Segurança ameaçada
Alice chorava copiosamente em uma das salas do quarto andar do Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos. Sobre a cama estava Evy, desacordada. Dumbledore conversava em tom baixo com um Medibruxo de roupas verdes na porta da sala. Evy havia sido encontrada na madrugada do dia anterior nos portões de Hogwarts por Filch, com o pingente de Godric em seu pescoço; quando o zelador tentou fazer a garota voltar ao castelo, ela o azarou. Por sorte, Madame Nor-ra, a gata de Filch, alertou Dumbledore com seus arranhões insistentes até que ele fosse até o local. Felizmente, Dumbledore conseguira deter a garota, que estava prestes a destruir os portões com um feitiço.
- Certo. Muito obrigado, Jones. - Dumbledore acenou levemente com a cabeça para o Medibruxo, que saiu da sala fechando a porta atrás de si. O Diretor de Hogwarts foi até a cama e colocou sua mão sobre o ombro de Alice - Alice... Ela está bem. Só usei um feitiço Estuporante para detê-la.
- Sei disso, Professor. - Ela fungou - Mas também sei o que fizeram com minha menina. Ela não sairia de Hogwarts sozinha, ela não usaria feitiços, não pegaria o pingente da sua sala!
Dumbledore a olhava atentamente. Ela continuou:
- Foi uma Imperio, não foi? Uma das maldições imperdoáveis. - Alice segurou a mão de sua filha, enquanto as lágrimas voltavam a correr livremente pelo seu rosto.
- Queria negar, Alice. Mas sim, foi. Alguém usou o feitiço em Evy para fazê-la pegar o pingente.
Alice apertou a mão de Evy.
- Ela não está segura em Hogwarts. É preferível que ela fique em casa, comigo. Eu não vou tirar os olhos dela por um instante e assim ninguém vai atacá-la.
- Você sabe que não é assim, Alice. Evy correria mais riscos em casa. Dessa vez admito que foi um lapso, eu mesmo não estava em meu escritório para proteger o pingente e por isso não a vi entrar. Peço desculpas e lhe garanto que farei o possível para que isso não se repita.
- Dumbledore, o problema não é ela ter entrado em seu escritório quando você estava ausente! O problema real é que alguém invadiu a escola e usou a Imperio na minha filha! - Alice praticamente gritava, tamanha era sua raiva - A maldição não pode ser aplicada a distância, nós dois sabemos disso!
- Exatamente. E já pedi para verificarem toda a rede de flu e a segurança dos portões. Ninguém poderia aparatar em Hogwarts, esses são os únicos modos para entrar. Creio que brevemente vamos ter uma resposta sobre isso. E a segurança será reforçada, tanto por Evy como pelos outros alunos. Peço que avalie se vale a pena retirar a garota do lugar bruxo mais seguro e levá-la para um lugar sem proteção alguma.
Evy suspirou, atraindo os olhares de Dumbledore e Alice para si. A garota entrelaçou seus dedos com os de sua mãe e voltou a respirar calmamente, em seu sono profundo.
- Eu vou pensar.
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Sirius passara toda a noite observando o mapa do maroto, esperando o pontinho com o nome 'Evy Stooker' aparecer a qualquer momento. A luz de sua varinha incomodava os outros garotos do dormitório, que arremessavam travesseiros e sapatos no maroto.
- Almofadinhas, pelo amor de Merlim, nós precisamos acordar cedo amanhã, dá pra apagar essa maldita varinha? - Remo suplicou.
- Não. - Sirius fora monossilábico, sua voz rouca pelo desuso.
- Arre! Apaga essa porr* agora ou eu vou aí e quebro a sua varinha em duas! - Tiago gritou, provocando resmungos de dois ou três alunos.
- Não dá, Pontas. - Ele se levantou, com a varinha e o mapa em mãos - Não consigo dormir, vou para a sala comunal.
Ele se levantou e, assim que saiu, alguns garotos murmuravam um 'Graças a Merlim' e tentaram dormir novamente, dessa vez em completa escuridão. Sirius desceu as escadas do dormitório masculino calmamente e se sentou no sofá em frente à lareira. Não era possível que Evy estivesse o dia todo fora com Dumbledore. O diretor já havia chegado há algum tempo, segundo o mapa. Talvez a garota tivesse ido visitar os pais ou talvez (ele evitava pensar nessa possibilidade) ela tivesse ido embora de Hogwarts. Isso não era tão absurdo, se considerasse o modo estranho em que a garota iniciou seu ano escolar. Talvez não gostou da escola e se matriculou em outra. Beauxbatons, talvez. Talvez.
Ficou olhando para os pontos imóveis no mapa. Todos agora estavam dormindo, era óbvio. Ele deveria ser o único acordado em Hogwarts. Não tinha sono, evitava pensar no motivo que o levava a ficar acordado. Preocupação com Evy? Não. Sirius só se preocupava com ele mesmo. No máximo, com os marotos. Não com uma garota. Sempre havia sido assim... Até Evy.
