A Marota



Era um quarto escuro e úmido, em alguma parte de Londres. Ouvia-se o barulho de ratos sobre o piso velho de madeira, que rangia a cada passo. Uma pessoa estava em pé, olhando através da pequena janela. Alguém havia chegado, ele deduziu. Ouvira seus passos há distância.

- Mestre. - O homem fez uma breve referência ao que estava em frente a janela, que não se virou. Não obtendo resposta, continuou - Descobri onde ela está.

O outro homem se virou, com um sorriso macabro no rosto. Ele caminhou até o outro lentamente e disse, quase que eu um sussurro:

- Onde?

- Hogwarts, como você havia previsto. Dumbledore a levou há aproximadamente 1 semana.

- E o pingente?

- Está com Dumbledore, creio eu. E tenho planos para que possamos pegá-lo! - O homem sorria afetadamente, provavelmente orgulhoso de seus planos.

- Não preciso que você - ele deu ênfase à última palavra - faça planos por mim. Sua tarefa era só descobrir aonde ela estava.

O recém-chegado fez novamente uma reverência, arrependido.

- Mas creio que você poderá me ajudar com uma outra coisa...

- Sim, Mestre?

- Descubra o que ela faz, com quem conversa, seus medos. Isso será bastante útil.

- Não se preocupe, Mestre. Já estou a espionando faz algum tempo.

- Ótimo. Agora vá, preciso pensar.

E ele voltou a ficar sozinho na sala. Foi até a janela novamente e passou a observar a paisagem morta através dela, com um sorriso estranho nos lábios.

---


Evy havia sido chamada à sala do Prof. Dumbledore. Enquanto caminhava rumo à gárgula que daria passagem, a garota pudia sentir sua respiração falhar em alguns instantes. Tinha a sensação de que algo não estava bem. Apressou o passo quando chegava à torre, apertando a capa contra o corpo, mesmo não sentindo frio algum. Disse a senha à Gárgula com a voz falha e rouca e se apressou em subir as escadas em espiral que apareceram. A porta da sala estava entreaberta e Evy pôde ver uma figura familiar.

- Mãe! - A garota correu para dentro da sala e abraçou a mulher, que retribuiu o abraço com lágrimas nos olhos.

- Minha menina! Sinto tantas saudades!

- Sinto muito em interromper você e Alice, Evy... - Dumbledore disse - Mas temo que tenha que lhe dar uma má notícia.

Ela se alarmou e soltou a mãe no mesmo instante, olhando para o Diretor ansiosa. Dumbledore indicou uma cadeira ao lado de sua mãe e ela sentou.

- Evy, Alice veio hoje para me entregar isto. - Dumbledore tirou uma corrente dourada de uma pequena caixa de veludo que estava em cima de sua mesa. Evy reconheceu imediatamente: O pingente de Rubi estava ali. A garota parecia congelada, mal piscava enquanto olhava para a pequena pedra vermelha.

O diretor continuou:

- É seu, por direito. Mas Alice concordou comigo que seria melhor que eu o guardasse em algum lugar seguro, espero que você não se importe. - Ele sorriu levemente, olhando a garota por cima de seus óculos. Evy concordou com a cabeça. - Lhe chamei aqui porque precisamos que você saiba que alguns de nossos planos deram errado, Evy. Pretendíamos deixá-la em segurança aqui em Hogwarts, mas sem que ninguém soubesse. De acordo com a árvore genealógica de Godric Gryffindor, os Stooker são a sétima família de descendentes, informação que qualquer pessoa pode ter acesso fácil. Foi um plano falho, admito. Mas não tínhamos outra alternativa, tínhamos?

Alice negou com a cabeça, olhando para o chão, os olhos ainda marejados.

- Ontem alguém foi até a casa de sua mãe, Evy. E esse 'alguém' era um bruxo, ele tentou usar magia para obrigá-la a entregar o pingente. Sorte que eu havia mandando alguns aurores por precaução para vigiar a casa e o homem foi pego. Era um Comensal da Morte, um dos amigos de Lord Voldemort. Ele foi mandado para Azkaban imediatamente, não se preocupe. Mas ele disse algo curioso antes de que o pegássemos...

- O quê? - Evy perguntou imediatamente.

- 'Eu sei onde ela está.' - Dumbledore disse simplesmente.

- Ela? No caso, eu?

Alice levantou o rosto, seus olhos eram tristes.

- Achamos que poderia ser a Amelie também, Evy.

Evy tremeu. Era possível que sua irmã ainda estivesse viva? Ela havia perdido as esperanças há muito tempo. Quando mais nova, ela acreditava que a irmã voltaria um dia. Passou a acreditar que era tudo uma ilusão, o que foi um erro. Agora, dito por sua própria mãe, isso não parecia tão absurdo.

- Não temos certezas. Mas creio que sua segurança terá de ser reforçada. Me diga, Evy, você conversou com alguém quando foi ao Beco Diagonal?

