conseguiu pregar os olhos na noite que antecedia a ida para Hogwarts. Antes mesmo de o Sol nascer ela estava de pé, com o malão que fora da mãe aberto sobre a cama, guardando dentro dele as últimas peças de roupas ao lado dos livros e pergaminhos. Ela contemplou a mala fechada antes de sair do quarto para tomar banho.
– Laure! – gritou Kimberly do andar de baixo. – O café da manha vai esfriar.
O barulho feito pelos sapatos de verniz quando Laure desceu correndo a escada encheu a casa. Ela entrou na cozinha, o cabelo feito em tranças e um sorriso de felicidade incontida estampado no rosto dela.
– Parece feliz... – constatou Kimberly ao ver a menina sentar-se na mesa.
– Porque eu estou feliz – disse Laure passando manteiga na torrada e mordendo-a com muita pressa. – Kim, se alguém perguntar por mim...
– Direi que está estudando em Londres, eu sei, você já me avisou isso algumas dezenas de vezes – disse Kimberly sorrindo. – E também lhe mandarei alguma coisa que quiser pela coruja, como você me mostrou.
Laure acenou positivamente com a cabeça, tomando de uma única vez todo o suco do copo e levantando-se.
– Preciso correr – disse ela saindo da cozinha e pegando o malão e gaiola que estavam aos pés da escada.
– Laure! Espere! – chamou Kimberly, levantando-se e correndo atrás da menina. – Faltam quinze minutos para as dez. Seu trem parte ás onze, não é? Vai ficar todo esse tempo esperando?
– Não. Vou passar no Beco Diagonal, a rua de comércio bruxo... – alegou. – Preciso comprar mais alguns livros.
Laure parou em frente à lareira, pegando o saquinho vermelho do bolso e jogando um punhado de pó de Flu na lareira acesa. Instantaneamente as chamas ficaram verde-esmeralda.
– Bem, vou indo... – anunciou Laure, e Kimberly abraçou-a repentinamente. – Kim... Kim, eu realmente preciso ir – disse a menina abraçada à madrinha, que a soltou, sem jeito.
Ela teve que se abaixar muito para entrar na lareira, e com muito custo colocou o malão e a gaiola ao lado dela.
– Prometo que vou fazer uma lareira maior – jurou Kimberly, ao ver a sobrinha agachada nas chamas verdes.
Laure apenas sorriu para a madrinha, e no instante seguinte bradou:
– CALDEIRÃO FURADO!
* * * * *
N/A: Escuto algumas vozes dizendo: “Por Merlim, um milagre, ela atualizou a fic”. Aconteceram muitas coisas na minha vida, que me fizeram repensar sobre muita coisa. Dentre coisas como falta de tempo para escrever, curso que eu estava fazendo de noite, escola de manhã, dúvida para saber que faculdade eu vou fazer (3º ano do ensino médio, vestibulanda, com dúvidas na cabeça). Sim, eu tinha abandonado a fic (não dar sinal de vida há meses, acho que é abandonar). Entretanto, voltei a escrever a mais ou menos um mês, quando
Então, para você que está começando a ler agora, por favor, não se assuste.
Todo mundo tem dúvidas na adolescência, principalmente na época em que temos que dar um rumo mais exato na nossa vida. ;)
Postarei o próximo capítulo o mais rápido possível.
Obrigada a todos que insistiram para eu não desistir da fic! Vocês são o motivo por eu escrever.
anúncio
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!