Ele não pudia negar que Evy mexia com todos seus sentidos. Ele aprendera a gostar do cheiro adocicado que a garota exalava todas as manhãs, logo após acordar; toda sua atenção se voltava para a garota, quando ela falava com ele, literalmente só tinha ouvidos pra ela; seu tato havia adquirido a irritante (e deliciosa) mania de tocá-la a todo instante; seus olhos eram atraídos para a garota sempre que a via em qualquer canto. Havia apenas um sentido em que Evy não havia tocado: O paladar. Mas Sirius imaginava que o gosto do beijo da garota deveria ser tão perfeito quanto ela. Somente imaginava.
Ele passou a mão pelo cabelo, nervosamente. As mechas negras cairam sobre seus olhos, que se ergueram no mesmo momento em que ouviu um barulho vindo da escada do dormitório feminino. Um vulto feminino e delicado descia as escadas lentamente, trajando uma camisola de seda rosa. Sirius fechou os olhos e abriu um sorriso espontâneo. Era a sua marota. Não abriu os olhos para verificar o ponto 'Evy Stooker' no mapa, só pôde sentir as leves mãos tapando seus olhos. Sirius prendeu a respiração por alguns instantes e colocou suas mãos sobre as mãos da garota.
- Marota... Não faz isso com o Six. - Ele brincou, ainda sorrindo. Fez um leve carinho nas mãos da garota.
Ela não respondeu. A conhecendo como Sirius já conhecia, ele poderia jurar que agora ela estaria mordendo os lábios enquanto sorria. Típico dela quando quer provocar. O que Sirius não pudia ver é que ela não estava mordendo os lábios e sorrindo.
- Esperei você chegar. Estava preocupado. - Ele admitiu, ainda com os olhos tapados pelas pequenas mãos da garota.
Sirius só sentiu os lábios dela tocarem seu pescoço, num beijo suave. Ele se assustaria com isso e reprimiria a garota, em outra ocasião. Mas não agora. A marota fora causa da alienação de Sirius durante todo o dia. A preocupação que sentia o fez pensar nela a todo o tempo. Sirius agora tinha certeza: Ele queria isso. Ele queria a sua Marota.
A garota continuou o beijo lentamente pelo pescoço de Sirius, subindo até a face do garoto. Ela tirou as mãos dos olhos do maroto, que não se atreveu a abrir os olhos. Aquilo tudo era um misto de sensações, ele conseguia ouvir até mesmo o seu coração bater! Não queria abrir os olhos, só queria sentir o contato dos lábios delicados da garota em sua pele. Ela se colocou a frente de Sirius e iniciou um beijo. Não era um beijo doce e cheio de emoções, como Sirius havia previsto. Não conseguia sentir mais o seu coração bater tão forte e descompassadamente. No momento em que abriu os olhos, não foi Evy que Sirius viu, à sua frente.
- EMMELINE? - Ele gritou, assustado - O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO?
- Sirius, me desculpa... - Emmeline Vance se afastou rapidamente, cobrindo o rosto com as mãos - Eu não sei o que me deu. Eu vi você aí, e...
- E resolveu vir me enganar, certo? - Sirius se levantou. Não deveria estar sendo tão grosso com a garota, sabia disso. Mas ela o fez pensar que ela era Evy. E isso não tinha preço.
- Não, não foi essa intenção! - A voz de Emmeline soava baixa, tímida. - Me desculpe, Sirius!
- Sai daqui. - Ele abaixou a cabeça, respirando pesadamente. - Vai, Vance!
Emmeline subiu as escadas correndo, pulando os degrais. As lágrimas insistiam em correr pelo rosto da garota, chegando a molhar sua camisola. Não havia entendido a reação de Sirius! Quem ele pensou que fosse, afinal? Talvez os meses em que os dois sairam não passaram de diversão para ele. Agora ele a tratava como lixo. Ela se jogou na cama e chorou por algum tempo, até adormecer.
Sirius voltou a se sentar no sofá, apoiando o rosto entre as mãos. O que tinha o feito acreditar que ela era Evy? A garota nunca faria isso. Ele fora enganado pelos seus sentidos, os sentidos que haviam se viciado em Evy Stooker. Como não pode perceber que aquele não era o perfume de sua marota? Talvez quisesse tanto aquilo que se deixou levar pela vontade. Talvez.
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Quando Lílian Evans acordou, o sol já invadia o dormitório pela janela. A garota agradeceu mentalmente por ser dia livre e se levantou, permanecendo sentada em sua cama. Esfregou os olhos de sono e viu algo diferente em seu criado-mudo: Um lírio. Um lírio tão branco, tão perfeito... Lily procurou por bilhetes ou cartas, mas não havia nada. Só o lírio. Olhou para Mellanie, esperando uma resposta, mas a amiga dormia em sono pesado. Deu de ombros. Um admirador secreto, talvez. Sorriu ao imaginar os cortejos que receberia, com todo o mistério à respeito do autor. Não passou pela sua cabeça que poderia ser Potter... Isso era impossível. Se vestiu e assim que desceu para a sala comunal, recebeu o aviso de uma aluna do primeiro ano que Professora Minerva queria vê-la, em seu escritório. "Tão cedo assim? E hoje não tem aula...", pensou.