- Bem, só com o Mark e o tal fabricante de varinhas.

- Ótimo. Os dois são de extrema confiança. Bem, era isso. Acho que você vai querer despedir de sua mãe, certo? Deixarei vocês à sós.

Antes que elas pudessem responder, Dumbledore havia se levantado e saído. Mãe e filha se entreolharam por alguns instantes. Mão eram necessárias palavras para entender o que se passava ali, as duas estavam preocupadas. Evy se levantou e abraçou a mãe novamente, sussurando em seu ouvido as palavras que a própria mãe havia a dito certa vez: "Eu te amo, tá? E nada vai acontecer com a gente, eu prometo."

---

- Creio que não fomos apresentados ainda, certo Srta. Stooker?

- Não, Professor Slughorn. - Evy sorriu ao apertar a mão do professor. - É um prazer.

Horace se aproximou da garota e disse baixo, quase aos sussuros:

- Sei que não tem experiência com magia, então farei o máximo para que seja relativamente fácil e agradável para você. - Ele se afastou novamente. - Mas bem, se junte aos outros!

Evy se sentou ao lado de um garoto que não conhecia, colocando seu livro de Poções sobre a mesa. Na sala de poções estavam também Lily e Mellanie, sentadas pouco mais à frente e os Marotos, sentados pouco mais atrás. Lily se virou, fazendo sinal de positivo e ela sorriu, pouco nervosa. Dumbledore havia a dito que era bom que frequentasse as aulas, para aprender mais sobre o mundo em que seus pais nasceram e foram criados, então decidiu ir a aula de Poções, muito bem recomendada por Evans.

- Hoje faremos a poção Wiggenweld, que é bem simples de fazer e é usada em cura. Vocês já devem ter ouvido falar dela, a poção é conhecida por aumentar o vigor de quem a bebe. Os ingredientes e o modo de preparo estão na página 16 do livro, sigam corretamente as instruções e coloquem suas poções em frascos etiquetados com os nomes. Ah, uma poção por dupla! Vamos, vamos! - Slughorn bateu palmas animado, despertando Sirius e Tiago da sonolência em que se encontravam.

Evy sorriu timidamente para o garoto ao seu lado, que abaixou a cabeça e passou a ler as instruções do livro. Ela deu de ombros e passou a fazer o mesmo, lendo atentamente as instruções.

- Você poderia pegar a Casca de Wiggentree no armário? - Ele disse, sem levantar os olhos do livro.

- Er... Tudo bem.

Ela se levantou e foi até o armário, onde alguns alunos já pegavam os ingredientes corretos e voltavam para suas mesas. Evy ficou em frente ao armário por alguns instantes, lendo todas as placas de identificação dos ingredientes, até que achou a tal casca. Pegou algumas e voltou para a mesa rapidamente, jogando as cascas sobre sua mesa.

- Ótimo. Agora pegue o muco de algum verme gosmento também. - Ele disse novamente quando ela já iria se sentar, fazendo Evy revirar os olhos e ir novamente até o armário às pressas, voltando com um pequeno frasco com uma gosma verde dentro.

- Aqui.

- E agora pegue o Ditamno.

- Ah, qual é! Vai ficar pedindo um por vez? Fala tudo logo, caramba! - A garota exclamou, atraindo atenção de alguns alunos para a cena.

- Quer fazer tudo de uma vez? Faz então, sabichona. Você sabe tudo de poções mesmo, não é? - O tal garoto olhava arrogante para ela, que bufou e foi novamente até o armário.

Quando ela voltava pela terceira vez, notou os cabelos negros e lisos do garoto, que pareciam nunca ter sido lavados. A lembrança de seu segundo dia em Hogwarts veio à sua mente: Era ele quem tinha esbarrado com ela naquele dia! No mesmo momento, o garoto dos cabelos ensebados ergueu os olhos e a olhou firmemente, ela só abaixou a cabeça e voltou, entregando o fungo parecido com um cogumelo para ele. Ele não voltou a ler o livro, colocava os ingredientes com muito cuidado no caldeirão. Se virou rapidamente para a garota e disse:

- Moly. Uma flor.

Evy demorou a compreender o que ele dissera, talvez porque no momento pensava em porque ele era tão idiota.

- Anda, garota! Temos que acabar isso hoje ainda! - Ele vociferou.

Sirius se levantou de sua mesa rapidamente, derrubando alguns frascos de muco no chão. Seus olhos negros estavam fixos em Snape, era como se ele pretendesse atacá-lo ali, naquele momento. Tiago segurou o braço do amigo, que se sentou novamente, mas mantia o olhar vidrado em Snape. Evy respirou fundo e foi até o armário, trazendo a pequena flor e entregando ao garoto. Ele se demorou poucos minutos com a poção e colocou uma pequena quantidade de líquido de um tom verde no frasco. Evy entendeu como fase final da poção e se sentou, revirando os olhos. Snape escreveu algo em um pedaço de papel e pregou ao frasco, entregando à garota.