Lílian se apressou e ao chegar na porta da sala, Minerva a abriu violentamente, levemente pálida.
- Oh, Evans... - Ela parecia realmente atordoada - Obrigada por vir. Se sente, preciso lhe fazer algumas perguntas.
Lílian obedeceu, se sentando em uma das cadeiras frente à grande mesa de Minerva. Ao ambas se sentaram, ela continuou:
- Você é amiga da Srta. Stooker, não é? - Minerva estava com os lábios trêmulos. Isso assustava Lílian.
- Sim, mas... Eu não a vejo desde ontem!
E repentinamente Evans se sentiu culpada. Culpada por pensar no tal lírio, nos deveres de História da Magia e esquecer quase que completamente do sumiço de Evy. Talvez ficara tão tranquila por imaginar que a garota estaria com Dumbledore, já que eram constantes as vezes em que ele a chamava ao seu escritório. Tentou se acalmar. Talvez ela realmente estivesse com Dumbledore e Minerva apenas queria saber como a garota estava indo nos estudos.
- Nós sabemos. Evangeline Stooker teve que se afastar de Hogwarts por motivos pessoais. Mas em breve ela voltará. - Minerva escolhia bem as palavras.
- O que aconteceu?
- Antes de lhe explicar, devo lhe fazer algumas perguntas.
Lily assentiu com a cabeça.
- Você notou em Stooker alguma mudança de comportamento, pela última vez que a viu?
Ela não conseguia pensar. A única coisa que se lembrava daquele dia era de como Tiago havia sido abusado e lhe dado um beijo. Garoto idiota.
- Creio que não, professora...
- Ela não parecia mais distraída, como se estivesse em outro planeta? - Minerva insistiu.
- Não, não. Ela estava normal.
Da última vez que a viu, foi no café da manhã de dois dias atrás. Se falaram rapidamente entre as aulas e tudo parecia normal. Lily conseguiu se lembrar.
- Certo... Obrigada, Evans. - Minerva sorriu amarelo.
- Espera, professora... Por que tudo isso? Onde Evy está?
- Você é amiga da garota, não vejo porque não contar... Você me parece bem preocupada. Mas Lílian Evans, peço-lhe toda a discrição do mundo. Isso vai deixar de ser segredo amanhã mesmo, mas por hoje peço segredo. Evangeline Stooker foi vítima de uma maldição imperdoável, a Imperio.
A notícia chocara Lílian. Um Imperio, dentro de Hogwarts? Onde diabos estava a segurança dessa escola? Minerva a explicou tudo calmamente, sua voz falhando em certos pontos. Evitou contar a parte do colar de Godric, inventando qualquer coisa pra que tudo fizesse sentido. A própria professora estava em choque, jamais aconteceu isso em Hogwarts. Ela temia pela segurança de cada um dos alunos, principalmente de Evy. A Herdeira de Godric Griffyndor corria riscos.
Lílian prometeu discrição à professora, mas não poderia esconder isso dos amigos. E infelizmente, isso incluia os Marotos. Esperou por todo o dia até que a noite caiu e todos os outros alunos foram para seus dormitórios, então convocou os amigos na sala comunal. Tiago parecia estar ali contra a vontade, assim como Pedro. Sirius estava nervoso, era visível isso. O garoto inclusive havia adquirido a mania de estalar os nós dos dedos, para desgraça dos amigos. Remo e Mellanie também estavam ali, atentos à garota ruiva no centro da sala comunal.
- Eu tenho que dizer algo à vocês... Eu não queria que fosse verdade, mas... Infelizmente é.
- É sobre o quê? - Remo perguntou, franzindo a sobrancelha.
- Evy. - Lily disse, supirando em seguida.
No momento em que ouviu o nome da garota, Sirius ficou alerta. Então era alguma notícia da sua marota?
- O que tem ela? - Almofadinhas perguntou no mesmo instante.
- A Evy sofreu uma Imperio e tentou fugir de Hogwarts com alguma coisa de Dumbledore. Não sei bem...
- Caramba! - Mel disse, levando a mão à boca.
- Ela tá bem? Onde ela tá? Droga, Evans, fala tudo de uma vez! - Sirius quase gritou.
- Se acalma, Almofadinhas. - Tiago disse, colocando a mão sobre o ombro do amigo.
- Ela foi estuporada, para que pudessem detê-la. Mas sim, ela está bem agora e está no St. Mungus.
Todos se silenciaram. Cada qual se perdia em seus pensamentos, sobre o ocorrido. Sirius era quem havia se chocado mais com tudo isso. Uma Imperio... Quem poderia ter feito isso com Evy? Droga, e por que logo com Evy? Era uma garota doce, não fazia mal algum a ninguém (pelo menos ninguém que merecesse, Snape está fora da lista). Ela não merecia isso.
Se retiraram para seus dormitórios em silêncio, aos poucos. Sirius não havia conseguido dormir. Queria ver como a garota estava, queria falar com ela, queria ao menos ouví-la xingando um de seus palavrões estranhos quando ele a irritava. E no dormitório feminino, Lílian esquecera do tal lírio. Não iria lembrar da flor novamente tão cedo...
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