- Leve ao Slughorn.

Ela bufou.

- Leve você. Não sou sua escrava! - Ela cruzou os braços, nervosa.

- Tudo bem. Mas não reclame depois... - Ele deu um sorriso de canto e se levantou, caminhando rumo à mesa do Professor. Evy pode perceber um leve movimento por baixo das vestes dele, mas ignorou.

Snape voltou à mesa com o mesmo sorriso vitorioso e pegou seus livros, saindo da sala em seguida. Quase todos os alunos haviam terminado suas poções e entregavam os frascos a Slughorn. Evy pegou seus livros e, quando iria sair da sala pôde ler somente 'S. Snape' no frasco da poção que o garoto do cabelo ensebado havia entregado. A garota abriu e fechou a boca várias vezes, mas não conseguiu dizer nada. Correu até o corredor e procurou o tal Snape com os olhos, mas não encontrou.

- Filho de uma p...

- Evy! - Sirius apareceu por trás da garota, interrompendo o palavrão que ela estava prestes a dizer - O que foi? Aquele projeto ensebado de gente fez alguma coisa? Ah, Ranhoso... Ele vai se ver comigo... Ah se vai.

- Ele é um idiota, Six! Pode acreditar que ele tirou meu nome da poção? Digo, não que eu me importe com nota aqui, mas foi tão baixo da parte dele! Eu o ajudei, mesmo que só pegando os ingredientes! E ele só queria me fazer de idiota! - Ela despejou tudo de uma vez, em um único fôlego.

Sirius a abraçou e sussurrou no ouvido da garota:

- Ele vai ter o que merece. Marota, quer aprender uma coisa nova? - Sirius esboçou um sorriso um tanto quanto maroto, sem que Evy percebesse.

---

Sirius e Evy estavam à espreita em um corredor. De acordo com o horário, a próxima aula de Snape deveria ser Feitiços, na sala no fim do corredor em que eles estavam. O corredor estava relativamente vazio, exceto por alguns poucos alunos que passavam rapidamente por ali. Sirius sussurou:

- Não se esqueça do movimento!

- Eu não vou. - Ela riu baixinho, segurando a varinha firmemente por dentro de suas vestes.

Poucos segundos se passaram e ali estava Snape, com a cabeça enfiada por dentro de um livro qualquer. Ele não havia percebido a presença dos dois ali, então continuou andando. Evy resolveu aproveitar o momento.

- Hey, Ranhoso! - Ela gritou, obrigando Snape a olhar em sua direção. Sirius havia se afastado um pouco, pra ter uma visão melhor da cena.

- Ora, sua...

- O quê? Vai me xingar, que nem costuma fazer sempre com todo mundo que é contra você? Ou vai sair correndo pra sua aulinha de feitiços?

O lábio inferior de Severus tremia, ele estava nervoso. Deixou o livro cair e colocou uma mão rapidamente por dentro das vestes. Sirius a havia avisado que ele poderia querer a azarar, mas ela estava preparada.

- Oh, não... O Ranhosinho vai me azarar? - Ela colocou uma mão sobre a boca, fingindo estar assustada - Que medo.

Snape segurava a varinha ainda com mais força, se segurando para não usar algum feitiço na garota. Sirius tampava a boca para não gargalhar.

- Você é um idiota, Severus Snape! Só porque não fiz sua vontade na aula de Poções, você ficou nervosinho e tirou meu nome, não foi?

- Você não fez nada da poção, sua sangue-ruim! - Snape tirou a varinha rapidamente de suas vestes e apontou para a garota.

- Expeliarmus!

A varinha de Snape voou tão rapidamente que ele mal teve tempo de pensar em alguma azaração. Olhou para Evy e ela mantinha a varinha erguida em sua direção, um olhar duro no rosto.

- Sangue-ruim? Vejo que você nada sabe da minha família, não é? Meus pais são bruxos, seu babaca! Apenas moravam no mundo trouxa!

Snape se virou rapidamente, procurando a varinha desesperado. Mas agora ela estava nas mãos de Sirius, que a rodava entre os dedos com um sorriso maroto no rosto. Evy não abaixara a sua varinha.

- Eu poderia muito bem deixar isso da poção pra lá, sabe. Não faz diferença pra mim ganhar nota ou não. Mas isso virou questão de honra, Snape. - Ela sorriu do mesmo modo de Sirius - Locomotor Mortis!

Era como se as pernas de Snape houvessem sido grudadas. Ele não conseguia andar ou correr; em sua primeira tentativa de dar um passo, ele caiu provocando um alto barulho no corredor. Alguns alunos que passavam, pararam para olhar e rir do sonserino, que tentava se levantar. Sirius gargalhava abertamente, enquanto se juntou à garota e a abraçou, dando um beijo estalado em sua testa.

- Essa é a MINHA marota, Snape. Não mexe com ela outra vez, right?

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